Turismo
no lixo e na lama
Professor
Nazareno*
A
podre e imunda Porto Velho, capital de Roraima, não tem nada que possa atrair
turistas. Nenhum recanto da suja cidade apresenta as mínimas condições para ser
denominado como um bom ponto turístico. Mas deveria ser diferente, pois além de
ficar às margens do lendário rio Madeira, a insólita capital é um dos marcos iniciais
da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, conhecida no mundo inteiro. Só que os aproximadamente
360 quilômetros da histórica ferrovia sequer existem. Todos os trilhos
praticamente foram destruídos, arrancados e transformados em estacas para
proteger a frente de muitas casas espalhadas pela cidade. As velhas locomotivas
apodreceram no meio do mato e hoje nada restou a não ser ferrugem, sujeira e
insetos. A “MÃE” de Porto Velho virou pó. A cidade nasceu a partir do Madeira
e também da EFMM, mas estranhamente virou-lhes as costas.
Aqui
não existe absolutamente nada para encantar quem quer que seja. No porto
rampeado do rio Madeira, feito pela Santo Antônio Energia, o abandono sempre
foi muito visível. A maior parte do tempo fica fechado e impróprio para atracar
as embarcações que fazem o trajeto para Manaus. Quem chega da área ribeirinha,
por exemplo, geralmente tem que subir um barranco liso e escorregadio. Sem área
livre para atracar, os barcos encostam na margem íngreme e depois “seja o
que Deus quiser”. Ali não há espaço suficiente para quem quiser visitar o
velho Madeira. No que era a antiga praça da EFMM, a prefeitura de Porto Velho
não conseguiu dar andamento às obras de recuperação, que não têm data certa
para ser terminada e muito menos para ser inaugurada. Tudo fechado e somente os
ratos e urubus podem entrar naquele lugar cheio de mato e insetos perigosos.
Por
isso, não há ambiente nenhum para o turista visitar o rio e muito menos tentar contemplar
o pôr do sol. Muita gente tola daqui diz que é um dos mais belos espetáculos da
natureza ver o poente na floresta tendo as águas do rio Madeira como destaque.
Pode até ser, mas com os pés enfiados na lama e respirando a catinga do lixo e
dos restos de peixe de um mercado que fica ali perto, não há beleza que resista
à carniça e ao descaso. O passeio de barcos também sofre com o total abandono.
Como tudo está fechado e praticamente proibido para os poucos “turistas”,
foram improvisadas precárias escadas de madeiras em meio à lama e à imundície.
Os passeios de barco pelo rio Madeira são antigos e até já fazem parte da
rotina “sem turismo” de Porto Velho. Mas parece que além de não terem um
incentivo público, todo tipo de dificuldades foi posto por ali. Uma pena!
A
rigor, turismo por estas bandas só os barquinhos mesmo, apesar de todas estas
dificuldades e da vontade de algumas pessoas em acabar com a atividade. Em
Viena, Áustria, no rio Danúbio, é comum os barcos fazerem passeios como esses
de Porto Velho. Só que lá é tudo muito limpo e asseado. A “capital dos
destemidos pioneiros” não tem turismo de qualidade nenhuma. Quem teria
coragem suficiente de gastar dinheiro para visitar a mais imunda dentre as
capitais do Brasil? Quem se arriscaria a colocar o pé na lama podre para ver
algo? Turismo aqui só se for as valas fedorentas que correm a céu aberto no
meio das ruas. Na cidade do IPTU caro, não há nada que chame a atenção. A não
ser a ponte escura do suicídio, o Espaço Alternativo sem banheiros, os viadutos
tortos e íngremes, a “aprazível” zona leste, as toneladas de lixo
espalhadas pelas poucas praças e os urubus comendo carniça pelas calçadas. Mas
um dia vamos ter uma rodoviária nova!
*Foi Professor em Porto
Velho.
Um comentário:
Caramba muito impressionante essa visão que passa despercebido pelos portovelhense parece que é tudo normal tudo isso parabéns pelo texto uma grande observação parece que nos da terra somos todos cegos
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