domingo, 24 de abril de 2016

Cenas raras no aeroporto



Cenas raras no aeroporto


Professor Nazareno*



     O aeroporto “internacional” Governador Jorge Teixeira de Oliveira de Porto Velho, Rondônia, que de internacional não tem absolutamente nada, já que não faz nem nunca fez um único voo para fora do país, foi palco na sexta-feira, dia 22 de abril de 2016, de cenas extremamente raras. Foram acontecimentos tão difíceis e improváveis de acontecer, principalmente nestes tempos bicudos que vivemos no Brasil, que mais se pareciam com cenas de filmes de ficção, daqueles raríssimos que só se veem nos cinemas e televisões. Uma multidão de alunos e alunas, todas jovens bonitas, arrumadas e também garotos “sarados” gritando euforicamente o nome de alguém. Eram alunos do colégio João Bento da Costa de Porto Velho recepcionando o professor de Matemática Saulo Boni de Campinas, que estava chegando para dar um aulão para todos eles.
            Desnecessário e já repetitivo falar sobre o grande sucesso do Projeto Terceirão que funciona na referida escola. No último ENEM, por exemplo, mais de 500 alunos daquele estabelecimento de ensino da zona sul de Porto Velho ingressaram em várias universidades, públicas e particulares, espalhadas pelo país afora nos mais variados e concorridos cursos superiores. “As apostas para 2016 não são pequenas”, afirmam em uníssono os professores que integram o referido projeto. Por isso, a vinda do renomado professor Saulo Boni para ajudar no processo de formação dos mais de 600 alunos dos terceiros anos. “Matemática no Krú da vida” foi o curso ministrado pelo mestre campineiro. Nada mais salutar e adequado para uma cidade que mais se parece com o “Krú do mundo”.  Por isso, as raras cenas no aeroporto foram dignas de outro planeta.
            Intrigadas, as poucas pessoas presentes ao aeroporto perguntavam atônitas quem era o “cantor de pagode” que aqueles jovens alegres e sorridentes estavam esperando. Outros incautos, movidos ainda pela curiosidade e pela incredulidade, perguntavam o nome do artista famoso ou do jogador de futebol que podia estar desembarcado em nosso acanhado “campo de pouso”. Muitos balançavam a cabeça como em sinal de desaprovação quando descobriam que se tratava de um professor, e de Matemática, que estava tendo aquela calorosa recepção e que os alunos eram todos de uma escola pública da periferia de uma cidade periférica de um Estado da periferia do Brasil, um país que pertence à periferia do mundo civilizado. As pessoas ali estavam mais espantadas do que “galinha quando vê cobra”. Em terra de pouca cultura, tudo é motivo de assombro.
Para a alegria e o delírio daquela moçada, o jovem professor deu um show de aula. Inicialmente no auditório de uma faculdade particular, depois o “raro e grandioso espetáculo de eloquência, conhecimento e sapiência” continuou nas imundas, desarrumadas e fedidas salas de aula da própria escola JBC. A professora Layde Nascimento, mãe da ideia de trazer “novas cabeças” para cá, estava eufórica. Os alunos tiveram “paitrocínio” para bancar um evento que nenhuma das boas escolas particulares daqui faz. Nem o próprio Estado se preocupa em dar uma educação de qualidade para seus pupilos. Jogados em escolas sujas, violentas e de turno único, nossos estudantes são mais vítimas do que protagonistas de uma educação de péssima qualidade que lhes é oferecida. Ainda bem que o mestre não pediu para ver nossos pontos turísticos. Ruínas de obras eleitoreiras, sujeira, lixo, ignorância e descaso não combinam com Sapiência.



*É Professor em Porto Velho.

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