sexta-feira, 22 de março de 2013

Nós somos a violência



Nós somos a violência

Professor Nazareno*

             O Brasil, embora apresente uma produção de riquezas que o deixa entre as maiores economias do planeta, tem paradoxalmente uma das sociedades mais violentas do mundo. Cai por terra qualquer propaganda no sentido de se dizer ou fazer acreditar que somos o país da paz e da fraternidade. Aqui, anualmente, morrem mais pessoas do que a soma de todas as guerras que estão sendo travadas na atualidade. Pelo menos 50 mil cidadãos são assassinados todos os anos em nosso país numa incrível marca de 136 mortes diárias. São mais de 60 mil mortos no trânsito, fora os casos de violência mais explícitos como roubos, assaltos, estupros, arrombamentos, agressões, xingamentos, intolerância, racismo, preconceito e o uso desnecessário da força. Por isso, somos lamentavelmente uma potência pontilhada de grotões que lembram um país em guerra. Além de carnaval e futebol, aqui também se mata muito e de forma cruel e desumana.
            Infelizmente esta loucura é o resultado da sociedade que nós próprios forjamos nestes 513 anos de existência. Da ditadura colonialista de Portugal passando pelo inferno da escravidão e da implantação de uma das piores formas de capitalismo do mundo, praticamente a única coisa que fizemos durante este período foi aumentar cada vez mais a exploração contra nossos irmãos brasileiros. Aliada a esta aberração histórica, desenvolvemos a alienação e a estupidez coletivas e viramos reféns de nossos próprios atos. Protestamos contra a morte de nossos jovens, principalmente, como os casos em Porto Velho das jovens Naiara Karine e Raíssa Lopes e de tantas outras indefesas vítimas, mas nos esquecemos de que os verdadeiros culpados continuam livres e impunes, pois a verdadeira “máquina que mata” parece que nunca é afetada com a nossa dor e os nossos protestos. A violência nos cerca e se aproxima de nós.
            Enquanto sociedade organizada, somos muitas vezes abjetos, cretinos e hipócritas. Em fevereiro, colocamos 150 mil pessoas nas ruas de Porto Velho numa ridícula banda de carnaval que só incentiva o consumo de álcool, drogas e mais alienação e não exigimos de nossas autoridades maiores e melhores investimentos em segurança pública por exemplo. Na Marcha para Jesus, Carnaval Fora de Época ou Passeata do Orgulho Gay mobilizamos igual número de participantes somente para mostrar a nossa orientação sexual, religiosa ou cultural e parece que nos esquecemos de que a sociedade necessita de boa Saúde com hospitais públicos decentes, Educação pública de qualidade, saneamento básico e segurança, principalmente segurança. Todas estas manifestações devem existir, é pluralidade, mas por que não outras? Quantos de nós nos mobilizamos para exigir dos nossos governantes melhoras nestes últimos itens?
            A violência está dentro de cada um de nós quando de forma intolerante, racista e preconceituosa discriminamos o nosso irmão que é homossexual, quando queremos que o Poder Público adote sem discussões a pena de morte, quando incentivamos numa absurda volta ao passado medieval o “olho por olho e o dente por dente”, quando não cobramos os nossos mais elementares direitos, quando nas eleições votamos em canalhas corruptos e ladrões e nada cobramos deles depois de eleitos, quando, por comodismo e alienação, não exigimos mudanças na nossa frágil legislação, quando aceitamos a impunidade só dos ricos e abastados, quando damos audiência a programas cada vez mais alienantes da nossa mídia, quando discriminamos o outro por causa de sua religião, time de futebol e até modo de vida, quando não valorizamos a Educação e a Política, quando, enfim, fazemos chacota com a política de Direitos Humanos em nosso país e não participamos de passeatas e protestos contra a violência. Por isso, somos muitas vezes os causadores dessa mesma violência absurda que tanto abominamos.



*É Professor em Porto Velho.

11 comentários:

Ivanilson Frazão Tolentino disse...

Caro Professor Nazareno, esse texto foi um dos melhores que já li, escrito por você. A nossa sociedade vê, sofre, chora e lamenta a violência. Porém, ignora que ela com os seus preconceitos, falta de educação, de respeito para com o próximo é uma das grandes estimuladoras dessa situação. A solução, no meu ponto de vista, está na Educação de todos e para todos. Do contrário, seremos sempre essa casa da morte, onde quem tem mais sente menos o peso cruel dessa sociedade tão desigual.

Leandro Alves disse...

É lamentavel e ao mesmo tempo revoltante!

Samuel Neto disse...

Sábias palavras, agora e fazer uma reflexão e mudar algumas atitudes.

Willian Pinheiro disse...

Sou um grande admirador de seus textos. São causadores de profundas reflexões e notáveis mudanças. Mas, me tire uma dúvida. O digníssimo professor sempre instiga atitudes que visam uma mudança social. Além de ser professor e redigir críticas tão bem elaboradas, o senhor poe em prática essas atitudes de um "dever ser" implícito nos textos?

Daniel Pinheiro disse...

sabias palavras nada existe gente do bem e e gente do mal eu não vou ficar me culpando por esse tipo de gente não, e tem mais tinha que ter pena de morte sim para esses assassinos porque com essa lei atual so quem e penalizado pela pena de morte e a familia da vitima

AnsRabello disse...

Parabéns pela matéria.
A raça humana esta caminhando cada vez mais para a inrracionalidade.

Joeli Batista Teixeira disse...

meu caro prof. nazareno, de que adianta o governo falar que vai comprar viaturas, armas etc para combater a violência se a violência maior é não educando nossas crianças? 70% do povinho dessa nossa urbe muito mal assina o proprio nome. a educação passa longe de nós. quando educarem nossas crianças aí então não precisará mais gastar dinheoro com armas e viaturas etc...

Vinício disse...

Não há violência pior do que a teoria pacifista, quando é cinicamente utilizada para esconder a violência que deveria revelar e denunciar. Vinício - também professor

Fábio do Nascimento disse...

Concordo com o Prof. Nazareno!

Samuel Sep disse...

meu caro prof. endosso todas as suas palavras mas o que realmente falta e cobrar a nos mesmos por que somos nos que colocamos esses corruptos no poder e nos acomodamos e deixamos eles la sem fazer nada para ajudar o povo, nos jovens, estudantes cobrar uma postura desses politicos e fazer com que realmente trabalhem nao fiquem apenas sugando o povo ja tiramos um presidente e podemos cobrar mas ter nossos direitos assim como temos nossos deveres como pode um pais investir cem bilhões em uma copa onde nao va haver nenhum retorno social enquanto crianças morrem de fome e sede no nordeste, quando em hospitais publicos nao tem o minimo estrutura medicos e medicamentos escolas sucateadas salarios de professores é uma miseria pra um profissional que tem em sua essencia a responsabilidade do futuro de cada cidadão, o que fazer quando se gasta 50 mil r$ apenas para transferir um apenado de um estado para outro isso acontece semanalmente enquanto para se reforma uma escola demorar 4 á 5 anos eo valor é de 100 á 150 mil no maximo o que dizer se o auxilio reclusao é de 830rs e o salario minimo é 670 o que é isso é a porra do Brasil enquanto em brasilia politicos ganham 25 mil para nos roubarem em meio a tudo isso experimente ser estudante no maximo vc vai ganhar uns 500 reais.que futuro poderemos ter em um país que investe mais em politico corrupto e em presidiarios do que em seus estudantes parabéns ao governo petista a 10 ano no poder e nada faz. um grande exemplo é o japão depois da guerra investiu em educaçãoe hoje é uma da maiores potencia economica e tecnologica,

Joaquim Trindade disse...

Um belo texto, mas não concordo com algumas coisas e a primeira é colocar no mesmo patamar a Marcha para Jesus, o carnaval fora de época e a Marcha do orgulho gay, porque ao final das três manifestações populares citada o nobre escriba esqueceu-se de dar as estatísticas criminais, pois enquanto na marcha para Jesus a PM envia apenas uma viatura policial, agentes de trânsito e uma ambulância do SAMU, enquanto nas outras duas a PM envia centenas de Policiais e o pronto socorro fica abarrotado de vítimas de violência.
Mas o texto em si mostra ser emblemático também nesse fator, e ai pode começar a virem algumas respostas, por exemplo, qual a diferença básica entre uma passeata que mostra o orgulho de crer em um Ser divino e a outra que mostra o orgulho em fazer sexo de uma maneira diferente da maioria? E ainda a terceira que se entregam só aos desejos da carne? Não seriam os valores manifestos e os resultados sobre a violência, ou a falta dela que deveriam separar essas três manifestações populares? Pois enquanto duas são extremamente violentas a outra é pacífica; Enquanto uma prega a paz e a vida; Enquanto as outras prega o egocentrismo e a carnalidade.
Meu caro escriba são tantas as diferenças, que só alguém como eu, que por força da minha profissão participei por várias vezes dessas três manifestações populares pode lhe afirmar seguramente, que a Marcha para Jesus é diferente e muito, tanto do carnaval (fora e na época) e da Marcha do orgulho LGBT.
E posso acrescentar que o povo brasileiro está vivendo nessa violência terrível porque perderam os valores da família e o respeito aos valores tradicionais do cristianismo, quem duvida vejam as estatísticas criminais na década de 1970, onde as famílias ainda eram estruturadas e hoje; Pois descarto completamente a relação entre criminalidade/pobreza e pouca escolaridade, pois ser pobre ou ter pouco estudo não quer dizer ser sem educação, pois conhecimentos científicos se aprende na escola, mas educação SÓ se aprende em uma família bem estruturada