quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Devíamos ter furacões e terremotos


Devíamos ter furacões e terremotos


Professor Nazareno*

            
          Já ouvi muitos idiotas dizerem várias vezes que Deus é brasileiro e que somos uma terra abençoada por natureza. Tudo mentira, tudo lorota, tudo enganação. Uma nação que figura entre as maiores economias do mundo e tem um IDH incompatível com a sua riqueza é um lugar injusto. Nunca fomos um país sério e como se não bastasse, temos os piores serviços públicos do planeta e o nosso sistema de educação é uma desgraça que só imbeciliza e sabota os alunos, que são os mais desinstruídos e “ignorantizados” que se conhece. Os Estados Unidos, o Japão e muitos países desenvolvidos da Europa nem de longe podem ser comparados à desgraça que é o Brasil. Muitos desses países já ganharam várias vezes o Prêmio Nobel, têm sociedades justas, altíssimo IDH e quase todos seus serviços públicos funcionam exemplarmente.
                Muito diferentes deste país vagabundo e chinfrim, nestas nações a corrupção e a desonestidade são coisas raras. E quando por lá alguém saqueia o Erário, a punição sempre é exemplar. Só que nestes países há vulcões, terremotos e até furacões. “Então o Brasil é um país infinitamente melhor do que qualquer um deles” deve-se pensar erroneamente. Se foi Deus que criou os países, foi muito injusto: poupou-nos da fúria da natureza e caprichou nas desgraças naturais em outras nações. Mas a verdade não é bem esta, pois tufões, furacões, terremotos, nevascas, tsunamis e vulcões matam menos gente do que a nossa corrupção. É só comparar o número de mortos por causa dos 51 milhões de reais escondidos por Geddel Vieira, por exemplo. O dinheiro sujo do homem forte de Michel Temer poderia ter evitado muitas mortes nos hospitais públicos do país.
            Não há desgraça da natureza que mate mais do que a nossa corrupção, a nossa desonestidade, a nossa individualidade, o nosso jeitinho, a nossa insensatez. Somos infelizmente uma das piores sociedades do mundo em termos de justiça social e Deus é cúmplice de toda essa cachorrada em que vivemos. Se Ele nos tivesse dado a fúria da natureza podíamos nos proteger mais facilmente e teríamos menos mortos. Quantos pobres não morreram no “açougue” João Paulo Segundo de Porto Velho com as maracutaias da JBS com o atual vice-prefeito da cidade? As verbas surrupiadas do Espaço Alternativo, dos viadutos e da ponte escura pelos políticos daqui teriam evitado muito sofrimento da população mais carente deste Estado. Evitado sofrimentos, dores e muitas mortes. Mas quase ninguém consegue entender o porquê. E continua votando.
            A falta de saneamento básico, de água tratada, de mobilidade urbana além da violência desenfreada causa duzentas vezes mais mortes do que o furacão Irma ou de qualquer um tsunami. Se tivéssemos ao lado de Porto Velho um vulcão ativo ou mesmo se fôssemos uma terra de violentos terremotos, conseguiríamos nos livrar dos problemas sem tantos traumas e mortes. Mas nunca vamos nos livrar dos maus políticos, eles são como uma praga invencível. Parece que em Rondônia e em todo o Brasil, as mesmas desgraças serão sempre eleitas e reeleitas eternamente. Para se ter uma ideia do inferno astral em que vivemos na política, Lula e Bolsonaro lideram disparados todas as pesquisas para presidente da República em 2018. As intempéries naturais aparecem de vez em quando, já nossos males são rotineiros e frequentes. Seria interessante que Deus fizesse uma troca: mande-nos furacões, vulcões, terremotos e leve Temer e a corrupção.





*É Professor em Porto Velho.

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