Quem é contra a Educação no Brasil?
Professor Nazareno*
Ninguém de bom senso ou que agisse politicamente correto hoje em dia seria contra a Educação ou diria alguma coisa que não a colocasse como meta prioritária de qualquer cidadão, pai de família ou mesmo Governo. Mas no cotidiano o que se vê no Brasil é uma sucessão de absurdos, abusos e agressões contra toda e qualquer prática educacional. Somos orgulhosamente a sétima potência econômica do mundo e em Educação já amargamos a 53ª posição entre as nações. Ao contrário das sociedades mais evoluídas do planeta, não valorizamos o saber, não damos o valor que a Educação merece. Nossa sociedade nunca em momento algum valorizou o ensino. Nossos governantes e políticos sabidamente fazem o mesmo. Entra ano e sai ano e as nossas escolas estão no mesmo patamar de séculos atrás. Educação de péssima qualidade, ensino retrógrado e anacrônico, profissionais desvalorizados, infra-estrutura física das escolas públicas caindo aos pedaços, esse é o cenário dantesco da Educação em nosso país.
Em Rondônia não é muito diferente. A
exemplo de outros Estados da Federação, aqui a Educação também sempre viveu
maus bocados. Dos ex-territórios até o Estado, a verdade é que nenhum
governante nunca deu a importância devida para este sofrido setor. Até o
todo-poderoso e aplaudido ex-governador Jorge Teixeira não plantou a semente da
Educação para que pudéssemos, três décadas depois, colher os frutos. E parece
que os nossos governantes sempre tiveram, numa incompreensível ironia, a
aceitação da sociedade. Professor geralmente só é lembrado quando faz greve. Só
tem sua importância reconhecida quando “algumas
crianças estão sem aulas” e só. Inebriada, essa mesma sociedade, que não
valoriza o saber e o conhecimento, padece com a falta de mão-de-obra
especializada e se vê envolta numa espiral de violência que é fruto e
conseqüência da falta de uma Educação de qualidade. “No passado não construímos boas escolas; Hoje, não devíamos nos
envergonhar de construir presídios”.
Há mais de dez anos trabalho na
Escola João Bento da Costa na Zona Sul de Porto Velho. Junto com um grupo de
colegas professores ajudei a fundar o Projeto Terceirão na escola pública. Os
resultados positivos obtidos com esta ação dispensam quaisquer comentários. Mas
o João Bento está, talvez a exemplo de muitas outras escolas públicas deste
país, caindo aos pedaços. As salas de aulas carecem de ventilação, estão sujas,
extremamente quentes e sem nenhuma condição de se ter aulas. A rede elétrica da
escola está totalmente danificada o que leva todos nós, professores,
funcionários e alunos, a trabalhar sob fortes riscos de morrer vítimas de um
incêndio de grandes proporções. Não sei se providências estão sendo tomadas
para resolver algo no João Bento. O que sei é que nunca vi ninguém chegar
lá para propor melhoras na situação. Nunca vi um pai de aluno sequer ir à
escola para reclamar do problema. Desconheço se alguma autoridade já demonstrou
preocupação com o fato. No país inteiro, hoje, para ver o fundo do poço, muitos
brasileiros têm de olhar para cima.
O pior é que a falta de
infra-estrutura compromete o pouco que se tem em resultados positivos. As aulas
estão com o tempo reduzido já que na escuridão não se trabalha. Em vez de sete
horas da noite, as aulas do turno da tarde só podem ir até as cinco ou menos.
Não estou querendo culpar este ou aquele Governo nem a sociedade, mas diante
dos bons resultados da escola, entendo que o João Bento da Costa merece um
melhor ambiente de trabalho. Não sei se há verbas e disposição para que isto
aconteça ou se providências já estão a caminho. O fato é que não se pode deixar
que coisas que dão certo se acabem sem nenhuma explicação. Às vezes me sinto
culpado e tenho vergonha de trabalhar em meio a tanta sujeira e lixo, mas ao
mesmo tempo em que me deprimo entendo que quem tem de sentir vergonha não sou
eu apenas. Do final do Governo Bianco até agora, a quantas reformas esta escola
foi submetida? E as outras? E a população beneficiada, já se manifestou alguma
vez para resolver o problema? Hoje, até o outrora combativo Sindicato dos Professores, o Sintero, vê a Educação “de
outra forma”.
No entanto, a crise da Escola João
Bento da Costa de Porto Velho deve ser a mesma da maioria das escolas públicas
do país. A sociedade não cobra, o Governo não faz e todos se acomodam. A máxima
de que “o Estado finge que paga, o
professor finge que dá aulas e o aluno finge que aprende”, remete todos nós
a um fim trágico onde todos, fingindo ou não, seremos os perdedores e vamos
pagar um preço muito alto, pois estamos comprometendo o nosso próprio futuro.
Aqueles que podem, tentam se proteger do caos colocando seus filhos na rede
particular de ensino, os que não podem se submetem às circunstâncias do
momento. E todos fingem estar felizes, já que “o problema não é meu”. Educação não é isso. É compromisso, é
empenho, é dedicação, é participação. Se o JN no ar tivesse vindo a Porto
Velho, a nossa vergonha teria sido ainda maior. Mas se uma catástrofe acontecer
por lá certamente teremos “mídia de sobra”
a noticiar sobre cadáveres. E a participação dos pais não é somente para
consertar o prédio: Muitos alunos em fase de concluir o Ensino Médio ainda não
conseguem se expressar por meio de um simples texto escrito em Língua
Portuguesa. É preciso que haja participação de todos para encarar a
problemática. A mobilização da comunidade é necessária para ajudar os filhos a
fazerem um texto, entender números, compreender a História, raciocinar com
clareza, participar da política ou a não querer assistir aulas em uma espelunca
arriscando suas próprias vidas já que todos dizem e juram ser a favor da
Educação.
*É Professor em Porto Velho.
4 comentários:
Parabéns, muito bom...
Para o próprio professor da escola falar do JBC é porque a coisa está feia,mas é a grande realidade da maioria das escolas,pois Cassol só mascarava reformas e por algumas nem passou.Agora deixar mais de 3.000 alunos com risco de um incêndio, pergunta-se:Onde está a comunidade que manda seus filhos para uma escola que pode pegar fogo a qualquer instante? Quanto a sujeira parece ser normal para os governos pois estão careca de saber que não existe pessoal de limpeza suficiente e não fazem nada para sanar os problemas e relamente é de desanimar tentar ensinar algo a alguém no meio da sujeira.Os diretores poderiam no mínimo pressionar a a secretaria de educação a dar suprimentos de fundos para contratação direta pela escola de agentes de limpeza, ou então terceirizar o serviço pois seria o caminho mais viável para acabar com esse problema.
Comentário extraído do site www.rondoniaovivo.com.br
Poise caro colega mas os politicos sao contra pois gastam o dinheirinho suado deles fuma um baseado e compra seus carros de luxo.
Comentário extraído do site www.rondoniaovivo.com.br
Mandou bem! O nosso País não investe na educação como deveria ser, mais quando se fala em copa, olimpíadas aí têm recursos que daria p/ construir escolas c/ toda estrutura necessária, melhorar o nosso salário e ofertar ensino profissionalizante e tantos outros.
Comentário extraído do site www.rondoniaovivo.com.br
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