quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Réveillon no Quinto dos Infernos

Réveillon no Quinto dos Infernos

 

Professor Nazareno*

 

            O Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, proibiu pela primeira vez na História que se realizasse a festa da virada de ano novo de 2024 para 2025 na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em Porto Velho, capital de Roraima. Era o Mega Réveillon da Pisa, cujos organizadores já estavam até vendendo ingressos para o “rala-bucho” que, via de regra, acontecia quase todos os anos naquele sombrio lugar. O zeloso Instituto do nosso patrimônio alegou que o pedido para a realização da festa da virada não fora entregue em tempo hábil. Além do mais, disse o Iphan, “O Instituto não tem conhecimento das estruturas previstas nem das medidas de segurança que serão tomadas”. E completou: “Esse evento causará grande preocupação e trará alto risco à integridade do patrimônio histórico, visto que será ocupado por uma enorme multidão”.

         A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré era até há pouco tempo um patrimônio de todos os rondonienses e consequentemente de todos os porto-velhenses. Era! Foi privatizada e agora tem um só dono. Quem quiser usar aquelas instalações que pague para isso. O Iphan também tem alertado reiteradamente a organizadores a necessidade de apresentação de projetos para a realização de intervenções no local, conforme determina uma portaria do próprio Instituto. Entendo que o Iphan talvez não tenha levado em consideração o tipo de pessoas que iriam participar daquele grandioso e inesquecível festival. São pessoas limpas, organizadas e muito disciplinadas. Em todos os eventos públicos de que participou, inclusive ali mesmo nas dependências da EFMM, o limpo povo de Porto Velho sempre deu um show de sanidade, de asseio, de higiene e de candura.

Não há exemplo melhor do que a famosa banda de Carnaval. Os foliões porto-velhenses, todos os anos, se esmeram em demonstrar muita limpeza e também muito zelo, por exemplo, depois que a Banda do Vai Quem Quer passa. Além do mais, não há brigas nem confusões onde se brinca o Carnaval de Porto Velho. Por que arrumar confusões ou depredar o patrimônio público numa simples, familiar e singela festa de ano novo? Se o Iphan deixasse acontecer uma celebração ali, tenho certeza de que depois de passadas as comemorações, o local estaria mais limpo até do que na noite anterior. Na manhã seguinte, não se encontraria uma só garrafa pet ou qualquer resto de plástico ou papel esquecidos ali naquele ambiente quase santo. Muito menos preservativos usados. Entendo que o prestigiado e já “quase rondoniense” Iphan deveria repensar essa proibição ímpar.

Patrimônio da Humanidade, a velha “Ferrovia do Diabo” já foi, muito antes, protegida pelo Iphan e também pelas autoridades municipais, estaduais e federais. Quem não se lembra da enchente de 2014 quando todos, rondonienses e também as autoridades do Iphan, correram para salvar as últimas relíquias que estavam sendo ameaçadas pelas águas revoltas do velho Madeira? O Iphan também sempre se colocou contra aqueles que, sem nenhuma atitude histórica ou ambiental, roubaram e ainda roubam os trilhos da histórica ferrovia somente para proteger as suas casas. A partir de agora se os porto-velhenses quiserem fazer festa de fim de ano ou de qualquer outra coisa lá na EFMM vão ter que procurar outro lugar. Ora, façam na zona Leste ou mesmo na zona Sul da cidade, lugares em que os fogos podem abafar o som dos frequentes tiroteios que há nestas localidades. Ou então vão fazer festas lá nos Quintos dos Infernos. O Satanás ia adorar!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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