quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ballet numa casa de Pagode



Ballet numa casa de Pagode

Professor Nazareno*

            Mesmo sendo uma cidade considerada como o fim do mundo, Porto Velho, a esquecida e imunda capital das “sentinelas avançadas” por incrível que pareça recebeu uma companhia de balé internacional para uma inédita apresentação de apenas uma noite. O Russian State Ballet, uma seleção dos melhores bailarinos profissionais da Rússia, fez uma magnífica apresentação na capital dos rondonienses. Até aí tudo absolutamente dentro da normalidade uma vez que a embaixada russa em Brasília, assim como o Ministério do Exterior daquele país, tem como objetivo incentivar e popularizar esta dança em todo o Brasil e por isso este evento deverá percorrer todas as outras capitais brasileiras. O ineditismo do fato, no entanto, foi a escolha do local de apresentação do espetáculo: a Talismã 21, uma renomada casa de shows na periferia.
            Considerada como uma das melhores casas de espetáculos de toda a região Norte do país, a Talismã 21 já deu mostras de sua notória competência e organização, não só para shows artísticos, mas principalmente para festas de formaturas e outras solenidades de grande porte. O problema é que a cidade de Porto Velho tem teatro. Logo dois: o Banzeiros, da Prefeitura Municipal e o outro “o maior teatro sem alvará do país” localizado na Esplanada das Secretarias bem no centro da capital. A companhia russa de dança deve ter estranhado o fato de ter que se apresentar em uma casa “pouco convencional” para esse tipo de espetáculo. Aliás, em quase todas as outras capitais, os russos se apresentam em amplos teatros e Centros de Convenções, coisas raras aqui. E mesmo sem entender balé, todos ali preferiam Tchaikovsky a barulhentas centrais de ar.
            Mas valeu a pena, mesmo com uma hora de atraso e sentados em cadeiras de plástico. Numa cidade onde pagode, toada de boi-bumbá e músicas caipiras, o famoso “sertanojo” universitário, dão o tom musical das quentes e tristes noites, qualquer atração diferente já nos traz curiosidades. Apesar do alto preço, havia muita gente. Incrível, mas portovelhenses curtindo ballet deve ser coisa do outro mundo mesmo. Por isso, na entrada da casa de shows, viam-se vendedores ambulantes e também pessoas comuns, todos curiosos, perguntando o nome do pagodeiro que estava cantando. “Não é cantor de pagode, não, maninha!”, dizia a espantada piriguete com sua roupa curta. “É um monte de gente dançando como se fossem aquelas apresentações de Boi”, disse. Aí, outra matuta completou: “é Boi, sim. Até ouvi uma toada. Deve ser o Corre Campo”.
            Numa “currutela” que nunca valorizou cultura nenhuma, uma vez que o Arraial Flor do Maracujá jamais teve lugar e data certa para acontecer, as festas juninas são geralmente realizadas em setembro ou outubro e o carnaval é no meio do ano, realizar um glamouroso espetáculo de ballet fora de um teatro de verdade é algo perfeitamente aceitável. Fatos bisonhos dessa natureza combinam com Rondônia, com seu povo e com suas autoridades: Porto Velho tem uma ponte, mas sem iluminação. Tem um Espaço Alternativo para caminhadas, mas está inacabado e também às escuras. Tem vários viadutos, mas como não foram terminados, estão apenas enfeando ainda mais o que já era feio e cujas carcaças estão para cair em cima dos transeuntes. Dançar “O Lago dos Cisnes” por aqui é como jogar pérolas aos porcos. Espero que os nobres bailarinos russos não tenham sido obrigados a tomar tacacá ou a comer angu com banana frita.
           


*É Professor em Porto Velho.

24 comentários:

Unknown disse...

Vai te embora, "maninho"!

Unknown disse...

Tá certinha Anita. ..vai embora professor kkkk

Luiz Albuquerque disse...

O Russian State Ballet vem se apresentando em locais onde monta bons cenários, fora ou dentro de teatros. Exemplos: 30/05 – Rio de Janeiro – HSBC Arena 10/06 – Teresina– Teresina Hall – 20h – O Lago dos Cisnes 11/06 – Manaus – Studio 5 – 21h – O Lago dos Cisnes 12/06 – Fortaleza – Siará Hall – 21h – Don Quixote e Sheherazade 13/06 – Belém – Centro de Convenções Hangar – 22h – O Lago dos Cisnes 18/06 – Vitória – Arena Vitória – O Lago dos Cisnes 20/06 – Brasília – Centro de Convenções Ulysses Guimarães – 15hs e 19hs – Don Quixote e Sheherazade 25/06 – Cuiabá – Centro de Eventos do Pantanal – 22h – O Lago dos Cisnes 26/06 – São Paulo – O Lago dos Cisnes – 21 horas E, em todos os locais de apresentação, os horários são bem definidos quanto a abertura das portas para acesso público e o início do espetáculo. Quanto a pessoa que, creio, só você viu pedindo informações sobre o grupo de pagode que ia tocar, francamente. É de uma infantilidade lastimável de sua parte... Professor(?). Fora sua aparente realização pessoal em falar mal de Porto velho, que outra coisa te motiva? Dinheiro? Se for, quem te paga? Professor(?), faça o que qualquer estudante precisa fazer antes de emitir fatos como verdadeiros: pesquise em fontes sérias. E, aproveite, tome uma boa dose de simancol! Luiz Albuuquerque

Joarino Brandão disse...

Em terra sem cultura e sem educação ( e ainda sem teatro) é assim...
Estão levando o balé à pagode.

José Venâncio de Medeiros disse...

fico surpreso com algumas colocações, não e porque a cidade de Porto Velho e feia, mal cuidada que o nosso glorioso povo que ajudou a povoar esse rincão distante tem que ser considerado porcos como o nobre e tão renomado jornalista fez questão de frisar em sua escrita " DANÇAR O LAGO DO CISNE POR AQUI É COMO JOGAR PÉROLAS AOS PORCOS" quer dizer senhor escritor que aqui em Porto Velho tirando o senhor e claro ninguém tem cultura bastante para poder apreciar um expetaculo daquele quilate.

Ana Carla de Souza da Silva disse...

Somente uma pergunta "PROFESSOR", por que o senhor mora aqui em Porto Velho? por que não muda de cidade?

HANZ disse...

O professor Nazareno é o único que tem coragem de falar a verdade. Digo mais, ele pega é muito leve. Na verdade nossa cidade, e porque não dizer nosso Estado, não passa de um ajuntamento de gente sem noção de cultura nenhuma. É bem verdade que o professor Carlos (da Unir)), há cerca de uns 13/15 anos procurava trazer apresentações de grande estilo como a pianista Eudóxia de Barros e outros. Contudo o mais difícil de trazer artistas de renome à nossa Capital passa por dois grandes problemas que são: 1°: o nosso povo é, na maioria, sem cultura. São apaixonados por imundicie tipo sertanejos e outras porcarias. O 2° problema é o patrocínio. Portanto, o professor Nazareno tem toda razão em criticar nossa falta de cultura. É como falou o bastardo do "humorista" Rafinha, quando disse que Porto Velho é um lugar de gente muito feia. Talvez a feiura relatada pelo infame humorista seja, justamente, por falta de cultura, vindo, dessa maneira, a todos ficarem com o espirito embrutecido, maculando, sobremaneira, a aparência exterior de cada cabra da Capital. Cá entre nós, é, deveras ridículo uns marmanjos usarem àquelas vestimentas de cowboy americanos e as "donzelas" àquelas botas e toda à vestimentas como se estivessem prontas para a "guerra". E o linguajar? Arre égua!

Geraldo Brilhante disse...

Deixa o Carlos Boechat, da rede Band, saber destes teus comentários, Nazareno...

Dilson disse...

Gosto dos textos críticos do dileto professor. Aliás, todos revestidos de muita sabedoria, e, não obstante o longo tempo que escreve ao site, muitos nativos (destemidos(??) pioneiros) ainda não compreenderam o real sentido empregado às missivas do nobre escrevinhador. Por esta razão, muitos se amotinam e o achincalham, achando que por ele não ser da terrinha, está (tão somente) metendo o pau nos daqui. Na verdade, ninguém está a salvo das saraivadas do educador. Todos (o povo e os políticos) têm a sua parcela de culpa por abarrotarem de munição o paiol do colunista-professor, ou visse-versa: O povo, por votar errado e sempre nas mesmas amebas sugadoras e as amebas sugadoras, digo, os políticos, por não cumprirem com o papel pelo qual foram eleitos. Portanto, não adianta se esquivar do adágio: o povo merece o governante que tem.

Gilson disse...

CONCORDO PERFEITAMENTE.COM DOIS LOCAIS MAIS ADEQUADOS,FAZEM LOGO EM UMA CASA DE SHOWS? OQUE DEVERIA ACONTECER EM UM TEATRO.DEPOIS PORTOVELHENSE RECLAMA QUE É CHAMADO DE ÍNDIO E BEIRADEIRO.

Gigliane disse...

Gostaria de saber onde o autor da redação acima nasceu? E porque mesmo vivendo em RO fala de maneira tão irônica sobre a cultura local....criticar a cultura de um povo não é de bom tom....respeite o povo da terra onde você vive....

Edélcio Vieira disse...

tem gente em PVH que não entende o estilo irônico do nobre professor. coisas da "pátria educadora"

Marcus Vinicius Danin disse...

Achei interessante uma " mocinha " apresentadora dizendo em seu programa de " Mundo cão " vá leve seus filhos pra ver o espetáculo de Ballet com toda sua família , sem se tocar que a maioria de seu público alvo ( audiência ) não possui recursos nem pra sua manutenção básica

Jose Girão disse...

Esse é o preço que se paga pela democracia. Cada País, Estado ou Municipio tem o governante que merece, a maioria da População não sabe escolher os seus Candidatos, até porque na epoca de eleição mentem para o povo. Porto Velho é uma cidade que falta tudo, por culpa dos Gorvenantes que temos, pois aquele que dizia que "a hora era agora", ainda nao fez nada, quer dizer, vem prometendo fazer algumas obras, pois, sabe que ano que vem tem eleição e se encascalhar a rua do zé, da maria e do joão, conseguirá alguns votinhos e, quem sabe, conseguirá se reeleger por mais 4 anos

Mith Biajo disse...

Não se trata de medo ou “CORAGEM”
sim de falta de respeito com o povo e COM a cidade que da o sustento ao criador do texto.
A frase ( “O Lago dos Cisnes” por aqui é como jogar pérolas aos porcos.)
Bem como a o texto ( Espero que os nobres bailarinos russos não tenham sido obrigados a tomar tacacá ou a comer angu com banana frita.)
Traz a falta de respeito com os moradores desta cidade. POR ISSTO VOLTO A AFIRMAR....
SE ELE NÃO ESTA CONTENTE COM A CIDADE QUE LHE DA O SUSTENTO, QUE ELE VOLTE A SUA TERRA NATAL, mais ele não voltara, pois La ele não terá onde trabalhar, e por consequência se recordara do TACACÁ DO ANGU E DA BANANA FRITA, que um dia ele desejou que não fossem oferecida aos BAILARINOS RUSSOS.

Nair Gurgel do Amaral disse...

E eu que pensava ser “Rondônia para principiantes” o exemplo típico de texto preconceituoso. Não respeitar a cultura de um povo é não ter clara a concepção de cultura. Criticar, não gostar etc é direito de todos. Agora, desrespeitar, discriminar e ofender é ignorância.
Não, “professor”, dançar o Lago dos Cisnes por aqui não é “jogar pérolas aos porcos”; é direito, é a pluralidade cultural inevitável em época de globalização. Pagode, funk, sertanejo pode não ser a “sua” praia, mas é um fenômeno cultural e não deve ser ignorado. E o quê é “puro”? O clássico, o erudito, o urbano? Ou os pressupostos de Hitler? Nada é puro, somos híbridos, as identidades são múltiplas e líquidas em tempos pós-modernos. O hibridismo cultural é também a produção de fenômenos que contribuem, mediante a representação ou reelaboração simbólica das estruturas materiais, para a compreensão, reprodução ou transformação do sistema social.
Eu adorei o fato de um ballet clássico ser apresentado em uma casa de pagode, na periferia, em cadeiras de plástico, com “piriguetes” interessadas etc e tal. Isso demonstra a fragilidade de todas as fronteiras e reforça a tese da desterritorialização no sentido filosófico deleuzeano. São estratégias de representação ou aquisição de poder [empowerment] no interior das pretensões concorrentes de comunidades com histórias comuns de privação e discriminação.
Sendo, portanto, a desterritorialização a marca da chamada sociedade pós-moderna, dominada pela mobilidade, pelos fluxos, pelo desenraizamento e pelo hibridismo cultural, devemos respeitar a reconstrução de territórios mesmo os que se nos apresentam mais móveis e descontínuos.
O conhecimento e o saber se renovam do choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e técnicas, produto direto da interposição de culturas diferenciadas – com o somatório daquilo que anteriormente existia, já nos ensinava Milton Santos.

Sâmia disse...

Ô dó daqueles que não entendem o que o Prof° Nazareno quer dizer, poucos entendem, não é só escrever palavras bonitas com significados que isso quer dizer que tenha uma leitura de mundo, ô dó

Eliandra de O. Belforte disse...

Além do esteriótipo criado com a cultura local percebemos claramente no discurso marcas que colocam a mulher numa condição dupla marginalização pela questão de gênero por ser da piriguete. O oprimido deve se libertar em comunhão,( Freire) a fim de não incorrer no risco de se tornar um opressor, existem algumas formas de conhecimento que são violentas e que querem transformar o outro em um sujeito colonial (Spivak), usar o conhecimento como uma forma de opressão não muda em nada a nossa condição de marginalização. É importante que ao falar façamos um deslocamento, um exercício de desaprendizagem, de alteridade… talvez se colocando no lugar da “piri guete”, “da casa de pagode da periferia” pois falar pelo outro pode ser perigoso no sentido de não representá-lo de forma correta, já que os sujeitos não são homogêneos…pelo contrário são heterogêneos, múltiplos, fragmentados… afetados pela globalização e a queda das fronteiras culturais.

Júlia Trindade de Souza disse...

Concordo plenamente com o que diz o Seu Nazareno, no que concerne ao local em que a companhia de balé se apresentou , é incrível Porto Velho ter um teatro que não pode ser utilizado para seus devidos fins. Quanto a dizer que nossa cidade não é digna de ter esse tipo de espetáculo , é uma grande bobeira. Coitado do Seu Nazareno, que não deve ser chamado de professor, que ao menosprezar tantas coisas boas, é sinal de que se sente menosprezado por ser uma ” persona non grata “. Alguém conhece esse individuo? Imagino que ele deve ser um clone daquele cara que se intitula Jesus, na mídia, que de tão pouca importância até esqueci o nome com o qual gosta de ser chamado. Ô cambada que não tem o que fazer!

Josias de Souza disse...

Eu sou um porco que admira pérolas. Qual é o meu crime, professor Nazareno?

Lucas de Paula disse...

Ótimo texto, parabéns. Continue incitando o pensamento das pessoas!!!

Sandy Helen disse...

Admiro seus textos professor Nazareno, fui sua aluna do JBC e faz pelo menos uns 4 anos que acompanho seu blog, muitas vezes concordo, outras vezes discordo com o senhor, e nem por isso comento sempre se gosto ou não, pois nesta humilde cidade em que moramos e que tanto o senhor critica existem muitos ignorantes, que muitas vezes não entende bem o que um sábio critico pretende passar. E assim como eu não estou generalizando o fato de ter 'ignorantes' ou de ' todos serem ignorantes', que preferia ler textos e comentários que não generalize tanto o povo de Porto velho, ou melhor de Rondônia. Não temos as mesma culturas, os mesmo costumes e o mesmo pensamento. E já que tem tantos achismos aqui, quero oferecer o meu também, para alguns que estão comentando principalmente, se está incomodado com sua cidade se move, já fez algo pra mudar? se acha que não adianta se move, até porque temos um ditado popular ótimo para essa situação "os incomodados que se mudem". Pessoas que falam que o povo não sabe votar, vc sabe votar? vc confia no seu candidato? vc acha que pode confiar verdadeiramente em alguém? vc acha que se o povo soubesse votar mudaria mesmo a cidade? será que só depende disso mesmo? Nem precisam responder essas perguntas, até porque isso não vai mudar nada, o que escrevi aqui também não vai mudar nada, o que vcs escrevem também não vai mudar nada e muito menos o que o professor Nazareno fala, escreve ou pensa. Se quer mudança comece por vc, a critica é pra ser construtiva, mas na maioria das vezes não vai te levar a lugar nenhum. Muitos nem vão entender o que eu quis dizer , mas sinto muito. Como não tinha nada pra fazer neste exato momento tive vontade de escrever umas bobagens sem nexo mesmo, já que li tantas bobagens, não custa nada colocar mais algumas rsrs um beijo pra quem ta procurando o que fazer ;*

Tullio Nunes disse...

Jogar pérolas aos porcos? Pode estar certo em partes, mas a parte pelo todo utilizada foi infeliz. Com certeza quem ta apoiando aqui é pq ganhou ponto extra no JBC. Parabens

Maria Aparecida Silva Santos disse...

EM MEIO À TANTAS CONFUSÕES E BABAQUICES DESSES ÚTIMOS DEPOIMENTOS; DE UMA COISA EU GARANTO O QUE É PRA SER DISCUTIDO E RESOLVIDO, MESMO NÃO É ACONTECIDO... O POVO TEM DADO MUITA ÊNFASE A FATOS BANAIS E QUANTO AO AUTOR DO TEXTO NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE O MESMO FAZ ESSAS JUNÇÕES DE IDÉIAS COMPLEXAS PRA DETONAR PORTO VELHO. PORTANTO PENSO E ACREDITO QUE ELE É MAIS UM POBRE REVOLTADO COMENDO/TOMANDO TACACÁ E ARROTANDO CAVIAR.