sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Brasil: um país inteiro anestesiado pela ficção


Quem será que matou Norma?


Professor Nazareno*


Algo extremamente importante para os destinos da nação será desvendado hoje no Brasil: finalmente a população brasileira ficará sabendo quem matou a Norma, personagem vivida por Gloria Pires na trama da novela “Insensato Coração” de Gilberto Braga e Ricardo Linhares que é exibida no horário nobre da Rede Globo. Mais de 90 milhões de telespectadores, segundo estimativas globais, estarão à noite em frente à telinha para saber o resultado final da trama. Assim como o assassinato de Salomão Hayalla, personagem da reprisada novela global “O Astro”, e de Odete Roitman, da também global “Vale Tudo”, a morte desta personagem une os brasileiros (idiotas e alienados em sua grande maioria) de norte a sul do país numa espécie de “frenesi nacional” para desvendar os mistérios da ficção. Só ficção mesmo, já que para Literatura há ainda uma grande distância a ser percorrida.
Há um ditado popular muito conhecido e que muitos o atribuem a Platão: “os seres humanos sábios e inteligentes falam sobre idéias e pensamentos, os normais falam sobre coisas e os medíocres falam apenas sobre pessoas”. Se este ditado estiver correto, está explicado o porquê de tanto sucesso que as novelas brasileiras fazem aqui no Brasil. Somos uma nação de pessoas vadias, despolitizadas e medíocres em sua grande maioria. Deixamo-nos anestesiar por tolices sem nenhuma importância cultural, social, política ou histórica apenas com preguiça mental ou medo de discutir os reais problemas que afligem o país. Damos a audiência de que as emissoras tanto precisam para embrutecer a nação e imbecilizar ainda mais o povo com o seu pífio nível de programação diária. Como se já não bastassem os imorais programas policiais, o horário político gratuito e o ridículo BBB ou A Fazenda.
Porém, adivinhar quem matou a Norma seria apenas um jogo de coerência e lógica. Particularmente eu acho que foi o Roberto Sobrinho, Prefeito de Porto Velho.  Afinal ele ajudou na morte do PT de Rondônia e também assassinou a paciência dos motoristas da cidade com suas incontáveis obras inacabadas. Para “executar o serviço” seria a coisa mais fácil do mundo: viajava com qualquer um dos seus secretários para Fortaleza no Ceará, se hospedava no luxuoso hotel da Marquise e de lá, sem a imprensa saber, dava um pulinho até o Projac no Rio de Janeiro e pronto. Além do mais, seria muito bom para nós de Rondônia. O nosso Estado ganharia fama nacional e ficaria muito famoso e conhecido no Brasil inteiro, já que quase ninguém fora daqui sabe que Rondônia existe. Além dele, quem mais poderia pousar de suspeito por ter realizado esta grande tragédia nacional?
Talvez a Assembléia Legislativa do Estado possa abrigar em seus quadros o suposto assassino. Isto porque “esta casa de leis” foi acusada recentemente por parte da mídia local de, na calada da noite e em conluio com o Poder Executivo, ter aprovado a isenção de quase um bilhão de reais em impostos das usinas do Madeira. Claro que isto não é verdade. Já ficou provado que todos os deputados estaduais de Rondônia trabalham em benefício do povo e não fariam tal coisa. Se ela não existisse, Rondônia não seria o que é: um Estado pujante, altamente desenvolvido, com altos índices de IDH e que ruma inexoravelmente para o progresso. Ai de nós, se não fossem esses grandes legisladores que temos. Quando vejo uma propaganda da ALE logo me vem à cabeça o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Por isso, deve-se entender que nenhum deles possa ter matado a Norma. Não faria sentido algum.
Mas se não foi ninguém de Rondônia, quem teria sido então? Talvez um dos muitos Ministros demitidos do Governo da Dilma. Ressentidos, resolveram se vingar do povão. Além do mais, pesam contra eles acusações de envolvimento em casos escabrosos de maracutaias e desvio do dinheiro público. Se for verdade, matar uma pessoa seria então “um café pequeno” para alguns deles. Mas amanhã, o país amanhecerá mais aliviado. Saberemos enfim quem foi o responsável. O país acordará de uma utopia e já na segunda-feira embarcará em outra pior ainda. Sabemos quem matou Norma, Odete Roitman ou Salomão Hayalla e não queremos saber quem nos mata diariamente ao desenvolver em nós a incapacidade de pensar sobre a dura realidade que nos cerca. Para muitos brasileiros babacas, é mais importante saber quem assassinou um personagem da ficção do que quem nos mata diariamente em nossos “açougues-hospitais”.  Por que saber a quantas anda o atendimento no Hospital João Paulo Segundo se posso viver a mesma realidade só que de mentirinha? Quando os viadutos de Porto Velho serão terminados? Quando esta sociedade medíocre e alienada valorizará a educação? Quando os nossos políticos deixarão de roubar o nosso suado dinheiro? Quando, enfim, haverá mais ética na política? Quando seremos chamados de povo em vez de público? Há dois dias morreu Norma, a personagem fictícia da novela, e a partir de hoje continua morrendo um país inteiro mergulhado no faz-de-conta de sua idiota gente.





*É Professor em Porto Velho.

20 comentários:

Anônimo disse...

Áspero, porém não vil. O texto é elucida e informativo a partir da premissa que "povo é povo" e nunca deixará de sê-lo.
Não deixa de ser crítico severamente, mas alivia quando deixa claro as exceções.
Nazareno ao menos sabe que "Norma" morreu e seu assassino será identificado hoje. Também sabe que hoje é o derradeiro capítulo da dramaturgia novelística que centra o tema.
Eu, por meu lado, sequer sabia o nome da personagem, como também não me interesso por conhecer um assassino da ficção nossa do dia-a-dia.
Na realidade, sei que novelas "passam" na TV porque entre a mudança de um canal para outro às vezes esbarro em uma.
Mas se não gosto, uso a inteligência (e o controle remoto) para sequer deter poucos segundos com aquela tela à minha frente.
E vou assistir meu futebol, corrida, documentário...
Abraços, Nazareno.

Artur Qquintela disse...

Não gosto de anonimato. "Áspero, porém não vil." é de minha autoria, sim.

Daniel Oliveira disse...

Foi a Wanda: final de 'Insensato Coração' marca 47 pontos no Ibope e emplaca hashtags no Twitter. migre.me/5wKbX

Fernando disse...

Professor Nazareno,

navegando pela internet, "esbarrei" nesse seu texto. Excelente, há muito não lia nada no Brasil tão interessante. É a crítica bem escrita e fundamentada - parabéns!

Luis Carlos, Maria Rita e Marcos Vinícius disse...

luiz carlos de souza - 19/08/2011

Enfim encontro alguém lúcido nesse Brasil de alienados, onde quem manda é banqueiro, usando as marionetes travestidas e reunidas sob a sigla de partido dos trabalhadores . Basta verificar o lucro líquido dos bancos do país. Por exemplo, um dos de pior desempenho, o Banco do Brasil, só no primeiro semestre do corrente ano faturou 6,2 BILHÕES DE LUCRO LÍQUIDO. Faça as contas e veja quando lucrou por dia. Verifique depois os demais bancos. Mudar o sistema? Nem pensar. Para quê? Que se danem os imbecis assalariados de 545 reais. Só à força se mudam coisas assim, bastando olhar para o outro lado do mundo onde o povo já se encheu desse tipo de pilantras. Vamos à luta meu povo. Aguardo o chamado !

MARIA RITA - 19/08/2011

O professor Nazareno deve estar com tempo sobrando. Sabe tudo de televisão. Que legal. Assim, fiquei informada do mundo televisivo sem mesmo ter assistido nada. E, meus pêsames pela Norma. A defunta era sua parente?

marcos vinicius mai - 19/08/2011

Parabens belas palavras,concluido o misterio.

Comentários

Grasiele Pedraça disse...

Quando vi o tema estranhei o Prof Nazareno comentar um tema desse tipo então resolvi lê e gostei de tudo que ele escreveu. A população Brasileira em geral tem que mudar o pensamento não só os Rondonienses. Muito pessoas me chamam de chata por luta por meus direitos. Sou mesmo grossa com pessoas imcompetentes, luto por meus direitos. O que tem de gente imcompetente em Porto Velho não é brincadeira.

Nelci Ferreira dos Santos disse...

Talvez as pessoas se preocupam mais com a ficção porque talvez na ficção o culpado é punido como se deve! E a realidade na qual vivemos, não muda a menos que o culpado seja do partido oposto... Podemos lutar espernear, gritar e ainda assim muito será em vão. Porque corrupto aqui no nosso país é o que mais tem, quando se pensa que vai mudar por tem alguém lutando por isso, este alguém é do mesmo bando... De que adianta um apenas reivindicar mudança ou justiça. Estamos nas mão de corruptos, talvez nem todos.Mas confiar em quem? Sinto muito por meu país, mas enquanto não aprendermos a votar e por pessoas que realmente achamos que irá fazer algo por nós lá no poder e não porque prometeu isso ou aquilo,nada vai mudar! Sinceramente! Não assito a novela por não ter tempo, faculdade e trabalho não me deixam tempo pra isso!!Mas confesso que gostaria de saber sim quem matou a Norma e quem matou Salomão Hayalla. E não sou mediocre por isso,cada um tem uma forma de pensar.

Fernando Tupan Coragem disse...

Quero primeiramente com grande satisfação dar os parabéns ao escritor desta matéria, por sinal este realmente não se cala diante das coisas que tem acontecido!!! Me repudia saber que Porto Velho está de mau á pior e todos ficam com os braços cruzados, pra piorar o gatão do Roberto Sobrinho ainda vai à TV para falar sobre os bairros e fala que estão sendo feitas melhorias coom no Nova Esperança como se ele fosse superior e não tivesse ganhando para isto e por sinal muito bem... Muito melhor que qualquer trabalhador onesto que trabalha para pagar estes nojentos governantes....

Ana Cláudia M. Pinheiro disse...

Caro Professor Nazareno, to tão comovida com sua indignação...rsrsrsrs, percebo que ta acompanhando a novela todos os dias isso significa que é um (idiota) tb querido ja que não sabe o nome de todos os personagens informo a vc que meu palpite de quem matou a Norma foi a Wanda. Querido um otimo final de novela a todos nós.kkkkkkkkkk

Dr. Marcelino Rego disse...

Sem comentários nobre professor! Falou tudo! Nosso povo é gado indo para o matadouro e batendo palminha!!

Ana Cordeiro disse...

Nõa vejo a hora de assistir o último capítulo!

Denise Beckmann disse...

“os seres humanos sábios e inteligentes falam sobre idéias e pensamentos, os normais falam sobre coisas e os medíocres falam apenas sobre pessoas”. Concordo, e o autor do texto demonstrou fazer parte dos medíocres, ao escrever sobre um tema que ele mesmo considera "tolice". Deveria ter usado este espaço para escrever sobre idéias e pensamentos. Lamentável, quis criticar mas acaba demonstrando ser pior ainda que os criticados.

Josemar Freire Botelho disse...

O que mais chama a atenção nos textos escritos pelo Professor Nazareno é a sutileza e a ironia das suas palavras. Muitos comentaristas simplesmente não entendem o que é isso e se metem a fazer comentários esdrúxulos e sem sentido algum. Neste texto, por exemplo, o que se quer falar é sobre a questão da Assembleia de Rondônia ter compactuado com o Governo do Estado para lesar os cofres publicos do estado e também da irresponsabilidade da Prefeitura e do seu Prefeito com a nossa gente. Nada a ver com novelas, que acredito não serem assitidas por alguém com o perfil deste professor. E a maioria entendeu que ele é um fiel telespectador desse lixo que nos servem diariamente pela televisão. Povo burro, ignorante e sem visão de mundo. Por isto que ele critica. O texto é uma crítica politica antes de tudo, meus caros leitores. Sem querer defender o escriba em questão, mas vocês gostariam que ele desenhasse para voces entenderem melhor a crítica?

Ian Moreira disse...

Professor, talvez você pudesse também estudar um pouco mais. Só espero que você não seja professor de português, pois "quem mais poderia POUSAR de suspeito" é de matar qualquer um. O que mais gosto é desse tipo de gente, medíocre que não sabe sequer escrever, virou professor por comodismo e hoje pensa que pode atacar todos. Então vem uma admiradora (Grasiela), escrevendo mais errado que qualquer outro, chamando os rondonienses de incompetentes. Das duas uma, ou estudou com o "Prof." Nazareno, ou fugiu das aulas de portugûes....

Luiz Albuquerque disse...

Luiz Albuquerque disse:


Nossos dramas públicos só chamam atenção de alguém quando o atingem diretamente. Enquanto isso não acontece, é sofrer com o “draminha” das novelas. Se não, estariam atentos para a reação de um partido político quando seu ministro é denunciado por corrupção. Ou estariam mais atentos ainda para imaginar o quanto se gasta, da verba pública, com propagandas como as da nossa ALE. Em um ano, foi o “somos daqui, e queremos respeito”. Noutro ano, foi o “devolve-se dinheiro”, como se isso não fosse uma tremenda falta de planejamento administrativo. Agora, há meses, os estacionamentos dos shoppings de Rondônia são gratuitos. Mas, os shoppings? Quantos são? Em todo o estado, só um! Será que não tem algo mais sério ou importante para divulgar? Se, em vez de tanta propaganda, a Assembléia pagasse a despesa de todos que estacionassem nele, certamente seria muito mais barato. Por enquanto, parabéns professor Nazareno! Quanto aos 90 milhões de telespectadores, torço para que, um dia, passem a dar atenção ao nosso drama do dia-a-dia, e não das novelinhas das tv’s.

Emanuele disse...

Amei a reportagem...pura verdade de um país, que vive de ilusões...vc professor só se esqueceu de lembrar que poderia ser um dos varios benificiados com a transposiçao, que perdeu a paciência e saiu a luta para fazer falar a Lei...mas eu tambem como a maioria assisti os ultimos capitilos dessa novela e havia comentado o que realmente aconteceu q quem matou a tal foi a mãe do infeliz na ficção...é psicologia de mãe...

Cledson ou Jair Antônio? disse...

É a norma morreu, não sabia obrigado pela informação. Agora mudando de assunto, vc vai morrer quando, ainda tá loonge,sabia que tem mães de familia que o unico lazer delas esse após um árduo dia de trabalho pelos R$ 545,00 da dilma, todo mundo sabe que politico rouba, então pra quê ficar enriquecendo seu texto com isso, se politica fosse ruim ninguém queria. Ah, eu não gosto de novelas, tô mais para jornais televisivos e na internet, r7 e g1 são boa pedida. E pra completar acho que vc sempre faz esses comentários pra ver as pessoas se encomdando com vc, sabe assim uma de dependência. Obrigado e morre logo tá... Meu Nome é Cledson Monteiro da Silva.

Felipe disse...

Sr. JOSEMAR FREIRE BOTELHO - Perfeito seu comentário.O povo lê tanto o prof.Nazareno e NUNCA entende o que ele quer dizer.É incrível como o analfabetismo funcional é grande.Às vezes leio os comentários e me divirto com essa falta de entendimento.O humor-negro do prof.Nazareno é sua marca registrada...

Anônimo disse...

Mais tem cada comentário hei. Como eu tenho orgulho de ser sua aluna professor Nazareno, me divirto demais lendo esses textos, e os comentarios tbem rsrs

Cláudio disse...

E aí professor, firmeza? Quando tô “coçando”, costumo ler seus textos, me divirto aos montes, pois eles - os textos - , apesar de bem revoltados com nosso lugarzinho velho de guerra, metem o dedo na ferida sem dó.
Melhores que o texto, são os comentários, é lindo ver uma cambada de desocupado, tentando escrever direitinho- afinal o senhor é “o professor de língua portuguesa”-, usando palavras pouco comuns em seus cotidianos, só pra tentar bancar o intelectual. Acredito que o senhor também deva rir uns bocados. Imagine, como devem ter usado o Word, a fim de terem seus erros gramaticais corrigidos automaticamente pela máquina. É hilário. Um texto de pouco mais de dez linhas deve ter levado horas pra ser terminado.
E os metidos a politizados? Tentam confrontá-lo a todo custo né mesmo? Debater o que meu filho? Num concorda num lê! Num comenta, afinal fica sensação de estar brigando sozinho. Ou tudo será resolvido em cadeia nacional, com prova de títulos e tudo mais? Só mongo mesmo.
Mas, pior que estes, são os bajuladores, credo! Ô povinho seboso! Amei, adorei, concordo... Enfim, gente sem personalidade. Vão chupar parafuso, até virar prego.
Pena que o senhor num responda comentários, pois teve um tal de Ian, que confrontou seu domínio da norma – essa norma, num tem nada a ver com a Norma da novela – culta da escrita, dá uma resposta pro cara, pra num ficar feio, se num quiser usar o blog, manda um email, sms, sinal de fumaça... num sei, mas num deixa em brancas nuvens não. Olha lá hein?
Pros meus erros de português, f..... admito num saber tudo que é preciso pra escrever que preste. Mas, com um pouquinho de boa vontade, da pra entender alguma coisa. Afinal, segundo o tal Ian – filho de uma égua- até o senhor que é o cara, ta errado, que dirá minha pessoa?
Então é isso, participei, forte abraço.