Dia Internacional da
Francisca
Professor
Nazareno*
Simone de Beauvoir disse:
“não se nasce mulher: torna-se”. Por isso, não existe o dia
internacional da mulher. Não existe, nem jamais deveria existir. Como é só um
dia como outro qualquer, tudo não passa de embromação, enrolação e lorotas do
sistema Capitalista, que cria a seu modo e necessidades, dias dedicados às pessoas
e personalidades com o objetivo único de aquecer as vendas no comércio. Criar
um único dia, dentre os mais de trezentos ao ano, para a mulher é reduzir a sua
importância. Ora, todo dia é dia de mulher. Quem tudo faz para conduzir a família,
engravida, dá a luz, amamenta, educa, cria, trabalha, opina, decide, ama, não pode
e nem deve ter só um único dia. Se Deus existe, é uma mulher, nisso eu sempre
acreditei. Como poderia ter criado tudo isto de forma perfeita e harmoniosa
sendo um frágil homem? Criados ou evoluídos, somos todos mulheres, já que “o
homem é uma mulher que não deu certo”.
Porém, não é apenas a sociedade e as
relações humanas machistas que maltratam tanto as mulheres. A natureza também
aprontou das suas contra este belo e insuperável ser: deu-lhe “de presente”
cinco desgraças que elas têm de carregar por toda a sua existência. Livres
destas maldições inexplicáveis, os homens riem por não terem o hímen, que só
serve para criar tabus e doer feito a peste. A menstruação é outro terrível
incômodo de que os machos da espécie se livraram. A gestação muitas vezes não é
apenas motivo de alegria, algo lindo e maravilhoso, é um incômodo e uma
vergonha indescritíveis quando, principalmente, acontece de forma indesejada. O
parto ou “dor tirana” parece uma vingança que a natureza reservou só
para as fêmeas. Deve ser por isso que amo tanto a natureza, que me poupou deste
“sofrimento terrível”. E por fim, a menopausa, que chega como uma
pancada fatal e final nas pobres coitadas.
Seres
humanos, cujas mentes femininas estão em corpos de homens, ou até os corpos
femininos cuja mente é de varão, também merecem o respeito digno da nossa sociedade
machista, arrogante e preconceituosa. São todas mulheres, tão guerreiras e
abnegadas quanto às “originais”. Dessa maneira, em pleno século vinte e
um é muito difícil entender como algumas religiões e sociedades massacram e
perseguem tão covardemente o nosso único elo feminino. A mulher deveria estar
presente em todas as instituições e organizações sem nenhuma distinção nem
preconceito. Embora não seja o usual, na política ela poderia usar o sexto
sentido e roubar menos. É muito confortável para nós homens observarmos cada
vez mais o aumento da participação delas na administração das sociedades. De
Dilma Rousseff, a nossa Presidenta, até as mais notáveis líderes mundiais,
tem-se notado essa excelente contribuição feminina.
Depois
da minha Francisca, a “beiradeira” mais charmosa e perfeita que já
conheci até ontem, posso dizer que já admirei profundamente várias outras criaturas
desse universo encantador: das bravas mulheres de Atenas passando por Joana
d’Arc, Florbela Espanca, Clarice Lispector, Rosa Parks e mesmo Margareth
Thatcher, Golda Meir, Hillary Clinton, Angela Merkel, Cristina Kirchner ou
Michelle Bachelet, dentre tantas outras, não há como não se encantar e se
apaixonar perdidamente por esse misterioso e enigmático mundo feminino. É por isso que eu sou um lésbico assumido. Com
aproximadamente quatro milhões de neurônios a menos, esses seres conseguem
proezas inimagináveis para simples mortais. Fico imaginando se a natureza
tivesse-lhes dado o mesmo número de neurônios de nós, homens. Ainda assim, nas próximas
encarnações, se houver, quero nascer homem, de novo. Não usaria uma burca nem
aceitava desaforos de seres inferiores: os homens.
*É
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
professor seu texto foi muito atraente mas gostaria que o senhor fizesse uma explanação sobre um tema de vital importância pra nossa sociedade que é a água.
a próxima semana será a semana da água e gostaria de saber qual sua visão em relação isso.
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