Hipocrisia na Grande Rede
Professor Nazareno*
Um dos piores sentimentos da humanidade, a hipocrisia está se tornando uma prática comum no dias de hoje. Com o recente escândalo da WikiLeaks e o advento da Internet, ficou mais fácil entender por que muitos governos e autoridades em geral no mundo inteiro têm usado frequentemente este asqueroso sentimento para propagar suas políticas. "A hipocrisia é o ato de fingir, ter crenças, virtudes, idéias e sentimentos que a pessoa não possui". Nem é preciso buscar nos dicionários o significado de hipócrita. É uma mistura de falso, invejoso, maquiavélico, puxa-saco, medroso, cínico e até deselegante. Lao-Tsé, filósofo chinês, afirmava que as palavras verdadeiras nem sempre são agradáveis e as palavras agradáveis geralmente não são verdadeiras.
No Brasil, um indivíduo negro que nasceu na década de 50 tinha a cor preta. Na década de oitenta lhe disseram que "preto era tinta" e que ele era "negro", pois tinha suas origens na raça negróide; De 2003 para frente, após a introdução do politicamente correto, afirmaram que "quem tem raça é cachorro" e que os negros não deviam se auto-afirmar como negro e sim como "afro-descendentes"; Muitos tiveram dificuldades para se familiarizar com a expressão. Passado um tempo, os entendidos afirmaram que não era mais afro-descendentes e sim afro-brasileiros. Outra luta para que os coitados se acostumassem com a nova mudança. No último censo aparece uma moça e diz que todos já voltaram a ter cor preta de novo. Como entender tantas mudanças?
Questão de nomenclatura, hipocrisia ou vontade de agradar? O mesmo acontece com as pessoas que não são heterossexuais. Antes eram bichas, veados, baitolas, frescos e muitas outras palavras de baixo calão. Depois mudou para homossexual, evoluiu para gay e hoje o politicamente correto é homoafetivo. Já as mulheres que trabalhavam de doméstica eram chamadas de peniqueiras. Mudou para empregada doméstica, doméstica, funcionária do lar e hoje é apenas funcionária. Tantos nomes diferentes e tantas nomenclaturas escondem a importância destes segmentos da população para o nosso desenvolvimento. Tolice falar da grandeza e da contribuição de cada um deles, negros, homossexuais e domésticas para o nosso país.
Mas a nossa hipocrisia mascara tudo. Nomeamos e depois mudamos de acordo com as nossas conveniências. Na política é quase a mesma coisa. A lei da ficha limpa, por exemplo, existe coisa mais hipócrita? O sujeito que é corrupto, ladrão, desonesto, facínora e patife agora pode não se enquadrar na determinada lei. "Pode" foi apenas uma questão de interpretação jurídica, já que muitos, sanguessugas e mensaleiros, perderam os maus adjetivos, tiveram milhares de votos e foram eleitos, reeleitos e até diplomados pelos tribunais. Mais uma lei que foi criada para não punir efetivamente e apenas "fazer de conta", ou seja, mais hipocrisia. Já o preço da passagem dos coletivos em Porto Velho aumentou e só quem protestou foi quem tem carro e é rico.
Hipócrita também é aquele que diz sofrer pelos outros. As prostitutas sofreriam menos se fossem chamadas apenas de profissionais do sexo? As palavras Puta, rapariga, quenga, biscate, vadia não são mais politicamente corretas. Aluno que antes era burro, estúpido, cavalo e tapado hoje apresenta dificuldades de aprendizagem. Ladrão é infrator do artigo 171. E já se cogita beneficiar as amantes em caso de morte do co-parceiro. Cadeia de onde os bandidos comandam suas atividades ilegais e criminosas agora se chama Penitenciária de Segurança Máxima. Incompetência e irresponsabilidade para administrar o tráfego aéreo de um país são chamadas de overbooking, caos aéreo ou outro eufemismo qualquer. Favela agora se chama comunidade e a violência urbana é culpa dos traficantes de drogas e não dos viciados. Reeleição de político se dá pelo relevante trabalho que ele prestou e não pelo seu poder financeiro. Ou seja, mudou-se tudo para ficar tudo do jeito que sempre esteve: no caos.
É Professor em Porto Velho.
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