domingo, 25 de agosto de 2013

“República de Médicos”



“República de Médicos”


Professor Nazareno*

            Confúcio Moura, o “todo poderoso” Governador do Estado de Rondônia já há dois anos e meio, é um médico. Mauro Nazif, carioca de origem palestina e Prefeito de Porto Velho, também é médico. Só isto já seria bastante para que nós, mortais comuns e rondonienses, amássemos e adorássemos a classe médica como um todo. Os médicos, ou doutores, como gostam de ser chamados, mesmo sem ter defendido nenhuma tese de doutorado, têm uma importância fundamental para qualquer sociedade. Além de “salvarem” muitas vidas, em vez de apenas adiarem a morte dos seus pacientes, eles contribuem decisivamente para a organização e o progresso de qualquer país. No entanto, estes profissionais estão sendo “injustamente perseguidos” pelas atuais políticas públicas do Governo Federal com a “impopular ideia” de atrair médicos estrangeiros para trabalhar nos interiores do país e nas periferias das grandes cidades.
            Como não há (nem nunca houve) a menor infraestrutura nos hospitais públicos e  nos postos de saúde dos interiores e destas mesmas periferias, os órgãos de classe que defendem esses médicos, “sem nenhum corporativismo”, entendem e já decidiram que localidades “ermas” como Calama, São Carlos ou Demarcação em Rondônia, por exemplo, não podem ter a presença de profissionais formados em universidades de fora do país. Cidades e vilarejos perdidos no interior do Brasil também não podem e nem devem ter a presença de nenhum deles. O povo destas localidades, que em momento algum foi consultado se queria ou não médicos residindo entre os seus habitantes, certamente também é contrário à presença de “doutores” entre eles. Faça-se uma pesquisa perguntando qual a opinião dos moradores para saber a resposta de quem vive e sofre esse, até agora “difícil e insolúvel”, problema do dia-a-dia do nosso país.
            O profissional que exerce a Medicina no Brasil é quase sempre “um coitadinho” que, via de regra, é explorado pelo sistema e pelos pacientes. Médico no Brasil é sinônimo de pobreza e abnegação pelo sacerdócio da profissão árdua que escolheu por pura vontade de salvar vidas e ajudar aos mais necessitados. Quase todos são pobres e humildes, andam de transporte coletivo, levam uma vida simples e geralmente moram em uma casa financiada pela Caixa Econômica Federal. Conheço alguns médicos que se lamentam de nunca terem viajado de férias com a família. Há casos de profissionais da Medicina que têm até dificuldades de manter a própria casa. A coisa mais rara do mundo de se ver, pelo menos no Brasil, é um deles andando de carro próprio. Parece até que os mesmos fizeram voto de pobreza. Coitados deles, como sofrem. A população pobre devia fazer rifas e bingos para ajudar estes abnegados a sobreviverem.
Enquanto isso, os pacientes de Calama, Demarcação, São Carlos ou mesmo das periferias das grandes e também em quase todas as pequenas cidades do Brasil, serão agora, por absoluta vontade própria, curados por “especialistas” locais. Como estas localidades não querem médicos de fora dando atendimento a seus moradores e como o Governo também “não permite isto”, os muitos médicos brasileiros que querem ir para lá ficam sem opção e a tendência é que possamos ter problemas em relação aos índices da saúde pública no país. A maioria dos médicos brasileiros não quer ir para o interior do país e nem para as periferias, só que também não quer deixar que outros médicos o façam. Competência nenhuma devia ter medo de concorrência. “Nem o Programa Mais Médicos é eleitoreiro nem a recusa dele pelos médicos brasileiros é sinal de corporativismo”. Ou seja: nesta absurda queda de braço entre Governo e médicos já se sabe quem será o grande perdedor. Nas próximas eleições vamos eleger só médicos. Assim como em Rondônia, e para o bem da nação, teríamos um Presidente da República que também se veste de branco e jamais defenderia o corporativismo.




*É Professor em Porto Velho.

13 comentários:

Valdemar Katayama disse...

Concordo com muitas críticas. Em grande parte, tem razão. Mas é uma pena que as pessoas ainda achem que o problema é causado apenas pelos médicos ao invés de apontarem o maior culpado, a gestão incompetente e/ou corrupta e/ou insuficiente (gestão no sentido global, incluindo os âmbitos federal, estadual e municipal). O bom gestor incentiva e valoriza os bons profissionais, demite os maus, fornece condições de trabalho, promove o trabalho em equipe, garante os recursos necessários, não rouba, é responsável e cuida da qualidade e quantidade dos médicos formados. Se houvesse boa gestão a população teria médicos com plano de carreira, dedicação exclusiva, condições dignas de trabalho e fiscalizados no sentido salutar da palavra. São tantas variáveis e culpados que fica difícil analisar o tema sob uma única visão. O problema é sistêmico, não reducionista. Existem médicos ruins, tecnicamente e moralmente, com certeza. Mas não são a maioria. Acho que a sociedade civil, em Porto Velho, poderia fazer debates sobre isso, sem agressividade, apenas com trocas de ideias, em rodas de conversas. A imprensa poderia organizar algo assim, seria muito bom participar. Esclarecer é sempre salutar.

Detonador disse...

Sábias palavras professor. Realmente, quando se fala em mandar estes profissionais para regiões longínquas do nosso sofrido país a maioria aparece com uma bandeira de coitadinhos realmente. Quem dera um professor, com curso superior pudesse ter um salário inicial de pelo menos metade daquele previsto aos médicos. O professor que alijado pela sociedade cuida de nossos maiores tesouros: os nossos filhos. Que muitas e muitas vezes nos substituem no papel de pais educadores. Estes que transmitem toda ordem de conhecimento contribuindo para uma sociedade mais justa e consciente. É verdade professor, um salário inicial de R$ de 10.000,00 é uma miséria. Pois é, nem a prefeitura da capital de Rondônia paga isto a seus profissionais. Trinta mil então nem pensar! Bem, boa parte destes profissionais que agora se fazem de coitadinhos cursaram uma universidade federal, ou estão cursando com uma bolsa paga pelo governo federal, e deste pequeno detalhe não lembram, é digamos, uma amnésia conveniente, pois é duro lembrar que toda a sociedade está pagando para que ele tenha uma profissão nobre e que os mesmos estão pagando com ingratidão os cidadãos que através de seus tributos custearam seu curso. Corporativistas ao extremo, tentam convencer a sociedade que é melhor ter médico nenhum nas localidades do que ter sem um hospital de primeiro mundo, talvez com secretária , aparelhos de última geração, coisas que nem nas capitais brasileiras há. Acaso o conhecimento que compilaram durante todo o curso de nada servirá em Extrema de Rondônia. Eu digo que em primeiro deve vir a necessidade da sociedade, os inconformados que procurem outra profissão.

Francisco Barroso disse...

Muito bom!!! mais uma vez o Prof. Nazareno, ao seu estilo irônico e preciso, desnuda a triste realidade do corporativismo do CFM e CRMs. Os médicos brasileiros tem sim, uma parcela de culpa na situação caótica da saúde do Brasil. É só fazer uma pesquisa e constatarão que a maioria dos presidentes dos CRMs são proprietários de hospitais e clínicas médicas e ganham milhões às custas do sistema público falido!!! Fez muito bem o governo federal em importar médicos para locais onde não tem. Parabéns.

Carlos A. M. de Toledo disse...

Gostaria de propor a quem defende a vinda dos médicos cubanos sem o exame que verifique sua competência, que sejam atendidos por eles, mas é bom levar testemunha junto para que possa processar aquele que matar o paciente.

Nelson Souza da Silva disse...

QUEBRANDO O MONOPÓLIO DOS MÉDICOS.ELES SÓ QUEREM ENRIQUECER ÀS CUSTAS DA DESGRAÇA DO POVO.ESSES...VMES DIFICULTAM AO MÁXIMO A FORMAÇÃO DE MAIS MÉDICOS BRASILEIROS, PARA OS POUCOS CONCORRENTES QUE SE FORMAM NÃO AMEACEM SEUS IMPÉRIOS. O GOVERNO TEM QUE QUEBRAR MESMO O MONOPÓLIO DESSES TIRANOS; PELO BEM DO POVO. UM CURSO DE MÉDICO NUMA UNIVERSIDADE PARTICULAR CUSTA UMA FORTUNA.NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS,AS POUCAS VAGAS OFERTADAS, SÃO MANIPULADAS.O GOVERNO BRASILEIRO TEM QUE QUEBRA ESSE MONOPÓLIO DIABÓLICO, E FORMAR TANTOS MÉDICOS QUANTO A NAÇÃO PRECISE

Sadoc Chagas disse...

Que venham os médicos estrangeiros. A população no sufôco apela até para macumbeiros quando não é atendido por proficionais.

Juniel Silva Lima disse...

ELES FAZEM TANTOS PROJETOS PARA MELHORAR O BRASIL QUANDO O QUE SE PRECISA EFETIVAMENTE NÃO SÃO PROJETOS E SIM BOA VONTADE POLÍTICA. SABE-SE LÁ QUANTOS MILHÕES VÃO SER APLICADOS NESSE + MÉDICOS, AGORA PERGUNTO: PPOR QUE NÃO APLICAR ESSE DINHEIRO NOS PROJETOS QUE JA EXISTEM? NA MELHORIA DOS SALÁRIOS OU ATÉ MESMO EM INCENTIVOS PARA ATRAIR OS MÉDICO NECESSÁRIOS PARA AS LOCALIDADES????
O FATO É QUE SEM ESSE PROJETO NÃO SERIA NECESSÁRIO A CRIAÇÃO DE SECRETARIAS PARA CUIDAR, DE CONTRATAÇÃO DE PESSOAS PARA GERENCIAR (DIGA-SE DE PASSAGEM QUE PROVAVELMENTE TODOS LIGADOS AO GOVERNO). EMFIM, MAIS UMA FORMA DE ROUBAR DA POPULAÇÃO... QUE VENHA O + MÉDICOS, JÁ PAGAMOS POR TANTAS ROUBALHEIRAS DO GOVERNO UMA A MAIS NÃO VAI MUDAR O CENÁRIO. AFF

Carlos A. M. de Toledo disse...

Entre suas ironias, esclareço que estou como médico em Calama, e antes dela estive durante mais de 2 anos em Nazaré. Esclareço também que São Carlos também tem médico.
Ainda entre suas ironias em em assunto tão sério como a vinda de "médicos" cubanos, não é corporativismo médico exigir o que se exige em todo o mundo quando um médico estrangeiro quer atuar no país: o exame de proficiência na língua e a capacidade médica do profissional. A bem da verdade não se pode confundir a defesa da saúde da população por corporativismo. Ou então sejamos mais claros, chamemos de corporativismo da democracia a guarda da Constituição pelo STF, o coorporativismo das obras que não desmoronem pelompapel do CREA, da verdade o papel do Conselho dos Jornalistas, e assim por diante.
Como em toda profissão existem bons e maus profissionais, o que não se pode é generalizar e banalizar a discussão sem a profundidade necessária. Dentre suas ironias não houve só equívocos mas também verdades, como trabalhar sem estrutura, todos sabemos a precariedade com que os médicos trabalham. Porque em vez da cortina de fumaça do programa + médicos não trabalhamos o verdadeiro tema do Problema Saúde: os 10% constitucional para a saúde (nunca aplicado), +a enfermeiros, + bioquímicos/biomédicos, + fisioterapêutas, + nutricionistas, + etc, etc, etc. Saiamos do discurso político e entremos no discurso dos fatos.
Da minha importante insignificância assino Dr. Zé Ninguém

Antonio Carlos disse...

umprir sua carga horária e deixar de fazer o vergonhoso atendimento por ficha, minimizaria o sofrimento de quem precisa de, ao menos, uma consulta. Resolver o problema vai muito além de consultas, precisamos é claro, de estrutura para atender a população, porém, o povo está cansado de dormir na fila e marcar uma consulta para o mês seguinte. Você mesmo disse que existem maus profissionais em todos os setores, então, por que generalizar dizendo que os médicos cubanos são ruins? E aqui tbm não existem um monte de médicos formados "nas coxas"?

Tânia disse...

Acredito que os piores médicos formados em Cuba são muito melhores que esses carniças que têm por aqui, principalmente os do Hospital Unimed. Quem tiver amor a sua vida, não permita ser internado nesse hospital.

Carlos A. M. de Toledo disse...

Faço das palavras do David Uip as minhas palavras:
04/08/2013 - 03h00 - UOL
David Uip: Quando um é igual a zero
Em 1973, aluno da Faculdade de Medicina do ABC, como voluntário e depois como subcoordenador de saúde do Projeto Rondon, no campus avançado de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), senti de perto a total falta de estrutura para a prestação de assistência médica de qualidade a um povo já sofrido.
Tivemos que fazer um parto em plena estrada de terra, pois o serviço de saúde era distante, as condições da rodovia eram terríveis e não havia mais tempo.
Éramos um grupo de entusiastas, mas sempre sob supervisão acadêmica. Ninguém estava ali se não pela sua própria vontade.
Em 1976, já residente da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, continuei no Projeto Rondon, em Marabá (PA). O atendimento às populações ribeirinhas ocorria após uma linda travessia de barco seguida por uma esburacada e longa estrada.
Há 11 anos, convidado pelo governo de Angola, coordeno projetos de prevenção à transmissão vertical do HIV e de biossegurança nos hospitais nacionais. Chegamos lá logo após o fim de uma guerra civil. Ajudamos a qualificar os recursos humanos locais para prestar assistência aos doentes, por meio de treinamentos e intercâmbios.
Essa experiência de décadas me permite dizer, categoricamente, que não se resolve a carência de médicos no interior do Brasil contratando profissionais estrangeiros sem revalidação do diploma ou exame de proficiência em língua portuguesa.
Qualquer médico brasileiro precisa comprovar o domínio do inglês fluente se quiser estagiar nos Estados Unidos, por exemplo. Na atenção primária em saúde, a conversa com o paciente é fundamental.
Nos rincões brasileiros, a carência de estrutura dos serviços de saúde, sem contar a questão do acesso, ainda é, infelizmente, uma realidade. É preciso condições adequadas de trabalho e a possibilidade de crescimento em termos de carreira e qualificação. Nenhum médico hoje ficará satisfeito simplesmente em razão do salário.
Preocupa do mesmo modo a proposta do Ministério da Educação em relação à extensão dos cursos de medicina, com residência compulsória no Sistema Único de Saúde.
Não foi estabelecido de que forma esses alunos serão monitorados à distância ou qual faculdade tem corpo docente suficiente e capacitado para ensinar nas salas de aula e monitorar alunos à distância, simultaneamente.
Se não forem elevados os recursos destinados para a área da saúde, não se fará política pública neste país.
O Instituto de Infectologia Emílio Ribas forma residentes para o país inteiro. Vejo jovens dispostos, que mantêm o romantismo pela profissão e são bem qualificados, mas não encontram condições mínimas de trabalho em muitos lugares.
O Brasil já avançou bastante nas últimas décadas em saúde pública. A população hoje vive mais e com maior qualidade. Ainda temos muito para avançar na área de ensino, pesquisa e qualificação em medicina. Queremos médicos brasileiros, e até mesmo estrangeiros, com condições adequadas para proporcionar saúde à população.
DAVID UIP, 61, médico infectologista, é diretor do Instituto de Infectologia Emílio

Luiz Eduardo da Silva disse...

Concordo com vc valdemar, só que isso nunca vai mudar no Brasil, pois em todos Estados/Municípios acontece essas barbaridades, falta de administração/planejamento, remédios e muitas outras coisas, agora senho Carlos Toledo, mas os nossos médicos dos sistema públicos parecem ter medo de pobre, nem olham para as pessoas, por exemplo, minha filha de 5 anos quase morreu ao ser atendida na Policlinica Hamilton Gondim no Tandredo Neves, ela passou mal e foi atendida durante três dias por três médicos, todos indicaram lufital pois acreditavam que ela estava com gazes, nenhum teve coragem de tocar nela, pois bem, foi internada com urgência pois estava com apendicite aguda, ficou quase um mês devido a gravidade, pena que a mãe de minha filha não anotou os nomes do médicos, pois como vc disse, esses safados/bandidos mereciam processos criminal e no CREMERO, só que no cremero não daria em nada.

Tania disse...

Esses médiCUs não querem ir para as cidadezinhas porque muitas delas não têm a extensão da faculdade que eles fizeram, ou seja, um monte de boteco para encherem a cara e se exibirem, então não dá pra entender porque querem manifestar contra a vinda dos estrangeiros. Hoje, os hospitais estão cheios desses médicos incompetentes que saíram das faculdades com um canudo só param satisfazerem o ego e serem chamados de doutores. OS PIORES MÉDICOS DE CUBAS, COM CERTEZA SÃO MELHORES QUE OS QUE SE DIZEM MELHORES NO BRASIL, mas têm médicos competentes, aqueles que se formaram há muitos anos atrás por amor à medicina e não por um título de médico.
Aproveitando, quero deixar o meu agradecimento aos médicos Piratan e Alexandre Leite que salvaram a vida do meu pai que ainda se encontra hospitalizado, mas fora de risco, depois que o tirei a força do hospital da Unimed quase sem vida, após um bando de “médico” carniceiro quase o matar. Meu pai chegou ao Hospital da Unimed dirigindo sozinho e tirei ele de lá quase em um estado de coma.