segunda-feira, 13 de abril de 2020

Quero morrer de Covid-19


Quero morrer de Covid-19


Professor Nazareno*

            A pandemia do Coronavírus é a estrela do momento. Há mais de cem anos, desde a Gripe Espanhola passando pela cólera, pela varíola, pelo sarampo e até pela meningite, nenhum artista, atleta ou chefe de Estado esteve tão em evidência no mundo quanto ela. Nada faz mais sucesso hoje em dia do que o Covid-19 com a sua velocidade de contágio e o perigo ameaçador de matar o maior número de pessoas. E no mundo inteiro. Acredita-se que hoje mais de 90 por cento da humanidade só fala nessa “coisa”. Muito mais popular do que Jesus Cristo, Gandhi, Maomé ou mesmo a Coca-Cola, está até ganhando do Osama Bim Laden logo depois do 11 de setembro de 2001. Ninguém sabe onde estão os perigosos terroristas muçulmanos que atormentaram o mundo “civilizado” com os seus homens-bomba que tanto medo impuseram aos seres humanos.
            Apesar dos recursos modernos, da medicina avançada e da tecnologia de ponta, a cruel pandemia caminha sem controle em quase todos os países do mundo. Quase dois milhões de infectados e pelo menos 122 mil mortes até o dia de hoje. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump, antes reticente em relação à praga, já declarou que a pandemia está fora de controle em todo o território americano. A Europa está destroçada. Os hospitais não dão mais conta de tantas internações e tantos doentes. Os mortos se acumulam, os cemitérios estão lotados e já faltam caixões. Quem manda no mundo no momento é o Coronavírus. O porta-aviões Theodore Roosevelt, a joia das Forças Armadas dos Estados Unidos, foi colocado fora de combate pelo vírus assassino. Na França, o porta-aviões Charles de Gaulle tem quase toda sua tripulação infectada.
            Morrer de Coronavírus nas atuais circunstâncias é até chique nestes tempos sombrios. Se o sujeito adoecer vai para um hospital “especial” e será tratado por médicos também “especiais”. Ninguém devia querer morrer de malária, de dengue, de disenteria, de curuba ou de qualquer outra doença de pobre ou de rondoniense. Mesmo de ataque cardíaco, que é doença de rico. Morrer de câncer? Nem pensar. De Covid-19 o sujeito não só morre como também já vira logo uma estatística do governo. E não é para menos. A doença causada pelo Coronavírus, por exemplo, já fez no Brasil em apenas um mês mais vítimas do que o sarampo, a H1N1 e a dengue, juntas, em todo o ano de 2019. Um dia de Coronavírus no Brasil, hoje, mata mais do que a média diária de acidentes de trânsito ou a média de assassinatos. Nada supera a terrível pandemia.  
E se continuar assim com esta fúria crescente de mortes, em um ano teremos uma carnificina no país: pelo menos uns cem mil óbitos ou mais. A “gripezinha” avança sem dó nem piedade. Incentivadas pela irresponsabilidade do presidente do país, as pessoas de um modo geral não “dão bola” para o perigo. Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza estão atualmente à beira do caos com o colapso dos seus respectivos sistema de saúde. Sem distanciamento social e sem a quarentena obrigatória, que muitos criticam ferozmente por razões políticas ou por desconhecimento da realidade, o Brasil infelizmente vai virar uma terra arrasada em poucos dias. Em Rondônia, apesar de duas mortes já catalogadas e com 42 infectados no Estado, a situação do Covid-19 ainda está sob controle apesar de o “açougue” continuar matando por outras enfermidades. Morrer em Rondônia e ainda por cima de uma doença comum: ninguém merece tanta desgraça.



*Foi Professor em Porto Velho.

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