quarta-feira, 28 de junho de 2023

The Passion Flower Arraial

The Passion Flower Arraial

 

Professor Nazareno*

 

            Old Port, cidade provinciana perdida nos cafundós, suja e muito atrasada, se prepara como de costume nos meados do ano para as grandes festividades alusivas a São João. O famoso arraial Passion Flower reúne todos os anos a matutada simplória e ridícula, que representa o que de melhor existe na sociedade oldportiana. O triste festival tenta imitar a breguice e a matutice já existentes há muito tempo entre os seus toscos e visionários habitantes. Para não perder a tradição costumeira, muitos moradores da cidade vendem seus carros, sítios e até suas casas para poderem passar uma noite com a família saboreando as comidas que são vendidas ali a preço de ouro. Muitas barracas de guloseimas, montadas em meio à sujeira e a imundície, deleitam seus poucos visitantes e também lhes arrancam os olhos da cara para servir gororobas de sabor exótico e repulsivo.

            Fala-se que naquele sinistro lugar, frequentado geralmente por pessoas pobres e miseráveis, circulam muitos dólares e euros. O requinte e o luxo ali verificados justificam esta regalia. Só que nenhuma casa de câmbio pode ser verificada nos arredores. Madames bem arrumadas e usando bolsas Louis Vuitton, compradas nas zonas leste e sul da cidade, são vistas todas as noites degustando vatapá com galinha picante. Poucas pessoas entendem o nome dado para aquela festa matuta, para aquele arraial sem santo. A fruta da paixão, que dá nome àquele grosseiro festival, sequer existe por aquelas bandas. Não há na cidade, nem na província inteira, uma só árvore dessa espécie vegetal. Old Port não tem mobilidade urbana, mas a classe política já providenciou vários ônibus urbanos saindo de cada bairro para as proximidades do malfadado festejo. E a matutada aproveita.

            Muita gente reclama que aquilo é uma festa só para os ricos da cidade. Só que naquele lugar praticamente não há pessoas ricas. Diferente, por exemplo, da “Go Who Wants Band” que desfila todo Carnaval e leva toda qualidade de gente pobre para beber cachaça barata e sujar as ruas da imunda municipalidade. Old Port está em franca extinção e por isso não tem absolutamente nada para divertir seus tristes e desolados moradores. A capital provincial perde habitantes a cada ano que passa. O último censo disse que a cidade tem hoje um pouco mais do que 460 mil habitantes quando as pessoas apostavam que essa cifra já estava superando os 600 mil moradores. Sem mobilidade urbana, sem rede de esgotos, sem água tratada, muito violenta e sem recantos de lazer, muita gente se aposentou e “montou no porco”. Assim, em pouco tempo não terá mais nenhum morador.

            Além do mais, dizem que nessas festas juninas têm muitas quadrilhas, poeira e matutos. Ver isso, todo mundo da cidade consegue sem fazer muito esforço nem gastar o dinheiro que não tem. As quadrilhas já fazem parte da vida diária de quase toda a população oldportense. Não há uma só campanha política que não se formem várias delas. Já os matutos fazem parte da paisagem urbana há muito tempo enquanto a poeira é companheira dos moradores em todo verão. Dessa maneira, nem o dinheiro público enterrado ali, cerca de 1,2 milhão de reais, conseguiu turbinar a festa brega. A cidade, totalmente dominada na política pela direita e pela extrema-direita, é muito pobre e sempre viveu só de ciclos. Só que hoje não há nenhum ciclo à vista. Por isso, o empobrecimento das pessoas e a falta de qualidade de vida são coisas até naturais no esquecido rincão. Tomara que não comece agora o ciclo dos arraiais caros e impopulares!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 24 de junho de 2023

Os pilares da sociedade

Os pilares da sociedade

 

Professor Nazareno*

 

            Dinheiro, fé em Deus, putaria e drogas são, não necessariamente nessa ordem, os principais pilares que sustentam a sociedade moderna. No Brasil principalmente, esses quatro itens têm o poder de determinar quase todas as ações da maioria das pessoas. Cerca de 98 por cento dos habitantes, sejam ricos, classe média ou pobres, buscam dinheiro todos os dias. A maioria faz isso para poder suprir as suas necessidades diárias, mas há uma outra parcela, bem menor, que o faz para poder acumular além da riqueza o poder absoluto. Dinheiro sempre foi e ainda é a mola mestra do mundo como também hoje em dia é sinônimo de dominação sobre as outras pessoas. Dificilmente existe uma atividade humana em todo o mundo que não esteja ligada ao “vil metal”. Por isso, fala-se que não há nada mais importante do que o dinheiro. E que nem Deus consegue competir com ele.

            Deve ser por isso que no passado, a humanidade criou Deus para tentar fazer um contraponto com a riqueza e a prosperidade cada vez mais reinantes entre os homens. A fé em um ser supremo, que talvez nem exista, sempre movimentou multidões desde os mais primórdios tempos. Inventaram-se histórias mirabolantes sobre esse ser divino, escreveram livros e mais livros, descreveram milagres, criaram-se descendentes diretos dessa divindade e também muitos seguidores e assim a arapuca foi armada. Jesus Cristo para os cristãos, Maomé para os muçulmanos, Abraão, Davi, Moisés. Difícil existir uma sociedade hoje em dia que não tenha o seu Deus já pronto e acabado. E já disseram que essa fé em Deus até remove montanhas. Sêneca, filosofo grego, disse que Deus não existe para as pessoas inteligentes, é uma realidade para as ignorantes e útil para os governantes.

Outro pilar muito forte que está presente e comanda grande parte da sociedade moderna é a putaria. A política dos países, por exemplo, é a putaria exercida na sua plenitude somente para se conseguir dinheiro de maneira mais fácil. No Brasil geralmente quem entra na política se esmera em mentir e a roubar o dinheiro tomado pelos impostos. Os pobres ficando cada vez mais pobres e os ricos ficando cada vez mais ricos. Existe putaria maior do que se pagar um salário chamado de mínimo somente para que os pobres continuem na pobreza e sempre miseráveis? Se a política é só putaria, imagine-se as invenções que ela faz para manter a mesmice. Inventaram a inflação, as religiões, as festas religiosas (também chamadas de culturais), o futebol, o Carnaval e outras tolices só para divertir os pobres e mantê-los felizes e, dessa forma, esquecerem as suas agruras. É mole?

As drogas são outro importante pilar que sustenta a hipocrisia da sociedade. Elas sempre foram usadas como maneira mais fácil de se “fugir” da realidade.  O próprio Jesus Cristo, no começo da sociedade cristã, fez da água o vinho para entreter os seus conterrâneos. Entra governo e sai governo e ninguém combate esse vício, que só aumenta. Não existe uma única cidade do Brasil e talvez até do mundo mesmo, das maiores às menores, que não tenha já disseminado entre os seus moradores o uso da maconha, da cocaína, do crack, da heroína, do cigarro, do álcool e de outras drogas. Mas o pior ainda vai nos chegar. E o caos completo já se iniciou: a mistura desses quatro pilares. Putaria: a política usa a religião e às vezes ambas usam o tráfico de drogas como degraus para se conseguir mais dinheiro ainda. Por enquanto, a hipocrisia esconde todos esses defeitos. A humanidade não deu certo e se Deus criou o homem, devia repensar e recomeçar tudo.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

A imprensa que censura

A imprensa que censura

 

Professor Nazareno*

 

            Nenhum regime político que amordaça a imprensa é democrático. Democracia é sinônimo de imprensa livre. Se a mídia de um país não tiver a liberdade de publicar de forma responsável o que deve ser publicado, então é ditadura e ponto final. É cerceamento das liberdades. E toda democracia devia prezar pela liberdade total de seus cidadãos. Durante a Ditadura Militar no Brasil, entre 1964 e 1985, a imprensa esteve sob o tacão dos militares, que mantinham um censor dentro das redações das principais emissoras de rádio e de televisão e também dentro dos jornais e das revistas. Eram os “milicos” que decidiam o que o povo devia ler, assistir, ouvir. Músicas foram censuradas. Novelas foram proibidas de ir ao ar. Filmes inteiros foram desaprovados. Programas foram editados às pressas para agradar ao censor de plantão. Toda a arte estava subjugada a outras vontades.

            Jornalistas foram torturados e mortos, cantores foram perseguidos e exilados, dramaturgos foram calados à força, escritores censurados e colocados no ostracismo. A perseguição aos meios de comunicação foi uma constante durante aqueles terríveis anos de chumbo. Mas tudo isto, ainda bem, já faz parte de um passado que não deve mais ser repetido neste país. Mas será mesmo? A censura pode até não existir mais. Só que por ironia das ironias somente na área do poder público. A “mania” de censurar textos, artigos de opinião, reportagens dentre outras produções continua a todo vapor dentro de muitas redações. Alguns sites de notícias no interior de Santa Catarina, por exemplo, não permitem que se façam críticas aos prefeitos de algumas cidades lá. Muitos dos deputados estaduais também têm o privilégio de não serem criticados pela mídia. Tudo é censurado.

            Qualquer notícia de cunho negativo envolvendo o alcaide de uma dessas cidades catarinenses e também alguns dos parlamentares estaduais é censurada na hora e nem precisa ter censor indicado pelo governo como na época da ditadura. Parece até que os donos de muitos órgãos noticiosos aprenderam a lição de censurar com os “brucutus dos quartéis”, que mandavam e desmandavam na opinião dos outros. A situação é tão calamitosa hoje que a Folha de São Paulo e a rádio Jovem Pan criticam abertamente o governo Lula enquanto a rede Globo faz elogios rasgados ao atual presidente. Por alguns míseros trocados, a censura volta a incomodar de novo sem se levar em conta o verdadeiro papel da mídia. Pode-se imaginar o que acontece dentro dessas mesmas redações em anos eleitorais. A grana deve correr solta para que todos adulem os muitos políticos corruptos.

Julian Assange, jornalista australiano e dono do site Wikileaks, está preso até hoje em Londres por que denunciou países que bisbilhotavam outros países. Se for extraditado para os EUA, será condenado à morte. E ninguém move uma palha sequer para que ele seja libertado. Grande parte da mídia mundial está se lixando para o destino de Assange. A liberdade de expressão nesse caso para nada serve. No Brasil, tivemos o caso “Vaza-Jato”. Só que praticamente nenhum órgão da grande imprensa nacional noticiou nada sobre a farsa que foi a pseudo-operação que prendeu Lula em 2018 e abriu caminho para o fascismo do governo de Jair Bolsonaro. Se nas sociedades democráticas a informação e a opinião sofrem tais mutilações, imagine-se o que não se passa em países como Rússia, China, Cuba, Venezuela e Coreia do Norte. Devíamos ser livres para divulgar tudo e ao mesmo tempo assumir as responsabilidades pelo que publicamos. A Constituição diz isso.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

As consequências do frio

As consequências do frio

 

Professor Nazareno*

 

            Frio extremo em Rondônia! Caminhamos a passos largos para o fim do mundo, é a crença que se tem nestas terras tórridas. Lugar de baixas latitudes e por isso mesmo muito quente e abafado, eis que a “terra dos destemidos pioneiros” se vê de uma hora para outra sob a influência de uma forte massa de ar polar continental. O fenômeno da friagem chega enfim às terras karipunas baixando as temperaturas para algo em torno dos 23/25 graus. Há relatos de que em algumas cidades do interior, como Vilhena e Guajará-Mirim, o “frio neste atípico verão foi mais intenso ainda. Acostumados aos quase 40 graus diários e com direito a mormaço e muito suor, os rondonienses bateram o queixo. Ainda assim, muitos desejam ardentemente que esta “friaca atemporal” se transforme eternamente no clima típico dessas quentes paragens. “Devia ser sempre assim”, afirmam.

            O problema é que esse pitoresco “clima de frio intenso” traz muitas consequências para os rondonienses e porto-velhenses principalmente. Apesar de não termos tantos mendigos perambulando pelas ruas como em algumas ricas e abastadas cidades do sul do país, o festival de bizarrices por aqui é uma constante. O mau cheiro de barata, mofo e naftalina dos agasalhos doados pelos parentes sulistas toma conta das já sujas e imundas ruas da capital. Desacostumados com a novidade climática, é comum ver algumas pessoas “desfilando” com suas estranhas “roupas de inverno”, que usam no dia a dia somente para dormir no frio de seu ar condicionado. Outra consequência desse frio é o aumento no uso de lenha, carvão e gás de cozinha, não para aquecer os ambientes da casa, mas para esquentar água para o banho diário, já que quase não há chuveiros elétricos por aqui.

            Só que com a temperatura mais amena, Porto Velho fica muito mais fedorenta e insalubre, pois a catinga das ruas e dos esgotos, que correm a céu aberto pela cidade, não se dissipa tão facilmente. O bom é que os ratos, cobras e outros animais peçonhentos não saem às ruas facilmente. Moscas varejeiras e urubus também desaparecem das avenidas e latas de lixo espalhadas pelas calçadas nestes dias de clima um pouco mais diferente. Fala-se que neste clima até os políticos de Rondônia roubam menos. Quase não se fala em escândalos de desvios de verba pública. Talvez seja porque a classe política acha que está na Europa, no Japão ou mesmo em algum país mais desenvolvido e civilizado onde a roubalheira é bem menor do que nestas terras inóspitas e incivilizadas. Neste clima, a Praça Marechal Rondon, por exemplo, fica muito mais parecida com a  Fontana de Trevi.

            Como já disse: Porto Velho e Rondônia definitivamente não combinam com o tempo gélido. Isso é temperatura para lugares ricos e bem desenvolvidos. Porém, vi algumas emissoras de rádios da capital e também alguns supermercados fazendo a campanha do agasalho como em alguns dos mais frios lugares do sul do país. Não é incrível a sensibilidade dessa gente? Tomara que os termômetros subam logo. É muito deprimente ver cidadãos usando roupas rotas, molambentas e folgadas que não lhe cabem no corpo. Até para comer alguma coisa nestes dias lúgubres é difícil. Farinha d’água com peixe frito, tacacá e banana frita deviam ser sinônimos só de calor e de dias ensolarados e calorentos. Para beber algo é outro tormento. Existe coisa mais bizarra e antiquada do que presenciar muitos rondonienses bebendo vinho vagabundo daqueles vendidos em garrafas de plástico? À espera da fumaça e da devastação ambiental, celebremos o “frio”.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Marcha para o Satanás


 

Marcha para o Satanás

 

Professor Nazareno*

 

            Existe já há algum tempo a Marcha para Jesus. Milhões de cristãos evangélicos saem às ruas das principais cidades do Brasil quase sempre no dia de Corpus Christi para prestar homenagens ao, segundo eles, “único filho de Deus”. Porém, hoje deveria existir também uma outra marcha levando-se em consideração o que a maioria das pessoas que se acham religiosas dizem e fazem no seu cotidiano. Seria a Marcha para Satanás. Esta deveria ser também bem representativa, uma vez que o “Anjo do Mal” igualmente tem muito poder. O Cão nunca foi derrotado por Deus e até hoje tem se mostrado um inimigo à altura do Todo Poderoso. Além do mais, as pessoas de um modo geral não seguem o Capeta diretamente, mas costumam fazer tudo o que dele deriva. O nosso Salvador é sinônimo do bem e das coisas boas, enquanto o Tinhoso representa tudo o que é do mal.

            A História nos ensina que Jesus Cristo certamente não teve muito apego ao dinheiro. Coisa que muitos dos seus seguidores não o fazem. Dinheiro só pode ser coisa do Cramunhão mesmo. Foi Cristo que expulsou os vendilhões do templo e censurou abertamente a ambição desmedida daqueles que diziam seguir os seus passos. Jeová nunca deu importância para o dinheiro ou a riqueza, já os seus seguidores não conseguem viver sem o vil metal. Aliás, foi o Filho das Trevas que sempre esteve ligado à ambição, à usura e à exploração. Judas, por exemplo, traiu o Santíssimo por 30 dinheiros, dizem as escrituras. Na política, o Messias não pode estar ligado à direita ou à extrema-direita, posições ideológicas que defendem o capitalismo e a exploração do homem pelo homem. Por isso, entende-se que o Rei dos Reis só podia militar num desses partidos de esquerda.

            O Filho de Deus era de esquerda, com toda a certeza. Ele repartia o pão, amava a todos sem se importar com suas origens, cor, raça, gênero ou posição social e combatia, nas suas ações, a elite da época e os poderosos de Roma. Por causa disso, o Senhor das Trevas o perseguia sem dó. Duvido que a esquerda tenha crucificado e matado a Jesus. Quem fez isso foram os ricos e poderosos a mando do Império Romano. Fazer uma marcha dessas é algo justo, mas de certa maneira não representa os ideais de muitos que dela participam. As pessoas hoje geralmente são violentas, injustas, ambiciosas, más, mentirosas, hipócritas e creem só no dinheiro e na riqueza. E tudo isso é coisa do Capiroto. Por isso, a “Marcha para o Satanás” também tinha que acontecer todos os anos. Seria algo até representativo. E quem tramaria um golpe de Estado: Jesus Cristo ou o Lúcifer?

            E quem tentaria tomar as terras dos povos originários? E quem deixaria esses mesmos povos, como os yanomamis, morrerem à mingua sem a mínima proteção do Poder Público? Jesus Cristo certamente não pregaria o ódio entre os irmãos e nem incentivaria a compra de armas pela população. Tremo só de pensar que o Altíssimo divulgasse mentiras e fake news. Óbvio que o unigênito de Deus jamais destruiria o meio ambiente em busca de ouro e de outros metais preciosos. O respeito à natureza seria uma de suas ações mais fortes. E nunca tentaria implantar uma monstruosa ditadura para governar o seu povo. O Nazareno é democrático, podem ter certeza disso. Nada de golpes de Estado, de censura, torturas e nem de perseguições e mortes a seus oponentes. Por isso, é fácil entender por que o Redentor pode não estar sendo representado nesta marcha. A hipocrisia criou uma coisa, mas segue outra. Os gays são representados na marcha deles?

 

 


*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 4 de junho de 2023

Porto Velho, capital de Roraima

Porto Velho, capital de Roraima

 

Professor Nazareno*

 

            Raríssimas pessoas no Brasil sabem que Porto Velho é a capital de Rondônia. Já a capital de Roraima é, claro, Boa Vista. São duas cidades do mesmo tamanho, sem nenhuma importância na realidade nacional ou mesmo regional e que contam hoje cada uma com pouco mais de 400 mil habitantes segundo as últimas contagens do IBGE. Ambas as cidades são como favelas imundas: feias, desarrumadas, sujas, fedorentas, sem água tratada, sem mobilidade urbana, sem esgoto, sem arborização e sem áreas de lazer. Estão atualmente, segundo o ITB, Instituto Trata Brasil, nas últimas colocações em qualidade de vida dentre as 27 capitais brasileiras. A confusão se faz, provavelmente, por que as duas capitais incorporaram ultimamente aos seus já pobres e miseráveis cidadãos, milhares de imigrantes venezuelanos que pedem esmolas em seus raros sinais de trânsito.

            Apesar de ter poucos moradores, as duas sinistras cidades têm na área da política algo muito estranho. São cidades dominadas pela extrema-direita reacionária, apesar da visível miséria e da pobreza extrema que se observam em suas imundas e sujas ruas e avenidas. Boa Vista eu não conheço, mas tenho a certeza de que a vista por lá também não é muito boa. Já Porto Velho é o meu reduto. Tenho a infelicidade suprema de morar nesta “filial do inferno” há mais de quarenta anos. E, via de regra, nestas quatro décadas nada mudou por aqui. Porto Velho, Boa Vista, Macapá e Rio Branco são lugares que não deviam sequer existir como cidades de tão sujas, feias e desorganizadas que são. Muito menos como capitais de Estados. São lugares ermos que mais se parecem com “currutelas fedidas” sem eira e nem beira. Mas são capitais e por isso devem ser entendidas como tal.

            Quase ninguém no restante do Brasil viaja para essas cidades. Os preços das passagens aéreas são os mais caros que há. Seus acanhados aeroportos mais se parecem com aqueles precários campos de pouso de meados do século passado. Recebem diariamente um ou dois voos regulares e só. Nenhuma dessas arriscadas aglomerações urbanas tem um só atrativo turístico que justifique a aventura de alguém se deslocar para cá. Nesse perdido submundo de atrasos e dificuldades até a hora local está mais atrasada em relação ao restante do país com exceção de Macapá no isolado e distante Amapá. Deve ser por isso que confundir Rondônia com Roraima deve ser a coisa mais normal do mundo para quem tem a sorte e o deleite de morar em lugares mais desenvolvidos e civilizados. Muitas cidades do mundo, há três ou quatro séculos, eram menos patógenas.

            Acre, Rondônia, Roraima e Amapá são tão distantes da realidade de um morador de São Paulo, Curitiba ou Porto Alegre, por exemplo, que mais se parecem com nomes daquelas províncias distantes do Nepal ou da Nigéria. Porto Velho, a capital de Roraima, nasceu a partir de um rio, o Madeira, mas já lhe deu as costas faz tempo. Até na sua principal avenida, a Sete de Setembro, os carros e as pessoas só saem em vez de chegarem. Antes era bem arborizada e tinha até mão dupla. Já a lendária praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi esquecida há tempos e o porto do Cai N’Água, que originou a cidade, é hoje um lugar podre, sujo, violento e insalubre, talvez em homenagem à cidade horrorosa que o rodeia. Os barcos de turismo foram abandonados e hoje pegam seus poucos visitantes no barranco íngreme e escorregadio que sobrou. Até as “andorinhas cagonas” nos abandonaram. Não parece, mas isso aqui já foi administrado pela esquerda.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Anseios patéticos da sociedade

Anseios patéticos da sociedade

 

Professor Nazareno*

 

            O Brasil está dividido politicamente. Metade da população é da direita e da extrema-direita. A outra metade é da esquerda e eleitora do PT, PSOL e de partidos socialistas. Os primeiros geralmente são anticomunistas, militaristas, conservadores ferrenhos e defensores de Deus, da família e da pátria. Podem até não serem mais da TFP, mas defendem com unhas e dentes o famoso tripé Tradição, Família e Propriedade. São evangélicos na sua maioria, porém há também muitos judeus, católicos e talvez até muçulmanos entre eles. Já os esquerdistas em sua maioria defendem o comunismo, a reforma agrária e os direitos humanos. Uns querem um Estado mínimo sem muitas interferências na vida do cidadão comum. Entendem que o trabalho é o principal caminho para o acúmulo de capital, enquanto os outros defendem um Estado grande e paternalista.

            Ambos os grupos lutam ou já lutaram desesperadamente para vencer na vida, ou seja, para ganhar dinheiro sem, no entanto, demonstrar muita preocupação como isto iria acontecer. Difícil não encontrar hoje um sujeito que não queira ver seu filho ser futuramente um médico, juiz ou funcionário público, já que muita gente ainda acredita, como na música “Ouro de Tolo” de Raul Seixas, que é um médico, padre ou policial que ainda contribuem para o nosso belo quadro social. Médico, juiz e mesmo alguns militares hoje no Brasil ganham dinheiro como ninguém. Salários astronômicos e totalmente distante da combalida realidade nacional. Fato este que num passado recente fez um candidato a presidente se eleger com o mote de “caçador de marajás”. Fila do osso, aceso a programas sociais e a outras esmolas oficias não fazem parte da “dolce vita” dessa gente.

            Morar em condomínio fechado, bem longe dos pobres, famintos e miseráveis, ter um bom plano de saúde para não ter que sofrer nas filas dos “açougues” da vida e colocar os filhos para estudar em escolas particulares livrando-se do péssimo sistema de Educação pública do país, são apostas das classes média e também de outros indivíduos que estão na fila dos privilegiados. Morar em casa própria e ter um carro novo também são prêmios bastante disputados pelos emergentes nacionais. Possuindo esse “patrimônio”, já se pode fazer doações para os moradores da vila Miséria, por exemplo, sem nenhuma dor de consciência. Não só para o lixão de Porto Velho, mas também para toda e qualquer favela espalhada pelas cidades do país. Assim, o Brasil da “Casa Grande & Senzala” se perpetua a olhos vistos para a felicidade geral de todos: pobres, ricos e também os de classe média.

            Assim, o objetivo maior de muita gente é vencer na vida ganhando rios de dinheiro sem se importar com a péssima qualidade de vida dos habitantes da nação como um todo. Somos um país muito rico, mas com pessoas muito pobres. A lorota de que se precisa trabalhar muito para vencer na vida, deixa muita gente escrava do dinheiro, da riqueza. É muito comum hoje ver algumas pessoas ao chegar à velhice se lamentando dos bons momentos que perderam por que estavam presas ao trabalho durante toda a vida útil que tiveram. Ser feliz devia ser o primeiro mandamento na vida de qualquer pessoa. Em muitos casos, a busca pela felicidade foi transformada na busca por dinheiro. O dinheiro, já faz tempo, virou Deus para muitos. “E da vida não se leva nada, somente a vida que se leva”. Todo patrimônio que se conseguiu juntar com tantos sacrifícios fica para a briga dos outros. Diga a um rico que viver bem é ele servir, dar, repartir, amar e compreender...

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 27 de maio de 2023

BR-319, o fim da Amazônia

BR-319, o fim da Amazônia

 

Professor Nazareno*

 

A BR-319, também chamada por alguns de Rodovia Álvaro Maia, tem menos de 900 quilômetros e deveria ligar as cidades de Porto Velho em Rondônia e Manaus, capital do Amazonas. Na verdade, ela liga Porto Velho ao paraná do Careiro da Várzea, município amazonense próximo ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões, onde começa o rio Amazonas. A uns 25 quilômetros da capital amazonense, o Careiro não tem ponte para fazer a ligação com Manaus. Essa estrada já foi asfaltada e a ligação de ônibus entre as duas capitais demorava pouco mais de 10 horas. Isso no final da década de 1970 e início de 1980 do século passado. Hoje está abandonada e tomada em grande parte pela imponente floresta amazônica. Porém, já há algum tempo vozes delirantes e adeptas da total destruição ambiental clamam pela sua volta. Falam: ela será sinônimo de progresso.

O delírio dos destruidores da Amazônia é tanto que além de “trazer o progresso”, fala-se também que tirará Manaus do isolamento. Tudo mentira e enganação. Manaus não quer sair do isolamento em que se encontra. Se quisesse, não teriam gasto mais de um bilhão e trezentos milhões de reais para fazer uma ponte no rio Negro em vez do rio Amazonas para, de fato, ligar à fatídica estrada que aí sim, tiraria os amazonenses desse isolamento. Além do mais, bastava ter preservado um caminho que já existia e estava devidamente asfaltado. Ou seja, os amazonenses não só não preservaram a BR-319 como algum tempo depois construíram uma enorme ponte ligando Manaus ao Cacau Pirera, uma simpática e bonita vilazinha do outro lado do rio Negro sem nenhuma importância estratégica. Hoje não basta construir só a estrada. Têm que construir também outra ponte.

Essa bisonha rodovia, se construída, destruirá completamente a Amazônia. É o tiro de misericórdia que falta para a hecatombe da maior floresta tropical do mundo. Madeireiros, garimpeiros, grileiros, invasores de terra e outros afins saberão o que fazer com a floresta ainda em pé. E ligar Porto Velho a Manaus é uma sandice total. As duas cidades não têm importância nenhuma para a já decadente realidade nacional. Destruir a Amazônia não vai trazer nenhum progresso. Essa mesma cantilena foi dita quando ligaram Cuiabá a Porto Velho. E na verdade, já temos o péssimo exemplo: a abertura da BR-364 deu ao mundo Rondônia, um dos maiores exemplos de destruição ambiental de que se tem notícia. E que progresso maravilhoso é esse que temos por aqui? Árvores em pé trazem mais dinheiro do que derrubadas. Precisamos preservar o nosso meio ambiente.

Há um bom tempo que o Brasil é o maior vilão da devastação ambiental no planeta. E não podemos piorar ainda mais essa imagem que o mundo civilizado e desenvolvido tem de nós. Por isso, o governo do PT e a ministra Marina Silva não podem compactuar com os devastadores da natureza. Se isto acontecer, todo o trabalho feito para salvar os yanomamis, por exemplo, poderá ter sido em vão. As ongs e ambientalistas precisam denunciar ao mundo mais esse ataque vil à já combalida Amazônia. Destruir o que resta desse precioso, importante e único bioma mundial só para algumas pessoas esnobes poderem ir de carro de uma cidade à outra é uma estupidez sem tamanho. A ligação fluvial que sempre existiu resolve todo o “intercâmbio” entre os dois lugares. Então, a única necessidade de asfaltar a BR-319 é invadir e devastar o coração da floresta. Já a inútil “ponte do suicídio” daqui vai continuar ligando a cidade ao projeto Joana Darc.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

A Praça do Baú Barateiro

A Praça do Baú Barateiro

 

Professor Nazareno*

 

            Na verdade, Praça Marechal Rondon. Fica em Porto Velho, bem no centro da capital de Roraima. E é uma homenagem mais do que justa ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. O eminente sertanista mato-grossense é talvez a figura mais importante para a consolidação da atual unidade da federação, que antes era chamada de Território Federal do Guaporé, depois Território de Rondônia e finalmente, a partir de 1982, Estado de Rondônia. A referida praça é um deslumbre só. Limpa, organizada, asseada, com muitas flores nos seus belos canteiros, rampas de acesso para cadeirantes, modernas paradas de ônibus e várias outras inovações que enaltecem a sua infraestrutura arrojada e inovadora. É conhecida por mais de 90 por cento dos moradores daqui como Praça do Baú. Talvez em homenagem a uma loja de eletrodomésticos que existia bem ao seu lado.

            A Praça do Baú “bota no bolso” algumas das mais famosas praças nas cidades da Europa. A Trafalgar Square de Londres sequer chega aos seus pés. O requinte da praça de Porto Velho desbanca até a Praça Vermelha de Moscou e a de São Marcos em Veneza/Itália, assim como a Place de La Concorde de Paris, a Piazza Navona em Roma e a Marienplatz de Munique na Alemanha. A prefeitura da cidade sempre investiu o que pôde para embelezar aquele logradouro público. O busto do velho marechal que tem ali é um ícone, um verdadeiro Deus e por isso sempre foi reverenciado pelos mais autênticos porto-velhenses e rondonienses. Não há um morador da cidade que não se ajoelhe diante dele. Talvez agradecendo “in memoriam” pelos bons préstimos feitos pelo nosso mais famoso bandeirante. Essa praça devia ser reconhecida como patrimônio da Humanidade.

            Porém, dentre os tantos encantos e atrações existentes ali, o que mais chama a atenção dos turistas e visitantes é a fonte iluminada. Um espelho d’água que mais se parece com a Fontana di Trevi de Roma. Dificilmente uma pessoa que por ali passe não pare para fazer uma self com toda a sua família. Água transparente e limpa jorrando diariamente para o regalo dos atônitos transeuntes. Eu mesmo já joguei várias moedas dentro dela pedindo a Deus que realize os meus desejos mais íntimos. Não sei se pedindo ao Todo Poderoso ou mesmo ao velho marechal que nomeia aquele verdadeiro paraíso na Terra. Mas Porto Velho tem inúmeras outras praças que merecem destaque. A Jonathas Pedrosa, por exemplo, é uma espécie de oásis no meio de um inóspito deserto. Limpa, confortável, arborizada, ventilada, bem segura e cheia de bancos macios e aconchegantes.

             Outra praça que certamente também chamaria a atenção dos muitos turistas que visitam Porto Velho é a da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que dispensa quaisquer comentários de tão bela, assediada e procurada que é. A Aluízio Ferreira também merece destaque por sua praticidade e deleite. E por que não falar também da famosíssima Praça das Três Caixas d’Água? Já ouvi dizer que “As Três Marias” foram uma criação de ninguém menos do que Auguste Rodin, escultor francês. A nossa prefeitura também não poupou dinheiro para resgatar aquele histórico logradouro público para o prazer dos porto-velhenses. Lá, foram instalados painéis e outros atrativos que merecem ser considerados até como patrimônio de todos os humanos. Dessa forma, pagar IPTU em Porto Velho é algo que compensa e muito. Os vereadores da cidade, experientes e muito criativos, não se estressam de trabalhar pelo bem do povo daqui. Vamos à Praça do Baú?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

E Jesus Cristo vai voltar!

E Jesus Cristo vai voltar!

 

Professor Nazareno*

 

            Não somente para alguns cristãos, mas para toda a humanidade, a volta de Jesus Cristo à Terra será, enfim, uma das grandes certezas dessa época moderna em que vivemos. A data ainda não é certa, mas está cada vez mais próxima. E por isso, todos os mais de oito bilhões de habitantes do mundo estão muito ansiosos e, claro, se preparando para receber o Messias com toda a pompa possível. Mudanças para isso precisam ser efetivadas por todos os países e sociedades. A paz reinará entre todos e assim a Rússia de Vladimir Putin encerrará a guerra que travou covardemente contra a Ucrânia e selará uma paz duradoura. A China não mais reivindicará Taiwan como uma de suas províncias. Por causa da vinda do “Filho de Deus”, as guerras deixarão de existir entre os homens por um bom tempo. Cristãos, muçulmanos e judeus viverão em harmonia total lá pela terra santa.

            No Brasil as coisas também mudarão e para melhor. Bolsonaristas evangélicos saudarão petistas mais radicais todos os dias. A paz entre os que têm posições políticas antagônicas será uma rotina diária. “A paz de Cristo esteja sempre com você, irmão petista”, dirá com muita alegria e sinceridade o eleitor do Bozo. Jair Bolsonaro pedirá desculpas a todas as famílias de brasileiros mortos pela Covid-19. O “Mito” dirá que o que aconteceu em Manaus durante a pandemia, por exemplo, foi um erro premeditado do seu governo tentando acertar. “As joias da Arábia Saudita e as rachadinhas no Brasil serão coisas do passado a partir de agora, talkei?”, falará com seriedade o ex-presidente do Brasil. E acrescentaria convicto: “ainda em 2023 vamos descobrir quem mandou matar a vereadora Marielle Franco”. Todos vão se esforçar para receber o Cristo em paz.

            De agora em diante, os petistas não querem mais ver pessoas sendo pobres no Brasil. Acreditam todos eles que com Jesus vivendo entre nós, ninguém pode permanecer para sempre na miséria só para poder votar nas esquerdas. Os ricos da elite endinheirada vão distribuir, sem maiores problemas, parte de seus patrimônios para todas as pessoas pobres do Brasil sem cobrar nada por isso. Igrejas evangélicas não cobrarão mais dízimos de seus fiéis. Será tudo de graça. Nada de pastor “tomando” o dinheiro nem os bens de seus frequentadores. A Igreja católica finalmente vai utilizar todo o ouro, riqueza e joias que possui e ratear tudo entre os pobres e necessitados. Com Jesus na parada, donos de supermercados e das grandes indústrias financiarão hospitais públicos só para poder atender todos dignamente. Nada de garimpo ilegal nem de devastação do meio ambiente.

            Em Rondônia as pessoas também não veem a hora de Cristo voltar. Já pensou uma Porto Velho limpa, sem catinga nas ruas, com mobilidade urbana, com IPTU quase de graça, com ampla arborização e com água tratada e esgotos para todos os moradores? Sim, pois caprichando no visual da cidade, pode até ser que Jesus queira dar uma voltinha por aqui. Nada é impossível. Imaginem o Eterno lá na zona leste da cidade... Eu mesmo faria um abaixo-assinado só para trazê-lo à “capital das sentinelas avançadas”. A sorte é que o “Todo Poderoso” não adoece nunca. Já pensou se ele tivesse que ir ao “açougue” João Paulo Segundo? Em Porto Velho, Jesus certamente gostaria de saber como se faz para administrar uma cidade inteira sem ter nenhuma oposição. Nem dos vereadores nem da imprensa. Jesus vai voltar, sim! Pobres e ricos se confraternizando. Amigos e inimigos dando as mãos. E políticos não mais roubando. Com Jeová, Satanás não reinará mais aqui.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 16 de maio de 2023

A corrupção nossa de cada dia

A corrupção nossa de cada dia

 

Professor Nazareno*

 

            O Brasil é um dos países mais corruptos do mundo. A ONG Transparência Internacional divulgou as estatísticas de sua última avaliação (2022) e o resultado mais uma vez foi muito desanimador para nós: das 180 nações pesquisadas, nosso país ficou na incômoda posição de número 96. Desde Cabral até os dias de hoje, o que se observa é uma roubalheira sem controle em nosso meio. Nossos “descobridores” eram especialistas em trocar com os nativos espelhos, miçangas e quinquilharias por ouro, diamante, prata e outros metais preciosos. Essa prática corrupta continuou até os dias atuais e certamente evoluiu com o passar do tempo. Governantes, todos eles, desde o Brasil Colônia passando pelo Império e pela República desenvolveram técnicas cada vez mais sofisticadas de dilapidar o patrimônio do país para enriquecimento próprio. Pior: quase sem ter punições.

            Mas é um engano achar que são só o governo com os políticos que roubam a nação. O professor Leandro Karnal disse que “não existe um governo honesto com uma sociedade corrupta. Nem uma sociedade honesta com um governo corrupto”. Se o governo rouba e é corrupto, é porque o conjunto da sociedade também rouba. Óbvio que há muitas exceções a essa regra. A roubalheira sempre foi “normal” por aqui desde que nós nos entendemos por gente. O atual governo do PT, por exemplo, que já está no seu terceiro mandato, quase perde as últimas eleições porque o mote principal de seus adversários políticos sempre foi o roubo aos cofres públicos. O Mensalão, o Petrolão, a Operação Lava Jato, o Triplex do Guarujá, o sítio de Atibaia, a compra da refinaria de Pasadena nos EUA são marcas registradas de muitos políticos ligados ao PT e à esquerda.

            Mas o eleitor do Brasil viu a necessidade de reeleger Lula para poder se livrar do fascismo que caminhava a passos largos em nossa sociedade. Ou seja, seguindo esse raciocínio absurdo, trocou-se um fascista por um corrupto. Bom seria que tivesse sido só o fascismo mesmo. Mas e as joias das Arábias? E a prática de “rachadinhas” nos gabinetes? E o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, pastor evangélico, que trocava verbas por favores no Bolsolão do MEC? Toda unanimidade pode até ser burra, mas 100 por cento dos governos brasileiros em todos os tempos, sempre estiveram envolvidos em roubo, corrupção, desvios de dinheiro público e desmandos. Dizer que na época da Ditadura Militar não houve corrupção é acreditar em duendes de jardim e em outras fantasias. Só que os militares censuravam qualquer notícia que mostrasse essa corrupção.

            Quase todos nós somos corruptos, pois muitas vezes elegemos candidatos que roubam descaradamente o dinheiro público como o recente caso de um pai e filha, eleitos depois que foram flagrados contando dinheiro sujo em sacos de lixo. A mídia muitas vezes também colabora com a patifaria. Há casos escabrosos em que ela recebe dinheiro público para censurar quaisquer notícias “ruins” que envolvam esse ou aquele político de plantão. A corrupção é uma praga quase invencível em nosso país. Está no futebol, nas Igrejas, na mídia, nas escolas, nas artes, nos três poderes, nas repartições públicas e em todos os lugares que envolva dinheiro. Não é à toa que apesar de sermos uma potência econômica, temos um dos piores IDH’s do mundo. A corrupção é da esquerda, da direita e do centro. Ela envolve os pobres e principalmente os mais ricos. Porém, estranhamente beneficia estes em detrimento daqueles. Aqui, quem rouba mais é herói e sempre é eleito.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 13 de maio de 2023

E nosso futebol foi à lona...

E nosso futebol foi à lona...

 

Professor Nazareno*

 

            Há um velho e conhecido ditado popular que diz que política, religião e futebol não se discutem. Ledo engano. Discutem-se, sim! Não se misturam. A política e a religião há muito tempo já vinham sendo contaminadas pelos desmandos, roubalheiras e pela corrupção. Agora é a vez do futebol. Há mais de vinte anos sem ganhar um Copa do Mundo, o “esporte das multidões” enfrenta no Brasil uma decadência jamais vista. Como se não bastassem os resultados pífios da nossa fraquíssima seleção nacional e o jejum de times nacionais ganhando o mundial de clubes, eis que agora mais um escândalo de consequências inimagináveis assola o já fracassado futebol brasileiro. Máfias de apostas combinam jogos de vários campeonatos e aliciam jogadores para manipular os resultados de várias partidas. Tudo acertado antes dos jogos para enriquecer apostadores bandidos.

            Vários jogadores são suspeitos de participar desse esquema fraudulento. Atletas do Santos, Fluminense, Goiás e Athletico Paranaense, todos times da série A, estão sendo acusados e vários deles já foram até demitidos. Há fortes suspeitas de que em outras divisões nacionais e também nos campeonatos estaduais essa prática delituosa tem sido uma constante. A pá de cal no nosso falido futebol poderá vir se a FIFA intervir na questão. O Brasil poderia ser suspenso por vários anos de qualquer competição internacional da modalidade. O problema é que na FIFA a corrupção também já andou de braçadas. Adeus à Copa do Mundo, Copa América, Conmebol Libertadores, Sul-Americana. Punidos pela vexatória situação, não poderíamos nem participar de amistosos internacionais. O futebol é um jogo e como tal não está isento de maracutaias como essa.

            Até gosto um pouco do verdadeiro futebol. Hoje já consigo assistir aos dois tempos de algumas partidas. Não desconfiava de nada, mas agora ficarei atento. Por não dar total credibilidade a muitos praticantes desse esporte, sempre torci contra a seleção brasileira nas Copas do Mundo. O futebol jogado hoje só se presta a uma demanda mercantilista, infelizmente. Já pensou se grandes times nacionais como o Flamengo, Corinthians e Palmeiras, por exemplo, fossem rebaixados no campeonato brasileiro? E se o Real Ariquemes, Genus de Porto Velho e União de Cacoal disputassem a série A desse mesmo campeonato? Não é sonho muito menos algo difícil de acontecer. Basta a máfia amaldiçoada decidir e esse absurdo se tornaria uma realidade. O futebol brasileiro perdeu totalmente a pouca credibilidade que tinha. Os torcedores continuarão sendo enganados?

            Antes de vestir a camisa de seu time de coração e sair urrando feito um abestado pelas ruas, procure saber como andam as apostas fora de campo. Um pênalti marcado, um cartão amarelo, uma falta, uma expulsão, um gol perdido. Tudo isso pode ser fake, pois já fora devidamente combinado antes com alguns jogadores para acontecer durante a partida. Quem diria que a violência das torcidas organizadas seria “fichinha” diante do que estava para acontecer no falido futebol brasileiro? No atual campeonato nacional, o Flamengo já chegou à zona de rebaixamento e o Botafogo do Rio de Janeiro é o líder da competição. E quem nos garante que isso é verdadeiro? Será que essa maldita máfia não “mexeu nos pauzinhos” e combinou tudo? O Brasil é o país do fracasso generalizado. Na religião, os donos das maiores seitas se juntaram à política e deram com os burros n’água. Na política tiramos um fascista e olha o que nós reelegemos. Só faltava mesmo o futebol.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.