domingo, 8 de outubro de 2017

Catalães, paraíbas e beiradeiros


Catalães, paraíbas e beiradeiros


Professor Nazareno*

            
            O Reino da Espanha vive momentos tensos e turbulentos por causa do desejo de independência da Catalunha. Com aproximadamente oito milhões de habitantes e uma área territorial equivalente à de Alagoas, essa próspera comunidade autônoma alimenta há séculos a vontade de se separar em definitivo do governo central espanhol. Na contramão das ordens emanadas de Madri os separatistas catalães insistem na secessão. Reclamam que mandam muito mais recursos do que recebem. O PIB daquela rica e industrializada região espanhola é de quase um trilhão de reais. Além do mais, os catalães têm língua, História e cultura próprias e Barcelona, sua principal cidade, é reconhecida no mundo inteiro como um dos mais importantes destinos turísticos. Fato: a autodeterminação desse povo mediterrâneo parece ser apenas uma questão de tempo.
            Mas os espanhóis não vão ceder facilmente, pois a separação catalã pode abrir precedentes para outros povos que habitam o território do país: os bascos, que também lutam há anos pela sua pátria, não perderiam a oportunidade. Com uma língua própria, o Euskera, uma cultura e uma História que lhes identificam, além de um ódio secular talvez ainda mais forte aos castelhanos, esse povo não abriria mão de morar no seu próprio e amado País Basco, o Euskal Herria. Ainda há os galegos da Galícia, que falam uma língua muito próxima do nosso Português e nunca negaram o desejo de se separar do governo madrileno. Todos esses povos, além dos asturianos, têm uma forte identidade nacional que os separa dos castelhanos, que veem como estrangeiros. Talvez por isso, renasce no Brasil a onda separatista do Sul do país e também de São Paulo.
            Nenhuma separação daria certo no Brasil. Aqui, além da mesma língua, cultura e História, em todos os Estados a brasilidade é idêntica. Afora um sotaque ligeiramente diferente do outro, o povo do Brasil é um só miscigenado entre brancos, negros e índios. A violência, os péssimos serviços públicos, a indolência e os políticos ladrões são as mesmas pragas que nos perseguem há séculos. Claro que a região Sul do Brasil é mais civilizada e desenvolvida do que todas as demais. Óbvio que o PIB de São Paulo é infinitamente superior a qualquer outra unidade da Federação, mas isto não lhes autoriza a viver de forma independente. Já pensou se Rondônia e a Paraíba, por exemplo, quisessem se separar do restante do país? Não sobreviveríamos uma semana. Paraíbas e beiradeiros não são como bascos, galegos ou catalães. Morreríamos de fome logo, logo.
            É sabido que os Estados das regiões Sudeste e Sul do Brasil sustentam o restante do país. Norte, Nordeste e Centro-Oeste só dão prejuízos à Federação e vivem praticamente da exportação de mão-de-obra e dos seus recursos naturais. A preguiça verificada em muitos destes Estados do Brasil condenaria qualquer povo à fome e ao desespero. Porém, a pujança do Sul foi devido à escravidão e a de São Paulo, principalmente, ao suor de muitos nordestinos. Em Rondônia não há língua diferente, não há cultura própria, muito menos produção de riqueza suficiente para que se viva de forma independente. Na Paraíba é a mesma coisa. A única coisa que diferencia estes dois Estados do restante é o sotaque, muito feio por sinal. Muitos dos políticos de Rondônia e da Paraíba não são honestos. Empata com o Brasil. A violência e o descaso nos serviços públicos nos iguala com o Sul e com São Paulo. Secessão por aqui? Nunca.




*É Professor em Porto Velho.

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