sábado, 8 de outubro de 2011

Cuidado: a censura pode estar de volta!



“Censura: Ovo de Serpente em Ninho de Aves”


Professor Nazareno*

                
                Estou com medo: o espectro da censura volta a rondar perigosamente o país. Mesmo não sendo algo oficial e que por isso não goza de nenhum respaldo moral uma vez que a própria Constituição Brasileira, no seu artigo quinto, não permite, há várias escaramuças nesse sentido vindo exatamente das entranhas do próprio Governo do PT e de parte de uma opinião pública alienada e manipulada por interesses escusos. Como se não bastasse a absurda tentativa de se criar uma espécie de Conselho Regulatório da Imprensa, idéia acalentada pelo ex-presidente Lula, eis que agora surge com mais força ainda o desejo de calar à força as poucas vozes destoantes numa democracia que foi conquistada no Brasil “há pouco tempo e a muito custo”. A volta da censura só interessa a dois tipos de pessoas: logicamente para aqueles que se beneficiam dela e os ingênuos, a grande maioria dos brasileiros, que ainda acreditam que o Estado só a usaria para alguns poucos fins. Vários casos, no entanto, foram verificados no país inteiro nas duas últimas semanas e que justificam o presente temor.
                A Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, órgão do Governo Federal, enviou há poucos dias uma carta de apoio ao Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que pediu que a TV Globo tirasse do ar o quadro “Metrô Zorra Brasil”. A mesma Secretaria, da Ministra Iriny Lopes, anteriormente pedira a suspensão de um comercial em que Gisele Bundchen aparece de lingerie. O sinistro documento “parabeniza a iniciativa e endossa a necessidade de ações como estas que visam desconstruir discursos de uma cultura que, até camuflada no humor, perpetua a violência simbólica contra as mulheres”. Por sua vez, os metroviários paulistas acusam o programa humorístico de incentivar o assédio sexual nos vagões de trens paulistanos e por isso o país inteiro ficaria proibido de ver o quadro de humor exibido pela emissora. O que chama a atenção em ambos os casos é que é uma ínfima parcela da população que quer decidir o que a maioria deve ou não assistir na televisão. Censura pura e simples sem maiores delongas. Será que eles sabem para que foram inventados os controles remotos?
                Ainda no Século Dezoito, Voltaire, famoso iluminista francês, deu uma lição sobre Liberdade de Expressão que, parece, não foi aprendida por muitos brasileiros deste século. Ainda vivemos num tempo bem anterior ao Iluminismo. O episódio Rafinha Bastos demonstra muito bem a questão. Nunca assisti ao programa CQC, nem iria a nenhum show protagonizado pelos seus apresentadores, mas jamais, por questões éticas, censuraria o programa. Num dos textos mais lúcidos sobre o assunto, o jornalista rondoniense Sérgio Pires comentou: “A censura ao humorista colocou, no seio da coletividade brasileira, o ovo da serpente. A semente da censura. Porque quando ela emana das ditaduras, até se compreende. Os ditadores a usam como primeira arma para calar os seus opositores. Mas quando ela nasce entre as pessoas comuns, aí sim, o risco é enorme. Porque a pressão para calar na marra um humorista, por pior que seja sua piada, é um caminho tortuoso para se pensar em censurar tudo: o filme que pareceu agressivo; a novela com cenas picantes; o político que faz oposição; o texto que critica desmandos de autoridades. Começa-se aceitando, como sociedade, que um dos seus membros seja censurado, seja calado. Depois, não há mais como conter as conseqüências desse ato”.
                Porém, muitos rondonienses e brasileiros torcem para que ela volte. Até jornalistas parecem gostar dela: oito imbecis metidos a jornalistas, contados a dedo, já propuseram censura a meus textos bobos. Eu os chamo simplesmente de “jornalistas capitão-do-mato”, aqueles negros que eram pagos para assassinar outros negros no tempo da escravidão. Não se pode usar o argumento tolo de que “nasci nesta terra e ninguém pode falar mal dela” para se defender a excrescência, a imoralidade, o cerceamento ao direito de se falar. Se minhas palavras atingirem a honra de alguém, que se busquem na Justiça, como manda a lei, os reparos, mas garanta a qualquer um o direito de se expressar.  Jornalista que defende a censura não é jornalista, é picareta que nunca estudou jornalismo numa faculdade de renome. A censura no Brasil nunca acabou, esta é a grande verdade. Por que em alguns sites eletrônicos de Porto Velho, por exemplo, não se vêem notícias contra a administração de Roberto Sobrinho à frente da Prefeitura? Lisura, mau jornalismo ou simples "cala-boca" mesmo? Por que a bancada de evangélicos no Congresso Nacional foi contra a distribuição do Kit anti-homofobia e censurou a sua distribuição nas escolas públicas do país? Por que muitos comentaristas se insurgem contra as piadas sem graça do Rafinha Bastos e lhe propõem apenas o silenciamento? Por que alguns religiosos ainda hoje defendem o índex?
                É como diz Sérgio Pires no seu texto: “... as piadas do Rafinha Bastos são horríveis, mas pior do que elas é a tentativa de censurá-lo...” . Para muita gente, a Ditadura Militar foi uma dádiva dos céus e que devia retornar à sociedade brasileira. Por isso não é de se estranhar quando senadores da República, desconhecendo que o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos ainda defendem publicamente chicotadas e todo tipo de maus-tratos para presos comuns e recebem aplausos ao proporem este e outros retrocessos medievais. Engraçado nisso tudo é que a grande maioria dos brasileiros acha o Estado incompetente, mas defende a pena de morte, a censura e o controle estatal sobre as pessoas como se verifica nas sociedades mais atrasadas e anacrônicas do mundo. “Ninguém precisa nos dizer o que devemos ou não assistir ou ouvir”. Tenho medo da censura porque com ela serei obrigado a achar as Três Caixas d’Água, o horroroso símbolo de Porto Velho, bonitas. À força, terei que admitir que Porto Velho é uma cidade limpa, organizada e cheirosa e que o Carnaval é uma invenção divina e todos ganham com ele. Para não morrer sob torturas direi também que todo político é honesto, não rouba e que trabalha sempre em benefício do povo. Na marra, vou deixar de produzir meus textos por causa de meia dúzia de otários que dizem não gostar deles, mas sempre os lêem. Tenham santa paciência. 





*É Professor em Porto Velho.

10 comentários:

Samuel Milet disse...

É MUITO SIMPLES, TANTO A IMPRENSA, FALADA, ESCRITA E TELEVISADA QUE SÓ FALA BEM DE UM DEPERTMINADO POLITICO É PORQUE ESTÁ RECEBENDO DESSE ALGUM TIPO DE BENEFÍCIO, ENQUANTO AQUELES QUE SÓ FALAM MAU É PORQUE AINDA NÃO CONSEGUIRAM TAL REGÁLIA, RESULTADO, TODOS BUSCAM INTERESSES PRÓRPIOS.

Josélia Neves disse...

Discutir as situações no país não é retorno a censura. A forma despropocional que vc compara o debate sobre o que se deve ver e ouvir no Brasil e a censura, chega a ser um despropósito. Não existe dogma sobre o que deve ser ou não discutido e deliberado, é natural nas democracias discutir o que se entende que deve ser discutido.

Francisco Campos disse...

O texto do Nazareno atira na direção certa, mas erra em alguns aspectos. De fato, há uma tentativa de retorno à censura no Brasil. Isto está no DNA do PT, um partido que se quer hegemônico e pautar as discussões. O problema dos atuais "censores" é que eles acham que tem as melhores intenções. Acham que falam em nome do cidadão comum. Esquecem-se, porém, que o cidadão comum sabe muito bem distinguir o bem do mal. Ora, a piada do Rafinha Bastos foi ruim? Foi. Mas não foi preciso nenhuma ONG ou ministra dizer isso: muitos cidadãos trataram de chamar a atenção para isso, e a onda de indignação que veio a seguir foi espontânea. O prof. Nazareno fala que a suspensão do tal kit gay foi um ato de censura. Não foi: o governo que quer me impedir de ver Valéria e Janete é o mesmo que quer impor aos meus filhos uma visão da sexualidade humana. Entendeu o perigo, Nazareno? O governo quer dizer o que eu devo ou não ver. É esse ingerência que deve ser combatida. Alguém, com a melhor das intenções pode dizer: "mas o povo não tem condições de entender o certo do errado, tendo em vista a baixa educação que recebe!\'. Pode ser, mas é o governo que deveria dar um estofo educacional ao cidadão e não cumpre esse mister. O que se discute aqui não é a mera censura pura e simplesmente, mas o tamanho do poder do Estado brasileiro que, em mãos petistas, tem se assoberbado em funções que são da família. As leis atuais que reduzem o pátrio poder são reflexos disso: o governo, ora petista, quer mandar, inclusive, em nossas consciências. Isso não é democracia! Isso é totalitarismo! E é isso que devemos combater!

Edgard Alves Feitosa disse...

Um povo eficientemente manipulado pelo PT, é um povo que bovinamente acredita ser livre; a caricatura do PT é exatamente aquela da "Revolução dos bichos", e a novilíngua, de 1984, de Orwell; é a visão de gado marcado e gado feliz; a "companheirada" é aquela manada de ovelhas balindo e balançando a cabeça aos sacrossantos líderes que tudo sabem e tudo pode; olhos vesgos e mentes embotadas que não ousam questionar o GRANDE IRMÃO

Antonio Maia disse...

De pleno acordo. Ter que aceitar tudo o que "eles" querem não é fácil. Dizer sempre SIM quando o NÃO seria a melhor resposta. Na Censura somos livres, para escrever, falar e mostrar tudo o que eles querem não o que queremos de fato fazer. Já passamos por isso. Não precisa de chicotes, precisamos de formação,educação com responsabilidade. Quem sente-se ofendido por isso ou aquilo vai à justiça e cobre a quem o ofendeu o que não pode é todos pagarmos pelo o que os outras dizem, escrevem e mostram. Eu... só respondo por mim.

Clododaldo Lima disse...

Enfim, uma critica aceitável, para a questão...

Alan Azevedo disse...

Foi infeliz o comentario do Rafinha e mais lamentável a opção da Band de censurá-lo a pedido de empresários. Bastava uma boa conversa e um pedido de desculpas. A emissora perde um grande talento, nem tanto pelo CQC, mas pelo programa investigativo A Liga, um dos melhores da tv aberta hoje no qual o Rafinha se destaca.

José Carlos Melgarejo disse...

Concordo contigo, prefiro os abusos da liberdade doque qualque tipo de censura. Apenas para esclarecer, a bancada evangélica (sou evangélico) não barrou o kit anti-homofobia, ela barrou o kit-incentivo a homoxessualidade.

Francisco Anithoan disse...

Os discurssos contra a "censura" estão se tornando românticos. Quando se destacam os diversos eventos caracterizados como censura, não percebem seus expositores que o próprio debate sobre o tema já é em si um evento democrático. É uma demonstração de liberdade de expressão generalizada e degustada pela maioria das pessoas e dos povos. Talvez fosse mais proveitoso nos preocuparmos em massificar a cidadania, ou seja, governo e sociedade cumprindo os seus papeis. Entendo, portanto, que num mundo globalizado e internetizado, pensar dessa forma em censura é como acreditar num processo de desindustrialização e voltarmos à Idade Média.

Anônimo disse...

OI. EU SOU UM ALUNO SEU DO JBC. EU QUERO PEDIR PARA O SENHOR POR FAVOR FAZER UM TEXTO SOBRE O SERIADO MAIS FAMOSO E MAIS MISTERIOSO DO MUNDO EU SEI QUE NÃO TEM PRATICAMENTE NADA A VER COM O QUE O SENHOR ESCREVE NO SEU BLOG MAS TENHO MUITA VONTADE DE LER UM TEXTO ESCRITO PELO SENHOR O QUE O SENHOR ACHA SUA VISÃO EM RELAÇÃO A TODOS ESSES MISTÉRIOS ENVOLVENDO ESSE SERIADO APESAR DE TER MUITO HUMOR NESTE SERIADO É MUITO MISTERIOSO O NOME DESTE SERIADO É CHAVES
SE O SENHOR DER UMA OLHADA NA INTERNET SOBRE O QUE FALAM EU ACHO QUE O SENHOR TAMBÉM FICA COM "UMA PULGA ATRAS DA ORELHA" .