sexta-feira, 31 de julho de 2009

E a falta de organização continua...


“Na Unir é assim mesmo...”


Professor Nazareno*


Existe um ditado popular afirmando que teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. Prática é quando tudo funciona e ninguém sabe o porquê. Na Unir, Universidade Federal de Rondônia, conjugam-se teoria e prática, pois quase nada funciona e ninguém sabe por que. Esta universidade só podia ser mesmo do Estado de Rondônia, a latrina do Brasil, afinal ninguém sabe quem merece quem, porque se fosse de um estado desenvolvido e sério, quase todos os seus dirigentes, reitores, professores e demais funcionários já teriam sido punidos. Se fosse uma universidade dos Estados Unidos ou da Europa, fato absolutamente impossível, cadeira elétrica e prisão perpétua seriam castigos rotineiros para coibir tanto descaso.

Quase todos os anos, a Unir enfrenta sérios problemas para realizar o vestibular anual da instituição. Realizar, não. Pagar para outras universidades fazer todo o serviço como se em Rondônia não houvesse profissionais competentes para organizar um simples processo seletivo. Até os acreanos, na UFAC, realizam o seu próprio método de ingresso na universidade. Dizer que é mais seguro elaborar as provas fora do estado é pura tolice. Seria, em tese, admitir que não há corrupção no vizinho estado. Vazamento de gabaritos em provas de vestibular e concursos públicos já virou rotina em qualquer estado da federação. Nenhuma novidade nesta periferia de capitalismo.

Além do mais, para organizar um simples concurso vestibular a Unir sempre foi um fiasco. A desorganização sempre foi a marca da instituição. E este ano não foi diferente. No ano passado, por exemplo, foram dez erratas no edital com direito até a censura do livro ‘O Matador’ de Patrícia Melo. No último dia 07 de julho foi publicado um edital para o Vestibular 2010, só que ninguém conseguiu se inscrever na data anunciada. Era um documento de mentirinha. Mudaram as datas das inscrições e da realização das provas. Como se pode observar, a nossa única universidade pública nunca esgota seu repertório de sandices, desrespeitos e absurdos contra a comunidade local. Pelo visto, muitos dos sábios do Campus José Ribeiro Filho, os “professores–doutores” ainda têm muito que aprender sobre ensino, pesquisa e extensão.

Esquisitices sempre aconteceram na Unir, mas a situação está tão decadente que quando algum funcionário metido a filantropo promove gincana para ajudar os famélicos do lixão, todos já acham que se trata de extensão. Localizada entre um cemitério e o lixão da capital, a nossa universidade parece que é administrada por Roberto Sobrinho, o prefeito campeão em obras inacabadas, ou mesmo o governador Ivo Cassol que está na iminência de ser cassado. Realmente: qual a pesquisa levada a cabo pelos técnicos daquela instituição pública de ensino que teve ou tem destaque ainda que regional? Até no curso de Medicina há denúncias de aprovações ilegais e de repercussões corporativas por parte dos alunos, os futuros médicos aqui formados.

Apontada como uma das piores instituições públicas de ensino superior da Região Norte perde feio para a UFPa, a Universidade do Amazonas e a Unitins, do Estado do Tocantins, segundo publicação da revista Guia do Estudante da Editora Abril Cultural. A Universidade Federal de Rondônia e o seu meio acadêmico ainda precisam aprender muito sobre sua relação com a comunidade onde está inserida, pois ao mudar constantemente seus editais de forma maniqueísta e anti-popular ela comete um erro imperdoável e erram também os que compactuam com estas atitudes nefastas. Se a nossa justiça não fosse tão desacreditada, elitista e morosa certamente este ano já seria acionada antes mesmo de começarem as provas do próximo vestibular já que muitos vestibulandos se programaram “com base no outro edital". Pobres futuros acadêmicos.


*É professor em Porto Velho

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Brasil nunca foi um país sério (E haja bagunça...)


(Sobre)Viva Brasil!

Valdemar Neto*

Era uma manhã ensolarada do mês de junho. Levantei-me, fiz todo aquele ritual matinal que todos conhecem e me dirigi imediatamente para o computador. Nas primeiras horas do dia havia o anúncio: “ENEM 2009, faça sua inscrição aqui.” Assim o fiz. Animado pelo êxito da minha inscrição imprimi o boleto e pedi que minha mãe o pagasse. No final do dia ela me devolveu o comprovante e, definitivamente, estava inscrito no mais novo processo seletivo unificado brasileiro, o ENEM.

Um mês e dois dias depois daquela manhã de junho, prazo final para as inscrições, me deparei com a seguinte notícia: “INEP adia inscrições do ENEM até o próximo domingo.” No mínimo engraçado. É engraçado ver como neste país os alienados têm vantagens. É revoltante perceber que uma prova, substituinte total ou parcial do vestibular de vários Institutos Federais, tornou-se uma simples brincadeira.

Cadê o respeito em relação aos outros candidatos já inscritos? Cadê a dignidade dos organizadores? As respostas pra essas perguntas são simples: num país onde predomina o caos, o respeito e a dignidade não existem. O termo mais adequado para este dilema seria falta de seriedade. Pois, bastou que alguns estudantes reclamassem alegando não conseguir se inscrever para que o governo brasileiro cedesse e adiasse o prazo. Mais uma vez o jeitinho brasileiro prevaleceu para os coitadinhos.

Uma vez um professor me disse que o Brasil é um país onde o paternalismo sobressai. Agora vejo que é verdade. É este paternalismo que atrasa e destrói nosso país. Sempre que algum brasileiro errar vai ter alguém ao seu lado lhe dando uma chance. Passando, literalmente, a mão em sua cabeça e lhe dizendo que vai ficar tudo bem. Curioso ver que em países desenvolvidos isso quase não acontece. Ao contrário disso, nestes países quem erra é punido para que, no mínimo, nunca mais venha a errar. No Brasil isso parece que não é válido.

Em relação ao ENEM, este adiamento pode ser considerado símbolo máximo da mediocridade da maioria dos brasileiros. Um povo que nasceu num ambiente nada favorável e que, ao mesmo tempo, não faz praticamente nada pra mudar esta situação. Este é o nosso ‘maravilhoso’ Brasil. País que, por sua vez, está fadado ao fracasso e a mediocridade de seu povo. Gritemos em uníssono: (Sobre)Viva Brasil!!


*Vestibulando da cidade de Porto Velho/RO

domingo, 19 de julho de 2009

Orações, Espaço alternativo, Enem e Intereclesial/2009


Religião Atrapalha

Professor Nazareno*

Várias vezes já se disse que religião, futebol e política não se discutem. Cada povo, cada cultura, cada nação praticamente tem a sua religião. Até os mais remotos povos ou índios perdidos nas florestas professam alguma coisa que se pode chamar de religião. Talvez seja medo do que é desconhecido. A frase “Se Deus não existisse, o homem inventaria um” atribuída a Albert Einstein é uma prova cabal destas afirmações. No entanto, não são poucos os exemplos de povos que foram e vão à guerra por motivos religiosos. A História está repleta de maus exemplos dados por quem acredita ser seguidor de Deus. Nem falemos sobre as Cruzadas e os Tribunais da Santa Inquisição.

Além do mais, religião atrapalha e muito. Embora quem tenha uma não perceba jamais esta característica. A cidade de Porto Velho, por exemplo, será sede por estes dias do 12º Intereclesial 2009. Foram mais de três mil pessoas inscritas para o Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que começa nesta semana. A maioria dos inscritos são delegados escolhidos para representar as 272 dioceses do Brasil, organizadas nas 17 regionais da CNBB. Desse número fazem parte ainda 94 representantes dos povos indígenas, 61 da América Latina, 32 jornalistas, 53 bispos, 35 convidados, 97 assessores.

Em tempos de gripe suína, é um perigo a nossa cidade receber delegados do México, Argentina e Chile só para ficar nestes exemplos. Nada contra os “hermanos”, mas todo mundo sabe dessa nova doença e do seu potencial de transmissão que está assombrando a humanidade com uma incontrolável pandemia. Mas se os “irmãos evangélicos” trazem repetidamente suas atrações para a nossa cidade, os católicos não poderiam ficar como meros observadores. E como “a cidade das hidrelétricas” vive um momento ímpar em sua História, a oportunidade não poderia ser desperdiçada. O show não pode parar. Na falta de pão, haja circo para a mundiça.

Há algumas semanas, milhares de pessoas foram ver o missionário paulista R.R.Soares na Avenida Imigrantes estrelar o show denominado ‘40 anos Poder’. Durante mais de dois dias o trânsito no local virou um inferno. Ruas foram interditadas sem nenhum constrangimento. Até o prefeito das obras inacabadas, Roberto Sobrinho, participou dos sermões e na ocasião disse que eventos como este, são prova da força da comunidade evangélica e, acima de tudo, nos mostra que o porto-velhense está trilhando o caminho certo e seguindo os ensinamentos de Deus. Mas nada falou sobre os transtornos causados aos motoristas nem em quê aquele mesmo espaço de orações se transforma nas noites de sábado, domingo e feriados.

Se os católicos poderão ser responsabilizados pela possível disseminação da “gripe do porco” em Rondônia, os Adventistas do Sétimo Dia podem interromper a realização das provas do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, pois durante uma audiência no MEC foi feita uma solicitação no sentido de que na normativa para aplicação desse exame conste a necessidade de existência de uma sala onde os guardadores do sábado possam ficar reservados até o horário do pôr-do-sol do sábado, dia 03 de outubro, quando então, farão a prova. Tomara que muçulmanos, judeus e até mesmo os cristãos católicos não se mobilizem para reivindicar qualquer outra regalia.



*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


terça-feira, 7 de julho de 2009

"Semáforo, já! Os meninos do JBC precisam".




“Semafaro ja e a Lenda do Avaljabestino”


Professor Nazareno*


Quem fala e escreve a Língua Portuguesa de forma nativa muito provavelmente não entenderá o título deste texto. Inicialmente eu também juro que não entendi. Depois, ao assistir à reportagem televisiva na mídia, entendi do que se tratava: era um protesto dos alunos do conceituado colégio público estadual João Bento da Costa, situado na zona Sul de Porto Velho, e conhecido como um dos líderes em aprovação no vestibular da Universidade Federal, a Unir.

Infelizmente os elogios param por aí. Reivindicando das “inoperantes” autoridades municipais a instalação de um semáforo na movimentada Avenida Jatuarana, que dá acesso àquela escola, os meninos saíram às ruas munidos de cartazes, cadeiras e muita disposição para conseguirem seus intentos. Além de tropeçarem na Gramática Normativa a rapaziada tropeçou também na má vontade dos responsáveis da Semtran que ameaçaram multar a escola JBC por causa da manifestação ocorrida.

A Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito entende que qualquer manifestação na cidade de Porto Velho deve ser autorizada por ela, a Semtran. Inclusive aqueles protestos que são contra a sua sabida inoperância e falta de boa vontade. Instalar um semáforo naquela Avenida pode salvar vidas. Mas a Escola em questão é mantida pelo Governo do Estado, enquanto a atribuição de instalar sinais de trânsito cabe à Prefeitura Municipal através da secretária Fernanda Moreira e de Roberto Sobrinho.

A briga entre a Prefeitura de Porto Velho e o Governo do Estado vai além do desconhecimento da Gramática por alguns alunos da escola pública. Envolve também os mototaxistas contra os taxistas. Estes, apoiados por Sobrinho enquanto aqueles apoiados por Cassol. O trânsito da cidade está um caos e até agora nem um nem outro se mostrou disposto a resolver qualquer coisa. As malditas passarelas assassinas continuam totalmente paradas à espera, parece, de um milagre para serem concluídas.

Enquanto isso faço a minha parte e corrijo em sala de aula os erros dos alunos. Semáforo, já! Deveria estar escrito no cartaz. Isso foi feito não apenas por dever de ofício, mas por saber que numa comunidade todos devem cuidar das suas atribuições. O Prefeito, que deve concluir todas as obras iniciadas e o Estado que deve dar o apoio. Mas na nossa caótica cidade tudo está acontecendo como na “Lenda do Avaljabestino”: está tudo errado, ninguém reconhece o erro e não quer ou não sabe consertá-lo.


*O professor Nazareno leciona em Porto Velho.

sábado, 4 de julho de 2009

As diferenças entre o Pobre e o Rico no Brasil


O Rico e o Pobre no Brasil


Professor Nazareno*


O Brasil é um país pobre, já os Estados Unidos são um país rico. A Europa tem vários países ricos e nenhum pobre. Antes nós éramos Terceiro Mundo, hoje somos emergentes, mas ainda pobres ou com muitos pobres. Quase todo mundo sabe as principais diferenças entre pobres e ricos. Rondônia, por exemplo, é um estado pobre, já São Paulo é um estado rico. Existem muitos estados ricos no Brasil. Mas as diferenças entre pobres e ricos em nosso país são bem maiores do que pensamos.

Pobre quase sempre é analfabeto e geralmente estuda em escola pública. Ao contrário do rico, que tem à disposição a escola particular. Pobre paga para estudar em faculdade, rico estuda em Universidade Federal. Cursos de pobre geralmente são aqueles que oferecem muitas vagas e poucas oportunidades no mercado de trabalho. Curso de rico é aquele cujo mercado ainda não está saturado e paga muito bem ao profissional recém formado. Rico fala Inglês ou Espanhol, pobre nem o Português sabe falar direito. Rico dança ballet, pobre dança Boi.

Pobre sonha com a casa própria, rico mora em flat e paga condomínio. Cozinha de pobre tem liquidificador com saia bordada, cachorro de louça na porta (ou verdadeiro no quintal) e paredes decoradas com pássaros, também de louça, grandes, médios e pequenos. Rico tem computador de última geração, televisão de plasma e carro importado, já o miserável do pobre anda de ônibus e vai à Lan House se quiser não ser chamado de excluído digital. Pobre vota no Governo, rico faz oposição. Rico tem leitura de mundo, pobre nem ler sabe.

É óbvio que pobre vai ao Arraial Flor do Maracujá, Expovel e carnaval fora de época, rico vai ao teatro e ganha dinheiro com a Expovel. Avião é transporte de rico enquanto ônibus serve aos sem dinheiro. Ricos são eleitos e pobres são eleitores. A democracia geralmente é defendida pelos ricos enquanto os pobres “choram um olho e lagrimam outro” por uma ditadura. Resumindo: pobre é ditador enquanto o rico é democrata.

Rico é ateu, judeu ou católico, já pobre é evangélico ou macumbeiro. Música clássica é ouvida pelo rico enquanto pagode, pelo pobre. O SBT é uma emissora de televisão direcionada aos pobres enquanto a Discovey Channel, CNN e Globo News satisfazem o telespectador endinheirado. Pobre vai à feira de bairro, rico ao Shopping Center. Claro que se entende por que Orkut, MSN, Lap Top, Twitter e Blog são palavras comuns a quem tem posses enquanto o favelado nem tem palavras para designar estes acessórios. Rico consome droga que geralmente é vendida pelo pobre.

Doença de pobre é dengue, diarréia, curuba ou malária. Rico pega gripe suína (Influenza H1n1) quando está de férias em Buenos Aires e procura tratamento nos hospitais conveniados com os mais caros planos de saúde ou mesmo fora do estado. Pobre vai ao Hospital de Base ou João Paulo Segundo e ainda fica feliz quando consegue uma ficha para ser atendido dois meses depois num posto de saúde da Prefeitura ou do governo do Estado.

O rico quando entra na política é para triplicar a sua fortuna. Pobre nem político consegue ser. Acredita-se que mais de 80 por cento dos eleitores brasileiros são pobres e por isso mesmo mantêm os outros 20 por cento como reféns de suas estúpidas escolhas. Enquanto o rico é sempre bem votado, o pobre nem votar sabe. Por isto o nosso país é o que é. Enquanto o Brasil for povoado por esta gentinha “chinfrim” e sem nenhum “pedegree”, seremos a escória do mundo, a terra onde tudo é possível, a nação do absurdo. Um país periférico e habitado por "jecas".


*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho.