domingo, 2 de junho de 2019

Memórias de um “açougue”


Memórias de um “açougue


Professor Nazareno*

            
         Sou o “açougue” João Paulo Segundo da capital de Roraima. Inicialmente fui projetado para ser um pequeno hospital de uma firma, mas aos poucos minha função foi se adequando à realidade de uma cidade que não parava de crescer. Sempre cumpri a minha obrigação sem nenhum problema, mas a demanda que vinha para mim só aumentava e por isso fui aos poucos perdendo a minha capacidade de prestar bons serviços. Tenho 35 anos de existência e neste período muito pouco foi feito para minha melhoria. De início, atendia somente aos pacientes da Eletronorte, depois a coisa foi tomando as proporções de hoje. Estou em estado de penúria há muito tempo e não vejo nenhuma providência séria para resolver a minha triste sina. Primeiro, fui transformado em um “açougue” e logo após funcionei como um horroroso campo de concentração.
            Pouco tempo depois, fui elevado a “campo de extermínio de pobres”, função que exerço até hoje e nunca entendi por que o meu nome é uma homenagem a um homem quase santo. Em janeiro de 2011, bancada com dinheiro do próprio Estado, a poderosa TV Globo esteve comigo. Suas reportagens me escancararam, me expuseram, me desnudaram ao Brasil e ao mundo. Minhas mazelas foram enfim, denunciadas. Achei que daquele momento em diante teria todas as minhas feridas curadas. Mas me enganei. As coisas só pioraram para mim. O uso político de minha imagem é uma desgraça ainda maior do que a morte dos meus pacientes. Entra governo e sai governo e a minha sina continua. Só recebo as pessoas sem dinheiro, os despossuídos e pobres. Ricos em meus leitos só quando sofrem acidentes, mas logo são transferidos. Todos eles fogem de mim.
            Odeio a cidade onde moro. Ela não tem sequer um hospital de pronto socorro e quer que eu seja o seu eterno “quebra galho”. Por isso não exerço corretamente a minha faina. Aliás, a cidade onde me situo é uma porcaria só. Não tem esgoto sanitário, não tem água tratada nem a menor infraestrutura para ser uma cidade de verdade. O trânsito é caótico e a violência é uma rotina diária. Talvez por tudo isso é que tenho esta demanda tão grande. Durante as campanhas eleitorais acho bonito os candidatos falarem sobre mim. Suas soluções miraculosas, seus conselhos, suas promessas, suas mentiras. Mesmo assim, há quase quarenta anos estou padecendo e faço todos os meus pacientes padecerem também por causa da irresponsabilidade e do descaso desses mesmos políticos. Nunca salvei a vida de ninguém, mas apesar de tudo, já adiei muitas mortes.
            O meu sonho é ver um governador desse Estado, um prefeito da capital, um senador, um secretário de Estado, um deputado, um desembargador, um juiz, uma pessoa rica ou outra autoridade qualquer precisar dos meus serviços. Dificilmente vejo essa gente por aqui. Em todas as suas entrevistas muitos deles dizem que vão me substituir por que estou muito velho e imprestável. Depois se esquecem. Se fizerem isso, os desassistidos e os pobres terão vez, respeito e dignidade. Porém, como muitos dos poderosos querem distância dos pobres, é muito difícil acreditar nessa lorota. Essas mesmas autoridades constroem verdadeiros “palácios de mármore” na cidade e se esquecem de me substituir. Sempre estive situado na frente de engarrafamentos. Antes era pela manhã, agora é pela tarde. Acho que não tenho chances de me aposentar. Até quando durará esse meu tormento? Quando alguém me olhará e fará justiça aos pobres?




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

“Abaixo a Educação!”


Abaixo a Educação!


Professor Nazareno*

            O Brasil tem um dos piores sistemas de Educação do mundo. Aqui, no geral, um indivíduo passa doze anos frequentando uma escola e de lá sai semianalfabeto. Não domina as quatro operações básicas da Matemática, não consegue ler um pequeno texto e é incapaz de escrever qualquer coisa compreensível em língua pátria. Falar outro idioma além do seu, como muitos alunos na Europa, no Japão ou nos Estados Unidos, nem pensar. Parece que o antropólogo Darcy Ribeiro tinha razão quando dizia que “a crise na Educação do Brasil não era uma crise, mas um projeto”. Ou seja, a Educação deste país foi feita para não funcionar. E não funciona mesmo. Há mais de um século, os países desenvolvidos e civilizados do mundo adotaram o ensino integral em suas escolas. Por aqui isso ainda é um privilegio raríssimo que tem apenas fins politiqueiros.
            Como se esta tragédia nacional não bastasse, a população de um modo geral também não valoriza a Educação nem o saber. Aqui, raríssimas pessoas concluíram o Ensino Médio e se contam nos dedos os que têm um curso superior. Pós-graduação, Mestrado e Doutorado são mercadorias quase inexistentes numa sociedade que tem hoje mais de 210 milhões de pessoas. Os brasileiros em sua maioria não valorizam a Educação e os sucessivos governos sempre contribuíram para a piora desse vital setor. De direita ou de esquerda, em nenhum deles o saber, a leitura de mundo e a busca pelo conhecimento foi incentivada. O ex-presidente Lula, por exemplo, se gabava de ser um semianalfabeto. Ele dizia que não gostava de ler. Hoje temos no poder o senhor Jair Bolsonaro, que apesar de ter um curso superior, nada entende de Educação e de Cultura.
            Na primeira crise do atual governo, foi praticamente só a Educação que sofreu cortes, chamados marotamente de “contingenciamentos”. Por isso, alunos e professores saíram às ruas para protestar. As escolhas do “Mito” para gerenciar o Ministério da Educação não podiam ter sido piores. Primeiro foi um colombiano que nada entendia da pasta e sequer falava fluentemente a língua portuguesa. Agora é um sujeito enfezado, de nome alemão, que se diz seguidor do guru Olavo de Carvalho. E a tragédia na Educação piora a cada dia quando o governo coloca a ideologia como a inimiga do sistema educacional brasileiro. Impossível crer nesta bobagem: como alunos que não sabem ler nem escrever vão saber o que é ideologia? O professor agora virou o inimigo público número um dos lunáticos que estão governando o Brasil. O mantra: fora, professores!
            E o povão deve adorar essa inusitada “perseguição” aos mestres. Não terão que estudar nem ir à escola para enfadonhas e estressantes reuniões de país. De agora em diante, os eleitores dessa gente se contentarão com futebol, festas juninas, Carnaval e outras atividades “pouco” culturais. Para o atual governo e para muitos eleitores do “Mito”, investir em Educação é um desperdício de tempo e dinheiro. Veja-se, por exemplo, a atual situação dos alunos da zona rural e da área ribeirinha de Porto Velho. As autoridades locais não estão “nem aí” para o caos instalado. Em vez de livros e títulos, distribuem-se armas. Em vez de leitura de mundo e de conhecimentos, ensinam-se a submissão e a ignorância. Consequência: a violência, a desigualdade e o caos social só aumentarão. Por isso, nosso país patina na economia mundial e dessa forma será superado por nações emergentes bem mais pobres que nós como o Chile e a Argentina.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Nomes errados em Roraima


Nomes errados em Roraima


Professor Nazareno*


Já ouvi muita gente de respeito dizer que o Acre, o nosso querido Estado vizinho, não existe e que já deu muito prejuízo ao Brasil, pois fora trocado com os bolivianos por um pangaré reumático e desdentado. Seguindo esta lógica maluca, tenho certeza de que Rondônia também não existe. E se de fato existe, é uma espécie de “segunda pessoa do quase nada” dentro da realidade nacional. Parece que essa falta de lógica é um mal verificado no Brasil inteiro, porém com traços bem característicos nestas terras que muitos insistem em dizer que são de Rondon. Aqui, contradições e esquisitices são observadas em quase tudo. Sempre reclamei do nome estranho e às vezes engraçado de muitos comércios locais. Muitos deles retirados de latas de doce ou mesmo de bulas de remédios para lombriga. Assim, Porto Velho é capital de Roraima.
Rondônia tem 52 municípios e não 53 como acreditam muitos moradores de Extrema, após a desnecessária votação para emancipar aquele charmoso distrito. Cacoal é um deles. Uma linda cidade, mas com um nome errado. Cacaual seria o correto, assim consta em todos os dicionários da Língua Portuguesa. O nome equivocado também está escrito no brasão e na bandeira municipal. “Uma plantação considerável de cacaueiros, dispostos proximamente entre si” não é e nunca foi um Cacoal. Cacau para aqui, cacau para lá e o progressista município é a “Capital do Café”. Cafezal, então. Outro caso bisonho de erro acontece com Candeias do Jamari. Como todo mundo sabe, Jamari é um rio, só que está a mais de 20 quilômetros distante do centro desta cidade que é cortada e margeada, aí sim, pelo rio Candeias. Por que a linda e aconchegante Candeias é do Jamari se está ali bem ao lado do rio Candeias? Porto Velho não é do rio Negro...
Na área cultural, também é um desastre quando se deseja nomear algo em Rondônia. A sigla ou o nome da Universidade Federal de Rondônia, única universidade pública do Estado, é ironicamente, Unir. Não aparece a letra “F”, mas é federal, pois todos juram. Naquele ambiente que se diz “superior”, além de faltar uma letra no nome, pode faltar também muita união e competência. Ali funciona há tempos um curso de Medicina sem hospital universitário. Dizem que essa Unir já foi tão suja que mais se parecia com a cidade de Porto Velho. Já a Caerd, que ninguém sabe para que serve, uma vez que em Porto Velho não existe nem água tratada nem esgoto, deveria ser rebatizada para Caero já que a sigla de Rondônia é RO e não Rd. Há um aeroporto “internacional” que não faz um único voo para fora do Brasil. E a banda do lixo? Ora, “Vai quem quer”.
No comércio da capital a confusão continua, pois se algum fazendeiro ou agropecuarista quiser comprar algo para a sua fazenda ou o seu rebanho, não adianta ir a uma loja chamada Agroboi. Lá só se vendem materiais de construção. Sem ter um único pé de cacto ou de maracujá na cidade, as duas maiores festas folclóricas locais foram batizadas com estes nomes exóticos. A Catedral Metropolitana de Porto Velho se chama Sagrado Coração de Jesus, mas a padroeira é Nossa Senhora Auxiliadora. O marco inicial da cidade de Porto Velho está isolado, quase dentro do mato mesmo, entre um cemitério e uma barragem e num raio de sete quilômetros dele não há cidade alguma. A atual BR-319 era Avenida Jorge Teixeira e já foi Kennedy. E como o porto-velhense tem mania de grandeza, Alphaville tem uns três na cidade e todos são sujos e imundos.
Idaron, embora pareça masculino e inicie com a letra "I" de Instituto, é uma agência e está no feminino. A Idaron. Pode isso? A famosa e ex-badalada danceteria Papo de Esquina não se localiza em uma esquina.  Fica bem no meio da quadra. Deve ser por tudo isso que muitos brasileiros confundem Rondônia com Roraima. E já que o politicamente correto agora é chamar toda e qualquer favela de comunidade, entende-se por que o único nome adequado nesta confusão toda é o da nossa cidade: um porto muito velho mesmo situado num barranco sujo, íngreme, cheio de ratos, tapurus, lixo e muito fedorento que dá nome a esta capital. O mais conhecido hospital daqui é um “açougue”. Único lugar do Brasil onde político ladrão é amado pelo eleitor, Rondônia é o suprassumo da merda, um “cu de mundo” mesmo. E no feio sotaque local, Rondônia é “rondonha”. Agora estou confuso: será que o meu nome é mesmo Professor Nazareno? 





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 26 de maio de 2019

O nosso futuro “MITO”


O nosso futuro “MITO


Professor Nazareno*

O governo de Jair Bolsonaro está há quase cinco meses no poder e a sua popularidade só diminui. Governo de lunáticos e despreparados, o que se vê é uma piada atrás da outra. Um governo falido e que não tem apresentado até agora nenhuma proposta para salvar o Brasil da eterna crise. Somente a reforma da previdência é que tem sido vendida como a “panaceia milagreira” que fará jorrar mel e leite das ruas. Mas a extrema-direita e a elite dirigente do país não estão muito preocupadas com mais este fracasso. Já têm até sucessor para o “Mito”: pode ser Sérgio Meneguelli, prefeito de Colatina no interior do Espírito Santo. Eleito pelo MDB, Meneguelli é seguido nas redes sociais por mais de um milhão de fãs. Loiro, jovem, de porte atlético e falante, o político capixaba tem a receita certa para enganar os eleitores trouxas e despolitizados.
Ele será com toda a certeza o próximo "Mito" do povo brasileiro. Um povo em sua maioria burro, idiota, leso, estúpido, semianalfabeto, ignorante, senso-comum e que vive uma eterna busca de seu salvador da pátria, de seu herói, de seu “Mito”. Primeiro foi Tancredo Neves, depois Fernando Collor, depois FHC, Lula, e Bolsonaro. Agora é esse prefeito de Colatina. O que ele faz de firulas e tolices, quase todos os políticos “espertos” e “interesseiros” do país já fazem e sempre fizeram normalmente. Não é nenhuma coisa anormal ou fora de série. É obrigação de todo homem público trabalhar. Cancelou o Carnaval da cidade e investiu o dinheiro na Educação. Aplausos! Foi fotografado na fila do SUS. Alegria geral! Viram-no recentemente pintando as ruas de sua cidade. Bravo! O povão vai ao delírio achando que se trata de um homem santo.
Até em Rondônia, cuja maioria de seu eleitorado também é semianalfabeta, idiota, burra e desqualificada, já tivemos vários mitos. Um deles foi o governador Jorge Teixeira. Gaúcho de nascimento, o Teixeirão é adorado nestas terras como se fosse um verdadeiro Deus. Preposto da Ditadura Militar em terras Karipunas, sequer foi enterrado em Rondônia. Outro “Mito” do povo daqui é o ex-prefeito Chiquilito Erse. “O melhor prefeito de Porto Velho de todos os tempos” dizem muitos porto-velhenses com a boca cheia, mesmo sem ele ter deixado nenhuma obra que justificasse essa adoração toda. Até o atual prefeito Hildon Chaves causou frenesi quando disse mentirosamente que ia beijar, abraçar e acariciar a “currutela fedida”. “Porto Velho, deixa eu cuidar de você”, disse sorrindo. O resultado desse carinho todo é uma administração triste, falida e pífia.
Mesmo sem saber como esse prefeito usa os recursos públicos em sua cidade, já fazem propaganda para o mesmo. Quanto se arrecada de impostos em Colatina? Quanto se gasta? Em que se gasta? Como se gasta? Ele é um bom gestor mesmo ou apenas usa essas “MACAQUICES” para ludibriar o povão abestado? Por que é o melhor prefeito? Concorreu com quem? Quais os pré-requisitos para ser de fato o melhor prefeito do país? Nada disso interessa. Ele é candidato a próximo "MITO" e pronto. “Acreditamos nele e votaremos nele”, afirmam muitos eleitores otários. As redes sociais e o Facebook não falam de outra coisa. Professores, intelectuais, e cidadãos comuns vão ao orgasmo quando veem postagens sobre ele. E a extrema-direita festeja, claro, mais esse “gosto” popular: já tem um substituto “à altura” para concorrer à Presidência do país em futuras eleições caso o atual “Mito” fracasse mesmo. E assim, o Brasil já fracassou de novo!



*É Professor em Porto Velho.

sábado, 25 de maio de 2019

Porto Velho, mal amada

foto JCARLOS
Porto Velho, mal amada


Professor Nazareno*

            Moro há quase quarenta anos em Porto Velho, capital de Roraima. E dentre muitas coisas, também descobri neste tempo que raríssimas pessoas têm amor por esta “currutela fedida”. Pior dentre as capitais do Brasil para se viver, a cidade sempre viveu o drama de não ter uma identidade própria como Manaus, Vilhena ou Rio Branco, por exemplo. Curva de rio e área de garimpo, o lugar abriga uma variedade de pseudoculturas, culinárias, sotaques e etnias que só contribuíram para descaracterizá-la como uma verdadeira capital. A azarada cidade nunca teve um de seus filhos para lhe administrar. Na área cultural, já se tentou de tudo para lhe impor uma identidade, mas as coisas fracassaram de forma retumbante. Expovel, Flor do Maracujá, futebol, Carnaval, nada aqui prospera. Agora estão tentando empurrar o rock como uma marca do lugar.
            Um tal de “Festival Boto Rock” é a radícula aposta da vez para se tirar a cidade do eterno marasmo cultural. Como as outras fracassadas tentativas, esta também não dará certo. Poucos rondonienses sabem o que é rock e muitos deles o confundem com toada de boi. E quem sairá de suas confortáveis cidades para vir a mais este engodo sem sentido? Música por aqui só se for as “baladas de cabaré” e as “músicas de corno”. Até uma banda local que entoava “Vinte graus e uma coberta” parece que se esfarelou por falta de outro sucesso “encomendado”.  Hoje quase não se ouve mais falar naqueles “jovens rondonienses que encantaram o Brasil e o mundo” com a sua linda melodia. Vir a Porto Velho é uma aventura tresloucada. As raras passagens aéreas são as mais caras e o lugar nada oferece de atrativo. Estamos muito longe dos verdadeiros festivais de rock.
            Como são incapazes de lutar por melhorias para a cidade, muitos políticos tentam “encher linguiça” com bizarrices inúteis. Em vez de lutarem para mandar médicos para os distritos mais distantes como Calama e Demarcação ou resolver o eterno problema do transporte escolar nas aéreas rurais, muitos dos vereadores lutam para restabelecer o passeio de “litorina” entre Porto Velho e a hidrelétrica de Santo Antônio. Além da possibilidade de contrair malária durante o fatídico passeio, nada há para se apreciar no lúgubre trajeto. Não há a menor emoção de se passear num arremedo de trem velho, enferrujado e sem higiene. Pelo menos duzentos anos deve ser a idade do trambolho que levará os “corajosos turistas” para se deliciarem com as destruições ambientais causadas pela hidrelétrica. E peixe morto pode-se ver no mercado mesmo.
            Até na culinária, Porto Velho é um desastre só. Não há um único restaurante na cidade que sirva a tradicional farinha amarela quando o peixe é o prato principal. Peixada de verdade só se degusta em Manaus ou em outra cidade amazônica. E com direito à farinha amarela e ao tucupi. Porto Velho não é Amazônia, não é Cerrado. Porto Velho não é nada. É uma cidade sem identidade, por isso devia ser extinta ou deixar de ser capital. Bombom de castanha ou de cupuaçu é a única iguaria autóctone que se vende por aqui. E em quase todos os confeitos, o único sabor que se “percebe” é somente o açúcar. O frio por aqui também é falso. Quando se anuncia uma friagem, os termômetros mal baixam dos 26 graus. Algumas pessoas, saudosas de sua terra natal, usam botas longas e casacos grossos sem se importar com o mau cheiro e o suor. Sem identidade, a cidade insiste em só eleger forâneos para lhe administrar. Mas até quando?




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Vinicius Miguel, a nova onda?


Vinicius Miguel, a nova onda?


Professor Nazareno*

            Eu não conheço pessoalmente o professor da Unir Vinicius Valentin Raduan Miguel. Mas admito que votei nele nas últimas eleições para governador de Rondônia quando o mesmo obteve a astronômica marca de mais de 110 mil votos dos porto-velhenses. Confesso até que pedi votos para ele e surfei na onda “Maria vai com as outras”. Não queria que Expedito Junior governasse este Estado. Muito menos que um desconhecido coronel, admirador de Bolsonaro, chegasse à frente na contagem de votos. Quando esse professor goiano nasceu, eu já tinha pelo menos cinco anos de militância dando aulas pelos interiores rondonianos, mais precisamente em Calama. Votei nele por se tratar de um mestre de excelente qualidade, ser jovem com propostas firmes e coerentes, vontade de vencer e também por que sua plataforma estava mais à esquerda.
            Parece que Vinicius no próximo ano será candidato a prefeito de Porto Velho. Posso até votar nele de novo e sem medo. Mas confesso que me incomoda o fato de faltando tanto tempo para as eleições, ele já aparecer como uma das únicas propostas viáveis para administrar a eterna “capital de Roraima”. Porto Velho sempre foi uma cidade imunda, podre, fedorenta, sem eira nem beira. Continua, segundo o Instituto Trata Brasil, sendo a pior dentre as capitais do Brasil para se viver. Aqui nunca teve nenhuma qualidade de vida. A “currutela fedida” é uma cidade amaldiçoada e suja, uma curva de rio, um “cu de mundo” mesmo. Não tem nem três por cento de esgotos e nem água tratada. O IDH desta latrina urbana é pior do que as cidades da Eritreia, do Sudão do Sul ou da Somália. Somos o suprassumo da merda e a tendência é piorar mais ainda.
            Colocar um jovem talentoso e cheio de boas ideias como Vinicius Miguel para administrar este “puteiro sem a madame” é condená-lo ao ostracismo político antes do tempo. É queimar etapas desnecessariamente. É gastar uma liderança promissora à toa. Se eu pudesse e o conhecesse o suficiente, diria para ele desistir do rabo de foguete em que está prestes a se meter. Hildon Chaves, o atual prefeito, apesar de cheio de boas intenções, não conseguiu amar, acariciar nem beijar o “lodaçal” que é a urbe. Roberto Sobrinho, o “JK da Amazônia”, se queimou muito rápido quando foi prefeito daqui e terminou seu mandato preso. Já Mauro Nazif sequer foi para o segundo turno quando nos administrou e quase encerra precocemente a sua carreira política. Quase todos eles se queimaram e muitos se arrependem até hoje de ter administrado os porto-velhenses.
            Será que se eleito, Vinicius Miguel vai mandar médico para Calama? A vilazinha do baixo Madeira está há muito tempo sem um profissional da saúde para atender seus moradores. O abandono de Calama e de outros distritos é “normal” numa administração totalmente perdida e sem rumo. As aulas na zona rural do município viraram uma zona mesmo. E quase ninguém da cidade se incomoda com os alunos do interior, que estão sem aulas normais até hoje. Não há transporte escolar rural decente e nem há perspectivas de melhoras. Na área urbana, não há transporte coletivo, não existe uma rodoviária decente, a escuridão é normal, a violência é rotina e o lixo campeia. “Porco Velho” nunca fedeu tanto como agora. Eu mesmo não gostaria de ser prefeito de uma porcaria de cidade como esta. Vinicius Miguel é uma pessoa do bem e não combina com merda, lixo, lodo, carniça, tapurus, escuridão, desprezo e total abandono.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 11 de maio de 2019

Não vou sair às ruas


Não vou sair às ruas

Professor Nazareno*

Dia 15 de maio de 2019 a Educação do Brasil vai parar. Será a primeira das grandes manifestações contra a política do presidente Jair Bolsonaro. Cortes de verbas destinadas a este vital setor têm insuflado os esquerdistas principalmente e também a oposição a sair às ruas em grandes passeatas. Até no sisudo colégio João Bento da Costa de Porto Velho, onde o seu Terceirão jamais paralisou, há escaramuças de que alguns professores do projeto vão aderir a essa onda protestos. O Sintero, Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Rondônia já anunciou que “diante de todos esses ataques do Governo à educação pública e aos trabalhadores, convocará a categoria para aderir à Greve Geral da Educação no dia 15 de maio. Não vamos admitir que nosso país retroceda”, disse a presidente, Lionilda Simão. Só que eu não vou parar.
Apesar de ser filiado ao sindicato, não concordo com esta postura de parar as aulas por qualquer motivo. Entendo que essa paralisação só vai beneficiar o presidente e a sua política maluca: um dia a menos de aula fará com que os alunos fiquem ainda mais burros e desinformados. E quanto mais alienados e sem leitura de mundo, mais eles votarão em pessoas como Jair Bolsonaro. Devíamos dar aulas aos sábados, domingos e feriados para esclarecer ainda mais os nossos estudantes. Privando-os de ter aulas, estamos empurrando todos eles para a burrice e para a escuridão da ignorância. No Japão, por exemplo, os motoristas de ônibus fazem greve dirigindo todos os veículos e cobrando uma passagem menor. É uma forma inteligente de fazer protestos. Além do mais, cortar verbas de mestrados, doutorados e universidades conta com apoio popular.
De um modo geral, o povo brasileiro “está se lixando” para a Educação e as escolas. Esta semana mesmo, o carro de um professor foi incendiado em Porto Velho por um aluno furioso. A sociedade brasileira não liga para as escolas, para a educação, nem para os professores. O próprio sindicato da categoria não emitiu uma única nota sequer sobre o ocorrido. Acho que o coitado do mestre ficou no prejuízo. São poucos os brasileiros que valorizam a Educação e o saber. E foram exatamente a maioria destes que votou no “Mito”. Aguente, portanto, as consequências. O povão é tão broco quanto o atual ministro da Educação do Brasil, Abraham Weintraub. Sem conhecimentos de ciências sociais, confunde Kafka com Kafta, sem conhecimentos de matemática básica e com pouco domínio da gramática, o atual ministro substituiu outro mais burro ainda.
O importante era tirar o PT do poder. Tiraram. Deram um golpe na Dilma e agora estão reclamando de quê? A gasolina não para de subir, o preço do gás está nas alturas, o desemprego campeia, a desilusão de todos é visível, a violência no país aumenta assustadoramente. É uma “bosta” atrás da outra. Basta o presidente abrir a boca. O cara só fala barbaridades. Parece um governo de débeis mentais, de idiotas. E eu estou de camarote só assistindo “ao trem passar”. Não sairei às ruas de jeito nenhum. Quem votou no “Mito” e na sua gente que se explique e sofra pela merda que fez ao Brasil. Tomara que ele mande fechar todas as escolas e universidades do país. Tomara que ele não invista um só centavo em educação, nem em saúde, nem em nada. Uma pena para os que ainda valorizam a educação e o saber. Uma pena para os que não votaram nele. Parar as escolas por um dia não resolverá nada. Só aumenta a ignorância.




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Bolsonaro está certo


Bolsonaro está certo


Professor Nazareno*


         Em toda a sua História, a população do Brasil jamais teve um presidente que o representasse tão bem como Jair Messias Bolsonaro. Com pouco mais de 57 milhões de votos, o “Mito” reencarna perfeitamente a maioria do pensamento reinante neste país. Politicamente correto ou não, a verdade é que vivemos em uma sociedade cujo espelho maior tem sido o seu atual presidente. Bozo é acusado de ter cortado milhões de reais de recursos da educação. Atitude correta: quem neste país valoriza este setor estratégico e importante para o futuro? Quem coloca seus filhos para estudar em vez de trabalhar? Quem valoriza o professor e as escolas? Quem se interessa em ter leitura de mundo e conhecimentos? Poucas pessoas nesta nação de semianalfabetos. O Brasil sempre teve um dos piores sistemas de educação do mundo e a culpa é de quem nunca o valorizou.
O presidente teria limitado o ensino de disciplinas importantes como Filosofia e Sociologia. Está corretíssimo. Com isso não permite que os alunos pensem e reflitam. Mas o brasileiro nunca gostou mesmo de pensar. A maioria de nossos cidadãos é como toupeiras e quase todos sempre foram levados pelo pensamento dos outros. Prova maior é que votou em peso no atual mandatário. Fala-se que o “Mito” tenta armar a população induzindo-a à violência. Ora, no Brasil são mais de 60 mil assassinatos todos os anos. Isso sem falar no trânsito assassino. Parece que o brasileiro adora a violência. Outros falam que o meio ambiente não está sendo respeitado pelo atual governo. Os brasileiros nunca respeitaram a preservação do seu habitat. Devastamos a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica e outros biomas. Somos contra a natureza e toda a sua biodiversidade.
Bolsonaro foi acusado de ter endeusado demais os Estados Unidos. Uma tolice achar isso sem levar em consideração o fato de que muitas famílias brasileiras dão como presente de 15 anos às suas filhas uma viagem à Disney e Orlando. O sonho de quase todas as adolescentes do Brasil, pobres ou ricas, é conhecer os Estados Unidos, a sua gente e a sua cultura. Bolsonaro apenas agiu conforme o pensamento da maioria dos pais e mães de família de seu país. Algo absurdo e surreal, mas natural. Com relação a não reconhecer países comunistas e socialistas como Cuba e Venezuela, por exemplo, é preciso entender que nenhuma dessas nações nos serve como exemplo. Nenhum país com este regime de governo deu certo até hoje. Além de falar só barbaridades e tolices, nosso presidente foi também suspeito de praticar a misoginia, o racismo e a homofobia.
Muitos dos brasileiros “machos” sempre gostaram de bater em suas esposas ou companheiras. A Lei Maria da Penha é praticamente uma exclusividade deste país. Não é somente o “Mito” que pratica a misoginia. O racismo explícito do nosso mandatário não diverge em nada do que fizemos com as nossas minorias incluindo aí os negros, os índios e os quilombolas. E não é apenas o Jair Bolsonaro que é homofóbico. Somos o país que mais mata seus homossexuais, infelizmente. Esta nação nunca respeitou suas minorias, os seus diferentes. Portanto, o seu presidente apenas serve de espelho para seu povo e para o pensamento esdrúxulo e antiquado da maioria. No entanto, a campanha eleitoral já passou. Ele agora é presidente de todos nós. Dos que votaram nele e dos que não o aprovaram. Além disso, a função de todo chefe de nação é apaziguar o seu povo e evitar a divisão e o preconceito entre todos. E ainda vamos ter mais quatro anos assim.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Fora, usinas do Madeira!


Fora, usinas do Madeira!


Professor Nazareno*

            Outro dia ouvi falar que o governo federal está querendo construir duas grandes hidrelétricas na calha do rio Madeira em Rondônia. Uma será logo aqui na cachoeira de Santo Antônio e a outra no Jirau, região de Jaci-Paraná. Sou contra estas duas obras, pois não vejo nenhum benefício que as mesmas trarão para este Estado. Não podemos entregar “de mão beijada” as nossas riquezas naturais para produzir energia boa e barata para outros Estados da federação sem sermos devidamente compensados por isso. O rio Madeira além de ter uma beleza selvagem indescritível, é um verdadeiro santuário para vários tipos de peixes assim como infinitas outras espécies da fauna amazônica e com a construção de hidrelétricas em seu leito, toda essa biodiversidade estará correndo sérios riscos de extinção. Se possível faço até greve para evitar esses dois empreendimentos.
            A população de Rondônia está ensandecida com a possibilidade de se construir essas duas obras. Em Porto Velho não se fala de outra coisa. E quase 100% dos moradores querem essas construções. “Hidrelétricas, já!” É o mantra que mais se ouve aqui. Os comerciantes estão eufóricos. Já prometeram até construir um Shopping Center na cidade. Será ali na Calama com a Rio Madeira. Rádios, jornais, televisões, enfim, toda a mídia não veicula outra coisa que não seja o imediato início dos trabalhos no rio Madeira. “As hidrelétricas trarão o progresso para esta sofrida região!”, falam à boca miúda os políticos. Os filhos da terra e também aqueles “filhos de coração” apregoam que “pobreza por aqui, nunca mais!”. Muitos dizem que a partir dessas construções, a energia elétrica em Rondônia terá apenas uma taxa simbólica. Ou talvez seja de graça.
            Como sou teimoso, continuo sendo contra essas hidrelétricas e ainda digo que a corrupção vai comer solta. Muito dinheiro será desviado para os corruptos daqui e os de fora. O Brasil não gosta de Rondônia e quer apenas explorar o seu já combalido meio ambiente. “Parem com esta asneira”, grito sem ser ouvido. Depois que estuprarem este rio, as madeiras não mais descerão em seu leito descaracterizando-o completamente. Não vale a pena. Enchentes grandes poderão ser uma constante se isto for feito. “Não se brinca com a natureza, impunemente”, tento alertar. Além do mais, a cidade de Porto Velho ficará eternamente sob a possibilidade de desaparecer do mapa, caso haja o rompimento de uma dessas barragens. Muitas espécies de peixes serão extintas. E o ouro que há nessas cachoeiras ficará com quem? O rio será todo assoreado a jusante.
Isso sem falar que haverá uma enxurrada de peões e capiaus que em nada vai contribuir para o verdadeiro progresso dessa cidade. Quase todos vêm e voltam, pois somos uma curva de rio. São os eternos passantes de Rondônia. A violência vai aumentar e os problemas sociais e urbanos se multiplicarão. A energia aqui produzida não vai nos beneficiar em nada, tenho certeza. Será bom somente para os outros Estados e para nós ficarão como sempre só as sequelas no meio ambiente e as desgraças costumeiras como já aconteceu com os outros “ciclos salvadores”. O MP devia fazer algo. A Justiça devia impedir mais este descalabro em Rondônia. A Assembleia Legislativa devia se pronunciar. Os políticos e os outros corruptos ficarão mais ricos ainda. Rondônia não merece passar por esta catástrofe anunciada. Parem já com esta sandice de hidrelétricas. Por que não constroem um novo hospital de pronto socorro?




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 21 de abril de 2019

Cinco séculos na merda


Cinco séculos na merda

Professor Nazareno*

O Brasil, como Rondônia, é o suprassumo da bosta. Está fazendo 519 anos. Por incrível que pareça esse país figura desde o final do século passado como uma das maiores potências econômicas do mundo e é atualmente o segundo maior produtor de alimentos de planeta.  Porém, tem uma qualidade de vida sofrível e uma população de quase 215 milhões de pessoas, dos quais mais de oitenta por cento sobrevivem aos trancos e barrancos. São ignorantes, pobres, semianalfabetos, violentos, injustos, sem leitura de mundo e sem conhecimentos. Temos a oitava pior desigualdade social e os nossos miseráveis são “meio que invisíveis” e muito piores do que os da África subsaariana, pois não servem sequer para um espetáculo televisivo. Fomos o último país do Ocidente a libertar seus escravos sem, no entanto, tê-los indenizados corretamente.
Se Pedro Álvares Cabral e a Coroa portuguesa tivessem pensado direito na merda que estavam fazendo lá no longínquo ano de 1500, teriam desviado suas caravelas para descobrir outros mundos melhores. Teriam deixado isso aqui nas mãos dos silvícolas. Talvez hoje estivéssemos vivendo outra realidade bem melhor. O Brasil é uma nação, por incrível que pareça. Só que sempre foi uma chacota nos meios internacionais. Nenhum outro país civilizado do mundo jamais levou isto aqui a sério. Fala-se até que o ex-presidente francês Charles de Gaulle teria dito que “o Brasil não é um país sério”. E não é mesmo. Nunca foi. Para o brasileiro comum o pior inimigo é o próprio brasileiro mesmo. O Brasil é um dos líderes mundiais em violência. São quase 60 mil assassinatos todos os anos. Nas estradas e no trânsito a violência não fica atrás.
Adoramos puxar o saco de outros povos e países como o fez recentemente o nosso presidente lá nos Estados Unidos. Uma vassalagem de envergonhar qualquer um. Parte de nossa soberania foi entregue “de mão beijada” aos norte-americanos sem nenhuma contrapartida dos ianques. Somos campeões em reconhecer nos outros povos uma superioridade que não temos e nem acreditamos que tenhamos um dia. Só produzimos commodities e quando o assunto é educação, por exemplo, somos uma vergonha mundial, um fracasso. Temos um dos piores sistemas de educação do mundo e nunca ganhamos um único Prêmio Nobel. Em nada nos destacamos. Até no futebol, esporte que dominávamos como ninguém, somos agora um humilhante fracasso. E esse retrocesso já acontecia bem antes dos 7 X 1 de 2014. Até a Bélgica nos ensina futebol.
Com um PIB entre os dez maiores do mundo, conseguimos ter mais de 20 milhões de pobres e miseráveis. Nossos desempregados beiram hoje a estratosférica marca de 14 milhões de trabalhadores. Se o mundo fosse o corpo humano já se sabe qual parte seríamos. Não temos infraestrutura, nossos portos, estradas e aeroportos estão destruídos e sem nenhuma competitividade. Somos desorganizados e quando sediamos eventos internacionais como Olimpíadas e Copa do Mundo, roubaram tanta verba que nem a fraca Justiça que temos conseguiu punir todos os ladrões. O Brasil infelizmente é uma piada internacional já pronta. Cabral e seus descendentes deveriam ser processados nas cortes internacionais. Descobrir uma desgraça dessas deveria ter sido um crime imperdoável. Já pensou se fôssemos administrados pela Alemanha, Japão ou França? Acho que nosso país deve ser como a lombriga: “se sair da merda, morreremos todos”.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Nem direita nem esquerda


Nem direita nem esquerda


Professor Nazareno*


O Brasil da atualidade está dividido politicamente. De um lado, a esquerda e os esquerdistas defendendo o “Lula Livre” e ainda se lamentando do golpe sofrido por Dilma Rousseff em 2016. Do outro, os coxinhas, reacionários e direitistas que se juntaram à extrema-direita para tecer loas ao “Mito” e ao atual governo de plantão. No centro e tomando nele, fica o povão, que não sabe o que é direita ou esquerda e que sofre as agruras ditadas pelos “donos” do poder. Ambos os defensores deste ou daquele sistema social e político estão errados se levarmos em conta a triste realidade do Brasil em seus quase 520 anos de História. Nosso país foi governado 506 anos pela direita e “somente” 13 anos pela esquerda. Em 2019, inicia-se um governo da extrema-direita e como sempre prometendo “mundos e fundos” para os brasileiros mais carentes e pobres.
Todos eles, tanto direitistas quanto esquerdistas só pensam neles próprios. O Brasil de hoje tem uma das maiores desigualdades sociais o mundo e segundo cálculos otimistas, conta com uma população de quase 20 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e na miséria total. Isso num país que é o segundo maior produtor de alimentos, tem as maiores extensões de terras agricultáveis do planeta e é um dos maiores produtores de commodities que se conhece. O Brasil alimenta o mundo inteiro com a sua enorme produção agrícola, mas é incapaz de matar a fome de seus famintos e miseráveis. É como disse o jornalista Diogo Mainardi: “o Brasil não tem partido de esquerda, de direita, de nada. Tem um bando de salafrários que se reúnem para roubar juntos”. Já pensou se o PT e seus asseclas tivessem nos governado durante 506 anos?
O brasileiro, de um modo geral, não tem ideologia nenhuma. A maior luta ideológica por aqui sempre foi roubar o Erário e ficar rico à custa do povo sofrido. Poucos governantes pensam no benefício da nação como um todo. Governar no Brasil tem sido sinônimo de enriquecimento ilícito e de divisão unilateral dos recursos do país. Partidos políticos e outras agremiações são fundadas para se apoderar, em tese, de uma riqueza que poderia nos proporcionar uma nação bem menos injusta sem pobres ou miseráveis. Como pode este país figurar entre as dez maiores potências econômicas da atualidade e ter um IDH não compatível com toda esta riqueza? Nossa educação, nosso sistema de saúde e toda a nossa infraestrutura poderia ser melhorada com este alto PIB. Em meio a tanta riqueza, uma população inteira de pobres e excluídos anda desolada.
Nem Lula, nem Dilma, nem Haddad, nem o PT resolveram nem vão resolver os problemas dos brasileiros. Assim como o Bolsonaro, seus filhos, o Sérgio Moro, o Mourão e o PSL também não vão resolver coisa alguma. Mesmo que pudessem, eles não quereriam. Ciro Gomes, João Amoedo e tantos outros, idem. Todos estão ricos, poderosos, famosos e assim vão continuar. Todos os políticos, com raríssimas exceções, estão preocupados é com as suas fortunas, lícitas ou ilícitas. E o pobre que “continue pastando” se quiser colocar comida em sua mesa, se quiser criar seus filhos. Para muitos destes políticos, infelizmente, o Brasil e os brasileiros são apenas um mero detalhe na paisagem. Discutir questões morais e religiosas num país de famintos e semianalfabetos é uma ironia infame. Quem quer saber de censura, de tortura, de direita, de esquerda, de STF, de Previdência ou outra coisa se o alimento não lhe chega à mesa?




*É Professor em Porto Velho.