segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Rondônia: viadutos sem Arte


Rondônia: viadutos sem Arte


Professor Nazareno*

            
            A principal diferença entre uma obra de arte e um simples desenho é porque a primeira induz o apreciador ao raciocínio, à inteligência, à reflexão. A obra de arte se eterniza por que mostra o novo e o inusitado. Já o desenho simples não passa de uma cópia, às vezes até mal feita, apesar da boa vontade e do talento do desenhista. Dificilmente uma obra de arte é produzida por um sujeito que tem apenas o senso comum, o conhecimento rasteiro e a pouca leitura de mundo. A tela Guernica de Pablo Picasso é um exemplo disso. O mestre espanhol se esmerou em trabalhar elementos coesivos, interdisciplinares e fez um alerta com a sua obra: o perigo do Holocausto pelos nazistas, fato que se comprovou pouco tempo depois. Artista é o que cria, que revoluciona. Já o desenhista é um copiador que não demonstra inteligência no que faz.
Em Porto Velho, vários desenhistas até bem intencionados tentam rabiscar telas de gosto duvidoso nos desnecessários viadutos da cidade. Nem perceberam que por se tratar de época de campanha política o seu trabalho só serviria para isso: fazer proselitismo alheio. E até agora não fizeram nenhum desenho que não fosse cópia, até bem feita, diga-se. Não há ali nada que se possa dizer que é uma obra de arte daquelas eternizadas pelos renascentistas europeus. Da Vinci, Rembrandt, Picasso, Van Gogh e Michelangelo devem se remexer no túmulo se forem apresentados àquilo. O “trabalho artístico” dos viadutos está muito feio tornando ainda mais horríveis aquelas paisagens horrorosas e cheias de lixo. Pior: muitos dos porto-velhenses, que nada entendem de arte e bom gosto, ficam inebriados e maravilhados com todas as horrendas caricaturas.
Não se vê ali, por exemplo, nenhum desenho que nos remeta à reflexão e ao conhecimento, infelizmente. É quase tudo “cópia da cópia” sem nenhum resquício de inteligência. Ademais, deviam registrar naquele ambiente o que de fato representa a cidade de Porto Velho: um saco cheio de lixo com tapurus esparramados. Nada representaria melhor a “capital da fedentina”, que tem uma das piores qualidades de vida do Brasil. Mas hipocritamente esconderam isso dos transeuntes. Só está faltando desenharem a foto de algum candidato. Uma lástima, mas os rondonienses de um modo geral ficam encantados com tolices e bizarrices. A “montanha-russa do atraso” no superfaturado Espaço Alternativo é um claro exemplo dessa mania esdrúxula. A ponte escura do rio Madeira e a “Praça da Bosta” na EFMM corroboram esta sinistra tese.
Rondônia não tem cultura nem arte. Nunca teve. Tudo aqui é cópia mal feita do que acontece em outros lugares. Parintins, Campina Grande e Rio de Janeiro são as vítimas mais corriqueiras desse plágio. Cadê o sucesso de uma banda que “encantou” o Brasil com a música “vinte graus e uma coberta”? Aqui, cultura é distribuir cachaça durante o Carnaval para as pessoas saírem pulando pelo meio da rua emporcalhando tudo por onde passam. Um dos teatros da cidade quase foi devorado por cupins e passa mais tempo fechado do que encenando espetáculos. Sua serventia tem sido apenas para congressos, cultos evangélicos, aulões e outras atividades alheias à verdadeira arte. Até no esporte, o nosso Estado é uma piada: sem time em nenhuma modalidade esportiva, tem-se que importar jogos para o recém-inaugurado Ginásio Cláudio Coutinho. Arte que não leva à reflexão não é arte, é cópia. Fato: Rondônia só copia o “resto” do Brasil.




*É Professor em Porto Velho.

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