O
tambaqui não será extinto!
Professor
Nazareno*
O tambaqui é um peixe muito
apreciado em Rondônia e também em muitas outras regiões da Amazônia. Existem “duas
espécies” desse peixe: o nativo, que habitava abundantemente os
rios amazônicos, e aquele que é criado em cativeiro. Os dois são muito deliciosos
e têm sabores muito diferentes que só quem nasceu aqui consegue distinguir.
Rondônia é um dos maiores produtores do tambaqui em cativeiro e já exporta essa
iguaria para outros estados do Brasil e também para alguns países. Recentemente
o Ministério da Pesca e Aquicultura alertou sobre a possibilidade de que o tambaqui
nativo estaria em extinção. O que chega a ser uma verdade, pois para se pescar
hoje um tambaqui na natureza é a coisa mais difícil do mundo. Esse peixe
praticamente desapareceu do rio Madeira e também de outros rios da Amazônia.
Nos mercados quase não se vê o pescado.
O governador de Rondônia, coronel
Marcos Rocha, que é natural da cidade do Rio de Janeiro, ficou enfurecido com a
nota do Ministério da Pesca sobre a extinção do peixe, visto que Rondônia é
talvez o maior produtor nacional do tambaqui em cativeiro. São, portanto, dois
peixes bem “diferentes”. O governador, com pouco ou nenhum conhecimento
sobre a Amazônia, confundiu as duas espécies em questão. Fez vídeos e publicou
nas redes sociais o seu protesto dizendo que isso seria uma “jogada” das
autoridades para turbinar a venda da tilápia, outra espécie também criada em
cativeiro. Eufórico e esbravejando, o mandatário bolsonarista disse que “o
tambaqui cria milhares de empregos no Estado e que tudo isso é mentira, ele não
está em extinção”. Só que quem cria esses empregos não é o tambaqui
nativo, mas aquele que é criado em cativeiro.
Alguém ou algum assessor com o mínimo
conhecimento de Ictiologia tinha de dizer ao governador qual é a
realidade dos tambaquis daqui. Talvez ele entendesse. E dizer-lhe também que
quem está em fase de extinção em Rondônia principalmente é a decência na
política. Aqui neste fim de mundo, não se pode sequer agendar para se tirar uma
simples carteira de identidade. É a competência em extinção a olhos vistos nos
serviços públicos do Estado. Hospital de pronto-socorro na capital de Rondônia,
onde mora Marcos Rocha e família, é algo que já foi extinto há muito tempo. Foi
extinta também a vontade política de se construir um hospital público decente
para o povo pobre desse Estado. Por que será que o governador não viu a extinção
total da limpeza, da água tratada, do saneamento, do IDH e da arborização na
capital desse Estado que ele governa?
Eu diria também ao governador que
o bolsonarismo dele será extinto em breve com a prisão de Jair Bolsonaro pelo
STF. Abriria seus olhos para os votos da esquerda que existem em Rondônia e em
Porto Velho e que são esses mesmos votos que decidem qualquer eleição. Logo,
dizer que a esquerda está extinta em Rondônia é mais uma falácia. Porém, jamais
perderia o meu tempo tentando lhe explicar as diferenças existentes entre o
tambaqui criado em cativeiro e o tambaqui nativo. Como uma espécie manuseada
geneticamente para se reproduzir aos milhões pode entrar em uma lista de
animais em extinção? Quem será extinto em breve, governador, será o cidadão
pobre de Rondônia, que sem hospital público vai morrer à míngua. Marcos Rocha
confunde administração transparente com traz parente
e tomara que ele também não confunda Rondônia com Roraima.
Isso seria o seu fim na política e os rondonienses poderiam odiá-lo para
sempre.
*Foi Professor em
Porto Velho.
Um comentário:
Esse é o perfil dos políticos da Amazônia, em sua maioria vem de estados fora da Amazônia e fazem carreira na política sem entender nada de nosso ecossistema, só pensam em desmatar e falar asneiras.
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