BR-319,
o fim da Amazônia
Professor
Nazareno*
A BR-319, também
chamada por alguns de Rodovia Álvaro Maia, tem menos de 900 quilômetros e deveria
ligar as cidades de Porto Velho em Rondônia e Manaus, capital do Amazonas. Na
verdade, ela liga Porto Velho ao paraná do Careiro da Várzea, município
amazonense próximo ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões, onde começa
o rio Amazonas. A uns 25 quilômetros da capital amazonense, o Careiro não tem
ponte para fazer a ligação com Manaus. Essa estrada já foi asfaltada e a
ligação de ônibus entre as duas capitais demorava pouco mais de 10 horas. Isso
no final da década de 1970 e início de 1980 do século passado. Hoje está
abandonada e tomada em grande parte pela imponente floresta amazônica. Porém,
já há algum tempo vozes delirantes e adeptas da total destruição ambiental
clamam pela sua volta. Falam: ela será sinônimo de progresso.
O delírio dos
destruidores da Amazônia é tanto que além de “trazer o progresso”,
fala-se também que tirará Manaus do isolamento. Tudo mentira e enganação.
Manaus não quer sair do isolamento em que se encontra. Se quisesse, não teriam
gasto mais de um bilhão e trezentos milhões de reais para fazer uma ponte no
rio Negro em vez do rio Amazonas para, de fato, ligar à fatídica estrada que aí
sim, tiraria os amazonenses desse isolamento. Além do mais, bastava ter
preservado um caminho que já existia e estava devidamente asfaltado. Ou seja,
os amazonenses não só não preservaram a BR-319 como algum tempo depois construíram
uma enorme ponte ligando Manaus ao Cacau Pirera, uma simpática e bonita
vilazinha do outro lado do rio Negro sem nenhuma importância estratégica. Hoje
não basta construir só a estrada. Têm que construir também outra ponte.
Essa bisonha rodovia,
se construída, destruirá completamente a Amazônia. É o tiro de misericórdia que
falta para a hecatombe da maior floresta tropical do mundo. Madeireiros,
garimpeiros, grileiros, invasores de terra e outros afins saberão o que fazer
com a floresta ainda em pé. E ligar Porto Velho a Manaus é uma sandice total.
As duas cidades não têm importância nenhuma para a já decadente realidade
nacional. Destruir a Amazônia não vai trazer nenhum progresso. Essa mesma
cantilena foi dita quando ligaram Cuiabá a Porto Velho. E na verdade, já temos
o péssimo exemplo: a abertura da BR-364 deu ao mundo Rondônia, um dos maiores
exemplos de destruição ambiental de que se tem notícia. E que progresso
maravilhoso é esse que temos por aqui? Árvores em pé trazem mais dinheiro do
que derrubadas. Precisamos preservar o nosso meio ambiente.
Há um bom tempo
que o Brasil é o maior vilão da devastação ambiental no planeta. E não podemos
piorar ainda mais essa imagem que o mundo civilizado e desenvolvido tem de nós.
Por isso, o governo do PT e a ministra Marina Silva não podem compactuar com os
devastadores da natureza. Se isto acontecer, todo o trabalho feito para salvar
os yanomamis, por exemplo, poderá ter sido em vão. As ongs e ambientalistas
precisam denunciar ao mundo mais esse ataque vil à já combalida Amazônia.
Destruir o que resta desse precioso, importante e único bioma mundial só para
algumas pessoas esnobes poderem ir de carro de uma cidade à outra é uma
estupidez sem tamanho. A ligação fluvial que sempre existiu resolve todo o “intercâmbio”
entre os dois lugares. Então, a única necessidade de asfaltar a BR-319 é
invadir e devastar o coração da floresta. Já a inútil “ponte do suicídio”
daqui vai continuar ligando a cidade ao projeto Joana Darc.
*Foi Professor em Porto Velho.
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