Réveillon
no Quinto dos Infernos
Professor
Nazareno*
O
Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, proibiu pela
primeira vez na História que se realizasse a festa da virada de ano novo de
2024 para 2025 na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em Porto Velho, capital de
Roraima. Era o Mega Réveillon da Pisa, cujos organizadores já
estavam até vendendo ingressos para o “rala-bucho” que, via de regra,
acontecia quase todos os anos naquele sombrio lugar. O zeloso Instituto do
nosso patrimônio alegou que o pedido para a realização da festa da virada não
fora entregue em tempo hábil. Além do mais, disse o Iphan, “O Instituto não
tem conhecimento das estruturas previstas nem das medidas de segurança que
serão tomadas”. E completou: “Esse evento causará grande preocupação e trará alto risco à integridade
do patrimônio histórico, visto que será ocupado por uma enorme multidão”.
A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré era até há pouco tempo um patrimônio
de todos os rondonienses e consequentemente de todos os porto-velhenses. Era!
Foi privatizada e agora tem um só dono. Quem quiser usar aquelas instalações
que pague para isso. O Iphan também tem alertado reiteradamente a
organizadores a necessidade de apresentação de projetos para a realização de
intervenções no local, conforme determina uma portaria do próprio Instituto.
Entendo que o Iphan talvez não tenha levado em consideração o tipo de pessoas
que iriam participar daquele grandioso e inesquecível festival. São pessoas
limpas, organizadas e muito disciplinadas. Em todos os eventos públicos de que
participou, inclusive ali mesmo nas dependências da EFMM, o limpo povo de Porto
Velho sempre deu um show de sanidade, de asseio, de higiene e de candura.
Não há exemplo melhor do que a famosa banda de Carnaval. Os
foliões porto-velhenses, todos os anos, se esmeram em demonstrar muita limpeza
e também muito zelo, por exemplo, depois que a Banda do Vai Quem Quer
passa. Além do mais, não há brigas nem confusões onde se brinca o Carnaval de
Porto Velho. Por que arrumar confusões ou depredar o patrimônio público numa
simples, familiar e singela festa de ano novo? Se o Iphan deixasse acontecer
uma celebração ali, tenho certeza de que depois de passadas as comemorações, o
local estaria mais limpo até do que na noite anterior. Na manhã seguinte, não
se encontraria uma só garrafa pet ou qualquer resto de plástico ou papel
esquecidos ali naquele ambiente quase santo. Muito menos preservativos usados.
Entendo que o prestigiado e já “quase rondoniense” Iphan deveria
repensar essa proibição ímpar.
Patrimônio da Humanidade, a velha “Ferrovia do Diabo”
já foi, muito antes, protegida pelo Iphan e também pelas autoridades
municipais, estaduais e federais. Quem não se lembra da enchente de 2014 quando
todos, rondonienses e também as autoridades do Iphan, correram para salvar as
últimas relíquias que estavam sendo ameaçadas pelas águas revoltas do velho
Madeira? O Iphan também sempre se colocou contra aqueles que, sem nenhuma
atitude histórica ou ambiental, roubaram e ainda roubam os trilhos da histórica
ferrovia somente para proteger as suas casas. A partir de agora se os
porto-velhenses quiserem fazer festa de fim de ano ou de qualquer outra coisa lá
na EFMM vão ter que procurar outro lugar. Ora, façam na zona Leste ou mesmo na
zona Sul da cidade, lugares em que os fogos podem abafar o som dos frequentes
tiroteios que há nestas localidades. Ou então vão fazer festas lá nos Quintos
dos Infernos. O Satanás ia adorar!
*Foi Professor em Porto Velho.
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