quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Eu votaria na Fátima Cleide

Eu votaria na Fátima Cleide

 

Professor Nazareno*

 

            A corrida eleitoral para as prefeituras ainda nem começou. Não houve nenhuma convenção para a indicação de nenhum candidato, mas eu já me antecipo. Para ser prefeita de Porto Velho entre 2025 e 2028 eu votaria tranquilamente na professora e ex-senadora Fátima Cleide do PT. Nem se sabe ainda se o seu partido vai indicá-la para concorrer à prefeitura da “capital das sentinelas avançadas”, mas ela certamente é o melhor nome da esquerda não só para derrotar a extrema-direita porto-velhense, mas principalmente para fazer uma administração “diferente” das que temos visto nos últimos 110 anos por aqui. Professora atuante, formada em Letras e ligada aos movimentos sindicais dos professores, Fátima Cleide é da esquerda raiz e já foi secretária do forte SINTERO, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Rondônia. Portanto, ela é um nome fortíssimo.

   Numa recente enquete feita pelo site RondôniaDinâmica, o nome da professora do PT foi muito bem lembrado pelos internautas na corrida para o Palácio Tancredo Neves. Concorrer a um cargo político pela esquerda num lugar onde a direita e a extrema-direita sempre dominaram não é para qualquer um. Em Porto Velho, por exemplo, não existe nem nunca existiu esquerda de verdade. Já vi muitos candidatos daqui dizerem que são esquerdistas e tal, mas na verdade quase todos eles são muito ricos, conservadores, abastados e bem de vida. Geralmente são oriundos das fileiras direitistas e apenas estão de olho nos poucos votos que o PT e outros partidos de esquerda ainda têm. Se for mesmo indicada para concorrer à prefeitura, a professora Fátima pode dinamizar e até mudar a rotina da imunda e suja cidade, cujos problemas nunca foram enfrentados com seriedade.

A praça da EFMM, marco histórico de Porto Velho e de Rondônia, pode ser administrada de forma mais profissional e ser logo entregue à população sem nenhuma enrolação. O porto do Cai N’água, doado pela Santo Antônio Energia, deixaria de ser um presente de grego sem nenhuma serventia. O saneamento básico e a água tratada desta capital são brigas que o PT poderia comprar para beneficiar os coitados moradores. Fazer redes de esgotos com o PAC do governo federal é moleza. Com Lula na Presidência e Fátima Cleide prefeita de Porto Velho, as coisas podem acontecer a favor da “capital dos destemidos pioneiros”. A professora do PT é amiga do Presidente da República e tem muitos contatos em Brasília. Além do mais ela participou, como convidada especial, da equipe de transição do novo governo a convite de Geraldo Alkmin. A petista é autoridade.

A professora Fátima Cleide Rodrigues da Silva é uma democrata de carteirinha. Duvido que ela como prefeita de Porto Velho iria aceitar passivamente que todos os 21 vereadores da Câmara Municipal lhe dessem apoio irrestrito. Ela sabe muito bem como funciona o contraditório na política e possivelmente não faria coligações espúrias visando apenas ao poder. E todo político sabe: só se governa e administra bem quando se tem oposição séria que faz cobranças diárias. Como senadora da República por oito anos ela demonstrou na prática o que é democracia e como isso funciona. Já o IPTU pago com antecedência, voltaria a ter os antigos 20 por cento de desconto para não punir os bons pagadores. Isso se chama respeito aos munícipes. Por enquanto Fátima Cleide ainda não é candidata a nada. Repito: não houve convenções dos partidos e as campanhas eleitorais nem começaram. Tomara que ela seja indicada para ser a nossa prefeita. Já tem meu voto.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 28 de janeiro de 2024

Mentiras que nos confortam


Mentiras que nos confortam

 

Professor Nazareno*

 

            A mentira sempre existiu em quase todas as sociedades. Não é um pecado capital, talvez por isso sempre foi usada sem nenhum remorso pelos humanos. O nazista Joseph Goebbels disse certa vez que “uma mentira contada mil vezes se transforma em uma verdade”. Não muito diferente do pensamento dos nazistas, quase todas as civilizações ditas modernas de hoje têm a mentira como um dos pilares que sustentam a sociedade. Do simples homem comum aos mais respeitados chefes de Estado, reis, imperadores, ditadores, presidentes e autoridades em geral, quase todos usam a mentira como regra de vida. A mídia de hoje, por exemplo, é uma das maiores disseminadoras das inverdades. Associada à hipocrisia, os mentirosos a usam no dia a dia para governar os alienados, estúpidos e conformados. E são as fake news atuais que ditam as regras em que vivemos.

            Vamos começar por Rondônia. Todo mundo diz que o melhor governador daqui foi o coronel Jorge Teixeira. Só que ninguém leva em conta que o mesmo foi apenas mais um preposto da infame e assassina Ditadura Militar em terras karipunas. Tinha muito dinheiro, mas nada fez para garantir o futuro do novo Estado. Já Porto Velho, a suja e imunda capital de Rondônia, tem em Chiquilito Erse talvez o seu melhor administrador. Tolice, balela, mentira pura! Se foi, o que ele deixou de legado para os porto-velhenses? NADA! E por que Porto Velho tem hoje um dos piores IDH’s e é a pior dentre as capitais do Brasil para se viver? Sem água encanada nem saneamento básico, a capital karipuna não passa de uma reles “currutela fedida e imunda” que nada oferece aos seus moradores. Então Chiquilito Erse não previu nada disso para o lugar que ele “tão bem” administrou?

            A maior prova de que a mentira, a hipocrisia e a falsidade acalmam e tranquilizam as pessoas é a atual situação de Porto Velho e de Rondônia como um todo. A pobreza e a miséria aqui sempre fizeram e ainda fazem parte do cotidiano, mas muitos insistem em negá-las e se enganam ao dizer que também não as veem. Por isso que é bom mentir e ser hipócrita: muitas pessoas preferem ficar no conforto da tosca mentira a ter que serem confrontados com uma verdade que incomoda. Assim, todos mentem descaradamente sem nenhum peso na consciência. Não houve golpe de Estado no 8 de janeiro de 2023. Muitas pessoas que estavam lá e foram presas eram apenas “curiosos” e “velhinhas” que estavam com a Bíblia nas mãos e só queriam fazer protestos. É muito mais romântico acreditar nisso do que admitir que havia bastante gente graúda por trás das manifestações.

            Na atual guerra da Ucrânia em que a Rússia invadiu “do nada” o país vizinho, entre os russos é proibido se falar no nome guerra. Assim, a mentira corre solta: aquela invasão dantesca é, para o povo russo, apenas uma “intervenção militar especial”.  Já em Israel, todos são obrigados a acreditar que os judeus não estão praticando um genocídio contra os pobres palestinos. Embora o Exército judeu já tenha matado quase 30 mil indefesos civis da Faixa de Gaza. A maioria mulheres, velhos e crianças. “Israel tem todo o direito de se defender” diz a mentira e a hipocrisia propaladas no mundo inteiro. Mas o Estado judeu não está matando os terroristas covardes que assassinaram mais de mil e duzentas pessoas inocentes em território israelense no sete de outubro de 2023. Dessa forma, o importante é só mentir. Muita gente, por não ter uma boa leitura de mundo e nem conhecer a realidade, crê. Porto Velho, melhor lugar do mundo. Verdade ou mentira?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 20 de janeiro de 2024

O Irã tem armas nucleares?

O Irã tem armas nucleares?

 

Professor Nazareno*

 

            Tomara que sim! Parece que a República Islâmica do Irã já tem armas atômicas em seu arsenal. Que bom! Graças a Deus! Graças a Alá! Na sexta-feira passada no Fórum Econômico Mundial em Davos na Suíça, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Raphael Grossi, afirmou ter sérias preocupações com o programa atômico do Irã. Ele falou que a República dos Aiatolás pode ter mais de 130 quilos de Urânio já enriquecido que daria para fabricar várias ogivas nucleares. Os iranianos não permitem que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) fiscalize as atividades nucleares do país. Com armas de destruição em massa em suas mãos, o Irã equilibraria o jogo político naquela tensa e conflagrada região do mundo. Israel não admite, mas falam que os judeus possuem hoje mais de 90 ogivas nucleares em seus arsenais. Dará empate!

          O Clube Nuclear do Mundo é muito restrito. Só Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel possuem essas armas. E agora, se os deuses quiserem, o Irã entrará para esse diminuto time de potências nucleares. Para se ter uma ideia da importância dessas armas, apenas os cinco primeiros países a possuir tais meios fazem parte do Conselho de Segurança da ONU. Em tese, são eles que sempre mandaram no mundo. Pior: de posse de tais armamentos criaram mecanismos para que nenhum outro país pudesse ter acesso à energia nuclear para fins bélicos. É um perigo que apenas poucos e raros países possam ter armas nucleares, já que quem não possui será sempre dominado por um vizinho mal intencionado que detém o poder de destruir populações inteiras com um simples ataque. Veja-se o caso da Índia e Paquistão.

        Depois que o Paquistão teve acesso à bomba atômica, os indianos pararam de provocá-lo e o equilíbrio político voltou ao sul da Ásia. O mesmo deve acontecer no Oriente Médio. Israel, por possuir um arsenal nuclear, manda e desmanda na região como está fazendo agora contra os coitados dos palestinos. Já matou quase 30 mil deles em pouco mais de três meses. Nesse ritmo de matança, em menos de seis anos não restará um único cidadão palestino vivo. Falam que foi Albert Einstein que repassou para os soviéticos os segredos nucleares dos Estados Unidos para “equilibrar as decisões políticas mundiais” depois da Segunda Grande Guerra. Para o cientista, o poder não pode jamais ficar de um lado só. Com ogivas nucleares à disposição dos aiatolás, os seus inimigos pensarão agora duas, três vezes antes de iniciar um genocídio qualquer. Chega!

            Não fosse o poderoso arsenal atômico da Coreia do Norte, este país já teria sido invadido, destruído e aniquilado por forças da Coreia do Sul ajudadas pelos Estados Unidos e seus aliados. Por isso que as potências ocidentais não querem que o Irã tenha acesso a armas de destruição em massa. Os americanos gostariam de continuar mandando nos destinos e também nos campos de petróleo dos persas como sempre fizeram quando o Xá Mohammad Reza Pahlavi governava aquele país. Os norte-americanos sempre foram o câncer do mundo, mas agora com a China emergindo como superpotência econômica, eles têm que moderar sua ganância e seu imperialismo demoníacos. Cada país tem sua maneira de viver, seus princípios, sua religião, seus recursos, sua soberania. Nada de se curvar a ninguém. O único medo de o Irã possuir tais armas é querer agora “afogar o último judeu no Mediterrâneo” ou “incendiar Haifa”. Quem vai parar os aiatolás xiitas?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

O mundo é contra a BR-319

O mundo é contra a BR-319

 

Professor Nazareno*

 

Atualmente o mundo inteiro está muito preocupado com as mudanças climáticas. O ano de 2023, por exemplo, foi o mais quente de toda a História. A Amazônia enfrentou nesse ano uma seca fora de série. São os efeitos das devastações ambientais que já estão castigando a todos com as suas terríveis consequências. Por isso, reuniões, encontros, congressos, simpósios, seminários, conferências do clima, debates, discussões, concílios, são realizados para enfrentar a questão. Mas parece que em Rondônia, um fim de mundo inexpressivo e distante, essa discussão ainda não chegou. Nas terras de Rondon, discute-se abertamente sobre a recuperação da BR-319, que liga Porto Velho ao Careiro da Várzea no Amazonas. Uma extensão de 900 quilômetros rasgando a intacta floresta amazônica e que certamente vai decretar o melancólico fim do que ainda resta de mata nativa por aqui.

Em 2008, o presidente Lula criou o Fundo Amazônia para captar recursos de outros países a fim de monitorar e combater o desmatamento na região. Esse Fundo foi paralisado em 2019 no governo Bolsonaro e retornou agora. Vários países desenvolvidos contribuem com a ideia. Dinamarca, Estados Unidos, Suíça, Noruega (maior doador), Alemanha, Reino Unido e até a União Europeia como um todo. Desde que foi criado, o Fundo Amazônia já arrecadou quase seis bilhões de reais. Mas um deputado federal de pouquíssima expressão do União Brasil de Rondônia é autor de um projeto de lei que permitirá o uso dos recursos desse Fundo para asfaltar a assassina e antiambiental BR-319. Ou seja, segundo esse parlamentar, o dinheiro que seria para proteger a Amazônia deve ser usado para fomentar as invasões de terras protegidas causando mais destruições.

O Fundo Amazônia foi criado exatamente para proteger a floresta amazônica contra o desmatamento e a desertificação crescentes. Óbvio que ao asfaltar de novo esse trajeto, aumentarão a grilagem de terras, o desmatamento ilegal e as queimadas danosas. Podem até asfaltar com o dinheiro público, mas usar o Fundo Amazônia seria um deboche sem tamanho. Além do mais, Porto Velho, Manaus, Rondônia e Amazonas não têm importância nenhuma na já tosca realidade nacional. Essa fatídica estrada nada vai trazer de desenvolvimento nem de progresso para ninguém daqui. Só desmatamentos, invasões, grilagem, mortes, garimpos e mais destruição e danos à natureza. Por isso, Alemanha e EUA se preocupam com a volta dessa BR. Os doadores do Fundo estão alertando contra os planos de pavimentá-la com o dinheiro deles. E todos já estão observando “de perto”.

Um porta-voz do governo alemão, o segundo maior doador do FA, já disse que o apoio a um projeto deste tipo “não é possível” de acordo com as regras estabelecidas. E os EUA entendem que o Fundo utilizará os recursos “de forma consistente com os seus regulamentos”. Ambientalistas temem que projetos assim provoquem uma explosão na destruição da floresta, ao facilitar o acesso de madeireiros ilegais a áreas remotas. O investimento em projetos de infraestrutura de grande escala não está previsto entre as ações do decreto presidencial de 2008, que diz como o Fundo deveria gastar seu dinheiro. A discussão sobre o destino da BR-319 já chegou a Porto Velho: integrantes de um grupo de trabalho do Ministério dos Transportes apresentou à sociedade local os principais pontos da proposta estudada para pavimentar a rodovia, como se meia dúzia de brasileiros ignorantes pudessem decidir o destino de toda a Amazônia, que tem importância mundial.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

IPTU com 85% de aprovação

IPTU com 85% de aprovação

 

Professor Nazareno*

 

            Morar em Currutela Fedida, a suja e imunda capital de um Estado, não tem sido fácil. A cidade não oferece nem nunca ofereceu absolutamente nada de bom em toda a sua existência para os seus infelizes moradores. Segundo algumas definições conhecidas, Currutela não é uma cidade no sentido literal da palavra. Ela não passa de uma pocilga imunda já há muito tempo existente nos cafundós do Brasil. É a capital de Estado menos visitada do país e de acordo com o Instituto Trata Brasil, é a pior cidade com mais de 100 mil habitantes em saneamento básico e água tratada. Sem porto decente no rio que lhe banha, sem aeroporto com bons voos regulares, sem mobilidade urbana, sem arborização, violenta e ainda sem rodoviária e sem hospital de pronto-socorro, ela apresenta um IDH sofrível. Mas quem mora nesse lixo ainda paga impostos. E bem caros. É o caso do IPTU.

            Se for levada em conta a relação custo-benefício, Currutela Fedida tem o IPTU mais oneroso do Brasil. Como no restante do país, lá também se paga muito imposto e não se recebe nada de benefícios em troca. Em 2023, por exemplo, houve uma briga das feias por causa da majoração absurda no preço desse imposto. Em 2024, a coisa só piorou. Antes, quem pagasse seus tributos até o fim de janeiro tinha pelo menos 20 por cento de desconto. Agora, sem nenhuma consulta popular, os “sábios” diminuíram a tabela para só 10%, fato este que provocou indiretamente um aumento nas taxas e puniu os bons pagadores. A Câmara Municipal não deu um pio sequer. Dos 21 vereadores de Currutela, todos os 21 são a favor do alcaide. Ou seja, esse prefeito é até mais popular do que Jesus Cristo. E o pobre do contribuinte “currutelense” que se dane: nunca tem a quem recorrer.

            O descaso em Currutela Fedida é tão grande que até uma das únicas praças que há no lugar ainda continua inacabada e sem data para ser entregue à população. Essa praça já foi muito famosa tempos atrás. O Brasil e o mundo já ouviram falar muito bem dela. Seu nome famoso remete à construção da própria cidade. Por incompetência das autoridades locais, Currutela Fedida está praticamente isolada do resto do país. No acanhado campo de pouso, que às vezes é usado como aeroporto, são poucos os voos regulares e além disso, para se chegar ao lugar é muito caro. Em Currutela não há turismo muito menos algo bom para se ver. Muitos dos moradores locais não veem a hora de uma hidrelétrica, que fica a uns cinco quilômetros do centro da cidade, arrebentar e destruir toda aquela maldita e inabitável curva de rio. Sem bombardeios, Currutela é como Gaza.

            Um fato inédito e até inexplicável: mais de 60% dos eleitores da suja e imunda “tribo” são da direita e da extrema-direita. Currutela Fedida não tem candidatos de esquerda. Para se ter uma vaga ideia da promiscuidade daquele fétido lugar, diz-se que o atual prefeito tem mais de 85 por cento de popularidade e aprovação. Dizem até que o mesmo será facilmente eleito como senador ou governador da província daqui a dois anos. Nas duas administrações à frente do ermo lodaçal, ele fez menos de 1% de saneamento básico e não trouxe uma só gota de água encanada a mais nem melhorias para ninguém. Popular e muito querido, ele só fez asfalto, mas não colocou esgotos, canteiro central, nem calçadas nas ruas, que são quase todas tortas. Arborização e melhorias na mobilidade urbana também nada acrescentou. Pagar imposto em Currutela Fedida é um acinte. A cidade, em vez de cobrar dos moradores, devia era pagar para quem quisesse morar nela.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 6 de janeiro de 2024

Nunca mais outro 8 de janeiro!

Nunca mais outro 8 de janeiro!

 

Professor Nazareno*

 

          Infelizmente o dia 8 de janeiro de 2023, um domingo, entrou para a História deste país. Só que de forma melancólica, absurda, patética e triste. Foi nesta lacônica data que alguns grupos de direitistas reacionários, que dias antes tinham viajado para Brasília, lá invadiram os três poderes da República, depredaram tudo e promoveram dessa forma uma das maiores arruaças e vandalismo que a capital do Brasil já presenciou. Eram eles uns três ou quatro mil bolsonaristas quase todos vestidos com a camisa amarela da seleção brasileira e portando bandeiras nacionais. A barbárie que se viu naquele dia entrará para os anais da História como uma das maiores vergonhas que o nosso país já passou. A gentalha eufórica gritava slogans antidemocráticos, pedia um golpe militar, queria um outro AI-5, bem como a intervenção das Forças Armadas para anular as últimas eleições.

            Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e da esquerda, venceu dois meses antes em eleições limpas e democráticas o seu rival Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente do país entre 2019 e 2022 e ídolo maior da grande maioria daqueles manifestantes. Assim que terminaram as eleições no segundo turno, os perdedores inconformados foram para a frente dos quartéis em todo o território nacional e ali ficaram acampados tramando o “dia da invasão de Brasília” para reconduzir, sob a força dos fuzis e das baionetas, o Bolsonaro e seus asseclas ao poder, fato que começou a acontecer exatamente na tarde do 8 de janeiro de 2023. Mas o golpe dos fascistas da direita e da extrema-direita fracassou retumbantemente para a felicidade geral da nação e dos que amam e ainda acreditam na democracia. As forças democráticas venceram e nossas instituições aguentaram o tranco.

          Apesar da estranha inércia no começo das invasões, as forças policiais do DF finalmente intervieram e prenderam a maioria dos arruaceiros, que depredavam tudo o que viam pela frente. O STF, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto foram invadidos e saqueados pela turba golpista. O triste e horrendo espetáculo correu o mundo. Mas o golpe não foi dado e quase duas mil pessoas foram presas e muitas delas estão sendo julgadas até hoje. Julgadas em uma democracia, por isso com direito à defesa do contraditório e sempre com base nas leis que regem uma sociedade democrática. Muitos respondem por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito, associação criminosa, dentre outros crimes. Todos serão julgados e alguns deles já foram até condenados a 17 anos de cadeia em regime fechado e vão ter que pagar multa.

            Deram sorte por que tentaram dar um golpe de Estado no Brasil, uma nação onde impera a plena democracia. Se tivesse sido num país como a Turquia, Arábia Saudita, Paquistão, China ou mesmo na Rússia, todos já tinham sido devidamente fuzilados e sem nenhum direito à defesa. Sem organização, sem uma liderança aparente e também sem objetivos claros e bem definidos, os “golpistas de mentirinha” se meteram numa fria que já marcou para sempre as suas vidinhas. Todos praticamente já foram abandonados pelos seus “ídolos de araque” e hoje estão nas mãos do Poder Judiciário e do Supremo Tribunal Federal. Pena que até agora somente as “sardinhas” estão pagando o pato. Quem tramou esse maldito golpe? Quem financiou? Quem transportou os golpistas? Quem se omitiu no início? Essas perguntas têm que ser respondidas e todos os culpados devem arcar com as consequências dessa estúpida insurreição de fundo de quintal. 8 de janeiro? Nunca mais!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O 4 de janeiro da depressão!

O 4 de janeiro da depressão!

 

Professor Nazareno*

 

            Para o Brasil, de um modo geral, a data 4 de janeiro é um dia como outro qualquer e sem nenhuma importância. Para Rondônia, no entanto, é uma data até importante. Foi neste dia há exatos 42 anos que fora instalado o Estado de Rondônia, a “nova estrela no azul da união”. Só que o próprio Estado não comemora nada neste fatídico dia. O feriado, pasmem, foi antecipado este ano para o dia 2 de janeiro como se nenhuma importância tivesse. Na instalação de Rondônia, eu ainda jovem, estava lá observando a estranha euforia de se instalar uma nova unidade da federação. O fato é que Rondônia até hoje só deu tristezas e vergonhas para o país que acabara de gestar o lugar. Para se criar tudo isso aqui foi preciso trazer levas e mais levas de sulistas desempregados, e também por isso se desmatou como nunca grandes e extensas áreas de cerrado e da rica floresta amazônica.

            O Estado de Rondônia foi criado no dia 22 de dezembro de 1981 e só foi instalado no ano seguinte para que não se perdessem as festas e, portanto, as farras de fim de ano. São mais de quatro décadas de tristezas e vergonhas para o Brasil. Um dos maiores desmatamentos em dois grandes biomas reconhecidos internacionalmente para quê? Para absolutamente nada. O próprio coronel Jorge Teixeira dizia na época que não se cria um Estado pujante e moderno só com pessoas pobres. “Aqui vemos todo os dias desceram dos ônibus um pai, uma mãe, vários filhos, um cachorro e um saco de panelas”, afirmava. Na verdade Rondônia foi criada só para dar suporte à Arena, o partido da cruel e infame Ditadura Militar. Os militares e a direita conservadora perdiam a cada dia mais apoio no Congresso e criando um novo Estado aumentaria o número de parlamentares governistas.

            Mas a tragédia maior foi para o meio ambiente. A criação de Rondônia foi uma desgraça para a natureza e também para o restante do país como um todo. Até hoje, com a construção das hidrelétricas no rio Madeira e a queima da floresta amazônica todo ano, Rondônia sacaneia o restante do país “exportando” fumaça tóxica durante o verão. Hoje, continuamos desmatando como nunca, envenenando os rios com mercúrio, exterminando nossos índios e exportando servidores aposentados para morar em todos os recantos do Brasil. Pior, com a ideia grotesca de se reconstruir a BR-319 para ligar Porto Velho a Manaus, Rondônia vai dar um tiro de misericórdia em toda a Amazônia. E por aqui não há nada que lembre progresso e desenvolvimento. Não temos aeroporto decente com voos regulares, não temos porto no rio Madeira, não há saneamento básico. Continuamos fritos.

            A vergonha daqui está também na política. A corrupção e as administrações públicas sérias e mais comprometidas com o povão mais necessitado nunca passaram de um sonho longe e distante. Aqui há muita corrupção e desmandos em quase todos os 52 municípios do Estado. O Brasil tem hoje, mais uma vez, um governo de esquerda, progressista, mas os eleitores de Rondônia, sempre na contramão, são quase todos eles totalmente da direita e da extrema-direita. Todos os “zeróis” de Rondônia são, por exemplo, pessoas da elite, ricas ou ligadas ao agronegócio. Se quisermos ter mais um pouco de atenção, deveremos fazer o impossível e eleger nas próximas eleições só os candidatos da esquerda. Rondônia foi um dos maiores desastres em todos os sentidos para o Brasil e continua a sê-lo nestes mais de quarentas anos. Nunca tivemos seca e hoje já temos. Nunca tivemos terrorismo e agora já tem. Só falta mesmo chover merda no Estado.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Prefeito Major Guapindaia

Prefeito Major Guapindaia

 

Professor Nazareno*

 

            O Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense foi o primeiro superintendente (prefeito) da cidade de Porto Velho entre os já distantes anos de 1915 e 1916. Nomeado pelo então governador do Amazonas, Jônatas de Freitas Pedrosa, esse maranhense de nascimento abriu em definitivo as portas para o desenvolvimento e o progresso na capital dos “destemidos pioneiros”. O Major Guapindaia criou muitas ruas, plantou árvores, saneou parte da cidade, trouxe água encanada para os moradores e também inovou em práticas municipais. Além de ter sido o primeiro administrador, foi sem dúvida nenhuma um dos melhores prefeitos que a capital de Roraima já teve. No entanto, apesar do seu incansável trabalho pela cidade, há algumas poucas críticas que foram feitas a sua administração. Isso talvez fruto da incompreensão que já havia aqui naqueles idos tempos.

            Assim que o competente militar tomou posse, as chuvas intermitentes castigavam o recém-instalado município. Era o longínquo mês de janeiro de 1915. As águas putrefatas e fedorentas insistiam em alagar as humildes residências da época. Os bairros distantes da periferia eram os mais afetados. Ali, onde seria a futura Avenida Jorge Teixeira, hoje BR-319, era um caos. No encontro dessa rua com a Sete de Setembro, as águas podres contaminavam a todos. As poucas casas que já havia no local eram alagadas e os pobres moradores perdiam tudo. Móveis, carroças, restos de alimentos e algumas pequenas plantações era tudo arrastado pela forte correnteza que se formava. Havia também alagamentos por toda a extensão do que viria ser a futura capital de um Estado. Onde é hoje o encontro das Avenidas Rio Madeira e Rio de Janeiro o caos era geral. Só aguaceiro!

Ninguém conseguia conter a lagoa que se formava ali. Um igarapé de águas sujas cortava todo o entorno da cidade inundando tudo. O Major Guapindaia até que pretendia fazer rede de esgotos mais extensas, que naquela época chegavam a apenas 2,4 por cento de toda a cidade. Porém, as verbas que o Rio de Janeiro, a capital Federal, dispunha eram poucas. E Manaus praticamente não mandava muitos recursos para melhorar toda a administração municipal. Entre os anos de 1915 e 1916, Porto Velho sofria horrores com as águas da chuva. A cidade praticamente não tinha lugar adequado e definitivo para estacionar as carroças que vinham do interior. Havia duas ou três ruas, mas eram todas tortas e cheias de mato e lixo. Flores, não havia em lugar nenhum daquele sombrio município. Não havia praças, nem recantos de lazer. O porto era um barranco sujo no rio.

A cidade não tinha arborização, não tinha caminhos bons para as carroças transitarem e a violência já era uma constante. Mas apesar desses “pequenos problemas”, o Major Guapindaia era um homem muito amado por todos daqui. A mídia da época lhe adulava e não permitia que lhe fizessem nenhuma crítica e todos os “bons homens”, uma espécie de vereadores de então, assim como as demais autoridades locais, lhe agradeciam por ter sido nomeado para o município. “Esse bom homem foi um enviado de Deus”, costumavam dizer. Ele tinha o apoio de cem por cento desses “vereadores” e detinha uns 85% de aceitação do povo. Até aumentava o IPTU. E todos desconfiavam naquele tempo que o velho major queria mesmo era ser governador e até se eleger senador de uma futura província que poderia ser criada por aqui. “Com tanta aceitação, mesmo que não faça nada de proveitoso na cidade, ele ainda será eleito”, afirmavam todos os seus puxa-sacos.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Uma retrospectiva venturosa

Uma retrospectiva venturosa

 

Professor Nazareno*

 

            O ano de 2023 ficará marcado para sempre nos corações e mentes dos cidadãos rondonienses. Foi talvez o melhor ano para quem mora por aqui, principalmente em Porto Velho, a capital do Estado. Só coisas boas aconteceram. A felicidade é visível no rosto de cada pessoa. Uma espécie de paraíso com coelhinhos saltitantes e borboletas azuis é a impressão que se tem quando se fala de Rondônia e de sua gente. Na área da política, por exemplo, os bons representantes do povo se esmeraram em trabalhar pela sociedade. No início do ainda corrente ano, quando alguém da prefeitura municipal da capital, imbuído de más intenções e tristes presságios tentou aumentar o valor do IPTU, o perfeito e os seus amigos vereadores prontamente intervieram e não permitiram jamais que nós pagássemos nenhum aumento. O povo venceu por causa de sua consciente classe política.

        Mas se engana quem pensa que por causa desse pequeno incidente o prefeito não quis mais trabalhar pelo povo. Pelo contrário! A prefeitura logo transformou as ruas de Porto Velho num imenso canteiro de obras. Asfalto, arborização e ampliação da rede de esgotos foi o que mais se viu por estas bandas. De menos de 2,4% de saneamento básico no início de 2023, a capital das “sentinelas avançadas” pulou para quase três por cento de ruas e casas com esgotos no final do ano. O aeroporto da cidade foi o que mais trouxe alegrias para os rondonienses durante o ano que encerra. Os políticos daqui, como sempre, sensíveis ao sofrimento da população por causa da diminuição da oferta de voos, lutaram de forma hercúlea para resolver o impasse. Hoje, antes mesmo de se encerrar o ano, o “aeroporto internacional” de Porto Velho já está operando no máximo de sua capacidade.

            Foi durante 2023 que a lendária e histórica praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré teve o seu apogeu. Juntamente com o moderníssimo porto rampeando lá na beira do rio Madeira, só trazem alegrias e comodidades para o povo ribeirinho. Nossa gente merecia uma praça e um moderno porto de primeiro mundo como aqueles. Na área da administração estadual, os esforços para a recuperação da BR-319 são visíveis. Agora, sim! Rondônia enfrentará um desenvolvimento nunca visto antes. Tudo são flores nas terras de Rondon. Por isso, uma bandeira de Israel foi colocada no CPA só para mostrar a importância que este Estado tem frente à realidade mundial. E agora, com a BR-319 recuperada e o rio Madeira cheio de dragas de garimpos, Rondônia vai desbancar até Mataraca na Paraíba. Somos, com orgulho, mais de 60% de eleitores somente da direita.

        Com tantas coisas boas acontecendo em Rondônia, é compreensível que até a mídia local tenha tido reflexos. E dos bons! Imparcial, dinâmica, independente e muito inteligente, o jornalismo rondoniense devia ter ganhado muitos prêmios em 2023. Prêmio Esso, Prêmio Pulitzer, Prêmio Jabuti de reportagem, Prêmio Cláudio Abramo, dentre tantos outros, deveriam ter sido distribuídos aos “jornalistas” daqui, onde se preza a informação sem nenhum tipo de censura. E até a “inteligência” da polícia rondoniense se destacou neste ano. Foi no lacônico incêndio da Estátua da Liberdade da Havan. “Os incendiários foram só dois sujeitos em uma moto”.  Foi em 2023 que os ex-governadores voltaram a receber os seus proventos vitalícios, o rio Madeira começou a morrer, a UNIR continuou sem restaurante e sem hospital universitários e a Banda do Vai Quem Quer desfilou sem sujar a cidade. Nem alagação houve em Porto Velho. Deviam congelar 2023.

 

 

                        *Foi Professor em Porto Velho.           

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

FLU: aposentados e humilhados

FLU: aposentados e humilhados

 

Professor Nazareno*


            O Fluminense do Rio de Janeiro protagonizou mais uma triste vergonha para o já falido futebol brasileiro. Perdeu de quatro a zero para o Manchester City da Inglaterra pela última decisão do Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, edição de 2023. Jogando praticamente com um time reserva, já que seus principais jogadores estão lesionados, o poderoso time inglês aplicou uma solene goleada nos tricolores cariocas que vai ficar marcada para sempre na história do futebol. Se o norueguês Haaland, os belgas Jérémy Doku e Kevin De Bruyne tivessem atuado na partida, a goleada teria sido, com certeza, muito mais expressiva e humilhante. Uns seis ou oito a zero. O fraco time do Brasil apenas olhou os habilidosos atletas do time inglês jogarem. Não criou, não marcou, não fez gol, não atacou e nem se defendeu. Foram dois gols no primeiro e dois gols no segundo tempo.

            Com vários jogadores do elenco já passando da idade de se aposentar do futebol, o Fluminense fez igual a tantos outros times do país que também protagonizaram outras vergonhas na disputa deste campeonato como o Grêmio de Porto Alegre, o Flamengo do Rio de Janeiro e o Palmeiras de São Paulo. Todos eles derrotados recentemente pelo imponente futebol jogado na Europa, que está desbancando há tempos o fraco futebol praticado no Brasil. Já virou rotina um jogador jovem e revelado em clubes brasileiros, como o Endrick do Palmeiras, por exemplo, ir jogar na Europa e depois de muito tempo, já bem velho e acabado, voltar para atuar no futebol do Brasil como se fosse um salvador da pátria. É o caso de Marcelo com 35 anos e de Felipe Melo com 40 anos, ambos do Flu. Eles já jogaram muito bem, mas quando eram jovens. Hoje deviam era estar aposentados.

            Para se ter uma ideia, Fábio, o bom goleiro do Fluminense, tem 43 anos. E o time carioca tem uma série de outros jogadores já desgastados pelo tempo. Enquanto isso, os times europeus desfilam jovens com 17, 18 anos em campo. Não há o que se discutir: um jovem na flor da idade tem muito mais fôlego e preparo físico para fazer belas jogadas e belos gols do que cidadãos que já passaram dos trinta anos. Por isso, o argentino Julián Álvarez, de apenas 23 anos, meteu logo dois gols nos brasileiros. Teve um gol contra e outro de Foden, também de 23 anos. E esse Manchester City nem é o melhor time da Inglaterra na atualidade. Nem da Inglaterra nem da Europa, que tem hoje verdadeiras academias de futebol como o Bayern de Munique, O PSG de Paris, o Barcelona e o Real Madrid da Espanha. O técnico do time da Inglaterra é Pep Guardiola, o melhor do mundo.

            Já o técnico do time brasileiro é um tal de Fernando Diniz, que também treina a fraca seleção do Brasil. Aliás, é muito difícil o time canarinho ir para a próxima Copa do Mundo de 2026. Nas eliminatórias está no sexto lugar. E talvez só vai se classificar por que são sete vagas num grupo de dez equipes. Perdeu para a Colômbia, perdeu para o Uruguai, perdeu para a Argentina e empatou em casa com a Venezuela. É um milagre quando a seleção do Brasil ganha da Bolívia ou do Paraguai. Já o jogo pelo mundial de Clubes estava até enfadonho de se assistir. Só um time jogava, atacava, dava espetáculo e fazia gols. O outro só se defendia e dava chutões. O Manchester City deu um passeio no Fluminense, cujos jogadores ficavam apenas olhando como os europeus jogam o bom futebol. Mas não é só o Fluminense do Rio que é ruim. Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Vasco e muitos outros não são nem fichinha perto dos ricos e poderosos times europeus.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Vivendo numa cidade burra

Vivendo numa cidade burra

 

Professor Nazareno*

 

            Cidade inteligente é uma cidade capaz de integrar todas as suas partes e trabalhar de maneira colaborativa na busca de um objetivo comum. É também um ecossistema urbano inovador caracterizado pelo uso generalizado de tecnologias na gestão de seus recursos e infraestrutura. Uma cidade inteligente é, afinal de contas, um lugar onde as pessoas têm acesso a uma excelente mobilidade urbana, ecossistemas organizados, meio ambiente preservado, recantos de lazer de excelência, inovações tecnológicas usadas para o bem comum, dentre outras qualidades. No mundo, já há cidades muito próximas desse paraíso descrito. Viena na Áustria, Singapura, Genebra, Londres, Barcelona, Copenhague na Dinamarca, dentre outras. Curitiba no Paraná é a cidade brasileira mais próxima desse conceito. Já Porto Velho é uma cidade burra em todos os sentidos. Vejamos a realidade:

            A péssima infraestrutura da capital dos rondonienses se parece com as cidades medievais ou aquelas cidades da África subsaariana. Nada por aqui funciona direito. Sem rede de esgotos nem água tratada, os 460 mil moradores se viram como podem. Muitos cavam poços rasos ao lado de fossas imundas para abastecer suas casas com o precioso líquido. Porto Velho não tem planejamento urbano nenhum. E não é uma cidade jovem como Londrina ou Maringá no Paraná. Desde o longínquo ano de 1914 que entra prefeito e sai prefeito e as necessidades mais básicas do lugar não são resolvidas. Além de não ter esgotos, a cidade burra também não tem nenhuma mobilidade urbana. É como se não existissem por aqui arquitetos. Não existem praças, ruas e canteiros de flores, nem boas passarelas de pedestres. Não tem rodoviária ou aeroporto, e nem um bom porto rampeado.

            Até a rodoviária nova que estão construindo demostra a burrice que reina na cidade. Ela fica bem ao lado de um igarapé podre, fedorento e imundo. Deve ser uma espécie de cartão de boas-vindas para quem chega à “capital do lodaçal”. Coletivos? Não funcionam. Nem é bom falar no novo hospital de pronto-socorro, o “Built to Suit”. E os 21 vereadores? Todos eles estão do lado do prefeito, que se orgulha de ter construído a rua Santos Dumont. Só que a mesma, apesar de ter só um quilômetro de extensão é toda torta, não tem canteiro nem arborização e não resolveu absolutamente nada no já caótico trânsito da cidade. Pior são as passarelas que construíram na BR-364, que corta a cidade. Em vez de fazerem passarelas inteiras para dar mais segurança aos pedestres, construíram meias-passarelas. E até devem construir outras nas Avenidas Jorge Teixeira e Imigrantes.

O sujeito, que certamente vai ser assaltado quando resolver passar por essas meias-passarelas, tem que cruzar duas ruas marginais movimentadíssimas. O perigo de ser atropelado vai continuar ainda maior na cidade burra. Vejam a conhecida e histórica Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, um dos símbolos da capital das sentinelas avançadas”. Abandonada, esquecida, cheia de mato, urubus e lixo está lá na beira do rio Madeira sem que a população tenha acesso a ela. A cada ano que passa, a cidade burra fica ainda pior para os seus moradores. Fica, assim, cada vez mais burra. Por isso, hoje detém o pior IDH dentre as capitais brasileiras. Se essa cidade burra fosse uma mulher, todos os seus administradores já tinham sido enquadrados na lei Maria da Penha. A cidade é burra, mas os seus moradores são “inteligentes”, pois mais de 60% deles são da direita ou da extrema-direita reacionárias, apesar de morarem na sujeira, no lodo, e no abandono.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.