quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Merda na cidade sitiada


Merda na cidade sitiada


Professor Nazareno*


   Porto Velho, a eterna capital de Roraima, se transforma agora durante o rigoroso inverno amazônico na “Veneza do Norte” devido às fortes chuvas na região. Já durante o verão, no meio do ano, pode ser chamada também de a “Pequim dos Trópicos” devido à poeira e à fumaça das criminosas queimadas. Nesta quarta-feira, dia 9 de janeiro de 2019, a capital dos rondonienses amanheceu do jeito que o diabo gosta: toda alagada e sitiada pela lama podre. Suas principais ruas e avenidas foram tomadas por água infecta e fedorenta congestionando o já precário trânsito e transformando a vida dos seus moradores num verdadeiro inferno. As ruas viraram rios. Os previsíveis vendavais amazônicos da época castigaram impiedosamente a mais suja e imunda dentre as capitais do Brasil e pioraram ainda mais o inexistente IDH dos seus infelizes moradores.
Entra prefeito e sai prefeito e a desgraça não acaba. Grande parte dos habitantes da cidade se parece com hienas: felizes, embora tenha que comer carne podre a vida toda. Acredita-se que já se adaptaram ao inferno que é viver aqui. O festival de merda boiando e invadindo as precárias residências parece alegrar muita gente. Ninguém, mas quase ninguém, cobra absolutamente nada das autoridades municipais. Pagam o seu IPTU e seguem felizes com a sua macabra rotina de conviver no meio de tanta bosta. O penúltimo prefeito da cidade, o Dr. Mauro Nazif, nada fez para acabar com o rotineiro tormento, embora tivesse sido sua principal promessa de campanha. Nada fez, mas foi eleito deputado federal com uma soma assombrosa de votos dos tolos porto-velhenses. É inútil procurar saber de quem é a culpa pela hecatombe que vivemos todos os anos.
Muitos daqui são porcos e por isso também “contribuímos” para a catástrofe. Jogamos lixo no chão, entupimos os raros bueiros, não somos higiênicos e não cuidamos da nossa urbe. Se Porto Velho fosse uma mulher, todos nós seríamos enquadrados na Lei Maria da Penha. É claro que as autoridades têm também a sua parcela de culpa. O atual prefeito, o Dr. Hildon Chaves do PSDB, se elegeu prometendo transformar a “maldita currutela fedida” em uma cidade boa e digna para se morar. Fez até versinhos ridículos durante a campanha eleitoral para enganar os otários. Deu certo: foi eleito com uma soma avassaladora de votos. “Vou curar tuas feridas, limpar todos teus cantos, enterrar os desencantos” disse o mentiroso político. E ainda falou que não ia enganar, pois só sabia realizar. E concluiu: “vou perfumar os teus canteiros e ares”.
Mas tudo isso pode ser “café pequeno” diante do que pode estar por vir. O rio Madeira não dá tréguas e promete para 2019 uma enchente avassaladora pior do que aquela de 2014. Sem a menor infraestrutura, a cidade será coberta de dejetos e lama podre. Como se já não nos bastassem o lixo, a carniça, a fedentina, a merda, os ratos e os urubus que enfeitam a paisagem urbana. O pandemônio que se anuncia pode ser a tão esperada chuva de merda na cidade. Porto Velho não tem água tratada e sua rede de esgotos não é superior a três por cento. Raríssimos habitantes daqui sabem o que é limpeza. Cobramos, às vezes, das autoridades, mas geralmente não damos o exemplo. Além do mais, o inverno amazônico está apenas no começo. Faltam os meses de janeiro quase todo, fevereiro e março. Até lá talvez já tenhamos aprendido “a comer merda” e a “matar a sede com água podre”. Há turista disposto a presenciar bosta no meio da rua?




*É Professor em Porto Velho.

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