“Água mole em pedra dura...”
Professor Nazareno*
Professor Nazareno*
Imaginemos duas cidades
brasileiras de duas regiões bem diferentes entre si. Porto Velho, capital do Estado
de Rondônia, dizem que com aproximadamente 400 mil habitantes, região Norte do
país e localizada em plena floresta Amazônica e Cabaceiras quase um vilarejo
empoeirado com pouco mais de 4 mil pessoas, na região do Cariri paraibano, uma
das regiões mais secas do mundo e sem dúvida a região mais árida do país com um
índice pluviométrico baixíssimo. Certamente o que não é comum entre as duas
cidades citadas é a abundância de água em uma e a escassez na outra. A miséria
com certeza se faz presente nas duas bem como a existência de ruas esburacadas,
sujas, fedorentas e sem nenhum planejamento. A presença de políticos picaretas
também é muito comum aqui e lá. Só que em ambas, o povo é muito dócil.
Banhada pelo imponente
rio Madeira (já sentenciado de morte), um dos 15 maiores rios do mundo em
extensão e o segundo maior do Brasil em volume de água perdendo somente para o
rio Amazonas, além de uma infinidade de lagos, furos, igarapés e um dos mais
altos índices de chuva do mundo e próxima a outros rios também grandes e
caudalosos como o Candeias, Jaci-Paraná e Jamari, a capital de Rondônia sofre
há anos com a falta do precioso líquido nas torneiras domésticas. Houve
promessas (só promessas mesmo) de água potável para todos na capital com as
obras do PAC. Era a esmola que tentaram nos dar em troca das hidrelétricas. A
cidadezinha de Cabaceiras tem água potável 24 horas por dia. Lá, aqueles
paraibanos não sabem o que é uma bomba para poço nem talvez o significado de
artesiano. Sortudos.
A Cagepa,
Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba, abastece diuturnamente os mais de 230
municípios paraibanos com água potável e com pressão suficiente para fazer
jorrar as torneiras sem precisar de bombas nem de caixas de água ou cisternas.
Enquanto isso a Caerd, a nossa companhia de água (só água mesmo porque não há
esgotos por aqui), contenta-se em mandar a cada dois dias um mísero filete do
líquido que mal chega às casas dos rondonienses. Sem bomba de captação,
adquirida por conta do pobre consumidor, não há abastecimento. Não são poucos
os bairros da capital que não são atendidos pela estatal. Poço comum,
geralmente cavado ao lado de uma fossa e já contaminado por fezes, ou artesiano
é uma rotina para a maioria dos nossos habitantes. Neste verão são muitos os
casos de falta de água na cidade.
Se com tanta água
disponível a Caerd (que de tão velha e ultrapassada ainda não atualizou a
sigla, pois usa a mesma desde quando isto aqui ainda era território) não
consegue abastecer dignamente a população, resta saber para que serve ela,
então? Por que os inúmeros governos que por aqui passaram simplesmente não
privatizaram o sistema de captação e distribuição de água? Quando será que a
nossa população terá água encanada nas suas torneiras sem precisar comprar
bombas, cavar poços e fazer cisternas? E a cidade de Porto Velho, uma capital
de Estado, quando terá 100% de rede de água e esgotos? Ou será que tudo isso
são apenas sonhos distantes? A Sanepar, Companhia de Água e Esgotos do Paraná
já pensa, por exemplo, em duplicar a oferta de serviços para seus clientes
disponibilizando dois tipos de água: a tratada para consumo humano e a sem tratamento
específico para serviços gerais como descargas, lavagens de carros, limpeza de
calçadas e outros fins. Como Curitiba é muito limpa gastará pouca água...
Enquanto as
companhias de abastecimento de água de outras unidades da federação já estão em
ritmo de Primeiro Mundo, os porto-velhenses, apesar de tanta disponibilidade do
produto, lutam desesperadamente para conseguir superar mais um verão sem água.
E provavelmente com muita poeira. E não adianta muito apelar para as soluções
alternativas. Enquanto por aqui um garrafão de 20 litros de água mineral
custa hoje entre 4 e 6 reais a unidade, em Cabaceiras, lá no Cariri seco da
Paraíba, está custando cerca de três reais. Dá para entender um absurdo destes?
“Mas para uma cidade que produzia
maracujás quando era pequena e depois que cresceu inexplicavelmente perdeu esta
característica pode-se esperar de tudo.” É, parece que o ditado popular
está certo mesmo: “Deus só dá asas a quem
não sabe voar...”.
*Leciona
em Porto Velho
– profnazareno@hotmail.com
Um comentário:
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