terça-feira, 3 de abril de 2018

Eu quero ser pastor!



Eu quero ser pastor!



Professor Nazareno*

            
             Professor há exatos 42 anos, decidi agora mudar de profissão, pois acho que já cumpri com o meu dever. Não seria bem mudar, mas seguir outra faina. Quero ser pastor! De qualquer Igreja. Tenho boa verve e sei que nestas mais de quatro décadas de magistério convenci um ou dois alunos. Mas serei um pastor sem Bíblia, pois não consigo entender como “há milhares de anos, as lendas, mentiras, besteiras, mitos e costumes primitivos de uma pequena tribo de nômades semisselvagens foram reunidos e escritos em pergaminhos e que ao longo dos séculos foram modificados, mutilados, truncados, floreados e divididos em pequenos pedaços que foram então embaralhados várias vezes. Depois, este material foi mal traduzido para várias línguas e vários povos o adotaram como a expressão da verdade, a palavra de Deus definitiva e irretocável”.
            Como pregador da palavra de Deus, entrarei também na política. Votos e apoio sei que terei dos meus poucos seguidores, pois as minhas ovelhas não são negras. Se entrar para o Congresso Nacional, não integrarei o grupo de parlamentares do BBB (Boi, Bala e Bíblia). Lá, darei vazão aos meus ensinamentos mais elementares. Pregarei o Deus de Espinosa e aceitarei todas as tendências políticas e religiosas no meu templo. Direi que Cristo não morreu pregado na cruz como todos acreditam, mas na cidade de Srinagar na Índia e já bem velhinho depois de ter se casado com uma ex-escrava egípcia e ter tido com ela vários filhos. Na minha religião não houve as Cruzadas e muito menos os Tribunais da Santa Inquisição durante a Idade Média. Nela, o verdadeiro Cristo nasceu de uma relação sexual e viveu tranquilamente com seus pais José e Maria.
            A democracia será a pedra fundamental do meu templo. Cada integrante terá vez e voz e poderá pregar a sua própria palavra. Direi aos meus fiéis que o Inferno nunca existiu e que o Diabo é apenas mais uma invenção da Igreja para amedrontá-los. Eles saberão, por exemplo, que Cristo nunca foi cristão, Buda nunca foi budista e Maomé nunca foi muçulmano. Devo também lhes dizer que o dízimo é opcional e que eles nunca mais serão obrigados a pagar quantias para ouvir os outros falarem. Barulho de maquininha de cartão de crédito não será mais ouvido nas minhas abadias. Milagres haverá em meu local de culto e muitos: os políticos brasileiros deverão trabalhar em benefício do povo que o elegeu, roubos ao Erário não mais existirão e Sérgio Moro, o juiz endeusado pela direita reacionária, finalmente julgará todos os políticos do PSDB.
            Em Rondônia poderei abrir muitas casas de Deus, pois aqui o terreno sempre foi muito fértil para o messianismo fútil. Pedirei à classe política que adote durante as campanhas políticas os discursos eclesiásticos para melhor orientar os inteligentes eleitores. Transformarei a Assembleia Legislativa do Estado e a Câmara de Vereadores de Porto Velho em filiais da minha cruzada cristã. Lá haverá cultos e celebrações antes de todas as sessões ordinárias. Entrarei em contato com os donos de sites e também com as redes sociais para melhor difundir minhas ideias religiosas. Todos os integrantes da ala LGBT e afins terão espaço em meus templos. Haverá normalmente casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a união estável será aceita tranquilamente. Cantores de Funk e Pagode acompanharão com suas músicas todos os cultos. Venham à minha Igreja, lá ninguém será obrigado a obedecer ao apito longo e breve do poeta Carlos Drummond.





*É Professor em Porto Velho.

Um comentário:

Fládson disse...

Professor Nazareno, caso o senhor tenha talento para o charlatanismo, pode fazer fama e fortuna criando uma nova seita!!! É preciso ter carisma, ter lábia para derrubar um avião dos céus e passar óleo de peroba na cara de pau!!! Contar mentiras sedutoras é fácil e extremamente eficaz para atrair seguidores fanáticos incondicionais. Falsos profetas antecedem a profecia apocalíptica do fim dos tempos!!!
Eu acredito em Deus, mas não acredito em religião. Deus não é religião. Religião é manipulação. Toda religião inventa mentiras, oprime e manipula. Religião é coisa dos homens, e o ser humano é um bicho complicadíssimo e paradoxal.
Desde que o mundo é mundo, remetendo-nos à antiga civilização sumeriana, o Estado-Governo e a religião andam de mãos dadas, tornando-se um só, prostituindo-se entre beijos e abraços; Estado-Governo e religião unidos na arte da manipulação, doutrinação e imbecilização das massas, desde que o mundo é mundo!!!
O rei é escolhido por "Deus", ou pelos "deuses", para administrar com mãos de ferro o aparelho estatal, e por isso deve ser adorado, temido e obedecido por outros simplórios mortais subservientes. Tradução: Religião é uma criação humana aprimorada ao longo dos séculos para validar o ardiloso, maquiavélico e diabólico jogo do poder.
Em resumo, o binômio Estado-religião é algo mais próximo do "diabo" do que de "Deus".
De acordo com Robert Greene em seu livro "Art of Seduction" (2001), a religião é o sistema mais sedutor já criado pelo ser humano.
Um exemplo prático e definitivo: é mais fácil e atraente acreditar no Sistema Judiciário Brasileiro ou acreditar numa Justiça Divina??????! Lembre-se: no Brasil atual, você pode atropelar, mutilar, incendiar, estuprar, sequestrar, roubar, matar, não necessariamente nessa ordem, e pouco ou nada lhe acontece, principalmente se você for rico (endinheirado). Já Deus presenteia os bonzinhos com um Paraíso eterno, e joga os malvados nos terríveis tormentos do caldeirão do Inferno!!! E aí, em quem acreditar??? Na Justiça Humana ou na Justiça Divina???
Ponto para a religião!!!
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Fládson B. M. Freitas
www.fladsonize.blogspot.com | #ArtsByFládson