domingo, 22 de maio de 2016

Aceitando o contraditório



Aceitando o contraditório

Professor Nazareno*

O filósofo Nietzsche disse certa vez que os inimigos têm grande importância na nossa vida, à medida que “só nos desenvolvemos intelectualmente a partir do momento em que nos envolvemos com quem tem opiniões e condutas diferentes das nossas”. Seguindo este raciocínio, percebe-se que é muito bom mesmo termos contatos com direitistas e esquerdistas, respectivamente “coxinhas e mortadelas” em relação à atual crise política que o país está passando.  O problema é que a escassez de argumentos existentes em cada um dos referidos grupos impressiona qualquer indivíduo que tente enveredar por esta seara. O Brasil tem aproximadamente 205 milhões de habitantes e acredita-se que pelo menos 80 por cento deles são indivíduos estúpidos, ocos de ideias, sem leitura de mundo ou conhecimento político e filosófico para um excelente debate.
A primeira e vazia discussão é se a saída da Dilma Rousseff do governo foi golpe ou impeachment. Os esquerdistas e petistas dizem que foi golpe, embora admitam que quando o direitista Collor, há 24 anos, foi expulso do poder, a história era outra. Por isso, em 1992 houve impeachment. Hoje, os “coxinhas” e reacionários juram que foi impeachment e pronto. Tudo estava dentro da lei e por isso não se pode levar em conta, portanto, a atuação desastrosa e folclórica dos parlamentares brasileiros durante a aprovação do fato político. O alívio é que o “desgoverno” e a roubalheira petista não vão mais existir por pelo menos seis meses. Pior: as ações empreendidas pelos novos mandatários são defendidas “com unhas e dentes” nas redes sociais pelos seus apoiadores. E, claro, refutadas com argumentos de sobra pelos atuais oposicionistas.
Muitos amigos e contatos meus nas redes sociais, por exemplo, urravam desesperadamente pela saída da petista do poder. Chamados de direitistas e conservadores, afirmavam que estavam apenas contra a corrupção e o desmando no país. Suas postagens eram, portanto, compreensíveis naquele momento. Só que, consumado o golpe parlamentar e a tomada do poder pela elite, suas postagens continuaram com o mesmo teor idológico. Para muitos desses “novos coxinhas”, Temer e sua equipe encarnam o que de melhor há em nossa política. E até estranham o fato de os novos mandatários serem “compreensivos” demais com os novos opositores. “Lula tem que ser preso, os petistas têm que ser todos mortos”, gritam euforicamente ignorando o fato de que no novo governo tem sete ministros investigados na Lava Jato.
Pior é a postura da imprensa “lambe-botas” do país. Muitos “escrevedores” se esmeram em propagar as boas novas que somente eles veem nos novos governantes. Aqui, tem jornalista já com ciúmes até da Marcela Temer. O delírio direitista beira o ridículo e é apenas um puxa-saquismo asqueroso. Mas, parafraseando o filósofo alemão, é muito importante mesmo ter contato com estes programas e publicações: dessa forma, fica-se sabendo como pensam os fascistas e retrógrados. Como não ler a Veja, a Folha de São Paulo ou assistir à Rede Globo, por exemplo? Em Rondônia, quase não há sites ou programações na mídia que não tenham já aderido à nova ordem do país. A falta de perspectiva e grana sujeita profissionais, às vezes até competentes, a venderem suas posições ideológicas por qualquer preço, infelizmente. O maniqueísmo torpe aniquila a possibilidade de debate e dialética. Até quando só veremos um lado da atual situação?


*É Professor em Porto Velho.

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