“Todo Poder emana do
Açúcar e do Mel...”
Professor Nazareno*
Está escrito no Artigo Primeiro, parágrafo único, da
nossa Constituição que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.
Pode até ser, mas tem-se visto ultimamente, aqui e no mundo inteiro, que se
trata de mais uma frase estéril e sem nenhum efeito prático. O poder deve ser
muito doce, pois quem chega a ele não quer deixá-lo jamais. O fascínio exercido
por ele encanta a quase todos. Saddam Hussein, ex-mandatário do Iraque poderia
estar vivo até hoje. Vivo e muito rico vivendo como exilado político em
qualquer um dos vários países que lhe propuseram abrigo antes da invasão
norte-americana ao seu país em 2003. Claro que teria que deixar o Governo para
gozar de todas essas regalias. Muammar Kadafi, ex-ditador da Líbia, morto
recentemente, também rejeitou a mesma proposta. Ele, a fortuna que pilhou dos
seus cidadãos e toda a sua família poderiam ter ido para o exterior após
abdicar o poder. Como Saddam, rejeitou e preferiu lutar até o fim. Foi
fuzilado. Saddam, enforcado.
Viver uma vida de nababo em um país distante e com toda a
proteção possível deve ser o sonho de qualquer ser humano que tenha um mínimo
de bom senso. Saddam e Kadafi, inebriados pelo poder e na ânsia de ganhar
sempre mais, trocaram essa maravilhosa idéia pela morte. Morreram como ratos escondidos
em buracos. Não estavam satisfeitos com as suas fortunas. Queriam mais poder e
mais dinheiro. O ex-ditador iraquiano disse certa vez que só deixaria o cargo
depois de um banho de sangue, pois foi isso que fez para ser o dirigente maior
do seu povo. Na Líbia, o coronel Kadafi disse que tinha três opções para
resolver o problema dos protestos da Primavera Árabe em seu país: “ficar na
Líbia, ficar na Líbia e ficar na Líbia”. Para eles, “nem mel, nem cabaça”.
No restante do mundo a situação parece não ser muito diferente quando o poder
está em jogo. Ninguém quer largá-lo facilmente. No Brasil, por exemplo, a elite
mandou durante 502 longos anos. E para ter o poder, “fez acordo até com o
diabo”.
Agora,
quem manda no Brasil é o PT, que para conseguir o domínio também fez alianças
com tudo e com todos. O escândalo do Mensalão foi uma tática, saída das
entranhas do Partido dos Trabalhadores para conseguir mais força. Já faz nove
longos anos que a “estrela vermelha” manda em nós e deve continuar assim
por mais uns três anos pelo menos. O PMDB, aliado de primeira hora dos petistas
e que nunca deixou de ser poder, até durante a Ditadura Militar era quem
mandava no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, através do Chagas Freitas,
parece que jamais deixará de mandar no país. É sempre assim: quem chega ao
poder, jamais quer sair dele. Em Rondônia não é diferente: no topo, tudo é
válido para não largar a “boquinha”. Quando o Governo do Estado anunciou
que faria eleições para a escolha dos novos diretores de escolas estaduais, os
olhos de muitos professores começaram a brilhar de forma muito estranha. A
possibilidade de chegar a mandar, mesmo em escolas sujas, desorganizadas,
totalmente desvalorizadas e caindo aos pedaços, encanta a muitos. É a chance do
poder.
A recente crise na Unir, Universidade Federal de
Rondônia, exemplifica muito bem esta tese. Por que o reitor José Januário não
quer deixar o danado do poder? Claro que ele foi eleito democraticamente e
pelos meios legais, mas tem muita gente que está muito insatisfeita com a sua
desastrada administração. Comenta-se “à boca larga” que há todo tipo de
irregularidades e desmandos na única universidade pública de Rondônia. Para o
bem de todos e felicidade geral do meio universitário, ele deveria renunciar ao
cargo imediatamente. Mas a sede de poder é tamanha que, por enquanto, não está
disposto a fazer isso. No Sintero, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do
Estado de Rondônia é a mesmíssima coisa. A atual diretoria está encastelada no
poder há mais de vinte anos. Seus membros se revezam na Presidência do
Sindicato como se fossem uma dinastia daquelas verificadas no Iraque ou na
Líbia. Se pudessem, nem eleições eles permitiam por lá. Aliás, tem muito
sindicalista em Rondônia que não sabe o que é trabalho há muito tempo. Perder “a
mamata” que o poder proporciona, jamais. Isto está comprovado nas eleições
que acontecem. A baixaria é tanta que muitas vezes é a Justiça quem decide o
imbróglio. Uma vergonha para quem chegou ao auge defendendo a democracia e a
rotatividade de cargos. Não termos fuzilamentos ou forca é muita sorte.
*É
Professor em Porto Velho.
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