quarta-feira, 1 de abril de 2015

Bem vindos à Idade Média



Bem vindos à Idade Média

Professor Nazareno*

             
            Como nação soberana, o Brasil sempre foi uma grande porcaria. Desde o seu fatídico e mal explicado descobrimento em 1500 pelos portugueses, passando pela Independência três séculos depois e pela Proclamação da República, que o nosso país é motivo de piadas e vergonha nas palestras internacionais. É seguramente hoje um dos piores lugares do mundo para se morar e viver dignamente. Pouca coisa aqui tem valor. É a terra do “jeitinho” e do improviso. Esta dura realidade nunca foi novidade para ninguém. A grande novidade, no entanto, é a mentalidade esdrúxula e medieval que insiste em nos bater à porta sempre que situações mais complexas aparecem na nossa triste realidade. A atual discussão sobre a diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos nos coloca como a piada da vez nas mais importantes instituições mundiais.
            Na contramão do pensamento mundial e remando contra a maré em relação à opinião pública de nações civilizadas, alguns políticos brasileiros, isso mesmo: “políticos”, que em conluio com setores mais conservadores e patéticos da população alienada e movidos principalmente por seus próprios interesses eleitoreiros “rasgam e pisoteiam” descaradamente a nossa Constituição e dão início a um dos piores retrocessos sociais de que se tem notícia neste século: querem diminuir a idade penal dos nossos jovens em pelo menos dois anos com o único propósito de puni-los. Como se não bastassem as estúpidas faixas pedindo a volta dos militares golpistas, eis que agora a nação se vê garroteada pela mesma mentalidade medieval, covarde e anacrônica que já devia ter sido extinta do nosso meio. Quem nunca deu nada agora quer punir.
            Diminuir a idade penal dos jovens é atacar a consequência e não a causa do problema, aliás, coisa típica de quem não tem massa encefálica. A nossa violência é proporcionada em mais de 98 por cento pelos adultos. É preciso questionar quais são as causas dessa violência e atacá-las com inteligência e políticas públicas pertinentes. Aprovar esta estupidez sem proporcionar debates esclarecedores entre a população é voltar à Idade Média. Em vez de fazer esta loucura, o governo deveria investir em educação de qualidade e em políticas sociais para proteger os jovens e diminuir a vulnerabilidade deles ao crime. No Brasil, segundo dados do IBGE, 486 mil crianças entre cinco e treze anos eram vítimas do trabalho infantil em todo o país em 2013. No quesito educação, temos mais de 13 milhões de analfabetos acima dos 15 anos de idade.
            Além do mais, a redução da maioridade penal só vai afetar, preferencialmente, jovens negros, pobres e moradores de áreas periféricas, na medida em que este é o perfil de boa parte das pessoas que estão presas. Os filhos da elite e dos próprios políticos, como sempre, ficarão de fora. “Cadeia não educa ninguém” e a violência não diminuirá. Estudos mostram que mais de 72% da população carcerária brasileira é composta por negros, pobres e analfabetos. Mas quem se preocupa com números estatísticos neste país? Com toda esta sandice, só falta agora aprovarem a pena de morte, perseguir os intelectuais, poetas, professores, ateus, artistas e criarem os tribunais inquisitórios para queimar vivo quem discordar de qualquer ideia oficial. E tudo isso com a devida aprovação de parte da população idiota e sem leitura de mundo que sempre vota nestes mesmos maus políticos e é maioria no Brasil. Estamos na Idade Média e fritos, de novo.




*É Professor em Porto Velho.

11 comentários:

Anônimo disse...

E é de doer o coração ver o apoio massivo de um povo totalmente movido pela cólera, chegam a ficar cegos! Esses atos me lembram muito a queima às bruxas. MAS TEM JEITO PROFESSOR?????

Marcos Brito disse...

É preciso entender que não há causas para serem desvendadas,é mas fácil acabar com as estrelas do céu de que encontrar as causas dessa desenfreada violência de jovens delinquentes!E mesmo que se encontre um dia,quem sabe as causas, nada vai mudar,pois a violência, a corrupção,a delinquência está no inconsciente coletivo.A maioridade penal para 16 anos já é indiscutivelmente preciso,pois preciso de paz,preciso que meu filho vá a esquina e não depare com um coitadinho de 16 anos que precisa de mão armada roubar ou mesmo matar minha prole.Vamos parar de demagogia.Ora os Homens da lei cria uma lei que um pai de família e sua esposa não pode levar seu filho na escola de moto abaixo dos sete anos,mas quem faz a lei só anda de avião e de camaro,vermelho,amarelo azul...Pago de imposto de renda 27% sendo descaradamente punido por que estudei mais e ganho um pouco mais,a energia a mais descaradamente ainda estou de aviso vermelho e sou punido por que posso ter um ar-condicionado e frizzer na minha casa.E tem mais já temos que pensar em pena de morte,para que não morram nas esquinas apenas nossos entes queridos, inocentes!

Mineirinho, uai! disse...

Fessor, bênça! Concordo quando diz sobre nossas mazelas, sobre nossa tacanhez, nossa pequenez cultural e educacional e concordo, também, que a redução da maioridade penal não ataca a raiz do problema, mas discordo veementemente da sua posição contrária a essa diminuição da idade penal e assumo que sou anencéfalo : sim, diminuam a idade penal, por favor; sim, cadeia nesses que se valem de uma esdrúxula e hipócrita interpretação de ´ coitadinho ainda é criança ´ ; sim, cadeia neles. E que sofram, sim, todas as mazelas do nosso sistema carcerário – e , sim, não é para educá-los ( eu tenho certeza que tiveram escolas públicas que, mesmo mal e porcamente, poderiam fazê-lo ) , é para puní-los, cerceá-los da sua liberdade , privá-los da convivência em comunidade, a mesma comunidade que foi por eles afrontada e ferida. É mesquinho, de sua parte, querer induzir que tenhamos uma visão de primeiro mundo para essa situação ( e que, na verdade, não é uma visão tão idílica quanto tenta nos vender ). Sou a favor, muito a favor, da culpabilidade desses delinquentes. E tenho certeza que o senhor, como professor há anos ( certo ? ) testemunha a mudança, para muito pior, do comportamento dessas ´crianças coitadinhas ´.

Paulão da Silva disse...

SOFRIDO PROF.....ATÉ POSSO CONCORDAR COM VC QUE A SAÍDA PARA TODAS AS MAZELAS É A EDUCAÇÃO, MAS DAI A AFIRMAR QUE O BRASIL É UM DOS PIORES LUGARES DO MUNDO PARA SE VIVER SOMENTE DENOTA A IGNORÂNCIA E A COMPLETA AUSÊNCIA DE VIAGENS DEVIDO A SEU SALÁRIO DE FOME....OUTROSSIM, EU GOSTARIA DE VER TODA ESSA DEFESA CONTRA MENORES CRIMINOSOS DEPOIS QUE UM DELES ENFIAR UM TREISOITAO NA SUA FRENTE E ESTOURAR A CABEÇA DO SEU FILHO OU DA SUA ESPOSA....AI EU QUERO VER A DEFESA DOA POBRES MENORES QUE NÃO TIVERAM UMA CHANCE.....

Paulo Junior disse...

esse professor esta de parabens pelas suas de claraçoes e tudo que ele falou e extremamente verdade

Mariana disse...

Caro Prof. Nazareno, concordo em parte com seu posicionamento, temos aí duas situações que não se excluem: uma é de fato cuidar das nossas crianças e jovens especialmente aos mais pobres e que em sua maioria não têm as mínimas condições de ascenção social. Nascem e morrem como se tivéssemos um sistema de castas como os Hindus, porém é necessário também a punição a estes jovens que usando drogas estão matando, traficando e sendo utilizados por adultos para praticarem toda sorte de crime. É preciso um sistema de punição mais rigoroso e ao mesmo tempo um cuidado maior com nossas crianças. Só quem teve um caso familiar de violência de um "criança" armada com 17 anos e sendo morta sabe da necessidade desta lei, pois em poucos dias esta " criança" estava solta e praticando novos crimes.

Marcelo Negrão disse...

A aliança nefasta entre psicólogos e sociólogos resultou essa percepção de que os crimes estão atrelados somente às questões sociais, e tudo se justifica pela miséria. Criou-se um ambiente de proteção ao bandido, um culto do “coitadinho”, que inverte totalmente os fatos, tornando vítima quem é culpado e culpado quem é vítima. Tentam forçar um sentimento de culpa naqueles que são pessoas de bem, levam uma vida normal, trabalham e pagam seus pesados impostos, como se o pivete armado que o aborda no sinal fosse sua responsabilidade.

É evidente que nosso sistema carcerário está podre, e precisa de reformas. Está claro também que a miséria não ajuda no combate ao crime. Precisamos, sim, atacar esses problemas, cujo impacto se daria no longo prazo apenas. Mas precisamos de medidas concretas de imediato, já que a situação está praticamente fora de controle.

Sem falar que as verdadeiras causas da criminalidade estão na impunidade, na ausência do império da lei, não nos fatores sociais como querem nos fazer acreditar. O estado, além de inchado e ineficiente, é ausente justo em sua função precípua de manter a ordem. Deveria trocar seu populista discurso de “justiça social” e partir para o cumprimento da lei, de forma isonômica.

Voltando à questão da maioridade, os políticos acharam que um jovem de 16 anos estava totalmente maduro para escolher os governantes do país, mas não para ser responsabilizado por seus atos ilícitos. Claro, é mais fácil vender sonhos românticos para os mais jovens, conquistar seus votos por meio da emoção. Acontece que liberdade não pode existir sem responsabilidade: ou aceitamos que jovens de 16 anos são capazes de poder de discernimento tanto para votar como para reconhecer a diferença entre certo e errado, ou os tratamos como mentecaptos em todos os aspectos.

Boa parte dos detentos menores de idade praticou roubo a mão armada, ou crimes ainda mais graves, como homicídio e latrocínio. Não estamos falando de indefesas crianças, pobres coitados que simplesmente não tiveram opção diferente na vida. Estamos, muitas vezes, lidando com marginais da pior espécie, assassinos de sangue frio, jovens que matam sem qualquer motivo. Para piorar ainda mais, por terem essa imunidade garantida por lei, são usados pelos traficantes para os piores crimes, pois sabem que não podem ir presos por muito tempo.

Podemos até lamentar as causas estruturais que os levaram a tal vida, e tentar adotar medidas que reduzam a incidência de casos no longo prazo. Podemos também questionar a qualidade das prisões, que sem dúvida não ajuda. Mas temos de lutar no presente, temos de impedir novos crimes, temos de restabelecer a ordem. E temos, por fim, que ser realistas, reconhecendo que essas “crianças” não mais voltarão a se interessar por lego ou playmobil, mas sim por crimes cada vez mais severos. Não se ganha uma guerra quando nem sequer reconhecemos a existência do inimigo.

Nos Estados Unidos, jovens podem pegar até prisão perpétua, dependendo do crime cometido. No Brasil, assassinos frios com quase 18 anos são tratados como crianças indefesas, enquanto a culpa do crime recai sobre a própria sociedade. Isso precisa mudar. Reduzir a maioridade não é solução definitiva, claro. Mas é um começo necessário. Como disse o saudoso Roberto Campos:

Com a nossa capacidade de fazer maluquices em nome de boas intenções, criamos uma legislação de menores que é um tremendo estímulo à perversão e ao crime, ao fazê-los inimputáveis até os 18 anos.
Todos aqueles que votaram contra a redução da maioridade penal ou que focam apenas na barbárie dos “justiceiros”, deixando de lado o fato de que o jovem marginal merecia uma severa punição (legal) por seus crimes, jogam contra o Brasil, a ordem, a paz e a liberdade.

Reginaldo disse...

nem parece que esse cidadão mora no Brasil, junte suas malinhas então amigo e vá morar sei lá que tal em cuba,venezuela colombia vai pro raio que o parta quanto a maior idade tem que diminuir mesmo esses caras aliciam os menores pra praticar roubos por causa dessa lei frouxa

Caio disse...

Professor, se vossa sapiência tiver razão americanos, belgas, canadenses e russos não tem massa encefálica. Que tal o Senhor se canditar a dar aulas para eles?

Givaldo Caciano disse...

no dia que a família do nobre professor for atacada por um dos anjos de 16 anos, veremos qual vai ser o posicionamento dele quanto ao assunto.

Daniel Pereira disse...

Muito boa a reflexão do Professor Nazareno. Vale a pena ser lido e relido. Atacar o efeito, sem debelar a causa, não produz nada de positivo à sociedade.