sexta-feira, 15 de março de 2024

Rondônia já prestou um dia

Rondônia já prestou um dia

 

Professor Nazareno*

 

            Por incrível que pareça, Porto Velho e Rondônia já foram lugares bons para se viver e para se morar. E não faz tanto tempo assim. Foi entre as décadas de 50 e 80 do século passado. Naqueles idos e bons tempos quase ninguém confundia Rondônia com Roraima e as pessoas aqui viviam mais felizes, pelo menos aparentemente. A desgraceira começou quando se teve a má ideia de transformar o então Território federal em Estado no início dos anos de 1980, coincidentemente a mesma época que eu passava por estas distantes terras em direção ao Peru. O lugar tinha futebol e dos bons. Quem não se lembra do Ferroviário, do Moto Clube, do Flamengo, o rolo compressor da Arigolândia, do Ipiranga e de tantos outros? O campeonato estadual era concorrido e o Aluizão se enchia em dia de clássico. Hoje, só lembranças! Junto com o território, o futebol também acabou.

            Atualmente nem Porto Velho nem Rondônia têm futebol que preste. Torcedores dos grandes times do sul do país “invadiram” o recém-criado Estado e destruíram o nome do bom futebol que havia aqui. O Porto Velho, criado bem recentemente e cujo escudo é uma imitação tosca do Bayern de Munique da Alemanha, é um time fraco e sem nenhuma tradição. Ganhou em casa por acaso do fracassado Remo do Pará e logo os seus 4 ou 5 torcedores já acharam que era uma boa equipe. Em seguida, perdeu para o Ypiranga de Erechim do Rio Grande do Sul e deu adeus à Copa do Brasil. Outro time de Porto Velho é um tal Genus (sem acento mesmo) que nem merece comentários. O interior tem outras equipes bem fracas e com nomes também surreais: Real Ariquemes, Barcelona, Vilhena, União Cacoalense e o Ji-Paraná. Só seis equipes e um campeonato que se diz de futebol.

            Naqueles bons tempos, a Cachoeira do Teotônio ainda existia e tinha muitos peixes. Lá se pescava até com a mão. O divertimento era garantido durante os finais de semana do verão amazônico. Pescar Jatuaranas, Surubins e Dourados no Cai N’água era também um dos bons programas de domingo com a família. Andar de trem para o Santo Antônio era um divertimento e tanto. A lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré tinha uma praça linda e grande. Lá havia muitos trens, trilhos e era muito visitada. Uma praça do povo. Antes, Rondônia recebia multidões. Hoje, muitos estão indo embora. Aqui era uma dádiva de Deus: não tinha Assembleia Legislativa e só se elegia a cada quatro anos um deputado federal. Porto Velho até tinha uma Câmara de Vereadores, mas os edis de então nem sempre estavam alinhados com o prefeito. Fato: éramos felizes e não sabíamos!

            E quem não se lembra da Avenida Sete de Setembro repleta de árvores? O calor exista, mas não era tão forte como é hoje. A cidade era bem menor, mas muito mais arborizada. Mesmo sem esgotos, mobilidade, água encanada e sem saneamento básico, o sofrimento nesta capital não era como é atualmente. Violência, só nos garimpos e bem longe do perímetro urbano. Drogas, quase não havia. O governo federal mandava dinheiro aos montes para cá. Naquela época de ouro, a capital rondoniense não vivia sob o risco iminente de uma inundação. Não havia crise aérea nenhuma e muitas pessoas viajavam tranquilamente de avião sem ter que pagar uma fortuna para isso. A mídia da época vivia sob o controle do Estado, é verdade. Mas muitos jornalistas se sobressaíam tentando emplacar suas publicações. Hoje a censura é econômica e poucos podem publicar seus textos sem serem tolhidos pelos donos dessa mesma mídia. Triste, mas o tempo não volta!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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