Por
que somos a latrina do Brasil?
Professor
Nazareno*
Na
semana passada, o ITB, Instituto Trata Brasil, divulgou o ranking nacional de
saneamento básico e de água tratada das cidades do Brasil relativo ao ano
passado, 2023. Praticamente nenhuma novidade nos números. Porto Velho, a
insólita capital de Roraima, ficou em último lugar dentre as cidades com mais
de cem mil habitantes. Dessa forma, a “capital das sentinelas avançadas”
é a pior dentre todas as 27 capitais existentes no país. A cidade considerada a
melhor do Brasil nestes aspectos é Maringá, a “cidade canção”,
localizada no interior do progressista, rico, desenvolvido e moderno Estado do
Paraná. O grande abismo que separa as duas cidades em termos de limpeza, de mobilidade
urbana, arborização, organização, água potável oferecida à população, qualidade
de vida e de rede de esgotos pode ser medido em anos-luz. Maringá é um céu. Já
Porto Velho é o inferno.
Uma
cidade, se é que se pode chamar Porto Velho de cidade, é o oposto da outra.
Ambas têm quase a mesma população residente: cerca de uns 420 mil habitantes. A
florida, arborizada e limpa Maringá é a terceira cidade mais populosa do Paraná
enquanto Porto Velho é a capital de um Estado. A “cidade canção” tem
nada mais nada menos do que 100 por cento de saneamento básico e de água
tratada para os seus felizes e alegres moradores. Já a “capital dos
destemidos pioneiros” é um lodaçal só. Merda, esgoto a céu aberto, animais
mortos no meio da rua, lixo, ratazanas, poluição, catinga, tapurus, mato,
urubus, água suja, lodo, dentre outras nojeiras, é o que se vê quando se anda
pelas tortas e escuras ruas da capital mais suja do país. Maringá é nova. Foi
emancipada em 1951. Tem, portanto, só 73 anos. Porto Velho já é uma senhora com
quase 110 anos de podridão.
Maringá
tem o moderno Terminal Intermodal. Porto Velho nem ônibus urbanos decentes tem.
Tentem pegar o Interbairros 030 num dia de domingo ou feriado. Duas, três horas
de espera. Chegando ao aeroporto da cidade, por exemplo, qual ônibus se deve
pegar para ir ao centro? Mas qual o porquê de se ter tantas diferenças entre
esses dois lugares se estamos no mesmo Brasil? Por que uma cidade é quase o
Primeiro Mundo e a outra é uma imitação grosseira da África Subsaariana? O povo
que mora em Maringá gosta de conviver com a limpeza enquanto os porto-velhenses
detestam? Os paranaenses cobram mais de suas autoridades e os rondonienses se
acomodam? O que está por trás desses fenômenos? Porto Velho tem mais de cem
anos e possivelmente uma classe política que só pensa em si. Talvez as
autoridades de Maringá pensem mais no seu povo...
O
IPTU que se paga no interior do Paraná é muito mais barato do que o de Porto
Velho. E isso é muito revoltante. Nós, coitados moradores daqui, moramos mal, vivemos
mal, não temos mobilidade urbana, arborização, lazer, não temos parques ou
praças. Não temos IDH e ainda somos obrigados a viver no meio da carniça. Alguém
conhece o Parque do Ingá? Aquilo ali mais se parece com os Jardins de Versalhes
próximo a Paris, com o Parque Eduardo VII em Lisboa/Portugal, ou o Volksgarten
de Viena. Porto Velho nem praça tem. A histórica e reconhecida
internacionalmente Madeira-Mamoré, com os seus muitos ratos, urubus e catinga
de peixe (pitiú), nem foi entregue ainda à população. Devíamos fazer mais por
esta maltratada urbe e também cobrar mais da nossa classe política. Como pode há
tanto tempo entrar e sair tantos prefeitos e vereadores e nada muda para
melhor? Seria por isso que perdemos tantos habitantes enquanto Maringá só cresce?
*Foi Professor em Porto
Velho.
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