Foto: Danilo Curado
Turismo
de andorinhas cagonas
Professor
Nazareno*
Em mais um triste e monótono domingo,
numa cidade onde não existe a mínima opção de lazer, fui convidado para ver um
tal de “balé das andorinhas” lá na praça que custou 11 milhões de reais
e não tem uma única flor plantada. Muito a contragosto fui. A decepção foi
total. A começar pela sujeira exposta: garrafas pets jogadas entre as pessoas,
sacos de lixo, fezes de cachorros, pontas de cigarros, dentre outras imundícies
davam o tom nada romântico ao lugar. Depois de um tempão de “cara prá cima”,
finalmente os pássaros chegaram lá. Seus ridículos rodopios sobre a multidão
extasiada não eram e nem se pareciam com um balé, eram uma espécie de pagode ou
toada de Boi. “Ballet” é algo muito mais glamouroso e aquelas acrobacias
ridículas e sem sentido em nada lembravam os países europeus onde se originou a
célebre e famosa dança.
Quase encobertas pelas nuvens e pela
escuridão da noite, as estranhas aves, como pontinhos minúsculos no céu,
resolveram mudar de local para fazer a sua dança brega. Foram para a Praça das
Três Caixas d’Água e para o Mercado Cultural, lugares que, por questões óbvias,
recusei-me a ir. “Perdemos o melhor do espetáculo”, era o que se ouvia. Mas
não reprovei a atitude bisonha delas: foram os únicos animais a reconhecer a “importância”
destes dois monumentos de Porto Velho e por isso, resolveram despejar neles
toda a sua capacidade digestiva. Ou seja, é “só merda” a cultura daqui. O
ideal, no entanto, seria que sobrevoassem a Assembleia Legislativa de Rondônia
e a Câmara de Vereadores de Porto Velho e fizessem o que muita gente sensata
gostaria de fazer, mas falta coragem: jogar um monte de bosta sobre elas.
Alguns estudiosos destes pássaros, talvez
cientistas ligados às universidades locais, afirmam que eles vêm em bandos
migratórios do hemisfério norte fugindo do frio intenso de lá. Tudo mentira,
papo furado. Mesmo irracionais, as sinistras aves não fariam a suprema besteira
de trocar o mundo desenvolvido e civilizado para se mostrarem por aqui. Elas
vêm é de algum lago ou igapó perdido no meio da mata aqui próxima. Alguém de
juízo trocaria o Delta do Mississipi nos EUA ou as românticas planícies dos
rios Danúbio, Elba ou Reno na Europa pelos fétidos ares do Brasil? Pouco
provável. Além do mais, aqui elas correm um sério risco de serem transformadas
em apetitosos tira-gostos. E faz até sentido: já pensou se a SEMA de Porto
Velho resolve fazer com elas o que disse que fará com as poucas árvores da
nossa cidade? Coitadas.
Detestei esse tipo de turismo em que,
de rosto para cima, se espera a qualquer momento ser bombardeado por dejetos de
aves enfezadas. Melhor seria ter ido visitar o cemitério de locomotivas enferrujadas
a poucos metros da suntuosa e imunda praça, olhar as toneladas de peixes mortos
boiando que acabaram de ser triturados rio acima, passear por baixo da ponte de
300 milhões de reais que não serve para absolutamente nada, admirar os viadutos
inacabados com suas velhas manilhas, presenciar mais um estabelecimento
comercial derrubado pela ação dos banzeiros, contemplar ruas alagadas pelo
esgoto em pleno centro da capital, apreciar a escuridão noturna da “cidade
das hidrelétricas” ou fazer fotos de urubus comendo carniça ao lado do
Mercado Central. Porém, muitos amam isto e até juram ser turismo. Sinceramente,
será que há cidade no mundo que receba seus raríssimos visitantes e precise
expô-los a uma chuva de merda?
*É Professor em
Porto Velho.
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