segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Realidades numa chuva de agonia



Realidades numa chuva de agonia

Professor Nazareno*

      Segunda-feira modorrenta de mais um novembro sem perspectivas, nublada e quente, eu ainda estressado depois de uma noite mal dormida por causa de enxames de carapanãs famintos por sangue e ainda com muitas redações para corrigir, resolvo dar uma voltinha pelas ruas fétidas da cidade. De repente, não mais que de repente, cai uma colossal chuva que mais se parece com o Dilúvio Universal. Durante mais de três horas seguidas, São Pedro, como se estivesse querendo se vingar não se sabe de quê ou de quem, “abre suas fartas e pouco santas torneiras” sobre a frágil aglomeração urbana sem dó nem piedade. É água jorrando sem controle por todo lado. Bueiros entupidos, ruas alagadas, água podre, fedorenta e contaminada invadindo casas e comércios, pessoas molhadas e ensopadas tentando se proteger do inevitável. O caos sem controle.
            Assim é, foi e sempre será a minha cidade: amaldiçoada em qualquer tipo de tempo. Um lamaçal só, apesar das promessas mentirosas feitas na última campanha eleitoral de acabarem com os nossos alagamentos tão frequentes e até já familiares. Ainda não choveu merda desta vez, como já é esperado há muito tempo por aqui, mas havia fartura do “indesejável produto humano” boiando no meio das ruas tomadas pela lama. Tapurus oriundos das poucas sarjetas competiam num fictício torneio urbano de natação com aranhas peçonhentas, enormes sapos cururus, lacraias, sanguessugas, ratos graúdos, baratas e muitas outras pragas. Ao lado de seres humanos, veem-se fossas cheias até o gargalho dando o tom catinguento à paisagem urbana de uma capital “sem eira nem beira” e completamente abandonada pelas suas autoridades de mentirinha.
            Deprimido com o cenário de guerra e desespero geral por causa do aguaceiro, quero sair daqui o mais depressa possível e me refugiar em outro inferno que seja mais ameno. Quero conhecer outros demônios que talvez sejam melhores do que os nossos políticos e administradores. Quero assistir no “maior teatro sem alvará do Brasil” a uma peça de humor nem que seja negro e que não me permitem. Quero passear à noite na ponte sem iluminação. Quero comer a farinha d’água que não foi subsidiada por essa ponte do Madeira. Quero, enfim, viajar até para fora do país a partir de um aeroporto que “é internacional, mas não é”. Serei obrigado a encarar a “decoração natalina” da cidade, a provável epidemia de dengue e outras doenças? Esperarei calado pelo novo escândalo na Câmara de Vereadores ou na Assembleia Legislativa do Estado?
            Enquanto isso, a chuva não para e as alagações continuam inclementes. Cachoeiras e mais cachoeiras de dejetos fazem o horroroso espetáculo pluvial. E entre as pessoas próximas à rodoviária da cidade e também nas principais ruas do centro, que esperam inutilmente a chuva passar, encontram-se mais bostas boiando e serpenteando entre lixos, crianças, homens, mulheres e monturos. A Rua da Beira, avermelhada de tanta lama, está afogada num rali de lodo, lama, imundícies e água contaminada. A desolação está pelos quatro cantos da capital. No entanto, viam-se inexplicavelmente muitas pessoas alegres e sorridentes como que festejando o resultado das últimas eleições no Estado ou se preparando para as votações de 2016 para prefeito da cidade. Indiferente a tudo e a todos, São Pedro continuará seu trabalho, mesmo que corpos desapareçam sob a água torrencial que nunca foi novidade para ninguém por aqui.



*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A cidade que pariu um demônio

 
A cidade que pariu um demônio

Professor Nazareno*

        São quase três horas da tarde e além do mormaço cotidiano, chove uma chuva miúda quando estou com o meu carro velho quebrado e atolado em plena área urbana de Porto Velho, a enlameada capital de Rondônia. Uma lama avermelhada, pegajosa e fedida teima em me desafiar ali na Rua da Beira próximo às carcaças de um dos inúmeros viadutos inacabados. Azar: já estressado e a “minha lata velha” resolve me abandonar. Talvez copiando o que as autoridades estão fazendo com este arremedo de cidade. “Um dia, a conclusão desta rua será realidade para os contribuintes que diariamente por ali passam”, comentam desolados alguns transeuntes. “Os viadutos também serão terminados, só que iniciarão a sua penosa reconstrução no dia 15 de novembro, um sábado e feriado nacional”, afirmam outros, rindo em tom de deboche.
         Como se vivêssemos em um inferno premeditado, os moradores de Porto Velho só têm agonia feito sapo. Enquanto não chega um mecânico para me tirar do “prego”, fico me perguntando, por exemplo, quando vão terminar o Espaço Alternativo da cidade e se vão replantar as quase duas mil mudas de árvores, algumas frutíferas, que retiraram de lá? Ainda convalescendo dos problemas respiratórios e da rinite alérgica que me fizeram piorar no último verão da cidade quando respirei fumaça e poeira de esgotos, não vejo a hora de ter um lugar para poder caminhar e fazer exercícios ao ar livre sem o calor sufocante do cimento e do asfalto refletidos. E se não fosse a escuridão demoníaca da ponte sobre o Madeira, à noite podia-se passear sobre ela para contemplar o que ainda resta do abandonado lugar escolhido para ser a capital de um Estado.
            Se as instalações da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e os seus arredores não estivessem ainda abandonados, cheios de fezes humanas, ratos e urubus após mais de oito meses da enchente histórica do rio Madeira, aquele inóspito lugar poderia servir de refúgio para os mais depressivos. Lá, podíamos pensar por que o Dr. Mauro Nazif, que é aclamado como o atual prefeito da cidade, será reeleito em 2016 para mais um mandato de quatro anos à frente do município. “Esse prefeito é um dos melhores que a cidade já teve”, dirão algumas pessoas. “Vocês ainda não viram os que virão pela frente”, profetizarão outros. Realmente, basta no último ano de mandato começar a trabalhar de verdade que muitos eleitores otários ficarão encantados e o reelegerão na certa. Só está faltando ele “usar um blog” para administrar os portovelhenses.
          Porém, a nossa Câmara de Vereadores acha que ele está administrando muito bem a cidade e jamais vai lhe apear do cargo. Porto Velho está na iminência de sofrer uma mega epidemia de Dengue e de Febre Chikungunya e muitos de nós sofreremos sem poder sair daqui. Eu, por exemplo, estou com o carro quebrado, não aguento viajar de ônibus e as passagens aéreas, quando aparecem, estão muito caras. Além do mais, nenhum dos meus leitores que prometerem outra vez pagar a minha saída daqui cumpriu com a promessa. Parece que nem Papai Noel, o velho maldito, vai aparecer. Conclusão: O diabo estuprou Porto Velho e a abandonou à própria sorte, sangrando e com dores. Nesta época do ano, quem pode procura a civilização e evita ver as horrorosas decorações natalinas da “capital da podridão e da carniça”. Enquanto o mecânico não chega, imagino que esta cidade só pode ter parido um demônio. Ou foi parida por ele?





*É Professor em Porto Velho.
 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O tempo dos brasileiros sem tempo




O tempo dos brasileiros sem tempo

Professor Nazareno* 
            
             Dentre os muitos defeitos que nós brasileiros temos um chama a atenção e intriga povos de outras partes do mundo: não conseguimos respeitar o horário que marcamos para os nossos compromissos. Diferentes dos cidadãos que moram nos países civilizados do planeta, muitos conterrâneos nossos têm o esquisito costume de chegar atrasados ou simplesmente, e sem desculpas convincentes, nem aparecerem. Como raríssima ilha de exceção, no ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, assim como em outros concursos públicos, o horário de início das provas é sagrado. Chegou atrasado, está eliminado. Já estão ficando antológicas as cenas espalhadas pelo Brasil de candidatos correndo desesperadamente para não perderem o que não planejaram com antecedência. Nestes casos geralmente o motorista do ônibus é que leva toda a culpa.
         Na Inglaterra temos o famoso “horário britânico”, mas não são somente os súditos da rainha que têm o privilégio de conviver com esta civilidade. Japoneses, norte-americanos e europeus de um modo geral são pontualíssimos em seus compromissos. O transporte coletivo em Munique na Alemanha, por exemplo, tem cronômetro com contagem regressiva em todas as paradas. Não atrasa um. Zerou a contagem, está lá o trem ou o ônibus. Além da limpeza, do conforto, da segurança, da pontualidade e da comodidade, os japoneses enfrentam sempre com bom humor a mobilidade urbana em Tóquio, capital do país e maior metrópole do mundo. Por lá não há a desculpa infantil de que o ônibus atrasou para chegar ao trabalho ou à escola depois da hora habitual. Nestes países, geralmente se chega 10 ou 20 minutos antes de qualquer compromisso.
            E o pior é que nem nas nossas escolas, que podiam e deviam dar o exemplo, a pontualidade é regra. Todos os dias, durante o ano inteiro, alguns alunos dos três turnos sempre chegam atrasados para as primeiras aulas. Ninguém é punido e a tragédia se repete dia após dia todos os anos. Nosso transporte coletivo é uma desgraça só. Respeitar a hora por aqui é coisa de outro mundo. Em Porto Velho, o Interbairros deve ser o campeão de atrasos. Nossos horários geralmente são marcados com a hora exata e ainda assim, marcam-se os compromissos às 10 horas para se começar às 11 ou depois. Festas de aniversários, casamentos ou confraternizações geralmente são marcadas “para depois das três ou quatro horas da tarde”. Na Europa, muitos compromissos são marcados com a hora “quebrada”: o trem das 13h47min passa exatamente às 13 e 47.
       No Brasil, a desorganização e a irresponsabilidade são regras em quase todos os setores. Por isso, sofremos muito quando visitamos a Europa, o Japão ou os Estados Unidos. Geralmente não respeitamos filas, falamos alto e sempre apelamos para o medieval “jeitinho brasileiro”, que é repudiado mundo afora. Brasileiro devia ser proibido de visitar lugares civilizados e desenvolvidos sem antes fazer um curso intensivo de boas maneiras e civilidade. Até o horário de verão contribui para esta anormalidade. O Jornal Nacional da Rede Globo, por exemplo, é exibido às 20 e trinta no horário de Brasília, mas em Porto Velho é exibido com atraso de apenas uma hora em vez de duas. Com parabólica, se quiser eu assisto duas vezes por dia à mesma programação. Aqui há atrasos em rodoviários, portos e aeroportos e mudam-se datas de feriados a bel prazer. Deve ser por isso que o mundo civilizado não nos leva a sério.



*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Porto Velho em festa: Nazif continua




Porto Velho em festa: Nazif continua

Professor Nazareno* 
         
         Porto Velho, a limpa, asseada e bem administrada capital de Rondônia só pode ser um lugar abençoado. Diante da enxurrada de notícias ruins na área da política, tanto neste Estado como no Brasil, a nossa cidade não podia ter contribuído com a democracia de forma tão otimista e alvissareira. O atual prefeito, Dr. Mauro Nazif, graças a Deus, vai continuar a nos administrar no mínimo por mais de dois anos. A Câmara de Vereadores da cidade não conseguiu afastar este grande líder do lugar que lhe fora destinado por Deus para comandar os portovelhenses. A cidade esteve em festa. Carros buzinando pelas ruas, crianças cantando alegremente, cidadãos fazendo coraçõezinhos com as mãos, pessoas alegres se confraternizando. Alegria total. Esse era o espírito que se via na cidade quando os vereadores selaram o destino do Dr. Mauro.
          Não há como entender o porquê desta verdadeira perseguição contra este eminente líder. Porto Velho mudou em tudo depois que ele assumiu a Prefeitura da cidade. Só não vê quem não quer. Eleito com mais de 140 mil votos, a cabeça de Mauro Nazif é uma verdadeira usina de ideias urbanísticas. Em qualquer recanto da cidade vê-se a inconfundível marca deste notório homem público. Porto Velho pode ser dividido em duas etapas: antes e depois do Dr. Mauro. Prometeu e combateu ferozmente as alagações. Hoje chuva por aqui é sinônimo de alegria e satisfação. No inverno rigoroso, andar pelas ruas e avenidas de Porto Velho se tornou um verdadeiro lazer. No verão, poeira quase não há. Com arrojo e muita competência, Nazif transformou o trânsito da cidade. A iluminação por aqui é tão intensa que à noite temos que usar óculos escuros.
          Hábil e talentoso, o Dr. Mauro não se abateu nem com as intempéries da natureza. Durante a enchente histórica do rio Madeira, por exemplo, ele comandou como um abnegado líder que é, todos os problemas existentes. Do Abunã, na fronteira com a Bolívia até o Maici, divisa com o Amazonas, há a marca deste fenomenal político. Decidido, vai reconstruir todas as vilas e distritos afetados pela catástrofe. Nestes lugares, as populações lhe veneram como a um verdadeiro deus. Nazif hoje deve ter uns 99,9 % de aprovação popular. Claro que haverá sempre alguém do contra. Algum idiota despolitizado que não quer perceber o óbvio: sem ele, Porto Velho sucumbiria para sempre. Por isso sua reeleição é quase certa. Telúrico, se quisesse seria um líder nacional ou internacional em qualquer área. Só fica aqui por amor a esta terra.
           Além de ter arborizado a cidade e inovado em todas as áreas, o Dr. Mauro nos devolveu a alegria e o prazer de sermos moradores de Porto Velho. Talvez ele nunca tenha visitado as capitais da Europa, mas como transformou isto aqui em uma verdadeira cidade do velho continente? Só pode ser um homem de ampla visão. Porto Velho e Rondônia deveriam ser-lhe gratos: por que não colocar o seu nome na nova ponte? “Ponte Dr. Mauro Nazif”. Seu nome também no teatro e nas principais ruas e avenidas da cidade. Aliás, Porto Velho devia se chamar “NAZIFÓPOLIS”. O sobrenome Nazif seria pouco para nomear tantos lugares. E ele fez e faz por merecer tudo isto, claro. A Câmara de Vereadores deve repensar sua postura diante de tanta aprovação do nosso prefeito. Gostaria de dizer aos vereadores que votaram pelo afastamento do Dr. Mauro que isso é uma injustiça, afinal de contas ele nunca fez nada.



*É Professor em Porto Velho.