quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Um choque DIGESTÃO



Um choque DIGESTÃO

Professor Nazareno*

            Em 2012 estive na Escandinávia e visitei uma cidade “pra lá” de surreal na Noruega. Trata-se de Bergen, situada na costa oeste do país entre os gelados fiordes do Atlântico Norte. Com cerca de 500 mil habitantes, é um daqueles lugares ermos e sem sentido que jamais pensaríamos que pudesse existir. Mas existe. Só que é uma espécie de cu do mundo, sem eira nem beira. Apesar da prosperidade daquele país escandinavo, em Bergen não tem qualidade de vida e seus moradores não têm do que se orgulhar. A cidade é uma desgraça só. No rápido verão, a poeira das ruas tortas e sem asfalto toma conta dos pulmões das pessoas. A fumaça das queimadas é um tormento naquela região pobre e inóspita. No inverno é só lama e podridão. Bergen terá eleições este ano assim como toda a Noruega. O problema até agora é o baixíssimo nível dos candidatos.
            Infelizmente todos os políticos que querem ser prefeito dali não apresentam a menor condição para administrar a cidade escandinava e nenhuma outra cidade também. As promessas características e mentirosas já começaram. Os tolos e simplórios eleitores “berguenses” acreditam em todo tipo de papo furado alheio. Um dos candidatos, por exemplo, prometeu um choque DIGESTÃO para arrumar a cidade. Isso talvez pelo fato de o município ser uma merda. Ou então é por que quando ganhar, ele vai espalhar toneladas de fezes por todos os cantos da imunda municipalidade. Já outros dizem que é por que os habitantes locais há tempos esperam ansiosamente por uma chuva de bosta e o esperto candidato estaria só antecipando os fatos. Ironia: um dos pratos favoritos ali é um peixe que se alimenta de excremento humano. Já os outros candidatos são hilários.
            Há alguns deles que já puxaram até cadeia, mas mesmo assim gozam de muita popularidade entre os estúpidos eleitores. Acusados de corrupção, incompetência, desmandos e desvios de dinheiro público chegaram até a trocar de nome e mudar a aparência só para enganar a tosca opinião pública local. Na Noruega a corrupção é tão grande que já faz parte da cultura do país. Até membros da mais alta corte da nação são acusados de ilicitudes. O sistema político norueguês é viciado e cheio de falhas, por isso em Bergen tudo é encarado com a maior naturalidade do mundo. Candidatos compram votos e eleitores vendem votos na maior cara de pau. Financiamento de campanha na cidade, e em todo aquele país escandinavo, sempre foi a “casa da mãe Joana”. Todo mundo sabe quem dá e quem empresta grana para o pleito, mas ninguém se incomoda.
            Por ser o “furico do mundo”, a capital do oeste norueguês não tem atração turística nenhuma. Há, no entanto, inúmeras obras inacabadas espalhadas pela cidade como que atestando a incompetência dos homens públicos locais. Porém, em tempos de eleições como agora, muitas dessas obras estão sendo tocadas “a toque de caixa” para dar a impressão de que na cidade as autoridades trabalham em benefício da população. Muitos noruegueses sequer sabem da existência desta cidade tão distante dos grandes centros do país. Morar em Bergen é como se fazer um estágio para o inferno. Tudo ali é diferente. A cidade não tem nem nunca teve cultura e nem uma única manifestação de saber e civilidade. A discussão política que mobiliza a todos no momento é para saber se Bergen é uma favela ou não. Essa comparação é um total desrespeito às favelas, claro, mas muitos habitantes locais acham que a cidade é um jardim florido. Pode isso?



*É Professor em Porto Velho.

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