Como
eu queria gostar de Rondônia
Professor
Nazareno*
Sei que muitas vezes sou mal
interpretado quando produzo textos mostrando os inúmeros problemas enfrentados
por Porto Velho, Rondônia e sua gente. Muitas pessoas ficam irritadas e mal
humoradas quando leem o que escrevo. Às vezes tenho certeza de que se me
conhecessem e me encontrassem, talvez chegassem “às vias de fato”
comigo. E eu não tiro a razão de ninguém: afinal somos todos criados e
educados, não se sabe o porquê, para amar, gostar e enaltecer a terra onde
nascemos mesmo que ela nada nos dê. Um escritor, um artista ou qualquer pessoa
famosa já teceu loas de encantamento e paixão pelo lugar onde nasceu. São as
raízes telúricas falando mais alto. E ainda pesa contra mim o fato de não ter
nascido aqui e de ter vindo, quando muito jovem, parar nestas terras distantes
do lugar onde fui parido.
Na
verdade nunca entendi por que desde criança odiava o Brasil. A seca e árida
Paraíba não me encantava em quase nada. Naquela época já não entendia, e nem
aceitava, o conceito da famigerada “indústria da seca” que castigava e
ainda castiga meus sofridos conterrâneos e quando, vagando no meio do mundo,
buscava outros portos, fora do país, claro, encontrei este último porto, sujo e
mal cuidado, mas que aceitou receber a minha enferrujada e suja âncora e que
ainda hoje, mais de três décadas depois, insiste em grudá-la às suas entranhas.
Perto da Bolívia e do Peru, Rondônia me esperava e me recebeu muito bem. “Se
este pedaço de Brasil for diferente, finco raízes para sempre por aqui”,
pensei na época. Não era, mas “me plantei de corpo e alma”. Então, por
que não vou amar um povo bom como sem igual, uma comida que é a melhor do mundo
e um clima incomparável? O desencanto:
Rondônia copiou o Brasil.
Há
34 anos sem querer voltar à Paraíba e sem querer ficar em Rondônia, percebi e
denunciei que o quê há de ruim neste lugar é a mesma coisa que há de péssimo no
restante do país: a classe política e os aproveitadores de plantão. Rondônia
tem muita gente honesta e trabalhadora, tem muita riqueza e muito dinheiro, mas
é um lugar atrasado, subdesenvolvido e quase amaldiçoado. Aqui, nada dá certo.
Quase todos os políticos, como no restante do país, são patifes, ladrões,
desonestos, mentirosos e roubam todo o dinheiro destinado ao nosso desenvolvimento
e progresso. E não fazemos quase nada, assim como os paulistas, capixabas,
cariocas, nordestinos ou gaúchos. A gente se deixa roubar e ainda acredita nas
lorotas que eles criam para nos enganar. “Em meu governo só haverá ficha
limpa”, dizem. “O povo em primeiro lugar”, afirmam cinicamente
outros ou então a máxima “farei jorrar mel e leite das ruas”.
Quero
gostar de Rondônia e de sua capital, mas os políticos não deixam. Situada em
dois biomas conhecidos internacionalmente, fronteira do MERCOSUL, um território
gigantesco, água em abundância e uma população pequena, este Estado era para
ser uma potência econômica. Mas não é. Como me dói na alma falar o que falo de
Porto Velho: vivemos sem nenhuma qualidade de vida sufocados em poeira e fumaça
e atolados na lama. Essa é a pura verdade. Entra prefeito e sai prefeito, entra
governador e sai governador e a roubalheira e a desgraça continuam, os
problemas continuam, o caos continua e parece que todos nós estamos nos
adaptando ao que é ruim, ao que é medíocre. E pior, perdemos a capacidade de
nos indignar e de exigir os nossos direitos. A saída, solução dos covardes, não
é sair, é ficar e tentar mudar. É pedir que o novo prefeito seja honesto e trabalhe
sem roubar. É torcer para que tudo dê certo. É exigir que a mídia não compactue
com a corrupção e os desmandos. É ensinar o conceito de justiça e de cidadania
às futuras gerações. Como pode um “paraibinha” metido a besta, um
rebotalho qualquer, um retirante querer isto para quem não se nutre o mínimo de
amor?
*É Professor em Porto
Velho.