sábado, 11 de junho de 2011

Livro que ensina errado? Onde? Qual?




"Nois fala assim porquê nois quer, mais nois sabe"


Professor Nazareno*

            
                   Uma nova e desnecessária polêmica se criou recentemente no Brasil: a adoção de um livro de Português para o Ensino Fundamental das escolas públicas e que admite algo perfeitamente normal foi execrado publicamente com se fosse o mensageiro das coisas mais absurdas possíveis. O livro “Por uma vida melhor” da coleção Viver, Aprender foi o estopim de toda a celeuma. Muitas pessoas sem o menor conhecimento do assunto passaram a dar opiniões sem nenhum fundamento. Médicos, jornalistas, profissionais das mais variadas áreas, políticos e até professores de outras disciplinas se esmeraram em alfinetar o MEC, Ministério da Educação e Cultura, e o Governo do PT de um modo geral. Claro que todo Governo tem seus erros e suas falhas, mas neste caso se quiserem escolher um “bode expiatório” certamente ele estará bem longe do Palácio do Planalto ou mesmo do Ministério da Educação, não que o PT ou qualquer outro Governo não cometa erros, mas desta vez o assunto é para entendedores.
            Pra começo de conversa não é o MEC que adota livros para as escolas. A escolha é feita pelos professores após consulta numa relação de mais de 20 obras de variados autores de cada disciplina. Numa sugestão das editoras e do próprio MEC, os professores escolhem o material que será adotado para os próximos três ou quatro anos letivos. Algumas escolas de Rondônia, por exemplo, optaram por esse livro. O senso comum, no entanto, já se encarregou de dizer que “o livro ensina errado e deve ser recolhido ou queimado” ou “Isto é coisa do PT e do Governo da Dilma”. Pura balela de quem fala sobre o que não conhece. O livro não ensina errado. Aliás, livro nenhum faz isso. Se houver qualquer erro contido nele, aí sim, deve ser revisto ou substituído, jamais queimado. A obra apenas admite de forma clara e óbvia que a Língua Portuguesa falada tem muitas variantes e que não é politicamente correto se dizer que o falante está certo ou errado ao usá-las. A pessoa usa, dependendo da situação, a forma adequada ou a inadequada da fala. A sociolingüística tem muito a nos ensinar sobre este assunto.
            Muitos políticos, principalmente os da oposição, se insurgiram contra o livro, mas se esqueceram de que tripudiaram do povo ao indicar o deputado-palhaço Tiririca, que é semi-analfabeto, para integrar a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Se o palhaço não aceitasse o cargo seria substituído pelo boxeador Acelino Popó ou pelo futebolista Romário. O Brasil é o país dos analfabetos políticos, funcionais e analfabetos de leitura mesmo. A Educação vai mal principalmente por que há muitos professores de Português que não dominam a variante escrita da nossa Língua e não conseguem escrever um simples texto. Conheço professores de Matemática que tropeçam na simples tabuada e sei que muitos professores de História ainda têm religião. Num cenário patético como este é mais do que normal que as autoridades do assunto não sejam consultadas e que as opiniões mais absurdas possíveis ganhem terreno para explicar o inexplicável. Por isso se prefere um Viriato Moura a um Sírio Possenti. A Câmara indica um Tiririca e não um bom lingüista, um entendedor.
As críticas mais ferozes ao livro vieram da rede Globo e da revista Veja. Interessante é que ambas estão ligadas a editoras que têm interesses econômicos claros no recolhimento do material escolhido democraticamente. Os incautos e ignorantes no assunto “engoliram mosca” como sempre fazem e não perceberam a “jogada”. Eu, quando publico meus textos bobos, morro de rir da ignorância e da estupidez dos meus poucos leitores. Muitos deles são uns cegos, tapados mesmo. Quase nunca entendem a ironia ou a mensagem implícita no que digo e quando postam comentários, o desastre é pior ainda. São raros os comentaristas dos sites eletrônicos de Porto Velho, por exemplo, que se expressam em língua escrita culta, a única variante aceita para se escrever o Português. O professor e lingüista Carlos Faraco diz que o tom geral é de escândalo. “A polêmica, no entanto, não tem qualquer fundamento. Quem a iniciou e quem a está sustentando pelo lado do escândalo, leu o que não está escrito, está atirando a esmo, atingindo alvos errados e revelando sua espantosa ignorância sobre a história e a realidade social e lingüística do Brasil”, ensina o ex-reitor da UFPR.
Por isso deve-se ter muito cuidado ao se trabalhar com a “última flor do Lácio”. A Língua Portuguesa na sua variante escrita não devia ser objeto de uso de qualquer amador. No Brasil, devido ao alto índice de burrice da nossa população e levando-se em consideração as diferenças fonéticas e regionais existentes, não conseguimos impor uma unidade à fala. O livro em questão apenas informa que existem estas diferenças e que os falantes não podem sofrer preconceito lingüístico ao se expressarem. “Leite quente dói o dente da gente” é uma expressão que admite várias maneiras de se falar, de se pronunciar e todas estão corretas. A grande maioria dos meus alunos, por exemplo, tem dificuldades para escrever um texto pequeno, mas todos conseguem se comunicar normalmente. Ao desprezarem a boa leitura, a boa música, os bons livros, muitos brasileiros “letrados” mergulham na inércia da ignorância e dão opiniões absurdas quando defendem o índex publicamente. Errada está, por exemplo, a medicina praticada em Porto Velho quando produz um João Paulo Segundo. Erradas estão a maioria das nossas escolas públicas, os viadutos inacabados, a sujeira nas ruas, a roubalheira na política, o Palocci, a inércia e a incompetência do Estado, a violência social, a Expovel, o flor do Maracujá. Parafraseando a escritora Lia Luft: “Deixem em paz a nossa Língua”.




*É Professor em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)

14 comentários:

Edelvan Menezes disse...

já devíamos estar felizes pelo fato de que tanto em Roraima quanto em Rio grande do sul, conseguimos nos comunicar com a mesma língua. Na verdade, já devíamos estar felizes por não termos nenhuma invasão estrangeira de sucesso na era colonial, ou ate mesmo, de não nos separarmos geograficamente com as inconfidências. Então ai me pergunto, estão ignorantemente reclamando por quê temos pouco, ou por quê temos muito? Acho que reclamam porque não sabem nem como se escreve e nem o que significa a palavra "Brasil", se é que me entendem...

Carlos Antônio Silva disse...

Português deve ser ensinado nas escolas de maneira culta, ou correta; aquele dos livros do MEC se aprende na rua, no convívio dos lares, e é quase natural (como dizem os especialistas em linguística). O resto é só discutir o sexo dos anjos, como faziam os romanos quando o perigo bárbaro se aproximava!

Pedro 123 disse...

Parabéns Prof. Nazareno. Seu texto coloca os pontos nos Is. O livro mencionado apenas reconhece um fato social: a fariação da língua no falar e deixa claro que aquela não é a forma culta, mas admitida dentro de determinados grupos sociais. Bem, a polemica demonstra a ignorância do povo e o predomínio da elite que domina a mídia nos interesses escusos, sendo que um deles é a venda livros.

Hernan disse...

Perfeito professor. É bom saber que em Rondônia ainda temos pessoas que ainda sabem pensar por si próprias.

Ivanilson Frazão Tolentin disse...

Caro Professor Nazareno! Concordo com cada ponto e vírgula de seu comentário. Em nosso país discute-se o desnecessário para não mudar o necessário. O livro criou uma polêmica tão grande como se leitura fosse algo que nós, brasileiros, fizessem com a naturalidade dos britânicos ou franceses. Não digo com isso, que eles sejam melhores ou piores que nós. Mas, apenas que lêem muito mais que os brasileiros. Quem dera que a nossa população tivesse o hábito de ler, livros escritos corretos ou não, mas que apenas lessem. Com certeza, o nível de desenvolvimento de nosso povo seria outro e os dos nossos governantes também. Além, de uma série de problemas que temos hoje, não existiriam. Muitos sucessos que tocam nas rádios, não seriam sucessos e sim grandes fracassos. Muito dos programas de televisão como BBB, novelas e outros aberrações, de auditório ou não, também estariam condenadas ao ostracismo. Mas, como leitura ainda é vista com algo de luxo, temos que nos contentarmos com essas discussão onde fala-se de tudo e esquece-se do essencial. Nesse caso, o essencial é educar essa massa de semi-analfabetos. Professor estou aguardando o próximo artigo!

Antonio Carlos disse...

Excelente texto,Professor Nazareno.Dessa vez você não quis aparecer mais que o conteúdo. Muito bem colocado quando você fala que existem professores que não sabem praticamente nada e estão em sala de aula.Muitos dos bons já estão pelos TRs por aí, cansados de serem massacrados e humilhados profissionalmente. A maioria dos que ficaram estão "dançando conforme a música", ou seja, fazendo jus ao mísero salário que recebem. Alguns anos atrás apareceu uma modalidade de ensino chamada EJA ( Educação de Jovens e Adultos), hoje conhecida como fábrica de igorantes. O ensino regular já está quase chegando lá. A escola pública é vista como local de diversão para um bando de baderneiros que se reconhecem como alunos. Afinal, na escola pública tem-se garantido 5,0 pontos de "trabalho", adotado pela LDB, época em que a educação perdeu a vergonha na cara. Por isso que hoje a escola CLASE A, possui um método bem tradicional, questionado pelos "inteligentes pedagogos", domina os dados estatísticos de aprovações nos maiores vestibulares.Sem deixar de citar a valorização salarial do professor, é claro. A escola João Bento da Costa tem um monte de aprovações também, porém, observe a quantidade de alunos que estão matriculados! Faça a proporção e desmascare a propaganda enganosa que existe em torno dessa escola.

Dr. Marcelino M. Rego disse...

Caro prof. Nazareno, a questão é que devemos ensinar a forma correta e principal da nossa querida lingua portuguesa. Dialetos e formas de se expressar de grupos, a vida mesmo ensina. Sobre esse item tão comum, de interesses de terceiros, já se faz parte da promiscúa vida politica nacional. Agora ensino de qualidade, em um país que um Sarney da vida é dá cademia brasileira de letras. Se faz uma reforma na escrita e expressão, quando se tem um presidente da turma do nois fumo, nois é anarfa mais gosta de dindim? Agora não satisfeitos, querem tbém ensinar a matematica politica que 10-7=4. Pitagoras, Socrates grandes mestres dos primordios da evolução dessa triste desumanidade. Deixou claro que o primeiro ensinamento, era a pensar! Assim se garantiria a verdadeira evolução da raça humana. Em total contra mão com tais ensinamentos, criam uma turba de analfabetos funcionais. Além de criarem o mito de que cultura tem haver com homossexualidade. Aberrações como se o nivel cultural, ou o carater tivesse uma ligação sexual. Mais um parametro maluco para se juntar a tantos outros; Como raça, cor ou credo. Temos que agradecer a criação desta subraça amoral e consumista. Não só a nossa classe delinquente politica, mas tbém as grandes coorporações. Cada vez mais ávidas pelo rebanho consumista, não se importando o como conseguiu.

Nick disse...

JBC propaganda enganosa! Se liga meu caro,tenho 2 filhos q sempre estudaram em escola pública e foi graças ao ensino de qualidade q lá tem que um passou para Segurança Pblica e a a outra para Direito.Não só eles como muitos outros alunos tiveram a chance de cursar uma federal.Não é qqr escola que tem gente aprovada na FURG,UFRJ,PUC,UFMT,UFAC,UFAM,UFSCAR entre tantas outras. O CLASSE A tem é medo da concorrência pois nas suas estatísticas colocam sempre alunos que passram apenas um semestre ou um ano por lá no ensino fundamental além de incluir o pessoal q faz cursinho.JBC só coloca os aprovados do 3º ano pertinentes ao ano letivo.Além do mais o classe A anda com uns professores de língua portuguesa que sequer sabem interpretar um texto,gramatiqueiros puros.A hora q o prof Nazareno e o prof. Moreira sairem de lá,quero ver quem consegue passar em redação.JBC SIGA EM FRENTE! VOCÊS CONSEGUEM MOSTRAR QUE COM COMPETÊNCIA CAUSAM INVEJA ATÉ NO QUE SE DIZ "CLASSE A"...

Josi disse...

Ainda não li os livros de Língua Portuguesa da coleção em questão. No entanto, saliento que, nem sempre, os livros que chegam às escolas públicas são aqueles "escolhidos" pelos professores de acordo com a sua área do conhecimento... Quem trabalha na rede pública de ensino sabe que na maioria das vezes existem bem mais interesses envolvidos.

Edna disse...

Vlw Nick,esse sr.Antono Carlos não tem conhecimento da causa,sou aluna do terceirão e no JBC se estuda de verdade e a listagem de aprovados é mais que verídica.

Maria Marlene disse...

Parabéns pelo post, professor. Concordo plenamente! Gostei muito do seu blog e virei seguidora. Gostaria de convidá-lo para conhecer meu blog de português. São postagens simples... mas acho que vc vai gostar.Maria marlene (Tucuruí-Pará)
http://cenarioportugues.blogspot.com

Márcio Madeira disse...

A linguagem Padrão, é a linguagem do Patrão!Será que se Eulália ( A Lingua de Eulália - Marcos Bagno) falasse "você" ao invés de "vosmecê", a sua comida, aqueles quitutes e doces que aprendeu com sua avó seriam ainda mais deliciosos?. Afinal o "bicho-do-pau-comprido-com-marimbondo-na-ponta" (Sagarana-Conversa de Bois- J. G. Rosa) precisa ser adestrado na lingua padrão ( a lingua do Patrão) tão bem ensinada pelo imortal Evanildo Bechara em sua Gramática já assim não tão moderna?É, a vida é mesmo assim. Um dia ele irá se encontrar com o Deputado Tiririca na Terceira margem do rio, o único Norte Verdadeiro em todos nos encontraremos. E segue a vida. "valew ou naum valew a pena"?
Deixemos Guimarães Rosa e seu Sagarana em paz, pois como o boi Rodapião, deve ter morrido por assimilar os processos mentais dos homens. Centremo-nos em Amaral (O januário, mas não o pai de Tiãozinho), pois o vestibular da UNIR vem aí.

Policarpo Quaresma disse...

Que texto odioso. Ele propugna contra algo (a correção normativa) que ele próprio não descura em usar. O nome disso é preconceito escamoteado. E se médicos, engenheiros, jornalistas e professores de outras discilpinas debateram sobre a obra é porque a obra é de interesse de todos nós, inclusive os professores pós-doutores em língua portuguesa, como eu, no Brasil ou no mundo.

Augusto disse...

Policarpo me poupe! Onde vc viu o preconceito nesse texto ? Pq até agora eu não vi nenhum. Aprenda a ler os textos direito pra depois ficar falando asneiras ! #FIKDIK