quarta-feira, 28 de maio de 2025

Marina Silva, o bode da BR-319

Marina Silva, o bode da BR-319

 

Professor Nazareno*

 

            A Rodovia Álvaro Maia, que liga Porto Velho, capital de Roraima, ao Careiro da Várzea, cidade amazonense próxima a Manaus, voltou mais uma vez ao debate nacional no Senado. Só que dessa vez de maneira lacônica e muito infeliz. Marina Silva, a ministra do Meio Ambiente, que é o bode expiatório da referida BR, foi covardemente agredida por parlamentares bolsonaristas e também governistas, como o senador do Amazonas Omar Aziz. Todos os agressores fizeram ataques misóginos e machistas contra a ministra. Acusaram-na, sem provas, de impedir a reconstrução da BR-319 e não levaram sequer em conta o fato de que Marina Silva deixou o governo Lula ainda em 2008 e só voltou agora em 2023. Por que durante todo esse período de quase duas décadas não asfaltaram a velha estrada? Só Jair Bolsonaro governou o Brasil durante 4 anos. Temer, quase 3 anos.

            O senador bolsonarista Marcos Rogério de Rondônia, conhecido como o “Pit Bull” do Bolsonaro, mandou sem meias-palavras, a assustada ministra ficar no seu lugar. “Ponha-se no teu lugar” disse ele. Errou não só a gramática normativa, já que misturou as pessoas dos pronomes usados, como foi grosseiro, mal-educado e misógino. Isso é postura de um senador da República? Já o senador Plínio Valério do PSDB do Amazonas disse naquele triste momento que “respeita a mulher, mas não a ministra”. Valério, em um pronunciamento anterior, já havia falado em “enforcar” a coitada da acreana. Marina Silva é mulher, negra e de origem pobre. Mas não se intimidou ali. Após ser destratada e desrespeitada como mulher e como ministra, ela se retirou da sessão. Ela luta como uma leoa pela natureza do Brasil, função aliás de uma verdadeira ministra de meio ambiente.

Diferente do ex-ministro de Bolsonaro, Ricardo Salles, que disse em uma reunião ministerial que era “hora de passar a boiada” numa clara alusão a desrespeitar o meio ambiente e a natureza, já que a mídia e a sociedade naquela época estavam focadas na pandemia de Covid-19. Marina Silva pode até não querer recuperar a rodovia BR-319, mas são os próprios amazonenses que demonstram isso o tempo todo. Eles gastaram mais de 1,3 bilhão de reais em dinheiro de 2010 só para construir uma ponte no rio Negro que liga “o nada a coisa alguma”. Desde quando a vila do Cacau Pirera e Iranduba têm toda essa importância? Se queriam mesmo sair do isolamento, os manauaras deviam ter feito essa mesma ponte ligando Manaus à BR Álvaro Maia e assim forçar o seu asfaltamento. Além do mais, a estrada já existia e por que deixaram ela se acabar e não a preservaram?

Marina Silva está corretíssima! Ela tem mais é que proibir mesmo o garimpo assassino no rio Madeira e também em outros rios da Amazônia e tem que barrar também a construção dessa BR assassina. Asfaltar a 319 entre Manaus e Porto Velho decretará o fim da Amazônia para sempre. É como disse o próprio senador Omar Aziz: “eu quero a BR-319 para poder passear nela, eu tenho esse direito”. E vai ser só para isso que a velha estrada vai servir e para mais nada: passear. Grileiros, madeireiros, invasores de terra, posseiros, desmatadores e afins vão destruir o que ainda resta de preservação ambiental. Vejam o exemplo da BR-364 no início da década de 1980. Por causa dela criaram Rondônia, um dos maiores desastres ambientais da história da humanidade. O que é que esse Estado dá de bom ao Brasil? Qual exemplo que a terra Karipuna tem dado ao futuro? Só se for políticos misóginos, machistas e bolsonaristas. E já chega disso, né?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 25 de maio de 2025

O tambaqui não será extinto!

O tambaqui não será extinto!

 

Professor Nazareno*

 

              O tambaqui é um peixe muito apreciado em Rondônia e também em muitas outras regiões da Amazônia. Existem “duas espécies” desse peixe: o nativo, que habitava abundantemente os rios amazônicos, e aquele que é criado em cativeiro. Os dois são muito deliciosos e têm sabores muito diferentes que só quem nasceu aqui consegue distinguir. Rondônia é um dos maiores produtores do tambaqui em cativeiro e já exporta essa iguaria para outros estados do Brasil e também para alguns países. Recentemente o Ministério da Pesca e Aquicultura alertou sobre a possibilidade de que o tambaqui nativo estaria em extinção. O que chega a ser uma verdade, pois para se pescar hoje um tambaqui na natureza é a coisa mais difícil do mundo. Esse peixe praticamente desapareceu do rio Madeira e também de outros rios da Amazônia. Nos mercados quase não se vê o pescado.

              O governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, que é natural da cidade do Rio de Janeiro, ficou enfurecido com a nota do Ministério da Pesca sobre a extinção do peixe, visto que Rondônia é talvez o maior produtor nacional do tambaqui em cativeiro. São, portanto, dois peixes bem “diferentes”. O governador, com pouco ou nenhum conhecimento sobre a Amazônia, confundiu as duas espécies em questão. Fez vídeos e publicou nas redes sociais o seu protesto dizendo que isso seria uma “jogada” das autoridades para turbinar a venda da tilápia, outra espécie também criada em cativeiro. Eufórico e esbravejando, o mandatário bolsonarista disse que “o tambaqui cria milhares de empregos no Estado e que tudo isso é mentira, ele não está em extinção”. Só que quem cria esses empregos não é o tambaqui nativo, mas aquele que é criado em cativeiro.

              Alguém ou algum assessor com o mínimo conhecimento de Ictiologia tinha de dizer ao governador qual é a realidade dos tambaquis daqui. Talvez ele entendesse. E dizer-lhe também que quem está em fase de extinção em Rondônia principalmente é a decência na política. Aqui neste fim de mundo, não se pode sequer agendar para se tirar uma simples carteira de identidade. É a competência em extinção a olhos vistos nos serviços públicos do Estado. Hospital de pronto-socorro na capital de Rondônia, onde mora Marcos Rocha e família, é algo que já foi extinto há muito tempo. Foi extinta também a vontade política de se construir um hospital público decente para o povo pobre desse Estado. Por que será que o governador não viu a extinção total da limpeza, da água tratada, do saneamento, do IDH e da arborização na capital desse Estado que ele governa?

              Eu diria também ao governador que o bolsonarismo dele será extinto em breve com a prisão de Jair Bolsonaro pelo STF. Abriria seus olhos para os votos da esquerda que existem em Rondônia e em Porto Velho e que são esses mesmos votos que decidem qualquer eleição. Logo, dizer que a esquerda está extinta em Rondônia é mais uma falácia. Porém, jamais perderia o meu tempo tentando lhe explicar as diferenças existentes entre o tambaqui criado em cativeiro e o tambaqui nativo. Como uma espécie manuseada geneticamente para se reproduzir aos milhões pode entrar em uma lista de animais em extinção? Quem será extinto em breve, governador, será o cidadão pobre de Rondônia, que sem hospital público vai morrer à míngua. Marcos Rocha confunde administração transparente com traz parente e tomara que ele também não confunda Rondônia com Roraima. Isso seria o seu fim na política e os rondonienses poderiam odiá-lo para sempre.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

“Não há vagas disponíveis”

“Não há vagas disponíveis”

 

Professor Nazareno*

 

      Se você quiser tirar a sua carteira de identidade ou simplesmente substituí-la porque a sua já está “velha e vencida” vai se deparar com esta vergonhosa frase no site que o Governo do Estado de Rondônia disponibiliza para o agendamento. Há quase seis meses que venho inutilmente tentado agendar nesse site para trocar a minha cédula de identificação e não consigo lograr nenhum êxito. Não há vagas disponíveis, assim como também pode não haver boa vontade das autoridades para prestar um serviço melhor aos seus cidadãos. E pior: praticamente ninguém, nenhuma autoridade constituída deste Estado se mostra preocupada com essa situação caótica que já perdura por anos a fio. A última vez que eu tirei esse meu documento foi no distante ano de 1985, quando Rondônia ainda era uma província atrasada e cujo governador do Estado era o Sr. Ângelo Angelim.

            Naquela distante época não havia internet nem os recursos que se dispõem hoje em dia com a tecnologia de ponta dominando as pessoas. O mês era junho de 1985 e eu fui à Secretaria de Segurança Pública solicitar o documento. Gastei exatos 16 dias e já estava com o documento em mãos. Fiquei horrorizado, pois tive que sujar as minhas digitais de tinta preta e que me deu um trabalhão para limpar. Como a tecnologia era muito obsoleta, não reclamei muito, pois sabia que novos métodos seriam criados para melhorar a vida de todos nós que moramos neste Estado. Chegaram os bits, as telas, os algoritmos, os sites, os influencers digitais, o ZAP, os computadores de última geração e a Internet, que tudo vê e tudo faz. Mas o trabalho de se tirar uma simples cédula de identidade em Rondônia não avançou nada com essas novas tecnologias. Tudo só piorou.

            O pior é que não se sabe de quem é a culpa por este atraso absurdo. Seria da Secretaria de Segurança Pública do Estado, a atual Sesdec, Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania? Seria do govenador Marcos Rocha? Dos deputados estaduais, dos deputados federais, dos três senadores de Rondônia ou da Assembleia Legislativa do Estado? Em Rondônia existe um Ministério Público do Estado, um Ministério Público Federal e também infinitas outras repartições públicas que zelam pelos interesses dos cidadãos. Será que ninguém percebeu este descaso? Bem, estamos em Rondônia onde em cuja capital sequer existe um hospital de pronto-socorro decente. O caso do “Built to Suit”, por exemplo, já foi esquecido e até hoje ninguém foi preso ou punido. E o povo pobre de Rondônia continua calado e se servindo do velho “açougue”.

            Tirar uma carteira de identidade em Rondônia no governo de Ângelo Angelim era rápido e até prático. No governo dele e antes também. E assim se seguiu em algumas administrações posteriores. Não sei exatamente o que se passa no atual mandato do coronel Marcos Rocha. Não existe oposição neste Estado para encampar esta briga? Por que a classe política não se mobiliza para resolver este pequeno problema? Há falta de funcionários ou é só mesmo um problema de gestão? Estamos praticamente às vésperas de mais um ano de eleições e alguns dos futuros candidatos já estão no páreo prometendo “mundos e fundos” aos tolos eleitores. Se para votar fosse exigida a carteira de identidade, certamente a classe política já tinha se mobilizado para resolver o caos. São muitas as pessoas espalhadas por todas as cidades do Estado de Rondônia que hoje estão enfrentando esta humilhante Via Crucis. Governador Marcos Rocha, o senhor sabe disto?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Um Estado sem Identidade

Um Estado sem Identidade

 

Professor Nazareno*

 

            Assim sempre foi o Estado de Rondônia, a “nova estrela no azul da União”, a terra dos “destemidos pioneiros” e também das “sentinelas avançadas”. Talvez mais de oitenta por cento dos brasileiros certamente cofundem Rondônia com Roraima. Os outros vinte por cento sequer sabem qual é a sua capital e em qual região do país se localiza. E não é só por desconhecimento da Geografia, não! É devido principalmente a pouca ou a nenhuma importância que este longe, pobre e incivilizado estado da federação tem no já triste e conturbado contexto nacional. Aqui se tem a passagem aérea mais cara de todo o Brasil. No acanhado campo de pouso da capital, que pomposamente lhe chamam de aeroporto internacional, quase não há voos para outras capitais do país. A medicina local é fraquíssima e o Estado não tem sequer um pronto-socorro para atender os seus cidadãos.

            A precariedade absurda também é verificada nos serviços que o próprio Estado diz que oferece aos seus coitados pagadores de impostos. Há alguns anos que para se tirar uma simples carteira de identidade em Porto Velho, o cidadão comum precisa antes fazer uma espécie de “estágio no inferno”. Não é de hoje que eu inventei de trocar a minha cédula de identidade, pois me disseram que ela já estava vencida, como se fosse um medicamento ou alguma espécie de alimento para se comer. Então, fui à luta. Chegando ao Tudo Aqui no Porto Velho Shopping, descobri que o nome mais correto para esta grandiosa repartição púbica deveria ser Nada Aqui. Os simpáticos, probos e atenciosos servidores púbicos que me atenderam disseram que eu precisava de alguns documentos e que o agendamento poderia ser feito em casa mesmo ou até no meu velho telefone celular.

            Em casa liguei o meu ocioso computador para fazer esse tal agendamento, mas as decepções e os obstáculos que surgiram começaram a me atormentar. Quando abri o link que educadamente me forneceram, apareceu uma página com os dizeres escritos em caixa alta: Agendamento para Emissão de Carteira de Identidade Civil. Eu pensei: Primeiro Mundo. Só que o agendamento só começaria a partir do meio dia e meia. E eram ainda umas nove horas da manhã. Pacientemente esperei. Chegando o horário indicado, o link mandava eu selecionar uma localização de uma lista. Só que em muitas das localidades listadas a disponibilidade dizia que não havia vagas disponíveis. Para Porto Velho, claro, nenhuma vaga. Vi vagas só disponíveis para Cerejeiras e Costa Marques, cidades a quase 800 quilômetros daqui. Repeti a operação por mais de 30 dias seguidos e até agora nada.

            Não sei ainda o porquê dessa verdadeira Via Crucis para se tirar um simples documento de identidade em Porto Velho, capital de Roraima. Os candidatos para governador e para deputados e senadores, que já estão se preparando para fazer as costumeiras promessas de campanha eleitoral no próximo ano, deveriam colocar mais esta no rol de suas mentiras. “Prometo, se for eleito, viabilizar o agendamento e a retirada da nova Carteira de Identidade para todos os cidadãos que quiserem. Em oito dias, sua identidade será realidade”, deverão dizer nos seus discursos em 2026. Só que com tanta dificuldade assim, eu estou igual a Rondônia: sem identidade. E tenho a certeza de que não é que estão criando dificuldades para vender facilidades. Os funcionários públicos de Rondônia e todas as suas autoridades são pessoas honestas e trabalhadoras. Todos querem o bem de todo mundo. Alguém sabe de algum conhecido seu que trabalha no Tudo Aqui?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Governos que envergonham!

Governos que envergonham!

 

Professor Nazareno*

           

     O jornalista e crítico social norte-americano Henry Louis Mencken, afirmou certa vez que “todo ser humano decente devia se envergonhar do governo que tem”. Já se passou mais de um século dessa afirmação e mesmo hoje em dia, mais do que nunca, essa veracidade é observada normalmente em quase todos os governos espalhados pelo mundo. No Brasil, a vergonha que grande parte de nossos cidadãos eleitores têm de seus governantes vem desde a época da Colônia, passando pelo Império e, claro, até na República. Óbvio que existem eleitores que endeusam seus representantes, mas apenas por que têm a certeza de que terão algum benefício depois. Na última eleição presidencial, por exemplo, milhões de brasileiros votaram em dois “caras” cheios de defeitos e de erros, mas que para o eleitor comum eles significavam um tipo de reencarnação de Deus.

  Lula, ex-presidiário e envolvido em inúmeros casos de maracutaias, de propinas e de corrupção explícita, estava preso em Curitiba já havia quase dois anos. Mas saiu da cadeia direto para o Palácio do Planalto. E pior: para nos governar. É o nosso atual presidente, pois recebeu mais de 60 milhões de votos dos seus eleitores que, juntos ao seu “herói”, comemoraram a vitória efusivamente. Os únicos que se envergonham de Luiz Inácio Lula da Silva são os seus opositores, que votaram na outra triste e vergonhosa opção: Jair Messias Bolsonaro. Como cada eleição é uma espécie de “leilão antecipado de bens roubados da própria população”, durante a fatídica presidência de Bolsonaro lhe apelidaram de “Mito”. E sem nenhuma vergonha na cara, muitos de seus aduladores nem desconfiaram de que “um bom político é algo tão impensável quanto um ladrão honesto”.

   Em Brasília, ainda fazem parte do governo federal o Poder Legislativo com a Câmara Federal e o Senado, que dispensam quaisquer comentários otimistas, e o Poder Judiciário com o STF, Supremo Tribunal Federal, e muitos outros órgãos, que nem é bom tecer qualquer opinião a respeito deles. Dessa maneira, não há como um cidadão honrado e cumpridor de suas obrigações não se sentir envergonhado pelo governo que tem. Em Rondônia, uma província pobre, atrasada e incivilizada do país, a situação tende a ser muito pior. E de fato é. O atual governador de Rondônia é um coronel da PM. Seguidor e admirador do “Mito”, que será preso pela tentativa de dar um golpe, ele tem uma administração pífia que é um fracasso só. Prometeu construir um novo hospital de pronto-socorro para a capital e fracassou redondamente. Era o “Built to Suit”, que deu em nada.

  Porém, muitos rondonienses não se envergonham desse coronel. Pelo contrário: prometem que vão elegê-lo para qualquer cargo depois que ele deixar de ser governador. Realmente, “a democracia é a crença patética na sabedoria da ignorância individual. Uma espécie de adoração de lobos famintos por burros”. Em Rondônia existem também a Assembleia Legislativa e alguns tribunais do Judiciário que fazem parte do governo provincial. Será que alguém não se envergonha do que têm feito os deputados estaduais de Rondônia? Em Porto Velho, a suja e fedorenta capital, o governo é o prefeito junto à Câmara de Vereadores. Léo Moraes se elegeu, mas usa de forma vergonhosa a internet e a mídia para fazer propaganda de si mesmo. Já muitos dos vereadores só envergonham o tosco eleitorado.  Estou envergonhado, pois “se um político soubesse que havia canibais entre seus eleitores, lhes prometia missionários, como padres e pastores, para o jantar”.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.