quarta-feira, 13 de junho de 2012

Rondônia, uma sociedade doente


Rondônia, uma sociedade doente

Professor Nazareno*



Em momento algum se deve defender um psicopata, drogado, que mata a própria mãe a socos e pontapés ou outro que estupra uma pobre e inocente criança indefesa. E realmente não foi o que aconteceu recentemente em Porto Velho em dois casos muito parecidos na sua essência de brutalidade e monstruosidade. O povo e grande parte da sociedade doente em que vivemos tentaram fazer justiça com as próprias mãos, revelando mais um caso de insanidade tão bruta e cruel quanto à ação dos assassinos frios e inescrupulosos. Todos os criminosos devem ser punidos e pagar pelos seus crimes hediondos. Os doentes são eles, não nós. Eles devem ser punidos, julgados, condenados, mas tudo dentro da lei, dentro da legalidade, dentro da civilidade. Mas o que a maioria das pessoas defende é o senso comum, a barbaridade pela barbaridade, a brutalidade, a violência, a estupidez, a morte por um Estado onde não há, na sua Constituição, a pena capital, o Estado sem lei, a barbárie, a justiça com as próprias mãos. Se não há leis para serem cumpridas para que valem os códigos e tratados, então? Ao defender a insensatez, enfraquecemos as leis e o próprio Estado e isto é muito ruim para toda a sociedade.
Muitos dizem que matariam estes indivíduos. Qualquer um de nós faria isto, somos humanos. Tudo bem (ou mal), mas não deixemos que o Estado seja também um assassino. O Estado deve ser um ente acima de todos nós. A lei deve estar acima de todos nós. Quem está doente é quem também defende a excrescência, a ausência do Estado, uma terra sem leis e essa doença pode ser verificada na sociedade como um todo. Se mato um criminoso, em que me transformo? Se estupro um estuprador, o que serei eu depois? A nossa sociedade está doente e quase ninguém percebe. E doentes são os indivíduos que fizeram isto. Não podemos descer ao nível de um doente, de um psicopata, de um animal monstruoso como eles sob o risco de sermos iguais a eles. Na parábola da mulher adúltera, Cristo, há dois mil anos, resumiu muito bem tudo isto: “quem não tem nenhum pecado, que atire a primeira pedra.” Não, não vou levar psicopatas para dentro da minha casa como muitos imbecis vão argumentar, mas também não quero convivendo comigo pessoas que se dizem sensatas e defendem abertamente o assassinato ou o estupro como formas de punição adequada. Estes são tão danosos à sociedade quanto aqueles.
DEVEMOS TODOS, NOS COMPADECER, SIM, DA POBRE CRIANCINHA INOCENTE E DA MÃE QUE MORREU PELAS MÃOS DE UM FILHO LOUCO E DESNATURADO E REZAR PARA QUE O ESTADO PUNA NA FORMA DA LEI ESTES CIDADÃOS. O resto é hipocrisia, oportunismo barato e falta de bom senso. Será que as pessoas são tão bobinhas a ponto de achar que nos países onde existe a pena de morte, os psicopatas como estes deixaram de existir? Pena de morte não resolve problema de violência, nunca resolveu e as pessoas deviam saber disto. O Estado não vai matá-los, nem importuná-los por que não há amparo legal para isso. Mesmo que um monte de tolos e desinformados queira. Apenas vai aplicar a lei que o caso requer. E como somos alienados, não exigimos uma legislação mais adequada para a nossa doente sociedade. E estamos muito doentes enquanto sociedade, esta é a verdade. Assistimos passivamente ao roubo instituído em todas as esferas do Poder Público no Brasil e em Rondônia e nada fazemos. A exceção virou regra. Salve-se quem puder! Os valores morais estão esquecidos, mortos. É cada um por si e o diabo por todos. Deus está fora disso!
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada em 1948 não para prestar contas sobre o passado nazista de parcela da humanidade, mas para evitar desrespeitos no futuro da própria humanidade. Será então que a ONU está errada? A OEA está errada? Todas as organizações supranacionais, leis, tratados, declarações, códigos, constituições, acordos, conferências, autoridades, Estados, propostas, consulados e embaixadas estão todos errados? Só o senso comum, e meia dúzia de alienados estão certos? Por que será que o mundo se reuniu na Declaração de Genebra? Será que nada disso tem valor, somente o senso comum e a estupidez da vingança pela vingança é que devem prevalecer?  Quando as pessoas agem em bandos como animais irracionais, estão querendo de forma legítima ter mais segurança, mas não é isso que lhes dará mais segurança. Todos estão errados, equivocados. Isso só enfraquece a lei e o próprio Estado e depois quando precisarmos deles para nos defender, não seremos atendidos, pois eles já estão fragilizados. Nós, muitas vezes com as nossas atitudes insanas, os fragilizamos sem perceber. Muitas vezes a própria mídia, na busca pela audiência exacerbada, incentiva o absurdo. No Bairro Tucumanzal em Porto Velho, vi homens e mulheres armados de paus e pedras tentando linchar um cidadão que matou a própria mãe. Paus e pedras, com estas armas e estas atitudes, não estamos muito próximos da espécie “Australopitecus portovelhenses”?






*É Professor em Porto Velho.

Um comentário:

Pedro Caldas disse...

"Australopitecus portovelhenses", ri demais!

Faz um texto sobre o fracasso do Brasil nos esportes olímpicos, no geral, em Londres. Não precisa detalhar as modalidades, só comentar sobre a falta de incentivo ao esporte, nossa péssima estrutura esportiva(física principalmente), em todos os aspectos. Também o fiasco que sera Rio2016.