terça-feira, 30 de novembro de 2021

Soberba na política e no futebol

Soberba na política e no futebol

                                                                               

Professor Nazareno*

 

        Muita gente sabe que a soberba é um dos pecados capitais. Mas é o que mais se tem visto ultimamente no Brasil. Tanto na política quanto no futebol. A decisão da Taça Libertadores da América entre o Flamengo e o Palmeiras, por exemplo, bem que demostrou isso. Os flamenguistas estavam muito confiantes na vitória do seu time e por isso encheram o Estádio Centenário e as ruas de Montevidéu no Uruguai convictos de que o time paulista não era um bom adversário que representasse qualquer ameaça às pretensões rubro-negras. De fato: jogando pelo atual campeonato brasileiro, o time carioca ganhou “folgado” do Palmeiras nas duas vezes em que se encontraram. No último jogo, em casa, o alviverde do parque Antártica levou de 3 X 1. Por isso, manadas inteiras de flamenguistas foram ao Uruguai só para conferir a vitória certa de seu time.

        Com uma equipe tecnicamente superior ao Palmeiras, o Flamengo esperava no mínimo uma goleada sobre esse seu adversário. Mas durante a partida o que se viu foi exatamente o contrário. Com muita técnica, mas nenhuma tática dentro de campo os cariocas se perderam e acabaram entregando o jogo numa falha incrível de um de seus melhores jogadores. O Flamengo cai e com ele caem também a arrogância e a soberba de seus fanáticos torcedores, que abandonaram as redes sociais e se calaram diante do triunfo palmeirense. Qualquer jogo se ganha dentro de campo e não com conversa fiada ou provocações tolas. Guardadas as devidas proporções, o Flamengo está para o futebol assim como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está para a política e para o país. Os dois são apenas grandes fracassos e praticamente só dão vergonha para os seguidores.

         Bolsonaro se elegeu dizendo que ia mudar o Brasil. Chamado de “Mito” pelos mais estúpidos, o incompetente presidente enganou a todos que acreditaram nele. Assim como fez o Flamengo. Muitos dos jogadores rubro-negros asseguravam que seriam tricampeões da Taça Libertadores e que ninguém pararia aquele grandioso time. Muitos torcedores se endividaram para ir ao país vizinho. E a alegria, a certeza da vitória e a euforia tomaram conta dos fanáticos flamenguistas. A soberba deles incomodava os torcedores de outras equipes. Assim como Bolsonaro. “Vou acabar com a corrupção no Brasil” afirmava ele, convicto. E o que fez? Aliou-se ao Centrão e hoje “come na mão dos piores corruptos que este país já teve”. Jair Bolsonaro amarga hoje os piores índices de popularidade e segundo algumas pesquisas, ele não vai sequer para o segundo turno.

         Um trecho do hino do Flamengo mentirosamente diz que “eu teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo no mundo”. É mais uma grande mentira inventada no Brasil. Uma piada infame. Uma lorota sem tamanho. Se o Flamengo e o Bolsonaro não existissem, muitos brasileiros seriam muito mais alegres. “Vencer, vencer, vencer”! Esta parte do hino rubro-negro deveria ser trocada para “Perder, perder, perder”! Já com o “Mito”, acusado de ser genocida por muitos cidadãos já arrependidos, o Brasil só perdeu. Perdeu sua pouca credibilidade internacional, perdeu com os mais de 615 mil mortos pela pandemia da Covid-19, perdeu com a volta da inflação, com a fila do osso, perdeu com a fome, com a volta da miséria, perdeu com as rachadinhas, perdeu com a milícia, com o aumento da violência e com a disseminação do ódio entre os brasileiros. Sem Flamengo e sem Bolsonaro seríamos bem mais felizes.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Movimento Relincha Rondônia

Movimento Relincha Rondônia

 

Professor Nazareno*

 

      O MRR, Movimento Relincha Rondônia, é uma espécie de partido político oculto que tem muita força e expressão e que já existe há muitos anos em Porto Velho, a eterna capital de Roraima. Na longínqua, subdesenvolvida, atrasada, suja, imunda, incivilizada e afastada curva de rio há várias discussões “muito importantes” entre os moradores e que pode mudar a vida de muita gente daqui: o maior pittbull do mundo, por exemplo, não se sabe se está em Porto Velho ou em Vilhena. Há também a já famosa discussão provinciana de que Rondônia e Roraima são dois Estados diferentes. Por isso, nas próximas eleições pode até ter candidato que defende isto. Rondônia também tem deputado estadual que esconde dinheiro sujo de propina em sacos de lixo e não é punido por seus pares. O relincho é tão forte que ele pode até se reeleger de novo.

        Na política, os rondonienses sempre rincharam e ainda zurram a bel prazer. Aqui foi proibida recentemente a inexistente linguagem neutra nas escolas. Mas o STF, atento, derrubou a exótica lei criada em terras karipunas. Rondônia é mesmo um lugar surreal, pois apesar de ter um dos maiores índices nacionais de mortes por Covid-19, quer proibir o passaporte da vacina. Foi aqui que durante o auge da pandemia, autoridades foram às ruas da capital para distribuir o “kit covid”, ou seja, envenenaram as pessoas com drogas ineficazes para combater o Coronavírus e ninguém foi punido. Porém tem algo pior: estão dizendo na mídia que o novo hospital de pronto socorro de Porto Velho custará pelo menos 300 milhões de reais (o mesmo preço daquela ponte inútil e desnecessária), mas o Estado vai pagar mais de um bilhão pelo novo “açougue”.

Se isso é motivo para mais relinchos, o zurrar dos animais rondonienses não vai parar tão cedo. A falta de árvores na capital é um problema secular (e a cidade tem só um século), mas o atual prefeito insiste em desarborizar ainda mais a já “pelada” currutela fedida. Ao arrancar todas as árvores da Avenida Tiradentes e não substituí-las por outras, o alcaide foi reeleito. Mais relinchos: a falta de esgotos e água tratada parece que é uma felicidade para os moradores daqui. Zurremos: a única universidade pública de Rondônia não tem hospital universitário? Tem problemas, não! E as pinturas nos viadutos tortos que já foram tomadas pelo mato? Alguém ainda consegue enxergar as “obras de arte” em meio a tanto lodo?  E a banda Versalle? Parece que não tem feito muito sucesso ultimamente. Será que está fazendo turnê pela Europa e Estados Unidos?

Rondônia é sempre motivo para relinchos cada vez mais altos: o arraial Flor do Maracujá em Porto Velho, “o maior arraial sem santo do Norte do Brasil”, é uma espécie de carro chefe da cultura local. “Só que ali nada se cria, tudo se copia”. Fato bem intrigante: o internacionalíssimo aeroporto da capital não faz voo além da fronteira nem para Guyaramerín na Bolívia, única experiência de turismo internacional da maioria do povo rondoniense. Mas Rondônia já teve muita gente boa: Carlos Ghosn, Maurício Bustani e Rodrigo Pacheco teriam nascido por aqui. O primeiro foi preso no Japão e hoje está foragido no Líbano. O segundo perdeu seu cargo na ONU a pedido dos Estados Unidos e o terceiro é o atual presidente do Senado, mas foi eleito senador lá por Minas Gerais. Temos a Txai Suruí, indígena, pessoa boa e reconhecida pelo mundo inteiro, só que amaldiçoada por muitos moradores e autoridades locais. E haja relincho!

 

 


*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Em busca da Covid-19

Em busca da Covid-19

 

Professor Nazareno*

 

          A pandemia de Covid-19 ainda não acabou. A desenvolvida e civilizada Europa está enfrentando mais uma onda devastadora do vírus e hoje já é de novo o epicentro da doença. Os números de mortos e infectados só aumentam no velho continente. Com a chegada do inverno, e consequentemente muito frio, a tendência é que haja um aumento considerável de casos. A Áustria decretou recentemente um novo lockdown e a partir de fevereiro próximo deve tornar obrigatória a vacinação de todos os seus cidadãos. Os casos se multiplicam também na vizinha Alemanha, que segundo a chanceler Ângela Merckel, “estão fugindo do controle das autoridades”. O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, disse melancolicamente que até o fim do inverno “os alemães estarão vacinados, curados ou até mortos”. O caos só aumenta em outros países do continente.

      O negacionismo tosco e as baixas taxas de vacinados em alguns países europeus podem estar por trás dessa nova e devastadora onda lá na Europa. “Agora é a pandemia dos não vacinados”, afirmam muitos cientistas. Com exceção de Portugal e Espanha, que têm uma taxa de quase 90 por cento de totalmente vacinados, a maioria das nações europeias ainda “patina” com taxas entre 60 e 70 por cento de seus cidadãos completamente imunizados. Essas taxas, no entanto, são até superiores às que se verificam no Brasil no momento, mesmo com uma adesão quase total dos nossos cidadãos à vacinação. A pandemia pode estar ainda muito longe do fim e muitas autoridades do país estão tomando medidas que vão de encontro ao que recomenda a ciência e a própria OMS. Precaução: “é preciso ter muita cautela antes de liberar tudo”.

          O público sem limites praticamente já liberado para os jogos de futebol, as festas de fim de ano, as muitas aglomerações, a liberação de missas e cultos religiosos, a desobrigação do uso de máscaras nas ruas, a proximidade da campanha eleitoral com comícios e mais ajuntamentos e a possível realização do Carnaval em fevereiro de 2022 podem turbinar e muito a presença do vírus entre nós a partir dos próximos meses. E pior: o número de doentes e mortos pode aumentar, pois haverá novos infectados e possivelmente novas variantes podem surgir e colocar todo o custoso processo de vacinação a perder. Em Rondônia, que tem registrado significativo aumento da doença, o número diário de óbitos está aumentando consideravelmente entre os não vacinados. Por isso, é preciso ter cuidado. As pessoas estão brincando, porém o vírus está atento.

Infelizmente as pessoas que morreram ultimamente em Rondônia, a maioria delas não tinha tomado nenhuma vacina ou simplesmente não tinha completado o esquema vacinal como a segunda dose ou a dose de reforço. É triste, mas o que mais se tem observado em Porto Velho, e em muitas outras cidades do país, são pessoas agindo como se nunca tivesse havido a Covid-19. Parece que o Brasil nem perdeu até agora mais de 613 mil pessoas vítimas desta lastimável pandemia. A irresponsabilidade dos governantes e também da grande maioria da população pode fazer tudo voltar à estaca zero. Algo bom: a Banda do Vai Quem Quer de Porto Velho fez a sua primeira coisa louvável na vida: não vai desfilar em 2022 por causa da pandemia. Assim como muitos outros blocos de Carnaval daqui. E em várias outras cidades do país já suspenderam a folia. Parece que em meio a tanto caos, agonia e mortes, ainda há uma tênue esperança.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Admirável GADO bolsonarista

Admirável GADO bolsonarista

 

Professor Nazareno*

 

            O presidente Jair Bolsonaro disse que não interveio nas questões do Enem/2021. Nem ele nem o seu ministro da Educação e nem nenhum outro funcionário do governo. Eles juraram que jamais tiveram acesso às provas. Poucas pessoas acreditaram em mais essa lorota. Óbvio que eles viram todas as questões, a prova maior é que o mesmo disse que “agora o Enem tem a cara do governo”. Porém, o “Bozo” e seu ministro passaram batido: talvez por não terem entendido, deixaram passar uma questão que fazia uma severa crítica ao atual governo e a todos os seus seguidores, o gado. Trata-se da música “Admirável Gado Novo” de Zé Ramalho, que faz uma crítica feroz ao comportamento do brasileiro comum que segue, anestesiado e sem questionar, tudo aquilo que os seus governantes determinam. Por isso que os eleitores do Bolsonaro são chamados de gado.

            Zé Ramalho fez a sua música baseando-se na distopia de Aldous Huxley, famoso escritor inglês, que escreveu o livro “Admirável Mundo Novo” em 1931 onde criticava a passividade dos cidadãos num futuro próximo em que haverá por parte dos governantes uma tecnologia reprodutiva, manipulação psicológica e condicionamento clássico que se combinam para mudar a sociedade. Assim como Bolsonaro e sua trupe estão tentando fazer com o Brasil. Só que para o azar dele e de seus seguidores, nem todo brasileiro é gado. Deve ter alguns que pensam! O presidente “passou batido” e permitiu a questão na prova por que certamente não a entendeu. Nem ele nem o gado jamais entenderiam o que é distopia. Não sabem quem foi Aldous Huxley e talvez nunca tenham lido um livro sequer do autor. A crítica de Zé Ramalho foi certeira: escancara a passividade humana.

            Ao permitir a questão na prova, Bolsonaro demonstrou burrice total. Aliás, quase todos os ditadores são burros mesmo. Os ditadores e também os aspirantes a ditador como ele. Durante a cruel Ditadura Militar, por exemplo, os censores deixaram que a música “Cálice” de Chico Buarque fosse gravada sem nenhum problema. Os milicos ignorantes, estúpidos e semianalfabetos viram apenas a palavra escrita. Eles não perceberam o som da pronúncia “Cale-se”. Afasta de mim este “Cálice”, pai. Ou seja, Chico estava claramente dizendo: “afasta de mim esta censura”! E pior: uma censura regada a sangue. “De vinho tinto de sangue”. Nem os militares, nem o Bolsonaro, nem o seu gado escuta Chico Buarque ou qualquer outro “artista de esquerda”. Devem escutar apenas hinos militares, Amado Batista, Zezé de Camargo, Sérgio Reis ou mesmo Funk.

            Infelizmente a maioria dos cidadãos brasileiros não tem nenhuma escolaridade, pois não lhes deram uma educação de qualidade e libertadora. É um povo totalmente ignorante,  desprovido de leitura de mundo e compreensão da realidade. Basta um bolsa-família, um auxílio Brasil ou outra migalha qualquer que todos aderem de pronto ao governo de plantão. Tem sido assim desde o Brasil colônia passando pelos governos de direita, esquerda e agora de extrema-direita. Os militares sabiam disto, a elite do país sabe disto e Lula e o PT também. Por isso, nenhum governante dá uma educação de primeira a seu povo como nos países civilizados e desenvolvidos do mundo. O gado de Bolsonaro quebra um pouco esta regra, pois muitos são até esclarecidos, porém nada de errado veem no seu “Mito” e em seu governo de cunho fascista. Para muitos não há inflação, não há censura, não há genocídio do povo. O gado entoa: “Bozo”, nosso herói!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 21 de novembro de 2021

Ditadura, tortura, censura...

Ditadura, tortura, censura...

                                               

Professor Nazareno*

 

Segundo os padrões de Jair Bolsonaro, nunca houve uma Ditadura Militar no Brasil. Para a extrema-direita, o que houve foi apenas um regime militar. Aliás, o cantor Zezé de Camargo, bolsonarista roxo, que forma uma dupla caipira com o seu irmão Luciano, afirmou em uma entrevista que nunca houve Ditadura Militar no nosso país. “O que houve foi apenas um militarismo vigiado”, afirmou o pouco esclarecido artista sertanejo. Amado Batista, outro artista também de pouco conhecimento da política nacional e seguidor fiel do Bolsonaro e dos militares, tem uma opinião quase idêntica. Amado fez fortuna cantando sucessos da música brega, foi preso e torturado pela ditadura quando trabalhava numa livraria de Goiânia, mas disse que mereceu tudo o que passou nas mãos de seus carrascos. Mesmo assim, ele é um fiel defensor dos militares.

Admirador convicto da tortura e de torturadores como o coronel Brilhante Ustra, Bolsonaro e seus seguidores podem negar o que quiserem, mas jamais poderão mudar o rumo da História. Em 1964, em plena Guerra Fria, no Brasil e em toda a América Latina, os Estados Unidos financiaram cruéis e assassinas ditaduras militares, alinhadas a Washington, com o objetivo de barrar o avanço certo do comunismo em todo o continente como ocorrera antes com Cuba. A elite brasileira, para manter seu patrimônio e evitar a dianteira de forças mais progressistas, usou os militares para dar o golpe de Estado. Assim, não houve revolução nenhuma nem militarismo vigiado. Foi uma tomada de poder pura e simples. Sempre com o apoio dos ricos e poderosos, os milicos assumiram o poder no país e mandaram os opositores para o exílio ou à morte.

Além de cruel e assassina, a Ditadura Militar que se instalou no país a partir de 1964 também foi muito incompetente. Governou o país por quase 21 anos e “saiu de fininho” em 1985 sem que tivesse havido qualquer movimento para tirá-la do poder. A infame Ditadura caiu de podre. Os militares foram usados pela elite do Brasil, que quando não precisou mais deles, virou-lhes as costas. Os fardados promoveram o exílio, a tortura, o atraso, a perseguição a oposicionistas e o desrespeito aos direitos humanos. E pior: por pura incapacidade, eles não criaram uma sociedade melhor para as futuras gerações. Se não houve tortura, para que então serviam os DOI-CODI? E qual era a função do coronel Brilhante Ustra? Não houve censura também, dizem os puxa-sacos, mas não se podia ouvir nem o Geraldo Vandré nem algumas músicas de Chico Buarque.

A elite atrasada do Brasil também deu outro golpe em 2016 só que em vez dos militares usaram o Congresso Nacional “com o Supremo e tudo” para tirar a Dilma Rousseff e o PT do poder. Bolsonaro, os cantores bregas, os radicais da extrema-direita e todos os bolsonaristas mais exaltados podem falar o que quiserem. Podem até censurar as questões do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio como estão fazendo agora, mas jamais vão mudar a História. Podem até criar fakenews, tentar proibir “isso e aquilo” como sempre fizeram, mas não poderão jamais negar que a fila do osso, por exemplo, passou a existir somente no governo do “asno genocida e negacionista”. Como esconder que a inflação voltou ao país depois de mais de duas décadas de preços estáveis? E o preço da gasolina? Como negar o aumento do desmatamento na Amazônia e a volta da fome em pleno século XXI? Fato: “A História só se repete como tragédia”.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Deus está no João Paulo II

Deus está no João Paulo II

 

Professor Nazareno*

 

    Para muitas pessoas, Deus simplesmente não existe. É uma criação dos homens, que diante do desconhecimento das coisas que os cercam, inventaram um ser invisível e muito poderoso que tudo pode, tudo sabe e em todo lugar está presente. Além de ter o domínio absoluto sobre todas as ações antrópicas, Ele é uma espécie de juiz que vai julgar a todos num dia incerto e não sabido. Além de Deus, os homens teriam inventado também seus representantes e até um forte opositor: satanás. Seus criadores achavam que, temendo um ser superior, poderoso e indestrutível, o homem frearia sua arrogância e sua maldade na Terra. Mas existindo ou não, tendo sido criado pelo homem ou não, o fato é que muitas pessoas afirmam que já O viram e dizem ter provas irrefutáveis de sua existência. Muitos até dizem que Ele frequenta o hospital João Paulo II de Porto Velho.

   Quando alguém tem a suprema infelicidade de procurar ajuda médica no referido logradouro público é comum ouvir de seus amigos e familiares: “Deus te acompanhe”. Ou então o já famoso e infalível “Deus estará contigo”. E assim o pobre infeliz, na companhia do Todo Poderoso e já meio desenganado, é colocado no chão frio numa maca improvisada num dos corredores sujos e infectados daquele “hospital” à espera da morte certa ou então de um médico que passará dias ou até semanas para atendê-lo. Sob uma forte goteira e o mau cheiro de carne humana apodrecida, o sujeito se sente feliz e tranquilo, pois “Deus está ali com ele”. E Deus é muito bom mesmo, já que deu aos homens públicos de Rondônia a capacidade ímpar de ter criado um hospital “tão bom” quanto este. Não fosse Ele com sua infinita bondade, todos morreriam no meio da rua.

       Deus deve viver dentro do João Paulo II de Porto Velho, pois este hospital é quase indestrutível e parece que durará para sempre. Jerônimo Santana, Osvaldo Piana, Valdir Raupp, José Bianco, dois mandatos de Ivo Cassol, o do Império da Roça, dois mandatos de Confúcio Moura, um médico, e um mandato do bolsonarista Marcos Rocha. Ou seja, “Açougue” 7 X 0 Governadores. E seriam nove. Em 2022, recomeçará a “boa, abençoada e divina” campanha eleitoral para presidente, governador, senador, deputados estaduais e deputados federais. Deus, óbvio, estará junto com todos eles abençoando as promessas, que serão, como sempre, transformadas em votos. Sem Deus e sem o João Paulo muitas autoridades não sobrevivem: “e o açougue será substituído”.

      O próximo ano, portanto, será a arrancada final daquilo ali”. Todos dirão isso nas promessas de palanque. O “oceano de autoridades”, que geralmente têm bons planos de saúde e ótimo atendimento médico, finalmente vai dar andamento à papelada para iniciar os trabalhos de construção de um novo hospital de pronto socorro para Porto Velho e para Rondônia. E se tudo der certo, daqui a quatro, cinco anos ou até um pouquinho mais, teremos um hospital público de onde até Deus vai se orgulhar. Mas o velho João Paulo II continuará matando. Assim como a falta de esgoto e água tratada da capital. Entra prefeito e sai prefeito e a cidade continua fedida, suja e imunda. Mas nas campanhas eleitorais, as promessas se renovam. E como satanás é o protetor maior de Porto Velho, não custava nada que Deus, por vontade própria, cedesse seu lugar e desse ao diabo a prioridade de administrar e cuidar do hospital. Talvez as coisas melhorassem!  

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 13 de novembro de 2021

Txai Suruí, governadora!

Txai Suruí, governadora!

 

Professor Nazareno*

 

        Eu já disse para que ela não entrasse na sórdida política dos brancos. Mas se quiser entrar, terá muito mais coisas a apresentar aos seus eleitores do que todos os candidatos concorrentes juntos. Txai Suruí, a jovem e encantadora indígena nascida em Rondônia, elevou o nome de seu povo, os paiter-suruí de Cacoal, ao grau máximo que uma comunidade pode ter: discursou em inglês para quase 200 chefes de Estado na COP26, a conferência do clima da ONU em Glasgow na Escócia e foi aplaudida de pé por todo o mundo civilizado e desenvolvido. Para desespero dos reacionários e bolsonaristas, a jovem índia “botou no bolso” de uma só tacada o presidente do Brasil, o governador de Rondônia e os prefeitos de Cacoal e de Porto Velho. Ameaçada de morte, xingada, agredida, destratada e enxovalhada na internet ela, sensata, “deu de ombros”.

    Nunca, em momento algum da história da humanidade, o desconhecido nome de Rondônia e também do povo suruí chegou tão alto como agora com esta jovem e bela indígena. Hildon Chaves, por exemplo, o atual prefeito de Porto Velho, tem o costume de andar o mundo inteiro. Porém, nunca levou nem elevou o nome de Porto Velho para nenhum lugar aonde viajou. Hong Kong, Miami, Barcelona e inúmeras outras cidades do mundo jamais ouviram uma só palavra do alcaide porto-velhense. Suas andanças sequer serviram para nos trazer experiências de lugares mais civilizados. Nem sei se o “viajado” Dr. Hildon consegue se expressar em inglês, como fez a reluzente indígena de Cacoal. Qual a autoridade de Rondônia que tem a importância de ser convidada para discursar para líderes mundiais numa conferência das Nações Unidas? Nenhuma delas.         

E que importância têm para o mundo essas mesmas autoridades rondonienses? Todas são iguais ao apagado e desconhecido governador do Estado, o bolsonarista coronel Marcos Rocha. Aliás, Rocha estava também com toda sua comitiva na citada conferência, mas parece que foi solenemente ignorado, ao contrário de Txai Suruí e de suas sábias palavras. Será que se a jovem índia fosse prefeita de Porto Velho, a cidade estaria na triste situação em que se encontra? Além de não ter água tratada, saneamento básico, arborização e esgotos, a capital de Rondônia é o centro do desmatamento e das queimadas na região amazônica em todo verão. Tudo ao contrário do que prega Txai Suruí em seu discurso e ações. Defender seu povo, seus ancestrais, as florestas, as árvores, os animais e a natureza faz parte da vida desta jovem já reconhecida no mundo.

      Se ela está a anos-luz em importância à frente dos políticos tradicionais de Rondônia, de Porto Velho e de Cacoal, nem é bom comparar Wailela Txai Suruí com Jair Bolsonaro, o apagado, desconhecido, odiado e inútil presidente do Brasil. Muito diferente da indígena, o presidente dos brasileiros é uma espécie de aborto da natureza que para nada serve a não ser incentivar o desmatamento, envenenar a terra com  agrotóxicos, perseguir e ameaçar os povos indígenas e manchar cada vez mais o nome do Brasil no exterior. Mas tomara que a bela índia não entre na política para aprender a mentir e pedir votos em troca de nada como fazem os nossos representantes. Sendo governadora de Rondônia, será que ela deixaria o seu povo morrer à míngua como está acontecendo com os pobres e miseráveis que vão para o hospital João Paulo II de Porto Velho? Destruir a floresta e devastar o meio ambiente não estão no seu rico vocabulário.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Rondonha, capital Berlim!


                                        Foto: Danilo Curado/Divulgação

Rondonha, capital Berlim!

 

Professor Nazareno*

 

            Sempre tive dificuldades de entender por que muitos brasileiros sempre confundem Rondônia com Roraima. Várias vezes a própria mídia do sul do país comete esta pequena gafe com as duas unidades da federação consumando certa injustiça com ambas, já que nenhuma delas quer ser a outra. E talvez não seja apenas por desconhecimento da geografia regional ou por causa da semelhança entre os nomes, mas pela pouca ou nenhuma importância dos dois Estados dentro da já tosca, cruel e dantesca realidade nacional. Mas agora, desta vez comecei a compreender melhor esta esquisitice: o general Cristovam, senador por Rondônia, disse para todo o Brasil, dentro do Congresso Nacional para quem quisesse ouvi-lo, que ficou muito encantado com os bois-bumbás da cidade de Guajará-Mirim, “ali na fronteira do Brasil com a Colômbia”.

            O general não está totalmente errado. Bolsonarista de carteirinha e reacionário como poucos, ele pediu votos e se elegeu, mas em outra fronteira: com a Bolívia. Homem muito culto, estudado e de rara inteligência, o intelectual-político obteve quase 30 mil votos nas últimas eleições. E apesar do pequeno e perdoável deslize, está cotado para se reeleger nas próximas eleições. Ele não devia ser censurado, pois eu mesmo já confundi Porto Velho, capital de Roraima, com várias outras cidades do primeiro mundo. Devido à importância da “metrópole karipuna” dentro das realidades nacional e mundial, é muito fácil confundi-la com Berlim, Viena, Paris ou mesmo Munique. Com mobilidade urbana ímpar, muito bem administrada, com arborização, sem violência, com hospitais moderníssimos, rede de esgotos e água tratada, qualquer um se confunde.

            O senador Cristovam só confundiu a Bolívia com a Colômbia. Nada fora de contexto. Natural da cidade de Tefé, interior de Pernambuco e muito próxima à fronteira com a Colômbia, é normal fazer esta “pequena confusão”. Só que embora muito entusiasmado e emocionado, ele falou sobre algo que é invisível: a existência de cultura naquela área de fronteira. É normal e já faz parte do folclore nacional que grande parte dos políticos do Brasil não entenda muito bem da realidade onde estão inseridos. No mesmo Estado “fronteiriço com a Colômbia”, um deputado também bolsonarista e reacionário, proibiu recentemente aquilo que não existe: o uso da linguagem neutra nas escolas. Mas, parece ser cada vez mais comum neste lugar surreal e atrasado que algumas poucas autoridades possam dizer algo fora da realidade local. Estão perdoados!

            Parabéns, general pela sua capacidade ímpar de distinguir lugares tão importantes em sua vitoriosa e brilhante carreira política! Mas tenha certo cuidado: aqui, por exemplo, não se gosta muito de quem confunde Rondônia com Roraima. E quem combate esse “imperdoável erro” pode até receber muitos votos e se eleger. Não é o máximo? Deve ser por isso que nunca concorri nem tenho vontade de concorrer a nenhuma eleição em terras karipunas, pois não vejo nenhuma diferença entre essas duas toscas unidades da federação. Rondonha não é mais a terra de Txai Suruí, mas a de Marcos Rocha, Marcos Rogério e por que não dizer com muito orgulho que também é a terra do general Cristovam, o expert em geografia regional? Aqui, nessa distante “fronteira com a Colômbia” têm bois-bumbás, quadrilhas, tacacá, açaí, Carnaval e até futebol. Tudo cultura autóctone. Há coisa mais originária do que o “Flor do Maracujá”?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 7 de novembro de 2021

Uma odisseia no “açougue”

Uma odisseia no “açougue

 

Professor Nazareno*

 

        Dos poucos e raros prazeres que se tem na vida, um deles é passar dois ou três dias internado num certo “açougue”. Fala-se que seu nome quase santo não combina com tanta desfaçatez. Mas o imundo, sujo e infecto logradouro público é uma espécie de campo de concentração. Um Auschwitz em pleno século XXI. Só que em vez de exterminar judeus ou outras minorias “indesejáveis” pelo sistema, sua especialidade maior é matar cidadãos pobres e sem muita leitura de mundo. Um dos maiores símbolos de um falido Estado, sua convivência em plena capital dá a real impressão do que é viver sob a agonia da incompetência e insensatez humanas. Pauta para eleger canalhas travestidos de heróis em anos de eleição, sua angústia e tormento são transformados sempre em votos quando recebe uma telha, uma pintura ou outro reparozinho qualquer.

      A cada dois anos, o Hitler da vez promete “mundos e fundos” para acabar com a podridão de seus corredores, apartamentos, salas de cirurgias, consultórios, cozinha e recepção. Mas nada parece funcionar por ali. Não há chuva que não consiga inundar suas dependências já devidamente inundadas de seboseira, ratos e tapurus. Durante a pandemia da Covid-19, para manter a sua fama de “inferno na terra”, foi o primeiro foco de Coronavírus. A cidade onde se localiza, que é um espelho de suas assustadoras e tristes mazelas, ganha todo ano verdadeiros palácios suntuosos para a Justiça, para o Ministério Público, para a administração estadual, para fóruns, Assembleia e outras ricas dependências de vidros e luxo, muito luxo mesmo, que geralmente serão usadas só pelos ricos e endinheirados. Enquanto for a casa de pobres e miseráveis será esquecido.

      Raramente quando apenas por interesse eleitoreiro lhe prometem substituição, um oceano de autoridades e representantes de quase todos os poderes constituídos criam obstáculos intransponíveis para que ele continue ali exercendo a sua macabra sina de reflexo da podridão humana. Mas a cruel decadência desse “açougue”, embora seja a decadência de seus próprios administradores, só demonstra a pouca ou nenhuma empatia dos governantes com os seus governados.  Recentemente, por três dias estive lá para tratar de uma infecção de bicho-de-pé. Fui atendido por um cardiologista muito educado, mas que nada entendia de coração. Com a perna toda inchada e dolorida, fui “tratado” por um pneumologista especialista em doenças renais. Durante o tempo que fiquei internado, ele me viu só uma vez e disse que me receitaria algo para a Covid-19.

    O característico mau cheiro de carne humana apodrecida é comum naquelas redondezas. E aquele imundo “açougue” pode até não ter fornos crematórios, mas toda fumaça que lhe escapa de sua quebrada e torta chaminé sempre nos remete a Dachau, Treblinka ou Sobibor. E quase todo mundo, nascido ali ou não, diz que não sabe o porquê de tudo isso. Sem receber alta de nenhum “açougueiro” de plantão, tive que fugir dali feito um louco. O meu bicho-de-pé já estava se sentido à vontade para procriar naquele ambiente podre, repugnante e sórdido. Porém o que mais chama a atenção em todas estas bizarrices é o comodismo de quem procura aquele lugar malcheiroso para curar suas doenças. Muitos dizem que ele é invisível: apesar de muitas pessoas passarem diariamente à sua frente, ninguém o vê. É como os moradores de rua da cidade sem água e esgotos. Mas o “açougue” para uma coisa sempre serve: eleger ricos.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Marcos Rocha, um líder na COP26

Marcos Rocha, um líder na COP26

 

Professor Nazareno*

 

    Marcos Rocha, o “coronel bolsonarista” e atual governador de Rondônia, fez história na recente conferência do clima em Glasgow na Escócia. O mandatário rondoniense participou da cúpula “em grande estilo” junto com alguns de seus melhores assessores e mostrou ao mundo civilizado que Rondônia, a até então desconhecida e afastada unidade da federação no Brasil, não é um lugar para amadores e merece, assim como ele próprio, destaque absoluto entre as grandes potências mundiais. Desinibido e carismático, Rocha impressionou a todos com a sua capacidade ímpar de liderar as nações rumo a um mundo melhor e mais habitável no futuro. A ascensão deste político ao estrelato maior no disputadíssimo cenário mundial começou com o seu excelente e forte discurso, em inglês, para uma plateia de quase 200 líderes mundiais ali reunidos.

   Defensor intransigente do meio ambiente, da floresta amazônica e dos povos originários, o eminente governador começou falando sobre a sua pouca idade, porém salientando que na Amazônia há vestígios de que povos vivem ali há pelo menos seis mil anos. Foi aplaudido de pé e com muita atenção pelos presentes. A seguir, enfatizou com muita sabedoria que todos nós devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Ou seja, devemos estar submissos à natureza e respeitá-la sempre. E para delírio de todos prosseguiu: “hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando”. Marcos Rocha nos disse ainda com muita convicção que os humanos não têm mais tempo. “O momento é agora! Não em 2030 ou 2050”, ensinou.

A cada palavra do notório mandatário rondoniense, a plateia, e o mundo inteiro, se entusiasmavam ainda mais. Rocha advertiu também em sua fala que precisamos tomar outro caminho com muitas mudanças corajosas e globais. Falou com eloquência e conhecimento de causa sobre a necessidade de se frear as “emissões de palavras mentirosas e irresponsáveis e a poluição de palavras vazias” e corajosamente concluiu mostrando a todos ali presentes que “é necessário sempre acreditar que o sonho é possível. Que a nossa utopia seja um futuro na Terra”. Desde que esse “coronel bolsonarista” assumiu o poder, Rondônia mudou em tudo. Praticamente não há mais fumaça por aqui durante os verões. A paz reina no campo. Os pobres têm assistência. A produção só aumenta. Rondônia não tem desigualdade social. O povo camponês é feliz.

Durante a pandemia da Covid-19 em Rondônia, por exemplo, Marcos Rocha mostrou todo o seu valor: condenou o negacionismo e o tratamento precoce e por isso, salvou muitas vidas no Estado. Sem corrupção em seu governo e “antenado” sempre com a defesa intransigente da natureza, ele só tem preocupações em salvar o planeta da derrocada final. Dando entrevistas em vários idiomas, nosso governador foi aplaudido durante quase uma hora no seu “fictício” discurso na COP26. Depois de Jorge Teixeira, o coronel que é o “deus de Rondônia”, não há outro mandatário tão carismático quanto esse coronel Rocha. Duas coisas, no entanto, precisam ser melhor esclarecidas: por que Rocha não deu ao inteligente e popular presidente Jair Bolsonaro o protagonismo durante essa cúpula do clima? Quanto será que o contribuinte de Rondônia pagou em diárias para ele e seus assessores representarem tão bem o nosso Estado lá na Escócia?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


terça-feira, 2 de novembro de 2021

Txai Suruí é Rondônia!

Txai Suruí é Rondônia!

 

Professor Nazareno*

 

            A COP26, a conferência do clima que começou esta semana em Glasgow na Escócia, reservou uma daquelas surpresas mais do que agradáveis para Rondônia, Estado brasileiro periférico, sem eira nem beira e localizado em plena região amazônica do país. Walela Txai Suruí, uma linda e encantadora mulher com seus 24 anos, cativou o mundo com suas sábias palavras na abertura da cúpula mundial do clima. Falando num inglês perfeito e sem nenhum arrodeio, a jovem desbancou todas as autoridades constituídas do país que viajaram com dinheiro público para representar o Brasil. Apesar de estar na Europa, o desprestigiado e inútil presidente Jair Bolsonaro não participou da abertura nem da conferência. Também o governador de Rondônia, Marcos Rocha, teria viajado para a Escócia. Só que os dois foram solenemente ignorados ali.

Talvez poucos rondonienses conheçam o trabalho da jovem indígena. Estado baseado na agropecuária e resultado de um dos maiores desastres ambientais do planeta, a jovem unidade da federação até hoje nada deu nem nada trouxe de bom para o Brasil nem para o mundo. Com quase 15 milhões de cabeças de gado, três hidrelétricas, dois biomas reconhecidos mundialmente e uma população menor do que dois milhões de habitantes, Rondônia sempre foi uma vergonha nacional. Todos os anos durante o verão amazônico, a floresta pega fogo em Rondônia e as suas poucas cidades vivem sob um manto vergonhoso de fumaça tóxica mostrando ao mundo como os brasileiros e principalmente os rondonienses tratam o seu meio ambiente. A jovem índia não só defende o ecossistema local como também atua em muitas frentes na defesa da natureza.

Destaque na COP26, a jovem paiter-suruí tem pai perseguido pelo governo Bolsonaro e mãe ameaçada de morte. Na cúpula do clima, no entanto, ela ensinou ao mundo a sabedoria indígena e mostrou como salvar o planeta da catástrofe iminente. “Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores”, ensinou ela num inglês impecável. Mas tomara que ela continue com a sua boa e útil militância em defesa da natureza e da floresta amazônica em vez se meter na política. Teria poucos votos num universo onde o povo pobre, apesar de estar passando fome e ameaçado de desaparecer, prefere votar nos políticos ricos e ligados ao agronegócio. Aqui já vi voto “na galega do saquinho”, “na menina do pacu grande” e até quem diz que “Rondônia não é Roraima” pode ter votos.

Para as próximas eleições no Estado, os candidatos bolsonaristas e mais reacionários, que estão ligados à devastação da natureza local e consequentemente ao agronegócio, disparam na preferência do “analfabeto” eleitor rondoniense. O Brasil é o vilão do clima mundial. Nossas autoridades se escondem e não nos representam como deviam. E é como disse a jornalista Luciana Oliveira: “Jair Bolsonaro como presidente do Brasil entrou e saiu da COP26 sem ser notado. Parece que ninguém o viu por lá. Já o governador Marcos Rocha, aliado na destruição do meio ambiente e perseguição aos povos originários, entrou e saiu da COP26 também sem ser notado. Enquanto isso, a jovem indígena suruí, entrou anônima, sem cargo público, sem poder político ou econômico e saiu por seu discurso engajado sob os holofotes da imprensa global”. Txai Suruí me representa e representa Rondônia. Assim como a parintintin Francisca Pereira.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.