domingo, 12 de agosto de 2018

Calama está sem médico


Calama está sem médico

Professor Nazareno*

            Talvez fosse difícil imaginar Porto Velho sem médico. De uma hora para outra todos os profissionais de medicina daqui deixaram de atender aos seus pacientes ou simplesmente foram embora da cidade. Óbvio que isso é apenas no campo da ficção. Mas Calama, a charmosa e encantadora vilazinha no baixo Madeira está sem médico há mais de cinco meses e raríssimas providências foram tomadas até hoje para resolver este gravíssimo problema, pelo menos muito grave para aquela comunidade. A “Veneza esquecida do Madeira” tem hoje mais de três mil habitantes e é um centro de mais de cinco mil moradores incluindo outras vilas menores como Demarcação no rio Machado, Papagaios, Conceição do Galera, Maici e Ilha de Assunção. Como há trinta ou quarenta anos, não existe ali um só médico. Entendi agora porque Calama é a Veneza esquecida.
            Porto Velho tem um prefeito, um vice-prefeito, secretários, várias autoridades e pelo menos 21 vereadores muito bem instalados na Câmara Municipal e duvido que ali não haja muitos médicos e outros bons profissionais para atender a todos. Não lembro qual dos políticos, mas teve um deles que disse outro dia que ia amar, abraçar, acariciar e beijar a cidade. Pensei que isso seria também aplicado aos distritos. Mas no caso da vilazinha do Madeira a lorota não era pra valer. Calama tem pelo menos uns dois mil eleitores cadastrados e ainda que não tivessem votado em nenhum dos vereadores eleitos, não merecia esta triste situação. E mesmo que lá não tivesse nenhum eleitor, não poderia nem deveria estar passando por esta situação surreal, pois ali existem seres humanos bons, hospitaleiros, trabalhadores, íntegros, corretos e todos são brasileiros.
            Dizem que até fevereiro de 2018, o Programa Mais Médicos do Governo Federal mantinha ali um profissional de saúde e que por algum motivo saiu de lá. Mas deixar o bravo e ordeiro povo de Calama sem médico por tanto tempo é de uma crueldade que afronta até a política internacional de direitos humanos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA deveria saber disto. Não só Calama, mas qualquer outro distrito, vila, aldeia ou comunidade situada nos rincões deste Brasil necessita de médico. Em Calama não há médico, não há dentista, psicólogo ou advogado. Caos: o Posto de Saúde do distrito pode até ter remédios, mas só podem ser distribuídos com prescrição médica. E como não há médico... Pessoas podem simplesmente morrer de causas evitáveis e tudo por culpa de quem? O Poder Público tem que ser responsabilizado, sim!
            Estive em Calama recentemente e vi dentre muitos dois casos que me chamaram a atenção. Igor Prestes, um jovem pescador de uns 20 anos, foi picado por uma cobra e se não fosse levado às pressas para Humaitá no Amazonas, teria ido a óbito. Em Calama parece que não existe soro antiofídico e, claro, nem médico para prescrevê-lo. Ali se precisa contar muito com a sorte. Minha comadre Safira também estava doente. O rosto inchado por causas desconhecidas só melhorou depois de compressas de gelo. O que um professor de Gramática entende de medicina? Pedi providências ao vereador Aleks Palitot. Solícito, ele me disse que vai buscar soluções. Eu pediria à Prefeitura de Porto Velho e às autoridades responsáveis que se não podem mandar médico para lá, criem a “Secretaria do Ramo de Arruda” para pelo menos rezar e benzer o povo. Pior: quando voltei no domingo, o porto estava fechado e tive que subir o barranco liso feito sabão.




*É Professor em Porto Velho.

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