República Cu de
Mãe Joana
Professor
Nazareno*
Eis que o paisinho chinfrim volta de novo às manchetes policiais. E certamente não foi por causa do sete de setembro, quando se pensa comemorar uma independência que nunca houve por estas bandas. Livramo-nos de Portugal, é verdade, mas caímos nas garras do Capitalismo selvagem. Pior até: ajoelhamo-nos diante da ganância e da arrogância de uma elite nacional fracassada, hipócrita e amaldiçoada. Malas recheadas de dinheiro vivo foram encontradas num apartamento de um ex-ministro do governo golpista de Michel Temer. Outra vergonha. Mais de 51 milhões de reais e dólares saídos do esgoto do PMDB e de outros partidos que estão no poder foi o que a Polícia Federal descobriu num bunker em Salvador. Desta vez não é uma simples mala como aquela de “apenas” 500 mil reais. São oito malas e umas seis ou sete caixas abarrotadas de notas.
A República
Federal do Cu de Mãe Joana está em polvorosa mais uma vez. O frenesi nos meios
políticos não para e a certeza é a mesma de sempre: ninguém será preso de
verdade. Uma prisão domiciliar aqui, outra acolá e uma tornozeleira eletrônica
em um ou outro é o máximo de punição que a nossa Justiça permitirá aos
infratores. Enquanto isso, os pobres e o país inteiro ficam no prejuízo e
seguem sua rotina macabra de desolação e sofrimento. Como comemorar uma
independência em meio a tanto descaso, roubo, falta de vergonha e corrupção? Isso
é mesmo um país independente? Tudo o que muitos desses brasileiros descarados
fazem só reafirma que não somos uma nação séria. E o pior é que se o bom
exemplo não vem de cima, aqui por baixo as coisas seguem um repertório também
envolto em corrupções, maracutaias e maus exemplos.
Em qual país do mundo, por exemplo, há
saques de cargas tombadas no meio das rodovias? Essa é uma invenção tipicamente
nossa. Aqui só se livra do saque se for uma carga de livros. O saber e a
informação numa republiqueta desprezível não servem para nada mesmo. Um país em
que muitas das autoridades saqueiam o Erário em benefício próprio não pode dar
bons exemplos. No Brasil inventamos o feriadão. Agora mesmo, o dia sete de
setembro caiu numa quinta-feira. E o que aconteceu? A sexta-feira foi
enforcada. O Estado, claro, libera todo mundo. As prefeituras também. Três ou
quatro dias sem trabalho e mais prejuízos para a nação, mas todos ficam felizes
pelo descanso ilegal. “Dane-se a nação!”.
Aqui é assim mesmo, pensam os mais indolentes. Alunos sem aulas? Que bom! Só
assim aprendem menos e ficam mais subjugados.
Em vez de proteger o meio ambiente,
fazem-se queimadas horríveis. A fumaça no quente verão dá a impressão de
desenvolvimento. E quando falta energia, não se avisa a ninguém. Arrastões em
praias lotadas, comércios, escolas e residências são uma constante. Ladrões
levam tudo à luz do dia. Assaltos já viraram rotina. No Cu de Mãe Joana são
mortas todo ano mais de 55 mil pessoas. O trânsito violento e desorganizado
ceifa outras 45 mil almas. Ataques a caixas-fortes com bombas e dinamites é o
que mais se tem observado ultimamente. Se há um governo ladrão, para a
felicidade geral, substitui-se por outro igualmente larápio. No país onde tudo
é possível, em média só 20 por cento da população entende de política e mesmo
assim esses estão divididos entre direita e esquerda. Quanto mais ladrão por
aqui, mais endeusado e amado. Mas mesmo sem prestígio e civilidade, a República
do Cu de Mãe Joana acha que é um país decente.
*É Professor em Porto Velho.
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