Dor
na “Faixa de Porto Velho”
Professor
Nazareno*
A
Faixa de Gaza, minúsculo território localizado entre Israel e o Egito, perto da
Península do Sinai, onde foram confinados mais de dois milhões de palestinos,
vive dias tenebrosos com a eclosão da guerra entre Israel o grupo radical
Hamas. Após os atentados terroristas que esse grupo cometeu contra cidadãos
israelenses matando mais de 1400 pessoas entre velhos, mulheres e crianças, a
reação do Estado judeu em busca dos radicais tem levado o terror para as
famílias palestinas residentes em Gaza. Bombardeios diários, cortes de energia,
de água potável, de combustíveis e até de alimentos tem levado o pânico para a
população civil, que em muitos casos, nada tem a ver com as atrocidades
praticadas no sul de Israel. Guardadas as devidas proporções, Porto Velho, a
insólita capital de Roraima, tem vivido dias parecidos com os da Faixa de Gaza.
Também temos “bombas”.
A
rivalidade entre judeus e muçulmanos é milenar, mas somente nos últimos 75 anos
é que se intensificaram os conflitos entre os dois povos. Já Porto Velho foi
criada há 109 anos e de lá para cá o sofrimento em “nossa faixa” tem
sido constante apesar de que a capital dos “destemidos pioneiros” deu
tudo o que tinha para quem é de fora e recebeu em troca somente a dor, a
tristeza e o sofrimento. Para começo de conversa, nem hospital de
pronto-socorro e nem porto fluvial a suja e imunda cidade tem. Há décadas que
funciona na zona sul um velho “açougue”, imundo e sujo, que faz as vezes
de um hospital. E como lá em Gaza, ninguém faz nada para resolver o caos. Num
dia de muita procura, esse velho e único hospital público de Porto Velho é bem
pior do que os poucos hospitais de Gaza, que está vivendo uma sangrenta guerra.
Mas essa guerra parece que é por aqui.
Porto
Velho tem muitos prédios e palácios suntuosos para abrigar a Justiça, o governo
estadual, procuradorias, ministérios públicos e muitas outras instituições, mas
na hora de beneficiar o pobre e infeliz do contribuinte com um simples hospital
de pronto-socorro, a coisa se arrasta por vários anos e depois simplesmente
emperra. Como em Gaza, até a água potável deve ficar escassa por aqui durante
essa seca histórica no rio Madeira. As hidrelétricas construídas em seu leito
moribundo, só para beneficiar o sul do país, podem ter contribuído para
aumentar esse caos. Nossos bombardeios são os políticos que insistem em
aumentar os impostos, que asfixiam ainda mais o pobre e miserável contribuinte.
A população de Gaza sofre com os ataques dos israelenses, com bombas e mísseis,
já em Porto Velho sofremos com o descaso sem fim dos governantes e políticos.
Porto
Velho não tem nem porto. A Faixa de Gaza tem, embora já tenha sido bombardeado
por Israel. O nosso porto, doado pela Santo Antônio Energia, não sofreu o
impacto das bombas, mas já está inoperante, enferrujando e apodrecendo lá na
beira do rio. Gaza tinha saneamento básico. Uns 15 a 20 por cento, mas tudo
está destruído e esburacado pelos bombardeios. Sem ter sequer bombas juninas,
Porto Velho tem algo em torno de apenas 2,9 por cento de esgotos. Aqui é
desmatamento, lama no inverno, poeira e fumaça no verão. Mas no próximo ano, os
políticos se mobilizam para buscar os votos cativos dos tolos porto-velhenses,
muitos dos quais alegremente vivem na miséria e se orgulham de votar na direita
e na extrema-direita. A Faixa de Gaza tem apoio e até alguma solidariedade de
partes do mundo. Já a “Faixa de Porto Velho” é esquecida, explorada e
condenada ao sofrimento. Quem se importa com nossa dor e agonia? Nem Deus nem
Alá.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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