segunda-feira, 23 de maio de 2011

O João Bento da Costa pede socorro!



Quem é contra a Educação no Brasil?


Professor Nazareno*

      
      Ninguém de bom senso ou que agisse politicamente correto hoje em dia seria contra a Educação ou diria alguma coisa que não a colocasse como meta prioritária de qualquer cidadão, pai de família ou mesmo Governo. Mas no cotidiano o que se vê no Brasil é uma sucessão de absurdos, abusos e agressões contra toda e qualquer prática educacional. Somos orgulhosamente a sétima potência econômica do mundo e em Educação já amargamos a 53ª posição entre as nações. Ao contrário das sociedades mais evoluídas do planeta, não valorizamos o saber, não damos o valor que a Educação merece. Nossa sociedade nunca em momento algum valorizou o ensino. Nossos governantes e políticos sabidamente fazem o mesmo. Entra ano e sai ano e as nossas escolas estão no mesmo patamar de séculos atrás. Educação de péssima qualidade, ensino retrógrado e anacrônico, profissionais desvalorizados, infra-estrutura física das escolas públicas caindo aos pedaços, esse é o cenário dantesco da Educação em nosso país.
        Em Rondônia não é muito diferente. A exemplo de outros Estados da Federação, aqui a Educação também sempre viveu maus bocados. Dos ex-territórios até o Estado, a verdade é que nenhum governante nunca deu a importância devida para este sofrido setor. Até o todo-poderoso e aplaudido ex-governador Jorge Teixeira não plantou a semente da Educação para que pudéssemos, três décadas depois, colher os frutos. E parece que os nossos governantes sempre tiveram, numa incompreensível ironia, a aceitação da sociedade. Professor geralmente só é lembrado quando faz greve. Só tem sua importância reconhecida quando “algumas crianças estão sem aulas” e só. Inebriada, essa mesma sociedade, que não valoriza o saber e o conhecimento, padece com a falta de mão-de-obra especializada e se vê envolta numa espiral de violência que é fruto e conseqüência da falta de uma Educação de qualidade. “No passado não construímos boas escolas; Hoje, não devíamos nos envergonhar de construir presídios”.
        Há mais de dez anos trabalho na Escola João Bento da Costa na Zona Sul de Porto Velho. Junto com um grupo de colegas professores ajudei a fundar o Projeto Terceirão na escola pública. Os resultados positivos obtidos com esta ação dispensam quaisquer comentários. Mas o João Bento está, talvez a exemplo de muitas outras escolas públicas deste país, caindo aos pedaços. As salas de aulas carecem de ventilação, estão sujas, extremamente quentes e sem nenhuma condição de se ter aulas. A rede elétrica da escola está totalmente danificada o que leva todos nós, professores, funcionários e alunos, a trabalhar sob fortes riscos de morrer vítimas de um incêndio de grandes proporções. Não sei se providências estão sendo tomadas para resolver algo no João Bento. O que sei é que nunca vi ninguém  chegar lá para propor melhoras na situação. Nunca vi um pai de aluno sequer ir à escola para reclamar do problema. Desconheço se alguma autoridade já demonstrou preocupação com o fato. No país inteiro, hoje, para ver o fundo do poço, muitos brasileiros têm de olhar para cima.
       O pior é que a falta de infra-estrutura compromete o pouco que se tem em resultados positivos. As aulas estão com o tempo reduzido já que na escuridão não se trabalha. Em vez de sete horas da noite, as aulas do turno da tarde só podem ir até as cinco ou menos. Não estou querendo culpar este ou aquele Governo nem a sociedade, mas diante dos bons resultados da escola, entendo que o João Bento da Costa merece um melhor ambiente de trabalho. Não sei se há verbas e disposição para que isto aconteça ou se providências já estão a caminho. O fato é que não se pode deixar que coisas que dão certo se acabem sem nenhuma explicação. Às vezes me sinto culpado e tenho vergonha de trabalhar em meio a tanta sujeira e lixo, mas ao mesmo tempo em que me deprimo entendo que quem tem de sentir vergonha não sou eu apenas. Do final do Governo Bianco até agora, a quantas reformas esta escola foi submetida? E as outras? E a população beneficiada, já se manifestou alguma vez para resolver o problema? Hoje, até o outrora combativo Sindicato dos Professores, o Sintero, vê a Educação “de outra forma”.
       No entanto, a crise da Escola João Bento da Costa de Porto Velho deve ser a mesma da maioria das escolas públicas do país. A sociedade não cobra, o Governo não faz e todos se acomodam. A máxima de que “o Estado finge que paga, o professor finge que dá aulas e o aluno finge que aprende”, remete todos nós a um fim trágico onde todos, fingindo ou não, seremos os perdedores e vamos pagar um preço muito alto, pois estamos comprometendo o nosso próprio futuro. Aqueles que podem, tentam se proteger do caos colocando seus filhos na rede particular de ensino, os que não podem se submetem às circunstâncias do momento. E todos fingem estar felizes, já que “o problema não é meu”. Educação não é isso. É compromisso, é empenho, é dedicação, é participação. Se o JN no ar tivesse vindo a Porto Velho, a nossa vergonha teria sido ainda maior. Mas se uma catástrofe acontecer por lá certamente teremos “mídia de sobra” a noticiar sobre cadáveres. E a participação dos pais não é somente para consertar o prédio: Muitos alunos em fase de concluir o Ensino Médio ainda não conseguem se expressar por meio de um simples texto escrito em Língua Portuguesa. É preciso que haja participação de todos para encarar a problemática. A mobilização da comunidade é necessária para ajudar os filhos a fazerem um texto, entender números, compreender a História, raciocinar com clareza, participar da política ou a não querer assistir aulas em uma espelunca arriscando suas próprias vidas já que todos dizem e juram ser a favor da Educação.



           

*É Professor em Porto Velho.

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, muito bom...

Felipe Serra disse...

Para o próprio professor da escola falar do JBC é porque a coisa está feia,mas é a grande realidade da maioria das escolas,pois Cassol só mascarava reformas e por algumas nem passou.Agora deixar mais de 3.000 alunos com risco de um incêndio, pergunta-se:Onde está a comunidade que manda seus filhos para uma escola que pode pegar fogo a qualquer instante? Quanto a sujeira parece ser normal para os governos pois estão careca de saber que não existe pessoal de limpeza suficiente e não fazem nada para sanar os problemas e relamente é de desanimar tentar ensinar algo a alguém no meio da sujeira.Os diretores poderiam no mínimo pressionar a a secretaria de educação a dar suprimentos de fundos para contratação direta pela escola de agentes de limpeza, ou então terceirizar o serviço pois seria o caminho mais viável para acabar com esse problema.

Comentário extraído do site www.rondoniaovivo.com.br

Marcos disse...

Poise caro colega mas os politicos sao contra pois gastam o dinheirinho suado deles fuma um baseado e compra seus carros de luxo.

Comentário extraído do site www.rondoniaovivo.com.br

Maria Ruth Campos disse...

Mandou bem! O nosso País não investe na educação como deveria ser, mais quando se fala em copa, olimpíadas aí têm recursos que daria p/ construir escolas c/ toda estrutura necessária, melhorar o nosso salário e ofertar ensino profissionalizante e tantos outros.

Comentário extraído do site www.rondoniaovivo.com.br