Viena é uma
porcaria
Professor
Nazareno*
Viena, a charmosa
capital da Áustria, é há vários anos considerada a melhor cidade do mundo para
se viver. O seu alto IDH superou todas as outras cidades do mundo como Zurique na
Suíça, Munique na Alemanha, Auckland na Nova Zelândia e Vancouver no Canadá.
Com aproximadamente dois milhões de habitantes, do tamanho de Manaus no
Amazonas, e com tudo funcionando dentro do planejado, a capital dos austríacos
é um verdadeiro jardim a céu aberto. Flores de todos os tipos e variedades
enfeitam suas ruas e praças. Com excelente mobilidade urbana, cem por cento de
água tratada e de saneamento básico e praticamente violência zero, a vida na
cidade se tornou uma rotina de prazer e encantamento. Porém, fazendo-se uma
comparação com Porto Velho, percebe-se que em vários itens a suja e fedorenta
capital de Roraima é melhor.
Dificilmente um sujeito nascido em
Porto Velho se adaptaria a esta badalada capital europeia. Viena não tem lixo
nem sujeira em suas ruas, que se parecem com um shopping center de tão limpas,
perfumadas e asseadas. E quase não há lixeiras espalhadas por lá. Desde quando
um rondoniense autêntico colocaria o seu próprio lixo em uma sacola trazida de
casa? E o emprego dos catadores dos nossos dejetos, como ficaria garantido?
Assim como Porto Velho, Viena tem também um grande rio que lhe banha. É o
Danúbio. Nas suas limpas e asseadas margens, orquestras de música clássica
encantam os turistas com concertos diários. O velho e já estuprado Madeira, com
suas águas barrentas e o lixo boiando em seu leito brocha qualquer turista que
se aventure a conhecê-lo. Aqui só o triste e decadente passeio de barquinho com
funk e música brega.
Mas em Viena não se dança nem se
rebola como aqui. Cantar alto lá, gritar, espernear e cair de bêbado nem pensar
em fazer, enquanto aqui a autenticidade dos foliões brota à flor da pele. A
espontaneidade matuta misturada à catinga de suor e de perfume barato encanta
os mais sisudos. Funk e músicas de puteiro de quinta categoria no volume máximo
chegam a tremer até as águas pútridas do velho Madeira e funcionam como uma
espécie de “dança de acasalamento”
entre aqueles frequentadores pobres. Em Viena não se pode fazer nada disso. Até
porque ninguém dança música clássica. Beethoven, Bach, Strauss e Mozart com
suas bonitas baladas no máximo arrancam aplausos dos educados e atentos
ouvintes. Além disso, peixe frito com farinha de mandioca e molho de pimenta
jamais seriam servidos como tira-gosto na Áustria.
Até as autoridades austríacas são
diferentes das de Porto Velho. Lá ninguém contrata tantos comissionados como
aqui. Qualquer vilazinha austríaca tem médico e todo tipo de profissional. E
duvido que o prefeito de Viena tenha mentido nas eleições dizendo que iria
beijar, acariciar e amar a cidade. Ainda assim, o político daqui é amado e
adorado pelos eleitores, ao contrário da Áustria, onde a extrema direita
avança. Quem mora em Viena, por exemplo, nunca viveu a emoção de ter sido
assaltado por dois sujeitos montados em uma moto. Ônibus e trens são tudo na
hora certa. É um saco. Duvido que num bar se peça a saideira se já chegou a
hora de fechar o estabelecimento. Mozart é a decadente cultura austríaca com
suas inúmeras óperas, teatros e museus. Nem se compara com o Mercado Cultural, o
inútil Palácio das Artes, o Banzeiros e os expoentes da nossa cultura de boteco.
Seja esperto e culto: prefira Porto Velho a Viena.
*É
Professor em Porto Velho.
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