terça-feira, 8 de junho de 2010

O Brasil sem futebol?


Brasil, uma potência sem futebol?


Professor Nazareno*


O Brasil sempre foi o país das contradições. O que se observa hoje, às vésperas de mais uma Copa do Mundo de Futebol, por todas as ruas brasileiras, é uma mistura de amor à pátria com arroubos nacionalistas como se o destino de uma nação dependesse apenas da boa vontade de duas dúzias de atletas que são muito bem pagos para defender a seleção nacional. Estranho é perceber que “este nacionalismo exótico” também conhecido como “nacionalismo de trouxas” contagia até as classes mais abastadas da nossa sociedade uma vez que, além das ruas e favelas pintadas de verde e amarelo, notam-se também vários carros, cujos condutores de classe média para cima, estão empunhando garbosamente a bandeira do Brasil.

Eu estou também muito alegre, mas o motivo não é o futebol. Não gosto muito deste esporte e admito que não consiga assistir a uma partida inteira. É muito maçante perder tempo com bobagens. Vejo um jogo de futebol como ele é: apenas um jogo de futebol já que todo esporte é bom para a saúde de quem o pratica. A minha euforia se dá por outro motivo totalmente despercebido pela maioria dos torcedores do país. Segundo dados recentemente publicados pelo IBGE, o Brasil cresceu quase três por cento apenas no primeiro trimestre deste ano o que dá uma perspectiva de crescimento talvez superior aos nove por cento para 2010. Tive vontade de hastear uma enorme bandeira na porta do meu apartamento e outra no meu carro. Gosto deste Brasil. Assim, vibro muito com ele.

O Presidente Lula foi mais além: “Penso que nós vivemos um momento de ouro nesse país já que 9% é um crescimento exuberante. Um índice chinês. Acho que o Brasil merecia e precisava disso”, disse o nosso maior mandatário. Realmente. É bem melhor continuar crescendo pelos próximos anos neste ritmo do que ganhar Copa do Mundo. Quando um país registra estes índices de crescimento, toda a economia se movimenta, os negócios prosperam, a indústria produz mais, a construção civil aquece, o comércio vende mais, o poder de compra da população aumenta e todos ganham. Qualquer economista sabe disto. Ganhar uma competição de futebol só aumenta a venda de bebidas alcoólicas, enriquece ainda mais os jogadores e é algo previsível.

Este país não pode viver apenas de futebol, mulher pelada e políticos corruptos. Claro que somos uma potência ainda com “os pés de barro”. Precisamos crescer noutras áreas, melhorar o nosso frágil e falido sistema de educação que é considerado um dos piores do mundo. A saúde pública neste país tem qualidade africana. Precisamos melhorar a nossa infra-estrutura como um todo, melhorar nossos portos, estradas. Precisamos atrair mais investimentos estrangeiros e atacar os nossos problemas sociais. Crescendo assim, vamos superar a economia da Itália em breve. Teremos fôlego para ser um G-7, grupo dos sete países mais ricos do mundo. O detalhe é que em país de Primeiro Mundo quase não há banguelas, fedorentos e famintos em sua população.

O povo brasileiro deveria ver que futebol não é tudo num país. O nacionalismo de que precisamos é mais importante do que "onze marmanjos" correndo atrás de uma bola. A estupidez e a burrice de declarar amor ao país apenas de quatro em quatro anos é algo bisonho e difícil de aceitar. A Coréia do Sul, por exemplo, tem mulheres bonitas e futebol. Quase todo país tem. Mas há outras coisas lá fora que fazem destas nações lugares bem melhores de se viver, pois a maioria investiu em educação de qualidade e atacou seus problemas sociais. Se ganharmos o campeonato, nosso amor dura ainda uns dois ou três meses. Se perdermos, rompemos logo com essa paixão que nunca existiu. Não queremos o bem do nosso país. Queremos somente ficar alegres e embriagados porque ganhamos uma competição esportiva que não é “lá” uma grande coisa.


*Leciona em Porto Velho.


8 comentários:

Ivanilson Frazão Tolentin disse...

Concordo com o senhor, professor Nazareno. Crescimento econômico, com certeza, é mais importante do que ganhar uma ou mil Copas do Mundo de Futebol ou de qualquer outro esporte. Em especial, em um país marcado por tantas desigualdades sociais e onde a distribuição de renda é a mesma de muitos pobres países africanos. Aliás, essa última não pode ser esquecida pois, na época do Milagra econômico, na década de 70, o país cresceu mas a renda não foi distribuída. O senhor Delfim Neto, que era ministro da economia, dizia que o bolo precisaria crescer primeiro para ser distribuído depois. Porém, o bolo cresceu e não foi distribuído. Torço para que dessa vez seja diferente e o próximo governo tenha força para fazer as reformas que o país tanto necessita para se tornar, de fato, uma grande nação entre as mais desenvolvidas do mundo. Não adianta em alguns anos estarmos à frente de uma Itália ou Reino Unido, em termos econômicos,quando em termos sociais(educação, saúde, IDH entre outros)estamos no mesmo nível de um Sudão ou uma Eritréia. De qualquer forma, gostei desse texto. Nele, para mim, o senhor se redimiu do absurdo que foi o anterior. Um abraço. Ivanilson

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Humberto Oliveira disse...

Caro professor, concordo plenamente com você. No último domingo passando pela Abunã pude assistir abismado a movimentação de inúmeras pessoas enfeitando a fiação elétrica com fitas nas cores verde e amarelo. Fiquei me perguntando se estas pessoas não se tocam do perigo? Realmente de cair o queixo esta perda de tempo. Mas a vida e o gosto é deles e certamente não cabe a mim julgar. Pois existe gosto para tudo. Mais uma vez parabéns.

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Antônio de Souza Alencar disse...

GRANDE TEXTO MEU PROFESSOR. FAZIA TYEMPO QUE NÃO VIA ALGO COMO ESTE SEU PENSAMENTO. UM TEXTO QUE SUPERA E MUITO OS ARTIGOS PUBLICADOS POR AQUI. ESCREVEU DE FORMA CLARA O SENTIMENTO DE BOBOS QUE EXISTE EM NOS BRASILERIOS POR CAUSA DO FUTEBOL. A NOSSA PATRIA E MUITO MAIS DO QUE TUDO ISSO PORISSO O SENHOR TEM TODA RAZÃO. PARABENS AO SENHOR E AO SITE DO RONDONIAOVIVO PELA EXCELENTE PUBLICAÇÃO E PELAS PALAVRAS TÃO BEM COLOCADAS. FUTEBOL NÃO É TUDO E NUNCA FOI.OBRIGADO.

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Chris disse...

pela primeira vez concordo com o dito professor,que muito fala mal desta terra que o acolheu e de onde tira o seu sustento.

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Márcio Cavalcante Vieira disse...

boca fechada não entra mosca, o povo brasileiro trabalha como escravo, tem uma carga tributária exorbitante e chatos como esse cara que além de ser um mal humorado ainda chama todo mundo de idiota, se manca se não ajuda, ver se não atrapalha, ignorante. Realmente falta muita coisa nesse pais, mas você já fez alguma coisa pra ajudar nosso país hoje, além de olhar pra si mesmo, e falar mal de quem gosta de esportes. Pelo jeito você é um cedentário, indo pela contra mão, quando todos procuram fechar a boca e procurar um esporte, você procura abrir pra falar mal. Com todo respeito.

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Juniel Silva Lima disse...

Não concordo quando o professor fala do nacionalismo dos brasileiros, precisa existir paixão pelo país. Concordo quando fala que deveria ser menos intermitente, na realidade não deveria ser intermitente senão completo, afinal vivemos em um país ótimo... Aparecer algumas, ou muitas, demonstrações de patriotosmo de quatro em quatro anos é pouco. Deveríamos amar mais esse lugar e demostrar isso no dia a dia, deveríamos querer ajudar de alguma forma para seu crescimento em todas as áreas. Deveríamos valorizar tudo em nosso país como valorizamos a copa, as demonstrações culturais de cada povo, as eleições e por ai vai. Por falar em eleiçoes, ja estão ai. Veremos então o quanto o brasileiro é patriota e nacionalista realmente. Veremos se vão entregar mais uma vez nosso estado e nosso país para pilantras captarem bens em benefício próprio ou se valorizarão seu voto e contemplarão pessoas que querem realmente ajudar no crescimento do país. A copa é um ótimo "mote" para se canalizar toda essa encarnação de patriotismo e se usar para dar responsabilidade, pelo menos a maior parte dela, de cuidar do estado e do país, para quem de direito, o eleitor.

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Anônimo disse...

Que maravilha saber que existem pessoas que pensam assim. Às vezes acho que sou um alienígena, pois nunca consegui me envolver com essa estúpida alegria que dura tão pouco. O mundo precisa é de educação, ética e igualdade social. Adoraria levantar a taça para pessoas educadas que não jogam lixo no chão; que fazem consumo consciente; que respeitam o próximo; que cuidam do mundo como sendo uma extensão de suas casas. Adoraria levantar a taça para pessoas com ética e amor no coração. Adoraria que o Brasil fosse respeitadado lá fora e aqui dentro não pelo futebol, mas por um país de justiça social. É muito pequeno ver tantas manifestações de idolatria ao futebol quando nem mesmo as pessoas respeitam a si mesmas, ao proximo e ao país. O que mundo precisa é de educação, exemplos e valores dignos. Aí sim teria o maior "orgulho" de levantar uma taça ao mundo.

Anônimo disse...

O tal do márcio cavalcanti vieira é mesmo o retrato do povo brasileiro. Escreve sedentário com "c", mas aplaude os analfabetos "esportistas" que tanto têm nos dado orgulho dentro e fora de campo... hehe
As atitudes dos jogadores idolatrados pelo povão são o reflexo do tipo de povo que nós temos. Defendo a tese de que O BRASIL SEM FUTEBOL, poderia ter um futuro brilhante. Respeito quem pensa diferente. Só espero que os defensores do esporte nacional respondam meu comentário observando, pelo menos, as regras de gramática básica.