“Festinha
de Amigo Oculto”
Professor Nazareno*
Delírios na Corte: com já é de costume há vários anos
seguidos, houve num dos mais luxuosos endereços da cidade, outra festinha de
fim de ano com a famosa e já tradicional brincadeira de Amigo Oculto. Regada a
champanhe francês, vinhos da Toscana, Uísque 50 anos envelhecidos em tonéis de
carvalho, caviar de esturjão do Mar Negro, lagosta, camarão, dentre outras
finas, raras, caríssimas e deliciosas iguarias, esta confraternização encantou
a todos. A alegria era geral. Os convidados se banquetearam e se
confraternizaram entusiasmados. Famílias inteiras estavam presentes ao evento
formando uma comitiva de ouro. Muitas autoridades representando todos os
poderes constituídos, damas, cavalheiros, religiosos e militares. A mídia,
óbvio que estava lá também, cobrindo o evento. Jornalistas falavam sobre
cultura, outros faziam a biografia dos muitos e ilustres convidados, havia fotógrafos
e até cineastas. Porém, curiosamente o maior patrocinador desta colossal festa
não estava presente, pois não fora convidado.
Como sempre, o ponto alto das comemorações foi a distribuição de presentes e a identificação dos contemplados: “Minha amiguinha secreta é, claro, uma mulher. Ela é uma ex-professora, muito meiga e bondosa, já foi vereadora, é atualmente Deputada Estadual, pertence ao mais ético partido político do Brasil e que já lhe inocentou, quer ser candidata à Prefeita da Capital, tem o total apoio do Prefeito, é sempre testemunha e não acusada em qualquer processo, foi vaiada recentemente numa cantata de Natal e sempre trabalhou em prol dos mais humildes e necessitados. Quem é ela?”. Aplausos e mais aplausos ecoavam no grande salão. “Ela é a nossa heroína, uma verdadeira Santa”, gritavam os mais eufóricos. A alegria foi maior ainda quando alguém anunciou: “o meu amigo é jovem, tem o maior acervo de obras inacabadas do Brasil, é ético, mas não consegue construir um simples viaduto nem limpar corretamente a cidade que diz administrar para o bem de todos. Há oito anos que nos encanta com a sua sapiência”.
Como sempre, o ponto alto das comemorações foi a distribuição de presentes e a identificação dos contemplados: “Minha amiguinha secreta é, claro, uma mulher. Ela é uma ex-professora, muito meiga e bondosa, já foi vereadora, é atualmente Deputada Estadual, pertence ao mais ético partido político do Brasil e que já lhe inocentou, quer ser candidata à Prefeita da Capital, tem o total apoio do Prefeito, é sempre testemunha e não acusada em qualquer processo, foi vaiada recentemente numa cantata de Natal e sempre trabalhou em prol dos mais humildes e necessitados. Quem é ela?”. Aplausos e mais aplausos ecoavam no grande salão. “Ela é a nossa heroína, uma verdadeira Santa”, gritavam os mais eufóricos. A alegria foi maior ainda quando alguém anunciou: “o meu amigo é jovem, tem o maior acervo de obras inacabadas do Brasil, é ético, mas não consegue construir um simples viaduto nem limpar corretamente a cidade que diz administrar para o bem de todos. Há oito anos que nos encanta com a sua sapiência”.
Entre uma porção de
caviar e outra, ouviu-se nitidamente, vindo dos fundos do salão uma voz suave
que dizia: “meu amigo é um pouco gordo,
muito inteligente, conseguiu destruir uma universidade inteira durante o
período que a administrou, nunca soube organizar um simples concurso
vestibular, tinha padrinhos fortes no Governo Federal, dizem que hoje está
sendo investigado por desvios de verbas e todo tipo de falcatruas, reclamou que
era perseguido por ser homossexual e que durante uma greve não agüentou a
pressão e renunciou ao cargo”. Aplausos ensurdecedores. Apesar da
tradicional abstinência alcoólica, havia também muitos evangélicos presentes
àquela inusitada festa. “Sem estes irmãos
de fé, provavelmente esta confraternização jamais acontecesse”, comentavam
algumas pessoas. “Eles têm uma fidelidade
canina a todos os que pregam a palavra e por isso são peças importantes para
que nós alcancemos os nossos objetivos”, diziam, sem pedir segredo, algumas
autoridades.
A casa de espetáculos quase veio abaixo quando foi anunciado
“o mais secreto” de todos os
convidados: “ele, que tem advogados que
enganam até os ministros das mais altas cortes do país, um incansável
batalhador pela causa dos pobres, um homem de Deus e que junto com alguns
amigos amealhou uma verdadeira fortuna retirando dinheiro que deveria ser usado
no precário sistema de saúde do Estado. Um homem quase santo que recebeu nas
últimas eleições mais de vinte e dois mil votos dos despolitizados eleitores
deste lugar”, anunciou euforicamente o mestre de cerimônias. Por
incompetência da Justiça, deve ganhar o melhor de todos os presentes: a
liberdade. Logo após, várias menções honrosas foram lidas para delírio dos
presentes. Um apresentador de televisão foi muito aplaudido quando falaram seu
nome. Atolado até o pescoço em lama, acusações de todo tipo e corrupção, ainda
usa seu programa para ensinar ética e moral ao povo. “Um verdadeiro cara-de-pau”, comentavam alguns.
A alegria contagiante daquela grande festa foi maior ainda porque, sem que houvesse nenhum anúncio oficial, todos já sabem o final destes episódios: nada. Os envolvidos serão inocentados e receberão do povão simplório, nas próximas eleições, o direito de continuar mamando nas fartas e pouco fiscalizadas tetas do Erário. E, claro, nenhum deles vai devolver sequer um único tostão furado. Incrível, mas para muitas pessoas afortunadas e muitas vezes com a conivência dos poderes constituídos, por aqui o crime compensa. “Para a nossa felicidade, ninguém fiscaliza essa Casa de Espetáculos (ou Casa da Mãe Joana), só prometem e nada fazem de concreto”, dizia uma enorme faixa na entrada. Realmente, uma casa onde ninguém manda, onde não há pulso forte, qualquer um rouba e faz o que quer, diz um ditado popular. No próximo ano haverá novas e concorridas eleições para saber quem pode participar desta grandiosa festa. Muitos já pensam em participar do pleito e já se anunciam candidatos. “Quem dispensa uma boquinha dessas?”. “Se possível, um Feliz Natal para os de fora”, diziam outras faixas. Haverá mais festas, mas sempre sem a presença do patrocinador principal.
A alegria contagiante daquela grande festa foi maior ainda porque, sem que houvesse nenhum anúncio oficial, todos já sabem o final destes episódios: nada. Os envolvidos serão inocentados e receberão do povão simplório, nas próximas eleições, o direito de continuar mamando nas fartas e pouco fiscalizadas tetas do Erário. E, claro, nenhum deles vai devolver sequer um único tostão furado. Incrível, mas para muitas pessoas afortunadas e muitas vezes com a conivência dos poderes constituídos, por aqui o crime compensa. “Para a nossa felicidade, ninguém fiscaliza essa Casa de Espetáculos (ou Casa da Mãe Joana), só prometem e nada fazem de concreto”, dizia uma enorme faixa na entrada. Realmente, uma casa onde ninguém manda, onde não há pulso forte, qualquer um rouba e faz o que quer, diz um ditado popular. No próximo ano haverá novas e concorridas eleições para saber quem pode participar desta grandiosa festa. Muitos já pensam em participar do pleito e já se anunciam candidatos. “Quem dispensa uma boquinha dessas?”. “Se possível, um Feliz Natal para os de fora”, diziam outras faixas. Haverá mais festas, mas sempre sem a presença do patrocinador principal.
*É
Professor em Porto Velho.
3 comentários:
EXCELENTE!!!!!!!!!!!!
O texto mais incrível que já li no seu blogger Profº!!! Saudades.
Simplesmente sensacional!
Identifiquei cada filho da puta desta "maravilha" de lugar no texto, "maravilha" pelos fdp, e não pelos que labutam pela Estado! Parabéns!
Por fineza, acesse meu blog.
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