quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O aniversário da podridão

O aniversário da podridão

 

Professor Nazareno*

 

            Porto Velho, a sombria e bisonha capital de Roraima, está mais uma vez fazendo aniversário. São pelo menos 107 anos tentando ser uma cidade minimamente habitável. Estranhamente o município é uma capital de Estado, embora seus índices de qualidade de vida e de características urbanas ainda sejam de uma currutela fedida, daquelas que só se viam em plena Idade Média. Pela sua posição geográfica afastada, Porto Velho não era para sediar a administração de um Estado. Não fossem as pedras e corredeiras no rio Machado, a capital de Rondônia há tempos seria Ji-Paraná ou Rolim de Moura, cidades limpas, floridas, organizadas e bem mais centralizadas. O acanhado porto no rio Madeira fez a diferença lá no distante 1914 e continua até hoje sendo o fiel da balança. Mas a cidade em todo este tempo não evoluiu nada e continua sendo a latrina do Brasil.

            E quem diz isto é o Instituto Trata Brasil. Os rankings de saneamento básico e de  água tratada apontam a capital dos rondonienses como sendo a penúltima cidade dentre as cem maiores do país. Sempre ficamos em último lugar, mas as promessas de termos água tratada, esgoto e limpeza são anuais. Situada em plena Amazônia do Brasil, temos apenas 4,67 por cento de esgotos e somos beneficiados com pouco mais de 37% de água encanada. Aqui, bebemos água de imundos poços artesianos que têm mais coliformes fecais do que propriamente água. Ou seja, morar na Porto Velho dos 107 anos é ainda ter que saciar a sede com merda mesmo. Diferente das cidades europeias ou mesmo de muitas cidades do sul do Brasil, caminhar pelas avenidas de Porto Velho é sentir o mau cheiro da podridão de veredas sem esgotos com ratos, carniça, urubus, lixo e tapurus.

            Desde 1914 que Porto Velho tem prefeito, mas é como se nunca tivesse sido administrada por alguém comprometido com a municipalidade. Em tempo: a cidade nunca foi governada por um legítimo filho seu. O fedorento lugar é como se fosse um imundo e sujo lodaçal sem eira nem beira, uma curva de rio perdida e amaldiçoada. Durante a atual pandemia do Coronavírus, por exemplo, prometeram 400 mil doses de vacinas. Era tudo conversa fiada. Hoje, a cidade já conta com 87 mil casos de Covid-19 e mais de 2500 mortes. Chegou-se ao absurdo de quase faltar cemitério para enterrar tanta gente. Reduto bolsonarista e permeada de gente muito pobre, mas de direita e reacionária, Porto Velho não tem nada de belezas naturais, não tem nada para se ver e por isso, seu turismo é incipiente e quase não existe. Qual o louco que viria nos visitar?

            A capital da imundície não tem árvores. As poucas que tinha na Avenida Tiradentes, o atual prefeito e a SEMA mandaram arrancar pela raiz e nada colocaram no lugar. Até hoje ficou só o buraco por lá. O calor é cruel e desumano. No verão é só fumaça das queimadas e no inverno são as enchentes e alagações com lama podre e infecta. Os igarapés que cortam a urbe viraram esgotos podres com dejetos boiando em suas águas mortais. Ninguém quer saber desta aniversariante. Em vez dos alemães, franceses, austríacos ou belgas, são enxurradas de haitianos e venezuelanos, pobres e desempregados, que “enfeitam” os sinais de trânsito com seus filhos pequenos a pedir esmolas para comer. Porto Velho é um tosco fim de mundo, o esfíncter anal. Um rincão amaldiçoado que nunca prospera. Aqui não há rodoviária, hospital de pronto-socorro, arborização nem mobilidade. E só tem 107 anos. Mas se tivesse mil, seria tão diferente?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 26 de setembro de 2021

Os ditadores não agem sós

Os ditadores não agem sós

 

Professor Nazareno*

 

Hitler não agiu sozinho. Engana-se quem pensa que toda a maldade do Nazismo saiu apenas da cabeça dele. Havia uma multidão de seguidores fanáticos que viam naquele austríaco franzino um verdadeiro líder carismático. Generais e militares de alta patente, inebriados e cegos pela obediência ao chefe, faziam “todo o possível” para agradar ao “deus” deles na terra. Muitos caíram na sua lábia achando que ele era a única salvação da pátria alemã e de todo o mundo. Toda a maldade praticada pelos nazistas tinha o apoio de grande parte da sociedade alemã e até de líderes de outros países como Mussolini na Itália e mesmo, segundo alguns autores, Getúlio Vargas. Da mesma maneira ocorre no Brasil com Jair Bolsonaro. Os bolsomínions de hoje o veem como a reencarnação de Cristo e de tudo fazem para adular e puxar saco do seu venerado líder.

Tudo o que Hitler dizia era seguido à risca pelos seus puxa-sacos. Igualmente aconteceu com Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Fidel Castro, Josef Stalin, Pinochet e tantos outros. Jair Bolsonaro ainda não é um ditador, mas tudo o que ele diz, se torna verdade para a maioria dos seus fieis seguidores. Tem gente que mata a própria mãe somente para não desagradá-lo. Quando não mata, adultera a certidão de óbito da genitora em nome de uma ideologia “furada e sem comprovação”. Sem nenhum conhecimento sobre a cura da Covid-19, por exemplo, o “Mito” afirmou que a Cloroquina é um santo remédio para combater o Coronavírus. Muitos acreditaram e passaram a se automedicar para somente comprovar as “sábias palavras” do mestre, mesmo que a Anvisa e a OMS tenham descartado qualquer eficiência do medicamento para o tratamento da Covid-19.

Porém, fala-se nas entrelinhas que o “Mito” não é um sujeito tão ruim assim. Ele apenas usa essas frases de efeito e se mostra uma pessoa do mal por que essa postura lhe rende votos e alguma popularidade. A maldade que ele representa só faz aflorar em muitas outras pessoas o mal que elas realmente têm. Bolsonaro é da extrema-direita e o seu governo tem sido uma catástrofe. Candidato pela primeira vez a presidente, ele não tinha certeza de que fosse eleito. Foi e ficou com o pepino na mão. Sem saber governar, jogou o país num buraco sem fim e o resultado está aí. Só que como muitos não querem dar a mão à palmatória procuram defender o indefensável. E quebram a cara! Jornalistas principalmente já foram demitidos de suas emissoras por defender, por exemplo, o tratamento precoce para a Covid-19 dentre outras asneiras. Vejam o Alexandre Garcia!

O próprio Bozo não acredita nas tolices que diz e prega. Nunca acreditou. Humilhado, pediu desculpas públicas ao STF e numa recente entrevista à revista Veja disse que não vai dar nenhum golpe e vai respeitar as eleições. Claro que não ia dar um golpe nele mesmo. Bolsonaro sempre foi do “sistema” e sempre com ele concordou. Por isso, se aliou ao Centrão e hoje é refém dele. Eleito por acaso, procura usar o cargo para ficar cada vez mais rico. Ele e toda a sua família. Enquanto isso, recebe elogios dos “traídos” seguidores que ainda acreditam nas palavras do “mestre”. Sarah Winter, Sérgio Reis, Zé Trovão, Roberto Jeferson, Daniel Silveira, Silas Malafaia, dentre tantos outros, vão pagar por cada besteira que disseram em nome do “Mito”. Muitos deviam mofar na cadeia. E o “Mito” não está nem aí. Talvez nem seja mais candidato prevendo a possível derrota em 2022. O Bozo nunca foi ditador, apenas um “Zé Ruela” qualquer.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Jair Bolsonaro, o humilde!

Jair Bolsonaro, o humilde!

 

Professor Nazareno*

 

      O intelectual e moderado presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, não para de orgulhar o seu país e também todos os brasileiros, seguidores seus ou não. Em recente discurso na abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, o presidente Bolsonaro encantou o mundo com suas sábias palavras. Falando como um respeitado estadista, o presidente dos brasileiros se iguala aos “grandes” da humanidade. O seu eloquente, verdadeiro e pedagógico discurso deve ser traduzido para mais de mil idiomas e certamente será ensinado e discutido em praticamente todos os países que fazem parte da ONU. Bolsonaro ensinou sem meias palavras o que pensa sobre a pandemia da Covid-19 e mostrou ao mundo o que fazer para vencer o tão temoroso vírus. O seu competente governo enfrenta a pandemia com profissionalismo e dedicação jamais vista em qualquer nação do mundo.

     Na viagem que fez aos Estados Unidos, para a alegria do prefeito de Nova York e também do presidente daquele país, o “Mito” foi humilde, popular e cortês desde o começo: ao sobrevoar a baía de Manhattan já percebeu que na cidade havia uma loja Havan, fato que o deixou muito satisfeito. Sentindo-se “em casa” comeu pizza junto com a sua equipe de assessores e ministros na calçada de um restaurante. “Um homem simples do povo não pode deixar de agir de forma elementar como o nosso presidente”, resumiu um dos participantes daquela cena surreal. O almoço do nosso estimado líder e de toda a sua dourada e especial comitiva foi também em outra calçada. Sentado à vontade atrás de um biombo colocado especialmente para ele, degustou picanha brasileira. Devido aos preços baixos da iguaria aqui no Brasil, ele não come outra coisa.

       Mas foi no seu discurso de doze minutos na ONU que ele mostrou o líder carismático que é. O mundo inteiro reverenciou sua poderosa fala e lhe aplaudiu de pé durante quase uma hora. Bolsonaro só falou verdades! Sua verve encantou a todos. De início foi logo dizendo que o nosso país merece um assento definitivo no Conselho de Segurança da entidade. Óbvio que o mundo inteiro, aliado às grandes potências, vai satisfazer de imediato o “estadista do Brasil”. A seguir, o nosso líder também se posicionou contra o passaporte sanitário. E em tom de muita seriedade disse que em seu governo não existe corrupção. Foi de novo aplaudido de pé, pois todos acreditaram em suas palavras. Sobre o desmatamento da Amazônia falou o que todos já sabem: o Brasil cuida muito bem das suas florestas, por isso quase não temos desmatamentos nem fogo.

      Para falar sobre a atual situação do Brasil, o nosso querido presidente não mediu suas sentenças. “Não temos inflação em nosso país e a população inteira apoia o nosso governo”, disse convicto. E prosseguiu: “milhões e milhões de brasileiros de forma espontânea foram às ruas durante o último sete de setembro só para dar apoio ao nosso trabalho”, concluiu para delírio dos presentes. Bolsonaro ensinou o que o mundo não sabia: disse que o tratamento precoce para a Covid-19 é uma realidade no Brasil e que ele mesmo foi submetido com êxito quando foi infectado pelo Coronavírus. Dirigindo-se aos investidores internacionais, comparou nosso país a um paraíso na Terra. E não entendeu: “como pode um país sério como o nosso, sem desemprego, sem inflação, sem nenhuma turbulência política e com muita credibilidade no mundo não ser procurado pelos empreendedores?” O cotoco e a contaminação do Ministro da Saúde respondem.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Quem é esse Paulo Freire?

Quem é esse Paulo Freire?

 

Professor Nazareno*

 

            Este mês de setembro, o educador brasileiro Paulo Freire completaria 100 anos se estivesse vivo. Conhecido no mundo inteiro pelo seu trabalho de alfabetizador e citado como referência nas principais universidades do mundo, no entanto, o educador pernambucano não é e nunca foi reconhecido dentro do seu próprio país. Freire recebeu homenagens de Kosovo ao Chile. Da Guiné Bissau na África à Universidade de Harvard nos Estados Unidos. Nos principais países da Europa e nos mais reconhecidos centros de estudos do mundo, ele é citado como uma das maiores autoridades na área da Educação. Paulo Freire não estudou em Oxford, Coimbra, MIT, Harvard ou outra universidade de renome. São estas universidades que estudam Paulo Freire. Perseguido e banido durante a Ditadura Militar no Brasil, ele também é odiado pelo atual governo.

            Exilado do Brasil em 1964, ele ganhou o mundo com suas ideias. Há vários centros de estudos espalhados pelo planeta inteiro que levam o nome do educador brasileiro: na África do Sul, na Áustria, na Alemanha, na Holanda, em Portugal, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Na Suécia, Paulo Freire é lembrando em um monumento público. Mas a elite do Brasil não gosta dele. Os ricos brasileiros odeiam a sua metodologia, que é fartamente premiada fora daqui. O governo de Jair Bolsonaro, assim como a assassina Ditadura Militar que o prendeu, consideram-no um comunista e por isso atualmente o MEC o demoniza. Um “bolsomínion raiz” não pronuncia jamais o nome do eminente e premiadíssimo educador. Mesmo que seus livros já tenham sido traduzidos para centenas de idiomas e sua pedagogia seja ímpar.

            Mas por que todo esse ódio da elite brasileira contra Paulo Freire? É por que sua pedagogia de alfabetização de adultos não ensina o cidadão apenas a ler e a escrever. Os pressupostos do professor Freire ensinam também a pensar, a ser crítico e a entender a realidade que nos cerca. “Toda prática pedagógica é um ato político”, dizia o mestre. E prosseguia: “À medida que se ensina, também se aprende. Todo mundo tem um conhecimento que deve ser valorizado. Ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Paulo Freire não poderia mesmo ter prosperado no Brasil, um país que jamais valorizou a Educação e o saber. Temos hoje um dos piores sistemas de ensino do mundo e tudo isso de caso pensado. A nossa elite tem medo do conhecimento, pois ele liberta e abre novos rumos.

            Manter o nosso povo na eterna ignorância sempre foi um projeto de todos os governos que já passaram pelo país. Tanto os de direita, de extrema-direita quanto os de esquerda. Em pleno século XXI, não temos ainda escolas de tempo integral. Nossas escolas não ensinam nada a ninguém, mas os privilegiados filhos da elite estudam geralmente em boas escolas particulares, escolas bilíngues ou mesmo em escolas no exterior. O acesso universal ao bom conhecimento amenizaria a nossa desigualdade social e resolveria os graves problemas sociais que temos. O brasileiro praticamente  não lê se comparado a outros povos. Nossas universidades estão entre as piores do mundo. Aqui, nossos jovens não falam outras línguas e mal se expressam em Português. Paulo Freire não é reconhecido por quase ninguém no Brasil, salvo algumas poucas faculdades de Educação. Desprezamos o que é nosso enquanto o mundo inteiro valoriza.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Uma cidade sem “açougue”

Uma cidade sem “açougue

 

Professor Nazareno*

           

O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo com muito mais gado do que gente. São mais de 220 milhões de cabeças que garantem ao país ser o maior exportador de proteína animal do planeta. O Estado de Rondônia tem quase 15 milhões de cabeças, ficando entre os Estados com maior produção bovina do Brasil. Já Porto Velho, sua suja e imunda capital, é o quinto município do Brasil em cabeças de gado superando a marca de 1,2 milhão de unidades. Mas os números garbosos param por aí. Rondônia destruiu grande parte de seus dois biomas apenas para produzir capim. O Cerrado e a Amazônia perderam quase toda a sua vegetação nativa só para dar lugar ao pasto, gerando assim um dos maiores desastres ambientais do mundo. Além do mais, os donos de toda esta grande e invejável criação bovina geralmente são de pessoas que moram fora do Estado.

Aqui para nós moradores nem os ossos ficam. Já em Cuiabá até fila do osso eles têm. O preço da iguaria está nas alturas. Por isso, a cidade de Porto Velho praticamente não tem açougues. Tinha um, era o João Paulo Segundo, situado na zona sul da cidade. O “açougue” mais conhecido e mais importante da capital e também de todo o Estado já derrubou vários governadores e políticos. E continua lá cumprindo sua tenebrosa sina. É uma espécie de “campo de extermínio”, só que de pobres e miseráveis. Os poucos ricos e poderosos aqui residentes nem passam a sua frente. Muito menos entram lá para buscar auxílio médico. O atual governador do Estado, o coronel bolsonarista Marcos Rocha até que tentou “pegar uma carona” na cruel situação: prometeu solenemente erguer um novo açougue para os porto-velhenses, mas já “deu com os burros n’água”.

O raciocínio macabro das autoridades deve ter sido: “ora, se o povo pobre daqui não tem dinheiro sequer para comprar um quilo de carne, por que precisaria ter um novo açougue”? Mas além de ter muito gado em suas pastagens, Porto Velho tem também muitas repartições públicas suntuosas. Cada uma mais luxuosa do que a outra. E tem até algumas que para nada servem. É o caso de certo “Teatro das Artes”, onde nunca tem espetáculos, muito menos arte. Tem a ponte escura do rio Madeira, que até agora infelizmente só tem servido para as pessoas cometerem suicídio. E a capital tem também os viadutos do antigo Trevo do Roque, umas geringonças imprestáveis, tortos, desnivelados, íngremes e sem nenhuma função no caótico trânsito da cidade. Até o porto no rio Madeira, que devia dar nome à cidade, está fora de ação já faz muito tempo.

Se o coronel bolsonarista tivesse competência de construir um novo e moderno “açougue” para os porto-velhenses miseráveis, certamente ele ganharia as próximas eleições, mesmo que seu “frouxo guru” esteja em queda vertiginosa nas pesquisas e para alegria geral deve logo deixar o poder, expulso pelas urnas. Porém, se construírem uma nova rodoviária ou um novo e equipado “açougue” em Porto Velho, vão prometer o que nas futuras campanhas eleitorais? Mas como dizem que o “Bozo” virá em breve a Porto Velho, deviam usá-lo para inaugurar qualquer “açougue” para os habitantes lascados daqui. Até o “Hospital de Campanha”, que fora criado para ajudar o “açougue- mor” no enfrentamento à Covid-19, pode ser desativado em breve. E assim a “cidade das hidrelétricas” deve continuar com a sua sina macabra por muito tempo ainda: com muito gado no pasto, porém sem “açougues” para seus habitantes pobres. Mas felizes!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 12 de setembro de 2021

À procura de outro “Mito”

À procura de outro “Mito

                                                                                                                              

Professor Nazareno*

 

            Outro dia eu disse sem medo de errar: o fraco e incompetente governo de Jair Bolsonaro já acabou no Brasil. Uma desorientada multidão de mais de 57 milhões de órfãos deserdados, coxinhas e reacionários vaga desconsolada e desiludida pelas ruas da amargura à procura de outro salvador da Pátria que dê alento e guarida aos seus anseios conservadores, ditatoriais e fascistas. A humilhante capitulação de Bolsonaro no último dia 9 de setembro de 2021 pedindo arrego ao STF, à Constituição e aos princípios democráticos jogou um balde de água fria nas aspirações golpistas de grande parte dos seus traídos eleitores e seguidores. O “Mito” de agora, para decepção de seus fãs, capitulou de forma humilhante. Antes, Getúlio Vargas se suicidou. Jânio Quadros, já gagá, sai de cena e Fernando Collor renunciou. Os “quatro patetas” foram só vergonha.

            Somente os tolos e idiotas acreditaram que o “Bozo” era de fato um sujeito antissistema e que ia combater todas as mazelas que afligem o povo pobre deste país. Ele sempre foi “do sistema” e sempre compactuou com a maldita elite que tanto desprezou e despreza os miseráveis. Bolsonaro é um militar. Burro por formação, sem raciocínio lógico e sem conhecimentos sociais e políticos, ele aproveitou-se de uma oportunidade em que as esquerdas e o PT roubavam o país como nunca, para que pudesse ascender ao poder. O “Bozo” foi deputado federal por sete vezes e nada fez em benefício dos mais pobres e necessitados. Tudo era só “gogó”. Apenas usando as “rachadinhas”, e outros meios ilícitos nesse longo tempo, aumentou o patrimônio dele e de toda a sua família. Recorde: por 19 vezes seguidas os Bolsonaros ganharam eleições.

            Diferente de outro idiota que presidiu os brasileiros, Bolsonaro sairá rico da política, mas jamais vai entrar para a História. Dará muita sorte se não for preso, julgado e condenado pelas bravatas e tolices que falou durante o seu mandato. Ele e todos os seus filhos. Hoje, vários de seus puxa-sacos já estão devidamente presos e serão julgados. Esse capitão arruaceiro deveria também ter sido preso quando, no processo de golpe contra a Dilma Rousseff, fez elogios públicos a um notório torturador. Fosse num país sério, teria saído algemado do Congresso Nacional. Jair Bolsonaro é uma das piores e infames piadas que nos aconteceu nos últimos tempos. Não governou absolutamente nada e até hoje só criou confusão. O Brasil está na bancarrota e falido. Dias piores nos esperam na economia. A inflação voltou com força. O desemprego, idem. O caos é aqui.

            Mas os amantes do “Mito” não vão desistir. Vão escolher outro “bobo” logo em breve. Até já elegeram o ex-prefeito de Colatina no Espírito Santo, Sérgio Meneguelli, como o novo sucessor de suas asneiras e ideias fascistas. Não deu certo. Mas a procura  continuará. Isso se o atual “Mito” deles, o velho, falastrão e derrotado Jair Bolsonaro, não recuar de suas tentativas de dar um golpe de Estado no Brasil e implantar outra Ditadura Militar tão feroz e assassina quanto à instalada em 1964. Só que com tanques de guerra fumacentos e obsoletos, essas nossas inoperantes e frágeis Forças Armadas vão fazer mais vergonha do que atitudes heroicas. Além do mais, o mundo evoluiu e com ele a sua forma de viver a política. O maior problema do Brasil não é a ideologia, mas a eterna síndrome da “Casa Grande e Senzala”, ou seja, a triste desigualdade social. Os fascistas do Brasil procuram outro “Mito”. O atual não deu certo e cairá fora.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

O fim humilhante do “Mito”

O fim humilhante do “Mito

 

Professor Nazareno*

 

            No dia 9 de setembro de 2021 o governo de Jair Messias Bolsonaro chega ao fim no Brasil. De direito, ele ainda é o presidente do país, mas de fato são outros que a partir de agora mandarão no Planalto. O “Mito” foi eleito com 57 milhões de votos prometendo enfrentar o “sistema”, derrotar o comunismo e acabar com as esquerdas. E quem “ levou fim” foi ele mesmo. Incompetente, cheio de ódio, envolvido nos escândalos das rachadinhas e acossado por todos os lados pela CPI da Pandemia, o fracassado presidente convoca seus apoiadores para “encher as ruas” e apoiá-lo na briga que comprou com o STF. Até que colocou alguns milhares de simpatizantes a marchar, mas “o tiro saiu pela culatra” e já no dia seguinte teve que pedir desculpas públicas ao Supremo e se recolher a sua insignificância. O animal insultou o STF e tentou um golpe.

Isolado, encurralado e humilhado, o outrora “todo poderoso presidente da extrema-direita do Brasil” sai de cena e tem que engolir calado cada uma das palavras e insultos que dissera contra o Supremo Tribunal Federal e alguns de seus ministros. A humilhação maior foi ter que chamar o “vampiro golpista” e ex-presidente Michel Temer para lhe auxiliar no insólito pedido de desculpas. Baqueado, o arrogante, desastrado e fracassado capitão sai da cena política muito pior do que entrou. Bolsonaro não envergonhou somente a si e aos seus fiéis seguidores. Ele também envergonhou ainda mais o Brasil, coisa que já vinha fazendo com muita maestria desde que infelizmente assumiu a presidência deste país em 2019. Os bolsomínions, como são chamados os seus ardorosos seguidores, estão quietos como “toucinho dentro do saco”.

Desde que assumiu o poder, Bolsonaro não governou nada e criou ameaças imaginárias que só ele via. O “Mito” arrumou encrencas com os outros poderes e também com outros países. Vendeu-se vergonhosamente ao Centrão e agora, humilhado e desprestigiado, vai piorar ainda mais o que ele entende ser seu governo. O Brasil de agora não é nem a sombra do que fora em tempos passados. Temos hoje 20 milhões de famintos, 15 milhões de desempregados, inflação de dois dígitos e uma pandemia que não para de fazer vítimas diariamente. Quase 600 mil brasileiros já morreram e ainda faltam vacinas para imunizar grande parte de nossa população. Jair Messias Bolsonaro é uma das maiores tragédias que este país já viveu. Nem durante os governos ladrões do PT ou mesmo na cruel e assassina Ditadura Militar tínhamos tanta falta de esperanças.

Por tanta desgraça que cometeu contra o Brasil e os brasileiros, Jair Bolsonaro tinha que ser imediatamente preso e julgado. Deveria pagar pela sua irresponsabilidade e crueldade. Hoje somos a décima segunda economia do mundo quando já fomos a sexta. Os preços não param de subir, apesar das desculpas esfarrapadas da sua militância cega. Aliás, “pena” e “vergonha” são as palavras que logo vêm à mente quando se trata de definir hoje um seguidor deste arremedo de presidente. Fazer “arminha com as mãos” e dançar nos sinais de trânsito durante a campanha já devem ter causado arrependimento em muita gente. Infelizmente o Brasil é assim: em média, a cada 30 anos aparece um idiota dizendo que vai resolver tudo e o povão, iletrado e ignorante, acredita e dá nessa desgraça. Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Fernando Collor e agora Bolsonaro. Até quando ainda teremos esse maldito encosto como “presidente”?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Rondônia é da extrema-direita

Rondônia é da extrema-direita

 

Professor Nazareno*

 

            Eu não cheguei a Rondônia. Eu passava por esta curva de rio e fiquei. Tentava, no final da Ditadura Militar, sair do país para buscar novos ares em outros países menos injustos. O ano foi o longínquo 1980, quando a convite do professor Mário Nishimura fui a Calama e por lá passei cinco anos de minha vida. E bons tempos aqueles! Casei na simpática vilazinha, construí família e ainda hoje por aqui estou. Tenho notado, no entanto, que “a nova estrela no azul da União” é um lugar de ideologia totalmente identificada com a extrema-direita, que tanto mal já fez ao país nas últimas décadas. Pobre, Rondônia odeia a esquerda e sempre esteve alinhada ao ideal mais conservador e reacionário. A prova disso? Basta perguntar a qualquer de seus habitantes sobre qual o “rondoniense” mais famoso e todos vão logo afirmando: “foi o coronel Jorge Teixeira”.

            Com nome de estádio, o Teixeirão foi apenas um preposto da Ditadura Militar em terras Karipunas e jamais teve um só voto dos rondonienses. O fracassado coronel, que saiu daqui sob as vaias do MDB de Jerônimo Santana, deve mesmo ter sido um bom governador porque aqui os “milicos golpistas” despejaram toneladas de dinheiro público para conseguir os votos de parlamentares no Congresso Nacional. Nada mais do que isso! Tudo aqui cheira à direita e à extrema-direita. Rondônia, apesar de já ter tido a sua capital governada pelo PT de Roberto Sobrinho, sempre foi um reduto conservador, coxinha e reacionário. Muitos dos comunistas daqui são evangélicos e alguns políticos da oposição, até de certa aceitação, são pastores. Não é à toa que Jair Bolsonaro, o outro “preposto da moralidade e defensor da família” é bem popular no Estado. É um herói.

            Muita gente tola daqui sabe, mas nega enfaticamente, que este Estado foi apenas uma criação da vil, cruel, violenta e assassina Ditadura Militar do Brasil, que já estava em final de carreira, mas para conseguir aumentar no então Congresso Nacional o número de parlamentares governistas, a fim de aprovar as pautas em favor do governo ditatorial “pariu assim do nada” esta Rondônia sem futuro e sem nenhuma perspectiva. Desde o início, este insólito lugar foi usado “pelo resto” do Brasil para somente suprir seus interesses, muitas vezes alheios ao próprio povo local, mas favoráveis ao restante do país. Tanto é que Rondônia continua sendo usada até hoje como uma espécie de “prostituta” do Brasil. Foi assim com a exploração do agronegócio, com as hidrelétricas e agora com a energia elétrica, via Energisa. Destruíram um bioma e pariram Rondonha.

Hoje, parte do que restou da horrorosa e tosca política local até que se diz anti-bolsonarista ou de esquerda, mas sem nenhuma ideologia, envolve-se em escândalos políticos e incendeiam todo ano a floresta. Por isso, poucos e raros eleitores lhes dão credibilidade. Porém, nas redes sociais muitos se dizem defensores “da igualdade e da Justiça social”. Só enganação! Muitos deles são bem piores do que o celerado capitão arruaceiro. Se ele der um golpe, os “lambe-botas” daqui vão imediatamente lhe adular em busca de míseras moedas. É só o que sabem fazer. Rondônia é uma espécie de “Cu do Mundo” sem eira nem beira que nem merece ser citada em textos políticos. Vejam o exemplo do atual vice-governador do Estado. Embora eleito de forma democrática e pelo voto soberano da maioria, ataca o STF e tentar criminalizar quem pensa diferente dele. Se o “Bozo” der um golpe, corra de Rondônia: aqui muita gente pode lhe dedurar!

 

 

 

*Foi Professor em Rondônia.