terça-feira, 23 de junho de 2009

Haverá mesmo guerra em Rondônia?


Rondônia em Estado de Guerra


Professor Nazareno*


Um ditado popular afirma que quando os ratos estão se mexendo no porão é por que o navio está prestes a afundar. Claro que Rondônia não é nenhuma embarcação, mas por aqui há muitos roedores inquietos ultimamente. De um lado, o governador do Estado, Ivo Cassol com o seu inseparável chapéu, sotaque caipira e uma multidão de fiéis seguidores. Do outro, Roberto Sobrinho, prefeito da capital, um arremedo de professor e psicólogo e ex-líder sindical. Ambos estão no segundo mandato de seus respectivos cargos. Foram talvez reeleitos não por causa da competência que juram possuir, mas por absoluta falta de opção do nosso minúsculo e alienado eleitorado. O primeiro é catarinense de Concórdia, o segundo é paulista.

Enganam-se os que pensam que isto aqui vive dias intranqüilos como o Irã dos aiatolás ou a insegurança do Iraque dos carros-bomba. A nossa situação é bem pior do que os dois países citados. Rondônia não pode ser comparada nem a Darfur no Sudão ou a Biafra, Somália e Eritréia na África miserável. Enquanto nessas regiões e no Oriente Médio a refrega se dá por motivos políticos, étnicos e às vezes até religiosos, em terras rondonienses os nossos líderes ensaiam um sururu por causa do vil metal mesmo, o dinheiro, a pura ambição. Afinal de contas, a terra dos Uru-Eu-Wau-Wau já está acostumada ao ‘ronco do trabuco’. A imagem que o Brasil tem de Rondônia certamente não é das melhores. Afinal, até senador da República já foi metralhado por aqui.

Recentemente em visita a Porto Velho, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, apresentou balanço regional das obras do PAC em Rondônia. Participaram os ministros das Cidades, Marcio Fortes, e dos Transportes, Alfredo Nascimento. O total de investimentos em saneamento e habitação no estado é de mais de 1,3 bilhões de reais. Mas há muito mais dinheiro que pode ser despachado para cá. A Ministra teria anunciado cifras astronômicas que chegariam a mais de 16 bilhões de reais e isto sem falar na construção das hidrelétricas do Madeira, nos viadutos, etc. A visão da administração petista é dividir o bolo antes que ele esteja pronto, resumiu a futura candidata à Presidência da República.

Com tanto dinheiro em jogo não é difícil entender por que os nossos mandatários estão com os nervos à flor da pele. Todo mundo anuncia imediatamente ‘parcerias’ com o Governo Federal. Os principais sites de notícias da região, aqueles da imprensa marrom, e os outros meios de comunicação se esmeram em apresentar matérias que elogiam ou denigrem a imagem desta ou daquela autoridade dependendo do caso. “O queijo está em cima da mesa e os ratos embaixo dando voltas para ver quem fica com o maior quinhão, para ver quem abocanha a maior parte.” E o espectador desta luta livre, deste boxe tupiniquim, desta falta de vergonha, é o povão, o eleitorado. É esta a visão bem resumida da nossa decepcionante situação atual.

Passeatas são convocadas para apoiar um ou outro nesta contenda. É o prefeito das obras inacabadas contra o governador que pode ser cassado a qualquer momento. Infelizmente estão todos, governador, prefeito e respectivos seguidores, totalmente errados. Rondônia representa menos de meio por cento das riquezas nacionais. O número de nossos eleitores é algo desprezível: em torno de 0,8 por cento do eleitorado do país. Para o Brasil, a nossa importância é muito próxima de zero. E não devemos nos iludir: o restante do país só está nos olhando por causa das hidrelétricas. Nossos representantes deviam se acanhar, pois se fossem rondonienses e gostassem mesmo desta terra, ficariam unidos e lutariam pelos recursos de que tanto precisamos. Como dividir um bolo inacabado?


* O professor Nazareno leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


sábado, 20 de junho de 2009

E o Brasil não é uma país bom para se viver?




Carta de Zé Roberto (Melhor jogador do Brasil na última Copa do Mundo)


Inicialmente gostaria de expressar minha gratidão ao Brasil. Foi com prazer que por muito tempo defendi a camisa canarinho e me orgulhei de ser brasileiro.

Infelizmente este país não faz mais parte de mim. Por muitos anos vivi com minha família na Alemanha e me identifiquei completamente com o país. A despeito de certos intolerantes e racistas, que são minoria, minha família se integrou totalmente ao modo de vida alemão. Minhas filhas mal falam português e são totalmente fluentes em alemão.

Para voltar ao Brasil, isto pesou muito. Queria que elas se sentissem, como me sentia, brasileiro. Queria que conhecessem o meu país, que falassem a minha língua nativa, queria mostrar o lado bom do Brasil, um pouco diferente daquilo que volta e meia aparece nos noticiários de TV alemão.

A tentativa foi em vão. Muito embora tenhamos ficado em uma cidade muito acima da média do padrão de vida brasileiro (Santos, no litoral de São Paulo), os males que a assolam me parecem regra, não exceção na vida brasileira. Não nos era permitido andar sem seguranças; Minhas filhas não podiam em hipótese alguma passear ou brincar na rua; Ir à praia que fica a menos de 100 m de nosso apartamento também era contra a recomendação do que nos passavam os seguranças e companheiros de clube.

Todo o tempo que estivemos no Brasil, ainda que livres fisicamente, éramos reféns psicológicos. Mesmo sendo um ídolo local, o risco parecia nos acompanhar a cada esquina virada, a cada momento em que passeávamos. A sombra do seqüestro ocorrido dois anos atrás com outro ídolo local, Robinho, nos perseguia por todos os lados.

Assistir o noticiário televisivo alimentava ainda mais nossos medos. Por sorte, minhas filhas não entendem muito bem português. Se entendessem, descobririam um país em que o crime está por todos os lados: está nas escolas, está nas faculdades, está no Judiciário, está no Congresso e está até mesmo na família do presidente. Imagino o choque cultural para elas, criadas em um país com padrões morais tão rígidos. Me ponho no lugar delas e penso como deve ter sido desagradável esta estadia no Brasil. O que pensavam quando dizíamos que elas não podiam andar livremente nas ruas? O que pensavam quando dizia que era melhor não dizer às amigas que eram minhas filhas? Como entendiam que não brincar na rua, que não passear em parques e que sempre andar com aqueles homens que não conheciam era o melhor para elas?

Minhas filhas devem ter detestado o Brasil. Foi com muita alegria que receberam a notícia de que voltaríamos à Alemanha. Além da segurança, há a questão da discriminação. Embora etnicamente muito diferente da população local, minhas filhas sempre foram respeitadas e nunca vistas com menosprezo. Aqui no Brasil, onde todas as raças se misturaram e não dá para saber quem é o que, sofríamos com um tipo de discriminação inimaginável para elas: Éramos vistos como anormais por nossa religiosidade. Por aqui imaginam que negros sofram de racismo na Alemanha, mas praticam uma intolerância inexplicável por sermos evangélicos. Ou, como é dito pejorativamente por aqui, somos "CRENTES", palavra carregada de maus juízos. Dentro do futebol, jogadores como eu que se organizam em grupos chamados de "Atletas de Cristo" são vistos com ressalvas, especialmente pela mídia que acompanha o esporte.

Por todos estes motivos, levo minha família de volta à Europa. Pelo meu sucesso e também pelas nossas escolhas, o Brasil se tornou um suplício para aqueles a quem mais amo. Batalhei a vida inteira para sair da pobreza e ter sucesso profissional. Acima de tudo isto, sempre busquei construir uma família feliz e correta. Hoje, a felicidade de minha família tem como pré-requisito afastá-las do Brasil. Por isto que, ainda que com tristeza, faço o melhor para elas.


Aos meus fãs, muito obrigado. Ao Brasil, “boa sorte.”.


É fácil imaginar a 'cara' dos que ainda não acreditam que esta é uma nação de "jecas". Aqueles que ficam escrevendo bobagens para enaltecer os valores que este país não tem. Os que se contentam em ficar se enganando e acreditando que este 'brasil' é um paraíso de coelhinhos saltitantes e borboletas azuis. Cumpre a todos nós fazer as mudanças necessárias para este país a fim de que fatos lamentáveis com este não aconteçam mais, pois lugar de brasileiro é no Brasil e não fora dele.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

A síntese cultural de um Estado


Expovel: cultura local ou circo dos horrores?


Professor Nazareno*


Acabou a Expovel em Porto Velho, graças a Deus. Foram longos dez dias de barulho, empulhação, poeira, mentiras e circo. Muito circo mesmo para os porto-velhenses, que de uma hora para outra, se viram transformados em moradores da “Capital do Rodeio”. A presepada começou mesmo no dia 06 de junho com um desfile patético pelas principais ruas daqui: mas foi muito bom, pois mostrou a verdadeira cara da nossa cidade com toneladas de sujeiras e lixo no meio das avenidas. E próximo à rodoviária este ano não plantaram aquela estátua ridícula de um boi insinuando que a capital de Rondônia era uma cidade country, como aquelas dos Estados Unidos. Que pena, pois o animal “bem-dotado” com um peão montado completaria o espetáculo circense. Muitos jovens da cidade, embriagados e vestidos à moda country dos americanos, com botas longas, chapéu grande (talvez imitando o ídolo Cassol) e vestimentas de couro, apesar dos quase 40 graus à sombra, completavam a deprimente exibição teatral. Impossível não ter pena ao ver tanta breguice. Um toque medieval em pleno século XXI. Se isto for cultura, não será diferente das outras, mas inferior mesmo. E a grande piada é que ainda existem moçoilas da região que se candidatam à rainha do evento. E pagam para isso. Que trono... Quanta barbaridade...

De fato, situada em plena floresta Amazônica e às margens do lendário e hoje já estuprado rio Madeira, Porto Velho em absolutamente nada lembra as verdejantes cidades da Califórnia e muito menos o próspero e progressista interior do Sul do Brasil. Comparar uma cidade de ‘beiradeiros e barnabés’, onde o contracheque responde por grande parte da economia local, com Barretos, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Londrina, Maringá ou Cascavel, por exemplo, é de um mau gosto sem nenhum precedente. Parece coisa de político ufanista ou mal informado em ano pré-eleitoral. Aliás, durante o período dos “festejos do peão” o que não faltou foi programa de rádio e televisão abrir espaços para as autoridades falarem à vontade e tecer loas ao pseudo-desenvolvimento do Estado. E os jornalistas de proveta, da imprensa marrom, muitos dos formados aqui mesmo, fazendo perguntas toscas aos políticos. Nestas horas quem se lembra de sanguessugas, mensaleiros, escândalos na Assembléia Legislativa, possível cassação do governador do Estado, prefeito de obras inacabadas, mídia comprada e outros afins?

Rondônia possui um dos maiores rebanhos de gado do país segundo dados do IBGE. O que não se entende é por que a nossa carne não é tão barata assim e boa parte da população do Estado, como os que vão aos espetáculos da Expovel, não tem acesso a essa iguaria. Talvez por isso o Mandi (pequeno bagre que se alimenta de fezes humanas) com farinha d’água seja um prato tão desejado na cidade. Para muita gente pobre deste lugar, degustar um bom e suculento filé ou uma picanha é tão difícil quanto arrematar qualquer objeto ou mesmo comprar um animal lá no Parque dos Tanques. Exposição de produtos agropecuários é coisa da elite. Em todos os negócios que foram fechados por lá só apareciam os poucos ricos do Estado. Para os pobretões, a ‘mundiça’, sobrou a Bailarina da Praça (nosso melhor produto de exportação) dançando com os bêbados ao som de uma dupla caipira chamada Victor & Leo e comendo “churrasquinho de gato” em meio à poeira. Não parecia o inferno de Dante, mas o de Satanás mesmo. Triste espetáculo. Coisa de rondoniense já achando que somos Primeiro Mundo... “Maninha, é o progresso de Rondonha”, afirmavam entusiasmados, alguns nativos, com o inconfundível sotaque.

Para os fazendeiros, os homens de negócios e os grandes pecuaristas do Estado sobrou a alegria dos polpudos lucros. Para os políticos de plantão, a certeza de terem colhido bons dividendos eleitorais e para o povão, a ressaca e a satisfação de saber que ‘sua mais fiel representante’ (a Bailarina da Praça) estava lá, como se no alto de um fictício pódio. Sem nenhuma cabeça de gado no pasto que não possuímos, nós rondonienses já parecemos conformados com a sina de que Rondônia nada mais é do que um quintal (ou curral) dos grandes pecuaristas lá do sul maravilha, a verdadeira Califórnia brasileira. Aqui só engordamos os bois que tanto lucro dão aos forasteiros. Sem plantar nem criar nada, só colhemos Corumbiara e outras mazelas sociais. Não é difícil entender por que com estas ‘papagaiadas’ não se faz jorrar mel e leite das nossas fedorentas ruas. E o pior é que muitos idiotas e pseudo-intelectuais de plantão, os que pensam que pensam, ainda querem discutir identidade cultural, fazeres e saberes de um povo, de uma região, de uma cidade. Quais saberes? Quais fazeres? Qual povo? Qual região? A não ser que a Bailarina da Praça dando suas piruetas seja um expoente cultural desta terra. Santa paciência...

Pelo fato de ser um espetáculo de péssimo gosto, a Expovel não deixou de apresentar o seu saldo de violência e bestialidades. “Três homens, um deles identificado como policial militar, se envolveram em uma briga com tiroteio, no Parque de Exposições, no final da tarde do sábado, quando a cavalgada chegou ao local. Depois de muitos socos e pontapés, um dos envolvidos na confusão sacou da arma e efetuou os disparos. Uma radiopatrulha agiu com rapidez e prendeu os acusados. Populares revoltados tentaram resgatar os suspeitos para linchá-los, mas a viatura saiu rápido em direção à Delegacia Central”, noticiou um site da cidade. Além desse sururu, típico das festinhas mais barrelas, uma jovem de 18 anos que estava se divertindo na cavalgada foi vítima da ação de marginais que teriam estuprado a mesma em um estacionamento localizado na Avenida Campos Sales, região Central da Capital. Segundo ela, teria sido ameaçada por três rapazes que usavam abadás do evento e foi arrastada para o estacionamento. Nada mais típico, nada mais típico... É a Expovel... Como na Roma antiga, estas festas só serviam mesmo para manter o povão adormecido. Aqui, nem isso.

Embora sem pão, a alegria certamente vai continuar. Em Rondônia estamos em plena Semana Santa com direito a espetáculos ao ar livre e ainda que seja o mês de junho, a Paixão de Cristo foi encenada sem maiores problemas. E apesar de Porto Velho ser uma das únicas cidades do país onde a Igreja Católica não festeja o santo padroeiro (24 de maio), sempre tem carnaval fora de época também por esses dias e sem falar na grande festa do “padroeiro de fato” da capital: “São Maracujá, o maior arraial sem santo do Norte do país”. A festança próxima à Esplanada das Secretarias está prestes a começar e certamente em todos estes eventos estarão presentes, só que em camarotes diferentes, as autoridades e políticos do Estado, os pecuaristas gastando suas fortunas, os bajuladores aplaudindo tudo, o povão torrando seus minguados salários e a Bailarina da Praça pulando com os artistas e rindo à toa para animar todos os brincantes. Fica faltando mesmo só o Manelão da famosa banda. E por que não? Afinal, todos somos filhos de Deus...


*Professor Nazareno leciona na escola João Bento da Costa em Porto Velho

sábado, 6 de junho de 2009

"O Brasil nunca foi um país sério"


Brasil: uma nação de “jecas”


Professor Nazareno*


A frase "Le Brésil n’est pas um pays sérieux" (O Brasil não é um país sério) foi atribuída ao presidente francês Charles de Gaulle, quando surgiu uma crise política entre Brasil e França, nos anos 60. A apreensão de pesqueiros franceses que capturavam lagostas na costa brasileira, teria irritado de Gaulle e o levado a dizer que o Brasil não era um país. Segundo a versão corrente, o embaixador do Brasil em Paris, Carlos Alves de Souza, teria acrescentado o adjetivo sério, para amenizar a situação. A crise foi resolvida, mas o mal-estar sempre ficou, apesar do general de Gaulle negar até a sua morte ter dito tal frase. Mesmo sem saber, o estadista francês estava corretíssimo uma vez que se o mundo fosse um corpo humano, já saberíamos qual a parte que caberia ao Brasil representar.

Apesar de ostentar um dos maiores PIB’s do mundo e de ter um mercado consumidor próximo aos 200 milhões de habitantes, o Brasil nunca foi destaque em absolutamente nada desde o seu descobrimento pelos portugueses. Ainda hoje em pleno século XXI não podemos mostrar nada a ninguém que possa trazer orgulho aos tupiniquins. O maior produto de exportação do país ainda continua sendo bumbum de mulher, perna de jogador e meia dúzia de produtos agropecuários como soja, café, frangos e alguns derivados da carne bovina. Itens estes que não necessitam de absolutamente nenhum conhecimento de ponta para serem produzidos. Aqui não produzimos chips para computadores, armamentos sofisticados, carros, telefonia móvel ou qualquer medicamento para a cura de doenças. Até o nosso programa espacial explodiu. Incrível, mas a nossa cultura é inferior; nossa civilização é atrasada e decadente.

Somos uma nação de vagabundos, prostitutas e ladrões em sua grande maioria. Nunca ganhamos um Prêmio Nobel de nada. Nossos filmes jamais ganharam um Oscar. Nunca nos destacamos em tipo nenhum de pesquisa. Não temos a bomba atômica. O fracasso sempre foi a maior marca registrada desta nação. Nosso sistema educacional está falido faz tempo. A grande maioria dos nossos alunos mal sabe ler e escrever o próprio nome e isto após doze anos de escolaridade, em média. A maioria dos nossos empresários na verdade são sonegadores de impostos que ficaram ricos à base do improviso e com muita sorte. Latifundiários é uma praga que sempre infestou os interiores da nação. Competência nesta terra de ninguém é uma mercadoria escassa e que sempre passou longe das nossas escolas e universidades.

Além disso, o nosso presidente é um ex-operário, barbudo, falta-lhe um dedo na mão esquerda e dono de um discurso cheio de metáforas quando se expressa em Língua Portuguesa. As Forças Armadas, que são comandadas por um civil, só se destacaram no cenário nacional quando golpearam as instituições democráticas entre 1964 e 1985 e mergulharam o país numa ditadura que manchou o nosso nome no exterior. Nossas fronteiras são extremamente vulneráveis e parecem um queijo suíço. É por lá que passa a maioria das armas contrabandeadas e quase toda a droga consumida nas grandes cidades. Nossa Justiça é lenta, burocrática e elitista. "De cada dez juízes, sete acreditam que são Deus e os outros três têm certeza", é uma frase muito comum nos meios jurídicos. Gilmar Mendes atual presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) foi acusado de soltar corruptos toda vez que a Polícia Federal os prendia.

O Poder Legislativo do Brasil é uma piada: são 81 senadores e pouco mais de quinhentos Deputados Federais que dispensam qualquer comentário. A Federação é composta por 27 unidades. Todas com Justiça, Poder Legislativo, governadores e gente (ou gentinha). Nem cultura própria este país tem. O Hino Nacional, cuja letra ninguém entende, bem que poderia ser trocado por uma música qualquer, um pagode, por exemplo, que ninguém notaria a diferença. Amor à Pátria por aqui é coisa rara. Então, poderíamos voltar a ser Colônia. Só que desta vez não seria de Portugal, mas dos Estados Unidos, do Japão ou de outro país europeu que tivesse cultura própria, nacionalismo, gente civilizada e acima de tudo cérebros, cabeças que produzem conhecimentos. Seríamos talvez um lugar muito mais respeitado do que esta terra de jecas, matutos e gente interesseira que nem amor têm a este pedaço de chão.


*Leciona em Porto Velho na Escola João Bento da Costa




domingo, 31 de maio de 2009

Rondônia, uma nação soberana?








Ivo Cassol, King Jong Il e a bomba atômica


Professor Nazareno*


Se o Estado de Rondônia fosse um país soberano teria, de acordo com o seu PIB, uma classificação muito modesta em relação às outras nações do mundo. Dentre os 180 países pesquisados, nós ficaríamos na incômoda 152ª posição. Mais ou menos junto ao Haiti, Burkina Fasso (país miserável da África sub-saariana) e Papua Nova Guiné, (República de economia desprezível da Ásia/Oceania) países que dispensam maiores comentários. Isso mesmo. Com um Produto Interno Bruto um pouco inferior a cinco bilhões de dólares, representamos dentro da federação apenas meio por cento dos recursos nacionais. Uma posição pífia e pra lá de ridícula. Seríamos apenas os campeões em devastação ambiental, desrespeitos à natureza e em bizarrices na área política.

Se na economia os números de Rondônia são desastrosos, na política também não há notícias animadoras. O nosso “presidente” seria Ivo Narciso Cassol, um pseudo-estadista que está enfrentando sérios problemas internos. Existem relatos de que o mandatário maior do fictício país tropeça até na própria língua oficial da nação. Há acusações de ter sido reeleito por ter comprado votos a cem reais (apenas 50 dólares norte-americanos). Fatos que podem tirá-lo do poder. Neste caso, assumiria os destinos do país o todo-poderoso Neodi Carlos, presidente do Legislativo nacional. O nosso Congresso Nacional seria a Assembléia Legislativa do Estado (pasmem). Qualquer semelhança com o legislativo dos países acima citados seria mera coincidência.

Para se ter um país soberano, deveria haver também a questão relacionada à segurança interna. Temos uma Base Aérea e meia dúzia de aviões (na verdade “teco-tecos” enferrujados e sobras da Segunda Guerra) para nos defender. Faríamos fronteira com a Bolívia e o Brasil, a décima economia do planeta. Deste, por razões óbvias, jamais sofreríamos qualquer ataque. O perigo estaria nos ‘hermanos’ do outro lado do rio Guaporé. A nossa infantaria teria condições de repelir um ataque dos bolivianos? Talvez sim, pois já demonstramos “nossa bravura” ao invadir um terreno destinado à construção de um teatro em pleno centro da capital do país. À marinha, caberia a difícil tarefa de explicar por que os barcos de passageiros do rio Madeira partem vazios e chegam cheios de gente aos seus destinos...

País soberano, imprensa livre. É o que reza qualquer manual. Mas grande parte da imprensa de Rondônia é composta de jornalistas sem formação acadêmica e a serviço de algum político de plantão. Existe o site que "representa" a Prefeitura Municipal, o site da Assembléia Legislativa, o site deste ou daquele político e assim por diante. Aqui seria um dos únicos países do mundo cuja imprensa teria cor: seria marrom. Esta deprimente postura se verifica também, de um modo geral, nos jornais impressos, nas rádios e na televisão. São os formadores de opinião a serviço do nada e da burrice. É a cafajestada formando cafajestes. Triste destino de um país fadado à ditadura dos pasquins e da ‘gambiarra’ oficializada dentro das redações.

Entretanto, como país soberano, Rondônia não teria a bomba atômica, exemplo às avessas da Coréia do Norte e do seu ditador King Jong Il. Rondônia, dentro da realidade do país, seria a bomba atômica. Com um governador ameaçado de perder o mandato a qualquer momento, uma imprensa amordaçada por questões econômicas, um Legislativo inoperante, forças armadas adormecidas, problemas ambientais em todas as frentes e uma população sem nenhuma identidade cultural, este fictício país estaria fadado ao desaparecimento. Não seríamos uma reles republiqueta de bananas ou um dos incontáveis países miseráveis dos continentes africano e asiático, mas uma nação sem nenhum prestígio dentro do contexto do mundo globalizado. Seríamos, na verdade, um nada ou a segunda pessoa do “quase nada”.



*É professor na escola João Bento da Costa em Porto Velho


quinta-feira, 28 de maio de 2009

Você também é consumidor da Caerd?



“Água mole em pedra dura...”

Professor Nazareno*

Imaginemos duas cidades brasileiras de duas regiões bem diferentes entre si. Porto Velho, capital do estado de Rondônia com aproximadamente 400 mil habitantes, região Norte do país, e localizada em plena floresta Amazônica e Cabaceiras quase um vilarejo empoeirado com pouco mais de 4 mil pessoas, na região do Cariri paraibano, uma das regiões mais secas do mundo e sem dúvida a região mais árida do país com um índice pluviométrico baixíssimo. Certamente o que não é comum entre as duas cidades citadas é a abundância de água em uma e a escassez na outra. A miséria com certeza se faz presente nas duas bem como a existência de ruas esburacadas, sujas e fedorentas.

Banhada pelo rio Madeira (já sentenciado de morte), um dos 15 maiores rios do mundo em extensão e o segundo maior do Brasil em volume de água perdendo somente para o rio Amazonas, além de uma infinidade de lagos, furos, igarapés e um dos mais altos índices de chuva do mundo e próxima a outros rios também grandes e caudalosos como o Candeias, Jaci-Paraná e Jamari, a capital de Rondônia sofre há anos com a falta do precioso líquido nas torneiras domésticas. Há promessas (só promessas mesmo) de água potável para todos na capital com as obras do PAC. É a esmola que querem nos dar em troca das hidrelétricas. A cidadezinha de Cabaceiras tem água potável 24 horas por dia. Lá, os paraibanos não sabem o que é uma bomba para poço nem talvez o significado de artesiano.

A Cagepa, Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba, abastece diuturnamente os mais de 200 municípios paraibanos com água potável e com pressão suficiente para fazer jorrar as torneiras sem precisar de bombas nem de caixas de água ou cisternas. Enquanto isso a Caerd, a nossa companhia de água (só água mesmo porque não há esgotos por aqui), contenta-se em mandar a cada dois dias um mísero filete do líquido que mal chega às casas dos rondonienses. Sem bomba de captação, adquirida por conta do pobre consumidor, não há abastecimento. Não são poucos os bairros da capital que não são atendidos pela estatal. Poço comum, geralmente cavado ao lado de uma fossa, ou artesiano é uma rotina para a maioria dos nossos habitantes.

Se com tanta água disponível a Caerd (que de tão velha e ultrapassada ainda não atualizou a sigla, pois usa a mesma desde quando isto aqui ainda era território) não consegue abastecer dignamente a população, resta saber para que serve ela, então? Por que os inúmeros governos que por aqui passaram simplesmente não privatizaram o sistema de captação e distribuição de água? Quando será que a nossa população terá água encanada nas suas torneiras sem precisar comprar bombas, cavar poços e fazer cisternas? E a cidade de Porto Velho, uma capital de estado, quando terá rede de esgotos? Ou será que tudo isso são apenas sonhos distantes? A Sanepar, Companhia de Água e Esgotos do Paraná já pensa, por exemplo, em duplicar a oferta de serviços para seus clientes disponibilizando dois tipos de água: a tratada para consumo humano e a sem tratamento para serviços gerais como descargas, lavagens de carros e outros fins.

Enquanto as companhias de abastecimento de água de outras unidades da federação já estão em ritmo de Primeiro Mundo, os porto-velhenses, apesar de tanta disponibilidade do produto, lutam desesperadamente para conseguir superar mais um verão sem água. E provavelmente com muita poeira. E não adianta muito apelar para as soluções alternativas. Enquanto por aqui um garrafão de 20 litros de água mineral custa hoje entre 3 e 4 reais a unidade, em Cabaceiras, lá no Cariri seco da Paraíba, está custando menos de 2 reais. Dá para entender um absurdo destes? “Mas para uma cidade que produzia maracujás quando era pequena e depois que cresceu inexplicavelmente perdeu esta característica pode-se esperar de tudo.” É, parece que o ditado popular está certo mesmo: “Deus só dá asas a quem não sabe voar...”.


*Leciona em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Aluno de Escola Pública também produz texto "porreta"




TEMA: Segundo dados de órgãos ligados ao Estado, o Brasil chega a produzir quase três vezes mais alimentos acima da necessidade de sua população. No entanto, o Programa Fome Zero do Governo Federal detectou há quatro anos, que havia no país mais de 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, ou seja, passando fome. Produza um texto dissertativo apontando possíveis causas da fome no Brasil. O que fazer para distribuir melhor os alimentos no nosso país? Seria a fome uma instituição humana ou divina? Como se livrar desta incômoda realidade?



“O Sistema da Desigualdade”


Jâmisson de Araújo Conceição*


No século XIX, Karl Marx (criador do Socialismo Científico) apontou diversos problemas no sistema Capitalista, tais como a desigualdade gerada por um sistema que produz alimentos que dariam para alimentar toda a humanidade, mas que simplesmente não o faz. Tal disparidade ocorria e ainda ocorre, porque vive-se (SIC) em uma sociedade movida pela “Mais Valia”, ou busca por lucros na linguagem cotidiana. Com isso fica claro que a fome do século XXI é fruto da desigualdade humana.

O Brasil por sua vez vive um momento de grandes contrastes tecnológicos, pois se no Centro-Sul o acesso a (SIC) informação está ao alcance de quase todos, no Norte e Nordeste são poucos os que têm acesso aos meios de informação, e consequentemente não conseguem se adaptar a este mundo globalizado. Logo se percebe que estas pessoas ficam excluídas e com dificuldades para conseguir um emprego digno que garanta a sua sobrevivência e a de sua família se houver.

Outro fator crucial para as desigualdades e consequentemente para a fome no Brasil é a política de distribuição de alimentos. Como um país que é o maior exportador de carne bovina, entre outros produtos pode ter tamanha pobreza e fome por parte de seus cidadãos? Isso ocorre pois (SIC) a maior parte do capital brasileiro está nas mãos de multinacionais (?) que visam apenas o (SIC) lucro retratado por Karl Marx.

Em um país com tamanha capacidade produtiva de alimentos não deveria haver fome. Isso pode ser conquistado mudando as políticas públicas, criando projetos que tenham como principal finalidade capacitar pessoas para que estas possam criar formas de conseguir sua subsistência, e a cima de tudo, devem ser feitos grandes investimentos na educação, pois foi assim que países europeus após a 2º (SIC) Guerra Mundial conseguiram diminuir drásticamente (SIC) os índices de pobreza e fome.


*Aluno do Colégio João Bento da Costa – Terceirão, turma 09 da tarde.


SIC é uma expressão latina que significa "assim mesmo, dessa forma, foi escrito assim por mais absurdo ou errado que pareça". Por isso, onde aparece esta expressão ou interrogação no texto acima deve-se entender que foi dessa forma mesmo que o aluno escreveu. E claro que isto (os poucos erros) não tira o mérito do bom texto. Uma pena que a maioria dos textos produzidos sobre este tema não tenha correspondido às expectativas. Leitura, meus queridos, leitura e todos terão plenas condições de produzir uma maravilha de texto como este. Precisa dizer que estou orgulhoso? Parabéns!

sábado, 16 de maio de 2009

Que nome deve ter o nosso teatro estadual?




O Nome do Novo Teatro


Professor Nazareno*


O nome do Estado de Rondônia é uma homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, um mato-grossense, como todos sabem. Treze anos após a criação do Território Federal do Guaporé, de terras desmembradas do Estado do Mato Grosso e do Amazonas, e uma justa lembrança do rio e do belo vale que nos separa do território boliviano, resolveram fazer proselitismo com os forâneos, ainda que no início o sertanista não tenha aceitado o fato, dois anos antes de sua morte deixou-se vencer pela idéia.

A cultura de agradar ao que é de fora, muito comum no “comportamento de vira-latas” do brasileiro, segundo o cineasta Glauber Rocha, também é bastante forte entre os rondonienses. A começar pelo nome da maioria das ruas da nossa capital. A principal avenida do centro de Porto Velho se chama Sete de Setembro, isso é fato. Nenhum problema já que nos consideramos brasileiros mesmo. Mas apenas seis dias depois (13 de Setembro) o nome soaria bem mais familiar para os que viveram a epopéia do Território. Avenidas como a Jatuarana, Calama e Rio Madeira são honrosas exceções.

Já a maioria das outras ruas importantes do centro da capital leva nomes pouco familiares para quem nasceu e vive aqui: Percival Farquar, Campos Sales, Pinheiro Machado, Carlos Gomes, Marechal Deodoro, Almirante Barroso, Duque de Caxias e até a atual Jorge Teixeira, que não pertence mais aos rondonienses, tinha o nome de John Kenedy para homenagear um presidente que nem do Brasil era. O único nome apropriado parece ser o da capital. O porto, que não existe, é velho mesmo. Um barranco sujo, fedorento, mal cuidado e cheio de imundícies dá nome à cidade.

Por isso a construção do teatro pelo Governo do Estado pode estar no centro de uma grande polêmica. Inicialmente o Exército Brasileiro tentou vetar a idéia invadindo o terreno, com tanques e tropas, numa operação patética de quem não tinha e nem tem o que fazer. E este teatro deve ter um nome, claro. A prefeitura de Roberto Sobrinho incrivelmente inovou nesta área e batizou de “Banzeiros” o teatro Municipal. Por que não colocar o nome de Ivo Cassol? Ou então o nome (desconhecido para muitos) do General da 17ª Brigada de Infantaria e Selva? Guerreiros da cultura, ora.

O que não pode acontecer é fazer o que fizeram com o Ginásio de Esportes (?) Cláudio Coutinho (que certamente confundia Rondônia com Roraima e nunca veio aqui). Seria óbvio que o nome do novo teatro refletisse um pouco da nossa realidade, do nosso cotidiano, da nossa fauna ou da nossa riquíssima flora. Devemos ficar alerta, pois os rondonienses encenam a Semana Santa em pleno mês de junho contrariando assim o calendário ocidental, além de importar nomes exóticos para os seus festejos e arraiais como o ‘Flor do Cacto’ e o famosíssimo e polêmico ‘Flor do Maracujá’.


*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Onde estão os falsos defensores da cultura desta terra de ninguém?



MERCADO CULTURAL:
A MEMÓRIA TRATORADA E A EXALTAÇÃO DA CÓPIA

Victor Gabriel*


Há pouco mais de um ano, quando do segundo atentado covarde que varreu do mapa, por definitivo, as últimas reminiscências arquitetônicas originais do antigo Mercado Público do Município de Porto Velho, símbolo de uma era arquitetônica da cidade, marcada pelo estilo neoclassicista eclético, flamejante, vários artigos foram publicados na mídia local, assinados por renomadas personalidades do segmento cultural. Consternados com o sinistro, artistas e intelectuais deitaram opinião sobre o lamentável e traiçoeiro golpe aplicado no nosso patrimônio histórico.


Um equívoco de proporções imensuráveis foi a demolição de um relevante bem cultural do povo de Porto Velho, ícone de resistência da memória local, levando junto, desta vez e para todo o sempre, o originalíssimo Bar do Zizi, fato, inclusive, tão bem abordado por Antônio Serpa do Amaral Filho, no artigo publicado à época sob o título “Morte do Mercado – o solo mais fúnebre do maestro Júlio Yriarte!”. Engrossaram as fileiras dos indignados o advogado Ernande Segismundo, assinando o texto “Mercado Central - Indignações, versões e fatos”; e o Grupo Cidade, Cultura e Inclusão – GCCI (coletivo de artistas e intelectuais empenhados na defesa intransigente da cultura local), publicando o artigo “Entre o pó dos escombros do Mercado Municipal e as cinzas do carnaval”.


Do antigo e legítimo Mercado Público, pela segunda vez vítima indefesa dos arroubos arrogantes de colonizadores aventureiros e analfabetos estéticos, ora da direita ora da esquerda, nada sobrou. Caçambas e tratores, com possantes esteiras de ferro, conduzidos por exploradores insensíveis, alheios aos estilos arquitetônicos de época, sem compromisso com a história local, avançaram, definitivamente, sobre parte da memória, da história e do patrimônio cultural de caboclos, mestiços, beradeiros, karipunas e karitianas, demolindo, desta feita, o que sobrou da antiga edificação do Mercado Central, sem deixar vestígio algum de um capitulo de nossa insipiente história recente.


Nesta sexta-feira, 15 de maio de 2009, o executivo municipal, iletrado nas formas dos estilos da linguagem arquitetônica e aniquilador algoz e implacável da cultura local, entregará à população da cidade, em especial para o segmento cultural, uma cópia exata do antigo prédio que um dia existiu como o original Mercado Público Central. A cidade será presenteada com um ‘legítimo’ clone sem memória, desprovido das marcas do tempo, sem as chagas que traduzem o fato histórico vivido. Receberemos do poder público municipal – o demolidor de memórias - uma edificação clonada daquela que outrora fora uma imponente e legítima arquitetura do nosso histórico Mercado Público.


Não se trata de uma atitude redimida e justa da autoridade humana que reconhece o erro. Trata-se, pois, de uma ação equivocada em sua origem, assentada na petulante concepção de alguém que pensa por todos e decide sozinho, sem dar ouvidos aos atores sociais - atuantes no segmento cultural. E, menos ainda, a cópia do Mercado Cultural não é um produto resultante de olhares atentos e sensíveis de gestores públicos que contemplam as experiências exitosas de cidades vizinhas, como Rio Branco, no Estado do Acre, inclusive conduzida por companheiros da mesma legenda partidária que administram a cidade de Porto Velho, que naquela capital tem desenvolvido importante e imponente programa de revitalização do centro antigo da capital acreana, respeitando a história daquele povo.


No que diz respeito às cópias, dois pesos e duas medidas norteiam as atitudes da prefeitura de Porto Velho, no campo da institucionalização das políticas públicas, aplicadas em qualquer que seja a área de atuação do nosso executivo municipal.


Temos assistindo por meio da mídia local, em especial dos jornais eletrônicos, as inúmeras diligências de ficais da Secretaria Municipal da Fazenda, resguardadas por equipes de Policiais Militares, percorrendo as principais vias do comércio central de Porto Velho, com a antipática missão de confiscar produtos pirateados, principalmente milhares de cópias de CD’s e DVD’s. De um lado, a força pública, estrategicamente posicionada sobre fortes argumentos de se combater a evasão de milhares de reais que deixam de entrar nos cofres públicos, sob forma de impostos não recolhidos, desviados a partir da comercialização de produtos falsificados - cópias e arremedos esdrúxulos clonados, criminosamente, de produtos e objetos originais -, fartamente vendidos nas vias púbicas da cidade. Do outro lado, o trabalhador informal, desempregado, entrincheirado no comércio de quinquilharias falsificadas, buscando uma forma de sobrevivência, enquanto foge da autoridade policial e dos ficais da fazenda, combativos e implacáveis confiscadores de mercadorias falsificadas.


Todo e qualquer cidadão probo e reto, com posturas ancoradas na ética, no respeito e na verdade, que se colocar, porventura, diante deste dilema atroz, certamente se posicionará, sem hesitar, nas fileiras do combate ao crime, à falsificação e à cópia.


Contudo, temo que este mesmo munícipe ético e sério, provavelmente analfabeto estético, durante o evento de inauguração do ‘velho-novíssimo’ Mercado Cultural, esteja orgulhosamente, sentado nas primeiras fileiras de cadeiras, entusiasmadamente ovacionando, na condição de subserviente inconsciente, a autoridade apagadora de memória. E, feliz, aplaudirá a extinção de sua própria história, exaltando a cópia sem memória, imposta como símbolo de uma nova era de preservação do bem cultural público.


A cópia tem se colocado como instrumento contumaz e conquistado relevantes espaços e mentes nas sociedades modernas, facilitada pelo extraordináio advento da rede mundial de computadores. A cultura do “control c control v”’ (copiar e colar) marca profundamente, por exemplo, as atitudes de alunos internautas de todos os níveis de ensino. Sobre este tema, o da cópia descarada e abundante, Roberto Farias (recentemente falecido) e Sonia Sampaio, Professores do Departamento de Línguas Vernáculas da UNIR, com muita propriedade falam a este respeito, em Artigo intitulado “O que é um texto? Revisitando um tema já antigo”, publicado no livro Formação Docente e Estratégias de Integração Universidade/Escola nos Cursos de Licenciatura, vol. II, organizado por Nair Ferreira Gurgel do Amaral e Tania Suely Azevedo Brasileiro. No artigo, os professores exemplificam seus raciocínios, citando um fato ocorrido na campanha eleitoral de Porto Velho em 2004, quando “um candidato foi acusado publicamente de plagiar, em sua dissertação de mestrado, passagens de trabalho já publicado. O episódio (...), curiosamente, não encontrou eco nos eleitores (...). A denúncia não alterou o resultado da eleição na medida em que o candidato foi eleito (...)”.


Como podemos observar, a cópia não é mérito apenas de marginais e vendedores ambulantes de CD’s e DVD’s, de quinquilharias e bugigangas pirateados, meide in China. Vai além, muito além do alcance da razão, e se coloca para nós como políticas públicas assertivas para preservação do patrimônio cultural.


Resta-nos um consolo: o tempo é o senhor da razão e, certamente, fará a distinção entre o joio e o trigo. O antigo Mercado Público, hoje Mercado Cultural - também apelidado e já conhecido como o Mercado Cotó, tal qual as idéias de quem o concebeu - de uma forma ou de outra, entra para a histórica da arquitetura desta cidade, seja pela bizarra história do original demolido propositalmente ou pela cópia, sem sentido, erguida – um falso fausto - para substituir o original. Fica-nos a lição de aprendermos com os nossos erros. Quanto ao gestor público, autor da façanha que ‘tratorou’ e decretou o fim de uma edificação histórica e emblemática, por sua atitude covarde e insensata, aplicada ao campo das políticas públicas para preservação do patrimônio, este, certamente, passará à história da cultura do município de Porto Velho, entrando pela sombria porta dos fundos da história oficial, como o grande realizador de fiascos artísticos. O entregador de falso ouro.



(*) Aluno do Curso de História da Universidade Federal de Rondônia e músico. Endereço eletrônico: victorgabriel1963@gmail.com.