quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Viena é uma porcaria



Viena é uma porcaria


Professor Nazareno*

            Viena, a charmosa capital da Áustria, é há vários anos considerada a melhor cidade do mundo para se viver. O seu alto IDH superou todas as outras cidades do mundo como Zurique na Suíça, Munique na Alemanha, Auckland na Nova Zelândia e Vancouver no Canadá. Com aproximadamente dois milhões de habitantes, do tamanho de Manaus no Amazonas, e com tudo funcionando dentro do planejado, a capital dos austríacos é um verdadeiro jardim a céu aberto. Flores de todos os tipos e variedades enfeitam suas ruas e praças. Com excelente mobilidade urbana, cem por cento de água tratada e de saneamento básico e praticamente violência zero, a vida na cidade se tornou uma rotina de prazer e encantamento. Porém, fazendo-se uma comparação com Porto Velho, percebe-se que em vários itens a suja e fedorenta capital de Roraima é melhor.
            Dificilmente um sujeito nascido em Porto Velho se adaptaria a esta badalada capital europeia. Viena não tem lixo nem sujeira em suas ruas, que se parecem com um shopping center de tão limpas, perfumadas e asseadas. E quase não há lixeiras espalhadas por lá. Desde quando um rondoniense autêntico colocaria o seu próprio lixo em uma sacola trazida de casa? E o emprego dos catadores dos nossos dejetos, como ficaria garantido? Assim como Porto Velho, Viena tem também um grande rio que lhe banha. É o Danúbio. Nas suas limpas e asseadas margens, orquestras de música clássica encantam os turistas com concertos diários. O velho e já estuprado Madeira, com suas águas barrentas e o lixo boiando em seu leito brocha qualquer turista que se aventure a conhecê-lo. Aqui só o triste e decadente passeio de barquinho com funk e música brega.
            Mas em Viena não se dança nem se rebola como aqui. Cantar alto lá, gritar, espernear e cair de bêbado nem pensar em fazer, enquanto aqui a autenticidade dos foliões brota à flor da pele. A espontaneidade matuta misturada à catinga de suor e de perfume barato encanta os mais sisudos. Funk e músicas de puteiro de quinta categoria no volume máximo chegam a tremer até as águas pútridas do velho Madeira e funcionam como uma espécie de “dança de acasalamento” entre aqueles frequentadores pobres. Em Viena não se pode fazer nada disso. Até porque ninguém dança música clássica. Beethoven, Bach, Strauss e Mozart com suas bonitas baladas no máximo arrancam aplausos dos educados e atentos ouvintes. Além disso, peixe frito com farinha de mandioca e molho de pimenta jamais seriam servidos como tira-gosto na Áustria.
            Até as autoridades austríacas são diferentes das de Porto Velho. Lá ninguém contrata tantos comissionados como aqui. Qualquer vilazinha austríaca tem médico e todo tipo de profissional. E duvido que o prefeito de Viena tenha mentido nas eleições dizendo que iria beijar, acariciar e amar a cidade. Ainda assim, o político daqui é amado e adorado pelos eleitores, ao contrário da Áustria, onde a extrema direita avança. Quem mora em Viena, por exemplo, nunca viveu a emoção de ter sido assaltado por dois sujeitos montados em uma moto. Ônibus e trens são tudo na hora certa. É um saco. Duvido que num bar se peça a saideira se já chegou a hora de fechar o estabelecimento. Mozart é a decadente cultura austríaca com suas inúmeras óperas, teatros e museus. Nem se compara com o Mercado Cultural, o inútil Palácio das Artes, o Banzeiros e os expoentes da nossa cultura de boteco. Seja esperto e culto: prefira Porto Velho a Viena.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 10 de agosto de 2019

O estocador de merda


O estocador de merda


Professor Nazareno*

Zé Ninguém é um brasileiro não muito famoso que nasceu na beira de um rio da Amazônia. Não se sabe muito bem que rio é esse, talvez próximo a Porto Velho, a capital de Roraima, talvez em outro rio da imensa região. Muito pobre, mas de direita e por isso muito reacionário e conservador, Zé Ninguém sempre votou e apoiou todo e qualquer governo. Até os chamados de esquerda, aqueles que estocavam vento e mentiam descaradamente para o povo. O estúpido Zé sempre dizia que Lula, apesar de algumas ideias “esquisitas”, tinha tudo para ser o melhor presidente que este país já teve. “Acabar com a nossa fome é algo nunca antes pensado por nenhum mandatário”, dizia. Mas antes de admirar o petista, o nosso beiradeiro já havia se entusiasmado também por José Sarney, de quem fora fiscal na época do famigerado Plano Cruzado.
Sem nenhum acanhamento, Zé Ninguém também votou e elogiou Fernando Collor, Itamar Franco, FHC e durante os governos militares obrigava seus filhos a cantar diariamente o hino nacional e a prestar continências a ele próprio. Sempre acreditou na lorota de que “este é um país que vai pra frente”, negou a tortura nos DOI-CODI, ignorava a censura, as perseguições políticas e estava convicto de que os esquerdistas queriam tomar o poder para implantar uma ditadura comunista no nosso país. Cristão praticante, Zé recentemente trocou o catolicismo pela Igreja Evangélica e hoje, claro, tece loas e muitos elogios aos pastores Silas Malafaia, R. R. Soares, Valdemiro Santiago e, claro, a Edir Macedo. Para ele, todos esses religiosos são homens enviados por Deus e tudo o que eles pregam, falam e dizem são verdades indiscutíveis.
Assim como a maioria dos rondonienses e porto-velhenses, esse insólito beiradeiro também votou no Hildon Chaves para administrar Porto Velho, no Coronel Marcos Rocha para governador e, óbvio, no capitão Jair Messias Bolsonaro para presidente do país. “Os falsos testemunhos que estão levantando contra o atual ministro da Justiça terão respostas à altura”, costuma dizer aos seus interlocutores. A alegria no rosto deste sinistro eleitor é algo indisfarçável toda vez que o “Mito” dá uma de suas estabanadas declarações. Admirador de Joaquim Barbosa, de Sérgio Moro e do atual prefeito de Colatina no Espírito Santo, Zé Ninguém é um ouvinte assíduo da Rádio Parecis e não perde um único programa do SBT, da SIC TV e afins. “Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Tiririca e Janaína Pascoal são exemplos de grandes políticos”, diz.
O nosso “grande” Zé Ninguém disse que de agora em diante vai se esforçar para defecar “dia sim, dia não” em respeito ao nosso inestimável e insubstituível líder. “Já estoquei vento. Que diferença faz estocar merda agora?”, indaga. “Se todos os habitantes de Porto Velho em Roraima, por exemplo, defecassem menos, a cidade seria muito mais limpa”, filosofa. Com tanta estupidez assim, muita gente não entende porque este cidadão nunca exerceu nem exerce nenhum cargo político. Poderia ser prefeito de Porto Velho, governador do Estado, um senador, deputado federal ou até presidente do país. Quem sabe até trabalhar como jornalista ou radialista a serviço de um destes políticos de plantão... Zé diz que a fumaça que se respira em Rondônia hoje é sinal de progresso e de muita produção agrícola. “O governo estadual e as autoridades deviam premiar quem tocasse mais fogo e mais destruísse a mata”, diz. Zé é Rondonha, mano!




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Fumaça Bolsonárica


Fumaça Bolsonárica

Professor Nazareno*

“Odnum od Uc” sempre foi um lugar muito atrasado, subdesenvolvido, incivilizado, brega, distante dos grandes centros e tradicionalmente esquecido pelos governantes. Um grotão encravado numa das regiões mais ricas e prósperas do mundo, o insólito município é capital de uma província igualmente atrasada e subdesenvolvida. Antes até tinha florestas tropicais e hoje, devido ao desmatamento sem controle, padece sob uma fumaça sufocante resultante das criminosas queimadas que abundam na região. Respirar ali tornou-se uma das tarefas mais difíceis para um ser humano. A destruição do meio ambiente sempre foi uma coisa muito normal, mas ultimamente o caos tomou proporções catastróficas. Como sempre, as autoridades nada fazem e o povo, alegre e feliz em meio à fuligem, faz apenas alguns comentários e ri de sua própria desgraça.
O povinho de “Odnum od Uc” é uma gente sem futuro. Desconhecedor de sua própria existência, ele comemora as festas juninas no mês de agosto e geralmente celebra a semana santa em pleno mês de junho. Sem qualquer resquício de cultura ou de conhecimento formal, costuma eleger seus representantes sem nenhum critério. Atualmente o prefeito do lugar, que fora eleito prometendo amar, beijar e acariciar a fétida cidade, goza de uma popularidade ímpar mesmo não tendo demonstrado a competência nem a boa vontade para prover de transporte escolar os alunos da zona rural e da área ribeirinha. Certamente ele deve usar óculos escuros para não ter que ver a fumaça tóxica e criminosa que atormenta seus munícipes. Quando o ar fica irrespirável, pega um avião e vai para Paris, Disney, Barcelona ou outro lugar onde há civilização.
Incrível, mas em “Odnum od Uc” existe Poder Judiciário, Ministérios Públicos e inúmeros outros órgãos que se dizem de defesa do exaurido ecossistema local como várias secretarias de meio ambiente, IBAMA, Sema, SIVAM, Sipam dentre muitos outros inócuos cabides de emprego. Recentemente a Assembleia Legislativa local aprovou a proibição do uso de canudinhos de plásticos, mas sempre fez vistas grossas à fumaça criminosa e à constante degradação do meio ambiente. O fogo arde impune e ninguém faz nada a não ser respirar tranquilamente esse oxigênio dos infernos. A idiotice e o comodismo parecem ser características dessa gentinha. Para muitos, o lugar já foi considerado o “suprassumo da merda”, mas isso é uma tremenda injustiça com as fezes, pois quem já viu excremento exalar fumaça tóxica todo ano e ninguém reclamar?
Recentemente os matutos de “Odnum od Uc” fizeram uma farra de peixe na capital do país na vã esperança de transformar consumidores de boas comidas e de paladar apurado em apreciadores de gororoba. A vergonha só não foi maior porque a sinistra guloseima foi gratuita. Dizem até que o maior mandatário do país teria apreciado “aquela comida de beiradeiro”. Enquanto isso, entra ano e sai ano e a fumaça das queimadas que manda doentes para os precários hospitais da região é uma rotina infernal, apesar dos churrascos de peixe e da proibição dos canudinhos de plástico. Porém, o suplício sufocante está apenas no começo. A partir de agora, é proibido, por exemplo, publicar que os desmatamentos na Amazônia crescerem quase 300 por cento em relação ao ano anterior. Eufóricos, os habitantes de “Odnum od Uc” não veem a hora da esperada chuva de bosta em sua cidade. E a fumaça já pode ser um prenúncio.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 30 de junho de 2019

Qual será o próximo erro?


Qual será o próximo erro?


Professor Nazareno*


De um modo geral, o cidadão brasileiro comum é um perfeito idiota, um tosco. Semianalfabeto e com pouquíssima escolaridade, não tem conhecimentos de nada. Não tem leitura de mundo, é pouco informado e desconhece os mais simples conceitos da ciência. Raros, mas muito raros mesmo, são aqueles que detêm alguma informação capaz de mudar a sua própria e insossa realidade. Não há grosso modo dentro de nossa sociedade nenhuma opinião coerente e baseada em princípios aceitos pela opinião pública mundial. Por isso, nossas autoridades de um modo geral refletem em suas administrações a estupidez com a qual estão já acostumados. Prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores, presidente da República e demais autoridades do país são apenas o reflexo da triste realidade que vivemos. Somos o suprassumo do nada.
Na cidade de Porto Velho, por exemplo, elegemos para prefeito um ex-promotor de justiça achando que estávamos redescobrindo a roda.  Iludidos pela sua lorota e pelo seu discurso cafona e mentiroso, embarcamos em mais uma canoa furada. Há mais de dois anos os alunos da zona rural do município estão sem aulas por conta da falta de transporte escolar. E pior, não há a menor perspectiva de quando essa desgraça vai acabar. Para quem durante a campanha eleitoral enganou os trouxas dos eleitores prometendo amar, abraçar e acariciar a cidade, essa péssima administração é só mais uma rotina da nossa cruel realidade. Hildon Chaves mentiu também quando disse que reconheceria um corrupto com apenas cinco minutos de conversa. Seu vice-prefeito se enrolou em escândalos de corrupção e está até hoje praticamente sem nenhuma função.
Para governador do Estado, elegeu-se um sujeito completamente desconhecido só porque o mesmo era seguidor de Jair Bolsonaro, que fora eleito presidente do país. O desinformado eleitor de Rondônia também “seguiu o cardume”. Os rondonienses, sem pensar nas consequências, entregaram de novo os destinos de Rondônia a um forasteiro.  E o resultado está aí para quem quiser ver. O “açougue” João Paulo Segundo de Porto Velho continua com a sua sina de matar pobres e desassistidos, embora, por incrível que pareça, haja sinais de se resolver mais esta desgraça do povo rondoniense. Só sinais mesmo. Com seis meses de administração, rigorosamente nada foi feito até agora para melhorar a caótica situação estadual. Novidade, nenhuma. No inverno, a lama é nossa companheira. No verão, a poeira e a fumaça das queimadas voltarão a nos atormentar.
Óbvio que com esta leitura de mundo micro, o eleitor do Brasil só poderia ter escolhido para presidente do país um estrupício como esse “Mito”. O Brasil com ele caminha para a Idade Média e a vergonha que passamos é quase diária. Milícias, caso Queiroz, agrotóxicos, biju de nióbio, tomada de três pinos, Cristo na goiabeira, armas para o povo, cocaína em avião presidencial. Hildon Chaves, Coronel Marcos Rocha e Capitão Jair Messias Bolsonaro não são nunca foram e provavelmente jamais serão grandes políticos ou mesmo homens dos quais possamos algum dia nos orgulhar. Eles são apenas o triste e melancólico reflexo do que pensa e vive a maioria dos burros e limitados eleitores brasileiros. Porém, se não fossem estes “zeróis” de araque a nos governar, os eleitos teriam sido respectivamente Léo Moraes, Expedito Júnior e Fernando Haddad. Difícil saber qual a desgraça teria sido pior para nós, os governados.



*É Professor em Porto Velho.

sábado, 15 de junho de 2019

Lula e Moro culpados?


Lula e Moro culpados?


Professor Nazareno*


O processo torna-se ofensivo quando o juiz se torna inimigo do réu e nele procura o delito em vez da verdade dos fatos”, disse certa vez o aristocrata e intelectual italiano Cesare Beccaria. Esse pensamento pode se aplicar ao juiz Sérgio Moro, à Operação Lava-Jato e aos processos que levaram o ex-presidente Lula à prisão. Moro, hoje ministro da Justiça do Brasil, foi pego no erro e devia ter todas as suas decisões na Lava-Jato anuladas. Não se pode negar, no entanto, que essa Operação prestou relevantes serviços ao Brasil e aos brasileiros: desnudou grande parte da corrupção, prendeu várias autoridades, inclusive dois ex-presidentes da República e devolveu pelo menos dez bilhões de reais aos cofres públicos. O Brasil deve muito à Lava-Jato. A política no país pode muito bem ser divida em duas partes distintas: antes e depois dela.
O ex-presidente Lula “não é flor que se cheire”, muita gente sabe disto. Está preso em Curitiba acusado de corrupção e desmandos e foi condenado em vários outros processos. Pesa contra ele o fato de ter aparelhado o Estado para delinquir. Ele pode até não ter roubado de fato, mas deixou roubar e muito. Praticamente destruiu a Petrobras, foi um dos líderes do Mensalão, recebeu propinas de empreiteiras, prevaricou. Se tudo for devidamente comprovado, ele é culpado e não está preso à toa. Porém, a forma como tentaram provar tudo isto está totalmente sob suspeição. Flagrado por hackers em grampos telefônicos irregulares, o juiz Sérgio Moro foi “pego com a mão na botija”. O site Intercept Brasil com suas publicações a conta-gotas está desnudando por completo a grande farsa que foi esta operação. Moro é acusado de tramar a condenação do petista.
A operação Lava-Jato foi um exemplo de combate à corrupção para o mundo”, disse um juiz federal dos Estados Unidos. Ele disse ainda que o julgamento do Mensalão e a própria Lava-Jato deixaram para trás os tempos em que escândalos de corrupção política terminavam em pizza no Brasil. “Só que tudo deve ser feito dentro da lei”. Lula e Moro já foram dois “mitos” para os brasileiros. Um está preso e o outro sob os holofotes sendo acusado de ter feito coisa errada. O ex-juiz de Curitiba achincalhou a Justiça do Brasil ao combinar sentenças com o Ministério Público. Ele e o procurador Deltan Dallagnol não podem ser punidos, já que as provas foram obtidas de forma irregular, mas todas as suas decisões devem ser anuladas, uma vez que o processo que eles conduziram está todo viciado, dizem várias autoridades ouvidas sobre o escândalo.
Defender a transgressão da lei cometida seja por quem for é um absurdo. Isso em nome do que quer que seja é ir contra a própria lei”. Qualquer um pode e tem direito de odiar o PT e o Lula, mas no caso em questão, o mais grave é o ataque ao Estado Democrático de Direito e à Constituição do país feito por um juiz que, segundo a lei, devia ser imparcial. Se Lula é culpado, Sérgio Moro também é. Os dois cometeram crimes e agiram ao arrepio da lei. Nunca se deve opinar com o estômago, mas por meio do conhecimento. A regra é assim. Moro e Dallagnol fizeram injustiças para fazer justiça. Sendo injustos, neste caso é crime. E se Sérgio Moro “estuprou a legalidade” para se dar bem? Prendeu Lula e o tirou da corrida eleitoral abrindo caminho para Bolsonaro ser presidente. De ministro da Justiça, Moro seria ministro do STF. Só que Glenn Greenwald com sua “Vazajato” interrompeu a ambição do outrora poderoso juiz.




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 8 de junho de 2019

Rondônia, turismo brega


Rondônia, turismo brega

Professor Nazareno*

            Em Rondônia praticamente não existe turismo. E é até compreensível, pois em todo o Estado, não há nada que chame a atenção de quem quer que seja. As poucas belezas naturais que havia como a floresta amazônica, o rio Madeira e as cachoeiras de Santo Antônio e de Samuel foram dizimadas sem piedade pelo “progresso” instalado na região. A hidrelétrica de Santo Antônio, por exemplo, situada a poucos quilômetros da capital, aniquilou o que restava das duas "corredeiras" citadas. E como se não bastasse, o processo de destruição da flora e da fauna local continua a passos largos. Quem em sã consciência pagaria para ver natureza morta e destruição do meio ambiente? A EFMM, considerada por muitos como a “mãe de Rondônia”, foi estuprada  na enchente de 2014 e pelas sucessivas administrações a que foi submetida. Nada restou, só ferro velho.
            O cemitério de locomotivas é uma vergonha para Rondônia e para a sua gente. Mas agora, alguns saudosistas tentam restabelecer desnecessariamente o que nunca foi sucesso, o que nunca prestou, o que sempre envergonhou a todos. Dizem que a partir de então, o turismo vai voltar a encantar os rondonienses. Mentira, engodo, conversa fiada. Recuperaram uma locomotiva feia, ultrapassada, velha e enferrujada, batizaram-na de “litorina” e dizem que a mesma vai fazer passeios “lúdicos e culturais” com os turistas. “Me engana que eu gosto”. Aquilo é uma geringonça desajeitada que pode até transmitir tétano aos corajosos que conseguirem entrar nela. Isso sem falar que pode dar o prego se tentarem ligar aquilo por muito tempo. O trambolho inútil deve ter mais de cem anos e só por um milagre conseguirá andar pouquíssimos quilômetros com gente dentro dele.
            Curitiba tem uma litorina de verdade. Faz o trajeto entre a capital paranaense e a cidade de Morretes. O cenário é deslumbrante: a Serra do Mar com vista panorâmica para o pico do Marumbi. Lá não há a menor possibilidade de o turista pegar malária ou outras doenças tropicais típicas deste fim de mundo quente e úmido. A empresa Litorinas Serra Verde Express já oferece trens de luxo para os turistas. Conforto e acomodação é uma constante lá no Paraná. Também nas principais cidades da Europa, fazer turismo em modernos trens-bala é uma obrigação. Confortáveis trens climatizados encantam de tanta limpeza e organização. Em vários idiomas, inclusive o Português, o turista se delicia com tanto glamour e encanto. Você pode fazer o passeio tomando uma cerveja deliciosa ou vinho. Aqui nem cachaça ruim vão servir na “litorina de araque”.
            As pessoas envolvidas nesta tolice surreal deveriam parar com isto. Porto Velho precisa de um novo hospital de pronto-socorro, precisa de saneamento básico e de água tratada. Precisa de ruas mais limpas e asseadas. Calama precisa ter um médico e ninguém luta para isso. Rondônia precisa de uma universidade estadual. Ninguém está necessitando de coisas que só servem para nos envergonhar ainda mais. Como dizer para um parente que teve a coragem de nos visitar que aquilo é o suprassumo do turismo local? Seremos ridicularizados mais ainda. Chega de ponte escura que não tem serventia para nada. Chega de “açougue” imundo que só mata pobre. Chega de rodoviária velha e suja. Chega de porto que nunca funciona. Porém, se tivesse dinheiro sobrando, que fosse investido no turismo de verdade com trens novos e asseados, trilhos modernos e infraestrutura adequada, aí seria o correto. Porto Velho, vergonha nacional.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 2 de junho de 2019

Memórias de um “açougue”


Memórias de um “açougue


Professor Nazareno*

            
         Sou o “açougue” João Paulo Segundo da capital de Roraima. Inicialmente fui projetado para ser um pequeno hospital de uma firma, mas aos poucos minha função foi se adequando à realidade de uma cidade que não parava de crescer. Sempre cumpri a minha obrigação sem nenhum problema, mas a demanda que vinha para mim só aumentava e por isso fui aos poucos perdendo a minha capacidade de prestar bons serviços. Tenho 35 anos de existência e neste período muito pouco foi feito para minha melhoria. De início, atendia somente aos pacientes da Eletronorte, depois a coisa foi tomando as proporções de hoje. Estou em estado de penúria há muito tempo e não vejo nenhuma providência séria para resolver a minha triste sina. Primeiro, fui transformado em um “açougue” e logo após funcionei como um horroroso campo de concentração.
            Pouco tempo depois, fui elevado a “campo de extermínio de pobres”, função que exerço até hoje e nunca entendi por que o meu nome é uma homenagem a um homem quase santo. Em janeiro de 2011, bancada com dinheiro do próprio Estado, a poderosa TV Globo esteve comigo. Suas reportagens me escancararam, me expuseram, me desnudaram ao Brasil e ao mundo. Minhas mazelas foram enfim, denunciadas. Achei que daquele momento em diante teria todas as minhas feridas curadas. Mas me enganei. As coisas só pioraram para mim. O uso político de minha imagem é uma desgraça ainda maior do que a morte dos meus pacientes. Entra governo e sai governo e a minha sina continua. Só recebo as pessoas sem dinheiro, os despossuídos e pobres. Ricos em meus leitos só quando sofrem acidentes, mas logo são transferidos. Todos eles fogem de mim.
            Odeio a cidade onde moro. Ela não tem sequer um hospital de pronto socorro e quer que eu seja o seu eterno “quebra galho”. Por isso não exerço corretamente a minha faina. Aliás, a cidade onde me situo é uma porcaria só. Não tem esgoto sanitário, não tem água tratada nem a menor infraestrutura para ser uma cidade de verdade. O trânsito é caótico e a violência é uma rotina diária. Talvez por tudo isso é que tenho esta demanda tão grande. Durante as campanhas eleitorais acho bonito os candidatos falarem sobre mim. Suas soluções miraculosas, seus conselhos, suas promessas, suas mentiras. Mesmo assim, há quase quarenta anos estou padecendo e faço todos os meus pacientes padecerem também por causa da irresponsabilidade e do descaso desses mesmos políticos. Nunca salvei a vida de ninguém, mas apesar de tudo, já adiei muitas mortes.
            O meu sonho é ver um governador desse Estado, um prefeito da capital, um senador, um secretário de Estado, um deputado, um desembargador, um juiz, uma pessoa rica ou outra autoridade qualquer precisar dos meus serviços. Dificilmente vejo essa gente por aqui. Em todas as suas entrevistas muitos deles dizem que vão me substituir por que estou muito velho e imprestável. Depois se esquecem. Se fizerem isso, os desassistidos e os pobres terão vez, respeito e dignidade. Porém, como muitos dos poderosos querem distância dos pobres, é muito difícil acreditar nessa lorota. Essas mesmas autoridades constroem verdadeiros “palácios de mármore” na cidade e se esquecem de me substituir. Sempre estive situado na frente de engarrafamentos. Antes era pela manhã, agora é pela tarde. Acho que não tenho chances de me aposentar. Até quando durará esse meu tormento? Quando alguém me olhará e fará justiça aos pobres?




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

“Abaixo a Educação!”


Abaixo a Educação!


Professor Nazareno*

            O Brasil tem um dos piores sistemas de Educação do mundo. Aqui, no geral, um indivíduo passa doze anos frequentando uma escola e de lá sai semianalfabeto. Não domina as quatro operações básicas da Matemática, não consegue ler um pequeno texto e é incapaz de escrever qualquer coisa compreensível em língua pátria. Falar outro idioma além do seu, como muitos alunos na Europa, no Japão ou nos Estados Unidos, nem pensar. Parece que o antropólogo Darcy Ribeiro tinha razão quando dizia que “a crise na Educação do Brasil não era uma crise, mas um projeto”. Ou seja, a Educação deste país foi feita para não funcionar. E não funciona mesmo. Há mais de um século, os países desenvolvidos e civilizados do mundo adotaram o ensino integral em suas escolas. Por aqui isso ainda é um privilegio raríssimo que tem apenas fins politiqueiros.
            Como se esta tragédia nacional não bastasse, a população de um modo geral também não valoriza a Educação nem o saber. Aqui, raríssimas pessoas concluíram o Ensino Médio e se contam nos dedos os que têm um curso superior. Pós-graduação, Mestrado e Doutorado são mercadorias quase inexistentes numa sociedade que tem hoje mais de 210 milhões de pessoas. Os brasileiros em sua maioria não valorizam a Educação e os sucessivos governos sempre contribuíram para a piora desse vital setor. De direita ou de esquerda, em nenhum deles o saber, a leitura de mundo e a busca pelo conhecimento foi incentivada. O ex-presidente Lula, por exemplo, se gabava de ser um semianalfabeto. Ele dizia que não gostava de ler. Hoje temos no poder o senhor Jair Bolsonaro, que apesar de ter um curso superior, nada entende de Educação e de Cultura.
            Na primeira crise do atual governo, foi praticamente só a Educação que sofreu cortes, chamados marotamente de “contingenciamentos”. Por isso, alunos e professores saíram às ruas para protestar. As escolhas do “Mito” para gerenciar o Ministério da Educação não podiam ter sido piores. Primeiro foi um colombiano que nada entendia da pasta e sequer falava fluentemente a língua portuguesa. Agora é um sujeito enfezado, de nome alemão, que se diz seguidor do guru Olavo de Carvalho. E a tragédia na Educação piora a cada dia quando o governo coloca a ideologia como a inimiga do sistema educacional brasileiro. Impossível crer nesta bobagem: como alunos que não sabem ler nem escrever vão saber o que é ideologia? O professor agora virou o inimigo público número um dos lunáticos que estão governando o Brasil. O mantra: fora, professores!
            E o povão deve adorar essa inusitada “perseguição” aos mestres. Não terão que estudar nem ir à escola para enfadonhas e estressantes reuniões de país. De agora em diante, os eleitores dessa gente se contentarão com futebol, festas juninas, Carnaval e outras atividades “pouco” culturais. Para o atual governo e para muitos eleitores do “Mito”, investir em Educação é um desperdício de tempo e dinheiro. Veja-se, por exemplo, a atual situação dos alunos da zona rural e da área ribeirinha de Porto Velho. As autoridades locais não estão “nem aí” para o caos instalado. Em vez de livros e títulos, distribuem-se armas. Em vez de leitura de mundo e de conhecimentos, ensinam-se a submissão e a ignorância. Consequência: a violência, a desigualdade e o caos social só aumentarão. Por isso, nosso país patina na economia mundial e dessa forma será superado por nações emergentes bem mais pobres que nós como o Chile e a Argentina.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Nomes errados em Roraima


Nomes errados em Roraima


Professor Nazareno*


Já ouvi muita gente de respeito dizer que o Acre, o nosso querido Estado vizinho, não existe e que já deu muito prejuízo ao Brasil, pois fora trocado com os bolivianos por um pangaré reumático e desdentado. Seguindo esta lógica maluca, tenho certeza de que Rondônia também não existe. E se de fato existe, é uma espécie de “segunda pessoa do quase nada” dentro da realidade nacional. Parece que essa falta de lógica é um mal verificado no Brasil inteiro, porém com traços bem característicos nestas terras que muitos insistem em dizer que são de Rondon. Aqui, contradições e esquisitices são observadas em quase tudo. Sempre reclamei do nome estranho e às vezes engraçado de muitos comércios locais. Muitos deles retirados de latas de doce ou mesmo de bulas de remédios para lombriga. Assim, Porto Velho é capital de Roraima.
Rondônia tem 52 municípios e não 53 como acreditam muitos moradores de Extrema, após a desnecessária votação para emancipar aquele charmoso distrito. Cacoal é um deles. Uma linda cidade, mas com um nome errado. Cacaual seria o correto, assim consta em todos os dicionários da Língua Portuguesa. O nome equivocado também está escrito no brasão e na bandeira municipal. “Uma plantação considerável de cacaueiros, dispostos proximamente entre si” não é e nunca foi um Cacoal. Cacau para aqui, cacau para lá e o progressista município é a “Capital do Café”. Cafezal, então. Outro caso bisonho de erro acontece com Candeias do Jamari. Como todo mundo sabe, Jamari é um rio, só que está a mais de 20 quilômetros distante do centro desta cidade que é cortada e margeada, aí sim, pelo rio Candeias. Por que a linda e aconchegante Candeias é do Jamari se está ali bem ao lado do rio Candeias? Porto Velho não é do rio Negro...
Na área cultural, também é um desastre quando se deseja nomear algo em Rondônia. A sigla ou o nome da Universidade Federal de Rondônia, única universidade pública do Estado, é ironicamente, Unir. Não aparece a letra “F”, mas é federal, pois todos juram. Naquele ambiente que se diz “superior”, além de faltar uma letra no nome, pode faltar também muita união e competência. Ali funciona há tempos um curso de Medicina sem hospital universitário. Dizem que essa Unir já foi tão suja que mais se parecia com a cidade de Porto Velho. Já a Caerd, que ninguém sabe para que serve, uma vez que em Porto Velho não existe nem água tratada nem esgoto, deveria ser rebatizada para Caero já que a sigla de Rondônia é RO e não Rd. Há um aeroporto “internacional” que não faz um único voo para fora do Brasil. E a banda do lixo? Ora, “Vai quem quer”.
No comércio da capital a confusão continua, pois se algum fazendeiro ou agropecuarista quiser comprar algo para a sua fazenda ou o seu rebanho, não adianta ir a uma loja chamada Agroboi. Lá só se vendem materiais de construção. Sem ter um único pé de cacto ou de maracujá na cidade, as duas maiores festas folclóricas locais foram batizadas com estes nomes exóticos. A Catedral Metropolitana de Porto Velho se chama Sagrado Coração de Jesus, mas a padroeira é Nossa Senhora Auxiliadora. O marco inicial da cidade de Porto Velho está isolado, quase dentro do mato mesmo, entre um cemitério e uma barragem e num raio de sete quilômetros dele não há cidade alguma. A atual BR-319 era Avenida Jorge Teixeira e já foi Kennedy. E como o porto-velhense tem mania de grandeza, Alphaville tem uns três na cidade e todos são sujos e imundos.
Idaron, embora pareça masculino e inicie com a letra "I" de Instituto, é uma agência e está no feminino. A Idaron. Pode isso? A famosa e ex-badalada danceteria Papo de Esquina não se localiza em uma esquina.  Fica bem no meio da quadra. Deve ser por tudo isso que muitos brasileiros confundem Rondônia com Roraima. E já que o politicamente correto agora é chamar toda e qualquer favela de comunidade, entende-se por que o único nome adequado nesta confusão toda é o da nossa cidade: um porto muito velho mesmo situado num barranco sujo, íngreme, cheio de ratos, tapurus, lixo e muito fedorento que dá nome a esta capital. O mais conhecido hospital daqui é um “açougue”. Único lugar do Brasil onde político ladrão é amado pelo eleitor, Rondônia é o suprassumo da merda, um “cu de mundo” mesmo. E no feio sotaque local, Rondônia é “rondonha”. Agora estou confuso: será que o meu nome é mesmo Professor Nazareno? 





*É Professor em Porto Velho.

domingo, 26 de maio de 2019

O nosso futuro “MITO”


O nosso futuro “MITO


Professor Nazareno*

O governo de Jair Bolsonaro está há quase cinco meses no poder e a sua popularidade só diminui. Governo de lunáticos e despreparados, o que se vê é uma piada atrás da outra. Um governo falido e que não tem apresentado até agora nenhuma proposta para salvar o Brasil da eterna crise. Somente a reforma da previdência é que tem sido vendida como a “panaceia milagreira” que fará jorrar mel e leite das ruas. Mas a extrema-direita e a elite dirigente do país não estão muito preocupadas com mais este fracasso. Já têm até sucessor para o “Mito”: pode ser Sérgio Meneguelli, prefeito de Colatina no interior do Espírito Santo. Eleito pelo MDB, Meneguelli é seguido nas redes sociais por mais de um milhão de fãs. Loiro, jovem, de porte atlético e falante, o político capixaba tem a receita certa para enganar os eleitores trouxas e despolitizados.
Ele será com toda a certeza o próximo "Mito" do povo brasileiro. Um povo em sua maioria burro, idiota, leso, estúpido, semianalfabeto, ignorante, senso-comum e que vive uma eterna busca de seu salvador da pátria, de seu herói, de seu “Mito”. Primeiro foi Tancredo Neves, depois Fernando Collor, depois FHC, Lula, e Bolsonaro. Agora é esse prefeito de Colatina. O que ele faz de firulas e tolices, quase todos os políticos “espertos” e “interesseiros” do país já fazem e sempre fizeram normalmente. Não é nenhuma coisa anormal ou fora de série. É obrigação de todo homem público trabalhar. Cancelou o Carnaval da cidade e investiu o dinheiro na Educação. Aplausos! Foi fotografado na fila do SUS. Alegria geral! Viram-no recentemente pintando as ruas de sua cidade. Bravo! O povão vai ao delírio achando que se trata de um homem santo.
Até em Rondônia, cuja maioria de seu eleitorado também é semianalfabeta, idiota, burra e desqualificada, já tivemos vários mitos. Um deles foi o governador Jorge Teixeira. Gaúcho de nascimento, o Teixeirão é adorado nestas terras como se fosse um verdadeiro Deus. Preposto da Ditadura Militar em terras Karipunas, sequer foi enterrado em Rondônia. Outro “Mito” do povo daqui é o ex-prefeito Chiquilito Erse. “O melhor prefeito de Porto Velho de todos os tempos” dizem muitos porto-velhenses com a boca cheia, mesmo sem ele ter deixado nenhuma obra que justificasse essa adoração toda. Até o atual prefeito Hildon Chaves causou frenesi quando disse mentirosamente que ia beijar, abraçar e acariciar a “currutela fedida”. “Porto Velho, deixa eu cuidar de você”, disse sorrindo. O resultado desse carinho todo é uma administração triste, falida e pífia.
Mesmo sem saber como esse prefeito usa os recursos públicos em sua cidade, já fazem propaganda para o mesmo. Quanto se arrecada de impostos em Colatina? Quanto se gasta? Em que se gasta? Como se gasta? Ele é um bom gestor mesmo ou apenas usa essas “MACAQUICES” para ludibriar o povão abestado? Por que é o melhor prefeito? Concorreu com quem? Quais os pré-requisitos para ser de fato o melhor prefeito do país? Nada disso interessa. Ele é candidato a próximo "MITO" e pronto. “Acreditamos nele e votaremos nele”, afirmam muitos eleitores otários. As redes sociais e o Facebook não falam de outra coisa. Professores, intelectuais, e cidadãos comuns vão ao orgasmo quando veem postagens sobre ele. E a extrema-direita festeja, claro, mais esse “gosto” popular: já tem um substituto “à altura” para concorrer à Presidência do país em futuras eleições caso o atual “Mito” fracasse mesmo. E assim, o Brasil já fracassou de novo!



*É Professor em Porto Velho.

sábado, 25 de maio de 2019

Porto Velho, mal amada

foto JCARLOS
Porto Velho, mal amada


Professor Nazareno*

            Moro há quase quarenta anos em Porto Velho, capital de Roraima. E dentre muitas coisas, também descobri neste tempo que raríssimas pessoas têm amor por esta “currutela fedida”. Pior dentre as capitais do Brasil para se viver, a cidade sempre viveu o drama de não ter uma identidade própria como Manaus, Vilhena ou Rio Branco, por exemplo. Curva de rio e área de garimpo, o lugar abriga uma variedade de pseudoculturas, culinárias, sotaques e etnias que só contribuíram para descaracterizá-la como uma verdadeira capital. A azarada cidade nunca teve um de seus filhos para lhe administrar. Na área cultural, já se tentou de tudo para lhe impor uma identidade, mas as coisas fracassaram de forma retumbante. Expovel, Flor do Maracujá, futebol, Carnaval, nada aqui prospera. Agora estão tentando empurrar o rock como uma marca do lugar.
            Um tal de “Festival Boto Rock” é a radícula aposta da vez para se tirar a cidade do eterno marasmo cultural. Como as outras fracassadas tentativas, esta também não dará certo. Poucos rondonienses sabem o que é rock e muitos deles o confundem com toada de boi. E quem sairá de suas confortáveis cidades para vir a mais este engodo sem sentido? Música por aqui só se for as “baladas de cabaré” e as “músicas de corno”. Até uma banda local que entoava “Vinte graus e uma coberta” parece que se esfarelou por falta de outro sucesso “encomendado”.  Hoje quase não se ouve mais falar naqueles “jovens rondonienses que encantaram o Brasil e o mundo” com a sua linda melodia. Vir a Porto Velho é uma aventura tresloucada. As raras passagens aéreas são as mais caras e o lugar nada oferece de atrativo. Estamos muito longe dos verdadeiros festivais de rock.
            Como são incapazes de lutar por melhorias para a cidade, muitos políticos tentam “encher linguiça” com bizarrices inúteis. Em vez de lutarem para mandar médicos para os distritos mais distantes como Calama e Demarcação ou resolver o eterno problema do transporte escolar nas aéreas rurais, muitos dos vereadores lutam para restabelecer o passeio de “litorina” entre Porto Velho e a hidrelétrica de Santo Antônio. Além da possibilidade de contrair malária durante o fatídico passeio, nada há para se apreciar no lúgubre trajeto. Não há a menor emoção de se passear num arremedo de trem velho, enferrujado e sem higiene. Pelo menos duzentos anos deve ser a idade do trambolho que levará os “corajosos turistas” para se deliciarem com as destruições ambientais causadas pela hidrelétrica. E peixe morto pode-se ver no mercado mesmo.
            Até na culinária, Porto Velho é um desastre só. Não há um único restaurante na cidade que sirva a tradicional farinha amarela quando o peixe é o prato principal. Peixada de verdade só se degusta em Manaus ou em outra cidade amazônica. E com direito à farinha amarela e ao tucupi. Porto Velho não é Amazônia, não é Cerrado. Porto Velho não é nada. É uma cidade sem identidade, por isso devia ser extinta ou deixar de ser capital. Bombom de castanha ou de cupuaçu é a única iguaria autóctone que se vende por aqui. E em quase todos os confeitos, o único sabor que se “percebe” é somente o açúcar. O frio por aqui também é falso. Quando se anuncia uma friagem, os termômetros mal baixam dos 26 graus. Algumas pessoas, saudosas de sua terra natal, usam botas longas e casacos grossos sem se importar com o mau cheiro e o suor. Sem identidade, a cidade insiste em só eleger forâneos para lhe administrar. Mas até quando?




*É Professor em Porto Velho.