quinta-feira, 30 de março de 2023

Dia 31 de março de 1964

Dia 31 de março de 1964

 

Professor Nazareno*

 

            Há exatos 59 anos, o Brasil entrava numa longa noite escura que duraria quase 21 anos. Foi um período triste e ininterrupto de caos, terror, corrupção, assassinatos, exílios, perseguições, torturas, censura, ataques aos direitos humanos e tantas outras desgraças. Um golpe militar interrompe a frágil democracia que vivíamos desde a redemocratização do país no pós-guerra. Mas ao contrário do que muita gente possa pensar, o golpe não foi totalmente militar. Os milicos na verdade só foram usados vergonhosamente pela elite civil, rica e poderosa, para barrar qualquer pretensão de se instalar um regime comunista por aqui. Bancado e tramado pelos Estados Unidos, que viviam o auge da Guerra Fria com a extinta União Soviética, e tinham acabado de perder Cuba para os comunistas, o golpismo anticomunista virou moda em toda a América Latina naqueles anos de chumbo.

            Era o início dos anos sessenta e os poderosos do Brasil, financiados pela Casa Branca, resolvem aderir às “Doutrinas de Washington”. Banqueiros, industriais, políticos de direita, ricos latifundiários, Igreja dentre muitas outras instituições conservadoras e reacionárias interrompem por meio de um brutal golpe de Estado o governo constitucional e legítimo de João Goulart. Segundo o relatório “Brasil: Nunca Mais”, pelo menos 1.918 prisioneiros políticos atestaram ter sido torturados. O documento descreve 283 formas de tortura utilizadas na época pelos órgãos de segurança nos DOI-CODI. Os militares brasileiros mataram exatos 434 de seus cidadãos durante o tempo em que estiveram no poder. São números “até baixos” se comparados aos quase 30 mil mortos da Argentina e aos mais de três mil no Chile, que teve cerca de 200 mil cidadãos exilados pelos militares.

            Só que nos países vizinhos todos os militares assassinos foram punidos e presos exemplarmente, enquanto no Brasil nenhum militar pagou pelos seus crimes. A Lei da Anistia salvou todos os criminosos. Da direita e da esquerda. Talvez por isso, muita gente por aqui ainda hoje tece loas àquele regime de exceção e de brutalidades. Pior: em 2018 os brasileiros elegeram para presidente o senhor Jair Bolsonaro, um ex-capitão saudosista daqueles tempos sombrios. Bolsonaro é fã do ditador chileno Augusto Pinochet e também admirador do torturador brasileiro, o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra. Esse ex-presidente do Brasil disse durante uma entrevista que a Ditadura Militar deveria ter matado pelos menos uns 30 mil brasileiros. Ou seja, quase cem vezes mais. Quando Bolsonaro foi derrotado para o Lula nas urnas, outro ataque à democracia foi arquitetado.

Mas felizmente o golpe de 08 de janeiro de 2023 falhou ainda no seu nascedouro, apesar de os golpistas terem a admiração de alguns setores do próprio Exército brasileiro. O presidente perdedor fugiu do país e se autoexilou nos EUA. A frágil democracia do Brasil resistiu bravamente aos reacionários delirantes e mandou muitos desses golpistas para a cadeia. Não se sabe até quando ainda haverá resistência democrática por aqui. A esquerda volta ao poder depois de seis anos e assim os direitos humanos, o respeito ao cidadão, às instituições da República e ao politicamente correto voltará a dominar por enquanto. Devíamos fazer como disse o líder Ulysses Guimarães: “ter nojo a qualquer ditadura”. As Forças Armadas devem ser uma instituição de Estado e não de governo. Democracia é sinônimo de civilidade e desenvolvimento. Fora disso, é só barbárie e caos. Por isso, não se deve comemorar o dia 31 de março de 1964. Apenas se lamentar. E muito!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 25 de março de 2023

Porto Velho: a favela interior

Porto Velho: a favela interior

 

Professor Nazareno*

 

            Certa vez um mestre bastante conhecido, meu amigo de longa data e um excelente professor de História, disse-me que o conceito de favela, como nos ensinaram, poderia estar errado. Favela, disse ele, não é o lugar físico, mas a cabeça das pessoas que ali moram. E concluiu: se pudéssemos trocar as populações inteiras de duas cidades qualquer, depois de um certo tempo, comprovaríamos na prática o que eu estou dizendo. Como experiência, sugeri trocar as populações de duas cidades modernas: Porto Velho no Brasil e Frankfurt na Alemanha. Segundo esse raciocínio, depois de uns dez anos e com um outro povo, o lugar físico onde está a capital de Rondônia se transformaria em uma cidade moderna, arrojada, arborizada, limpa, urbanizada e com excelente qualidade de vida. Já a cidade alemã viraria uma grande favela com as mesmas características daqui.

            Conheço as duas cidades e tenho a certeza de que não se pode comparar em absolutamente nada os dois lugares. Porto Velho é uma enorme favela a céu aberto, sem qualidade de vida e cheia de problemas. Frankfurt é moderna, tem boa mobilidade urbana, quase não tem violência, muito arborizada, asseada e é sede das principais instituições financeiras da Europa e do mundo. Com populações um pouco acima de meio milhão de habitantes, as duas cidades em nada se parecem. Uma é fria e aconchegante, a outra é quente como um forno. O aeroporto de Frankfurt é o segundo maior da União Europeia. Porto Velho sequer tem aeroporto. O sistema de metrô dos alemães é de fazer inveja a qualquer pessoa. A Hauptbahnhof ou estação central é um brinco de tão limpa. Os trens ali são pontuais, limpos, rápidos e bem seguros. Aqui, sequer temos transportes coletivos.

            O que fariam os porto-velhenses se fossem morar em Frankfurt de uma hora para outra? O rio Main (Meno), que corta a cidade, tem hoje água potável. Atrasados como são e desacostumados com o saneamento básico e água tratada, muitos rondonienses logo cavariam fossas e canalizariam os esgotos para o rio como já fazem por aqui. Mulheres com latas de água na cabeça seria uma triste rotina. Alguns comerciantes comprariam dragas e balsas para buscar ouro no Main. Em pouco tempo o mercúrio contaminaria aquele rio. Poços seriam cavados ao lado de fossas imundas para poder abastecer os moradores. Nos vasos sanitários seriam plantados pés de cheiro-verde para temperar a comida. Casas, só com muro. Para melhorar a mobilidade urbana, criava-se o sistema de mototáxi, táxis clandestinos e alternativos. E como seria a rodoviária com os Karipunas?

Já com os alemães morando às margens do rio Madeira a coisa seria bem diferente: o prefeito da cidade teria outro nome bem mais bonito: Gerhard Fritz ou Olaf Schröder. Nada de Mauro Nazif ou Hildon Chaves. A Câmara de Vereadores não teria nenhum vereador comprado e haveria oposição de verdade ao alcaide. Os impostos seriam justos e com a contrapartida necessária. Mobilidade urbana e talvez até metrô em pouco tempo. A mídia local não seria comprada e também não receberia nada de dinheiro para adular as autoridades. Tudo certinho funcionando como numa democracia de verdade. Já pensou um aeroporto com voos para Rio Branco, Manaus, Brasília, Rio e São Paulo duas ou três vezes ao dia? Várias universidades públicas com muitos cursos. As escolas, todas elas públicas, seriam como foi a Escola João Bento da Costa em tempos passados. Segurança, civilidade, organização. Enquanto isso, se teria pena da Frankfurt dos rondonienses. Será?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 22 de março de 2023

A cura gay no Parlamento

A cura gay no Parlamento

 

Professor Nazareno*

 

            Muito antes da existência do Homo Sapiens que a homossexualidade já era uma realidade. Aliás, acredita-se que pelo menos uns dez por cento dos indivíduos em qualquer espécie animal são LGBTQIA+. E nada de propagar aos quatro cantos que isso seria o fim da espécie humana “uma vez que iguais não se reproduzem”. Os noventa por cento restantes e assumidamente heterossexuais já garantem tranquilamente a continuidade dos humanos sem problema. Sempre houve homossexuais e nunca paramos de crescer. Óbvio que os homossexuais são minoria e por isso mesmo são vítimas de injustas e monstruosas perseguições por parte de algumas pessoas homofóbicas que dizem estar incluídas nos 90% restantes.  O viés religioso hoje, com ênfase em algumas denominações evangélicas principalmente, só tem contribuído para aumentar as discriminações contra essa minoria.

            Pior: no Brasil a política se misturou à religião e com poucos conhecimentos sobre a causa entrou no assunto de forma sorrateira. Já na França e também em outros países desenvolvidos e civilizados os parlamentares criminalizaram qualquer discussão que envolva a chamada cura gay. A própria Psicologia orienta os seus profissionais a não trabalharem em seus pacientes qualquer tipo de reorientação sexual. Mas o Brasil é um país atrasado, cruel e homofóbico. Aqui alguns parlamentares, que não foram eleitos para lidar com a questão, estão tentando “reinventar a roda” e propõem a cura gay na maior cara de pau. Já houve até proposta de se criar uma espécie de bolsa para os “ex-gays” que voltaram a ser heterossexuais. É uma pena uma discussão desnecessária e inútil como essa num país onde há inúmeros problemas para serem resolvidos. Perde-se tempo à toa.

O palestrante Leandro Karnal disse que todo ataque homofóbico geralmente parte de um homossexual contra outro. Aquele que ataca é um enrustido que não assume publicamente a sua homossexualidade e a vítima, que corajosamente assume sua orientação sexual, muitas vezes é assassinada por isso. E nenhum dos dois, no entanto, optou em ser o que é. O Brasil infelizmente é o país que mais mata homossexuais no mundo. Mais até do que muitos países muçulmanos. O próprio Jesus Cristo, que morreu aos 33 anos sem nunca ter se relacionado com uma mulher e vivia rodeado de homens, pode ser uma boa inspiração para muitos desses nossos irmãos homossexuais. O valor de Cristo está em sua filosofia de amor, respeito e fraternidade e não em sua orientação sexual. Maomé, por exemplo, teve 13 mulheres. Discutir sexualidade dos outros é má fé.

Muitos desses parlamentares deviam tomar vergonha na cara e discutir, por exemplo, o problema da falta de água e de saneamento básico em Porto Velho e também a questão dos Yanomamis, a devastação do meio ambiente, a desigualdade social, a violência urbana com tantos mortos todos os anos, o crescimento das milícias, o tráfico de drogas, a corrupção e o trabalho escravo no país dentre muitos outros conflitos que temos. Nenhum deles foi eleito para ser fiscal do “fiofó” alheio. A não ser que com esta discussão sem fundamento e visivelmente homofóbica estejam todos eles criando uma cortina de fumaça para esconder outros problemas do Brasil. Um Parlamento que discute algo como cura gay se apequena em sua função e os parlamentares que entram nessa discussão em nada contribuem para o desenvolvimento e o progresso do país. Mazzaropi, Santos Dumont, Shakespeare e tantos outros homossexuais devem é estar envergonhados.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 20 de março de 2023

O que é saneamento básico?

O que é saneamento básico?

 

Professor Nazareno*

 

            O Instituto Trata Brasil publicou recentemente os seus números de saneamento básico e de água tratada oferecidos à população no ano de 2022 e a cidade de Porto Velho, capital do Estado de Roraima, continua vergonhosamente nos últimos lugares. Há mais de dez anos seguidos, a cidade ocupa as últimas posições e por isso muitas pessoas daqui não sabem o que é viver com esgotos e água potável. Porto Velho é uma imundície só. Uma nojeira de tão fedorenta e podre que envergonha quem tem a coragem de vir aqui. Muitos dos moradores da cidade, no entanto, já estão tranquilamente acostumados com a carniça diária e assim fingem que não veem tamanho descaso das autoridades. Cidades como Santos em São Paulo, Uberlândia/MG e São José dos Pinhais no Paraná aparecem em primeiro lugar na lista do ITB. E só ganhamos de Macapá. Coitados dos amapaenses!

            Porto Velho não tem qualidade de vida nenhuma. O IDH daqui é muito pior do que o de Porto Príncipe no Haiti ou o daquelas cidades da África subsaariana. O pior é que grande parte do povo porto-velhense está alegre e feliz com o lodaçal a que já está acostumado. Nas eleições, sempre se reelegem os mesmos candidatos que nunca se preocupam com a higiene e a limpeza da cidade. Não temos água tratada. Só um pouco de água encanada. Isso apesar de termos ao nosso lado o majestoso rio Madeira com água ainda potável, apesar do mercúrio e de outros minerais pesados que já derramaram em seu assoreado leito. Uma voltinha pelas ruas da cidade é um espetáculo dantesco e infernal. Não há um só logradouro em que não exista muita bosta humana, garrafas pet, plástico e lixo de toda sorte espalhados pelas poucas calçadas. Nem praças há para lazer.

            Talvez seja por isso que a cidade está encolhendo a olhos vistos. Segundo o IBGE, os presumíveis seiscentos mil habitantes que deveria ter, diminuíram para menos de 500 mil. Quem se aposenta “monta no porco” e vai morar em outras cidades do país que são bem mais limpas e com um IDH melhor do que o da velha “currutela fedida”. Porto Velho não tem rodoviária, não tem hospital de pronto-socorro e nem mobilidade urbana. O pior SUS do Brasil é o de Rondônia. A cidade não tem atrações turísticas e na beira do rio, na área do porto, só há sujeira que atrai muitos ratos e urubus. A Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a EFMM, que devia ser um atrativo turístico, é uma desgraça só. Há muitos anos que tentam recuperá-la, mas ainda hoje continua totalmente abandonada, o mato toma conta e o que se vê é muita merda, urubus, cachorros mortos, lixo e mendigos.

            Infelizmente muitos dos filhos de Porto Velho, alguns já adultos, não sabem o que é saneamento básico e nem água tratada. Nunca viram uma torneira. Os poucos que sabem é porque viram em outros lugares. Quase toda a população da cidade bebe água de poços imundos cavados ao lado de fossas sem nenhuma higiene. Na verdade, bebem coliformes fecais e outras nojeiras. Aqui se vive pior do que na Idade Média com a tristeza que não temos nada de atrativo. A desgraça desta curva de rio pode ser até pior do que a crise dos Yanomamis, pois o governo federal até já mostrou dedicação a esses povos originários enquanto o país inteiro e a classe política esquecem que existe um lodaçal imundo e promíscuo que é uma capital de Estado. E pior: neste ano tentaram empurrar na população um IPTU irreal e vergonhoso. É um acinte sem tamanho pagar imposto para viver no meio da nojeira e da fedentina. Será que alguém já usou os banheiros da nossa rodoviária?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


quinta-feira, 16 de março de 2023

Lula: o Governo da Picanha

Lula: o Governo da Picanha

 

Professor Nazareno*

 

            O terceiro governo Lula não completou nem ainda os cem primeiros dias no poder e por incrível que pareça os primeiros resultados positivos já podem ser vistos a olhos nus. Algo inédito levando-se em conta a fama da maioria dos políticos do Brasil. Fazer o L de Lula parece que está valendo a pena para muitos dos mais de 60 milhões de brasileiros, inclusive eu mesmo, que ajudaram o petista a derrotar o que de mais nojento, abjeto e asqueroso havia na presidência da República com o aprendiz de genocida, Jair Messias Bolsonaro e sua trupe de negacionistas, fascistas, golpistas e tudo de ruim em termos de política. O povo Yanomami não mais morrerá de fome nem de doenças causadas por garimpeiros ilegais em suas terras. Lula em tão pouco tempo deve resgatar a dignidade e matar a fome daquele povo originário causando admiração no mundo todo.

            Depois de mais de seis anos sem nenhum reajuste em seus salários, os funcionários públicos federais vão receber nove por cento de aumento além de outras conquistas como vale alimentação. Durante os quatro anos do desgoverno de Bolsonaro e os dois anos do golpista Michel Temer, os servidores sofreram “o pão que o diabo amassou”. Foram chamados de parasitas pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, que depois afirmou já ter “colocado uma granada no bolso do inimigo” ao comemorar acintosamente o congelamento de dois anos nos salários dos servidores durante a pandemia. O mundo civilizado vê em Lula o que não via no fugitivo que tentou roubar joias. Putin e a Rússia já falaram que vão “examinar com seriedade” a proposta de paz que o presidente brasileiro fez para acabar essa guerra que os russos travam depois de atacarem a Ucrânia.

            No plano interno, os 75 dias do governo Lula também têm boas notícias para os consumidores. O preço da carne está baixando a cada dia. Já há supermercados no sul do país em que o valor da picanha já diminuiu para pouco mais de 30 reais. Parece que a promessa do voltarmos a comer essa iguaria está muito próxima de acontecer. Em Cuiabá, por exemplo, não se ouviu mais notícias da “fila do osso” nesses últimos meses. Em nenhum outro lugar do país se veem mais famintos e miseráveis revirando caminhões de lixo para procurar o que comer. Lula está disposto a diminuir e até acabar a fome dos mais de 30 milhões de cidadãos brasileiros que tanto nos envergonhava. O Bolsa-família já foi reajustado para 600 reais e dependendo do número de filhos menores, pode ser ainda maior. Um alívio para os cidadãos carentes. E viajar de avião voltará a ser rotina no país.

            O mesmo Paulo Guedes, que reclamou e disse que “até as empregadas domésticas estão indo para a Disney”, pode ter a tristeza de ver agora os pobres voltarem a lotar os aeroportos do país. Tomara que com o PT e a esquerda no governo, os professores possam voltar a viajar para a Europa de novo. O governo Lula já anunciou que as companhias aéreas Gol e Azul toparam o projeto de passagens aéreas a 200 reais para aposentados, estudantes e funcionários públicos. Todos sabemos que Lula e o PT nada mais são do que representantes da elite endinheirada do país. Mas conseguem deixar “algumas sobras” para os pobres e miseráveis. Totalmente diferente do que fez o Bolsonaro no seu governo infame, arrogante, débil e tresloucado. Fato: mesmo que roube e desvie dinheiro como já fez, Lula não debochou de ninguém. Já tomei a 5ª dose de vacina contra a Covid-19. E Lula deu exemplo vacinando-se publicamente. Espero que continue assim. Façamos o L!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 15 de março de 2023

IPTU zero, mas sem a Banda

IPTU zero, mas sem a Banda

 

Professor Nazareno*

 

            Em 2023, após o auge da pandemia de Covid-19, o valor do IPTU de Poto Velho subiu exponencialmente. Até agora ninguém sabe de onde partiu a infeliz ideia de açoitar a chibatadas os pobres contribuintes da cidade. Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado, Câmara de Vereadores, CRECI e Prefeitura Municipal tiraram logo o corpo fora depois das repercussões negativas de parte da população atingida. Ninguém assume publicamente ser “o pai dessa enjeitada criança”. E o jogo de empurra-empurra atingiu o ápice. O problema é que alguns desses órgãos são administrados por pessoas que apesar de morar no meio do lodaçal porto-velhense, acham que vivem em Viena, Paris ou Barcelona. Assim, aumentar tributos sem a contrapartida parece seu uma coisa normal. Muitos podem até pensar que dando “pão e circo” aos moradores, as coisas se resolvem.

            Poucos dias antes do aumento desse referido imposto, a Banda do Vai Quem Quer desfilou pomposamente pelas sujas e fedorentas ruas da “capital dos destemidos pioneiros”. Praticamente não houve uma só autoridade que não estivesse ali presente fazendo fotos e confraternizando com os tolos carnavalescos. Muitos disseram que uns 250 mil foliões estavam ali brincando. Para uma cidade que mal ultrapassa os 400 mil moradores, isso é uma cifra astronômica. Enquanto isso, não mais do que 250 pessoas foram às mesmas ruas para reivindicar a diminuição do injusto tributo. Com medo, desconhecimento ou mesmo por falta de mobilização política, encheram só as redes sociais com discursos, fotos, xingamentos, palavras de ordem e declarações eivadas de orgulho e de sentimento telúrico como se a cidade não fosse a pior dentre todas as capitais.

            Como religião, futebol e Carnaval sempre funcionaram como o ópio do povão, muitas autoridades estavam ali desfilando na Banda como que dizendo: “Nós lhes damos a alegria de brincar na Banda e vocês têm que nos pagar altos impostos”. Óbvio que com IPTU zero, pode não ter desfile da Banda nem Carnaval. Mas quem de Porto Velho aceitaria tal heresia? Porto Velho já não tem futebol. Não tem também festa religiosa como a festa do santo padroeiro, por isso, a única coisa que nos resta mesmo é essa Banda sujando e emporcalhando as ruas da cidade. A capital está repleta de terrenos baldios à espera de uma valorização que nunca virá. Capoeiras e mais capoeiras estão ali pelo centro, pagando IPTU barato e enfeiando o que por si só já é feio e desengonçado. E como não temos um Pereira Passos ou um Lúcio Costa, o jeito é continuar vivendo no monturo.

            Mas os vereadores e o prefeito de Porto Velho já consertaram a lambança: pressionados e acuados pelas redes sociais, recuaram e revogaram todo e qualquer aumento do IPTU para este ano e possivelmente para anos vindouros. O valor venal dos imóveis voltou ao preço normal. A novela IPTU de Porto Velho finalmente chegou ao fim. E como ainda faltam dois longos anos para as eleições municipais, é bem provável que não haja nenhuma consequência para os futuros candidatos. O povo esquece muito rápido as chicotadas que leva no lombo e ainda tem um Carnaval com Banda do Vai Quem Quer e tudo pelo caminho. Tem também muito futebol e muitas igrejas e templos lotados para adorar os santos, os pastores, os padres, Jesus Cristo e Deus. Neste episódio pode ter ficado uma lição: em tempos de Facebook e WhatsApp não se pode menosprezar a capacidade política de uma população alienada. Porto Velho ainda terá IPTU baixo com as pessoas podendo sujar as ruas à vontade, participando do Carnaval e amando a sua Banda.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 11 de março de 2023

Dê um golpe, Dr. Hildon!

Dê um golpe, Dr. Hildon!

 

Professor Nazareno*

 

            O prefeito de Porto Velho, Roraima, Dr. Hildon Chaves, tinha cem por cento do apoio da Câmara de Vereadores local. Tinha! Com a baderna instalada na cidade após os amentos abusivos do IPTU, esses 100% diminuíram para apenas um terço. Foi o que mostrou a aprovação, pelos vereadores, da PL 1267 revogando a planta genérica que aumenta o IPTU na cidade. Antes da exótica crise, todos os 21 vereadores estavam na base do prefeito. Agora, pelo menos 14 deles votaram contra o executivo municipal “por causa da surpreendente pressão popular” verificada nas redes sociais contra esse injusto aumento. Dr. Hildon teve apenas 7 votos e não tem mais, por enquanto, a maioria naquela casa. Fosse ele, dava um golpe de Estado em Porto Velho para reverter a situação a seu favor. Começava fechando a Câmara de Vereadores e decretava estado de sítio na cidade.

            Mas Porto Velho não terá nem estado de chácara, quanto mais de sítio. Aqui está mais para estado de fossa ou de vala suja mesmo. Se pelo menos a prefeitura tivesse guarda municipal colocava esses “militares” nas ruas, fechava a Sete de Setembro, proibia manifestações nas redes sociais e mandava prender todos os 14 vereadores que votaram a favor da PL 1267. Mas o Dr. Hildon não vai fazer nada disso, mesmo sendo um político alinhado com a direita e a extrema-direita golpistas do país. Ele é um administrador sério e competente e quer ser governador dos rondonienses no futuro próximo. Sabe que a taxa de IPTU está defasada há uns 20 anos e todos os ex-prefeitos, inclusive ele próprio, que já está no sexto ano de administração, não a reajustaram porque não quiseram. Resta saber qual foi o “sábio” que teve a brilhante ideia de aumentar o IPTU daqui no pós-pandemia.

            Quando se visita Paris, Viena, Londres, Barcelona ou qualquer outra cidade civilizada do mundo, paga-se imposto de estadia, talvez uma espécie de IPTU para visitantes. Em Frankfurt na Alemanha, por exemplo, eu paguei o ano passado dois euros por cada dia que fiquei naquela deslumbrante cidade. Porém, quem diabos vai pagar IPTU caríssimo em Porto Velho para ver lixo, nojeira, lodo, carniça, cachorros e gatos mortos, urubus, bosta, esgotos correndo a céu aberto, garrafas pet jogadas, papel higiênico sujo, absorventes íntimos usados, imundície e igarapés contaminados com água podre e fedorenta? Nem lugar para turismo existe em Porto Velho, onde a qualidade de vida é inferior à de qualquer cidade do Sudão do Sul ou da Etiópia. Já disse que quem tem coragem de morar aqui devia era receber alguma verba extra e não ter que pagar impostos.

            O Dr. Hildon ao tentar reajustar o IPTU sem o apoio dos vereadores parece que quer compensar os mais de 100 milhões de reais que Porto Velho perdeu com a diminuição do preço da gasolina feita irresponsavelmente pelo ex-presidente Bolsonaro no intuito de ganhar as eleições do ano passado. Mas “de algum lugar esse dinheiro vai sair”. Se a “jogada” do IPTU não deu certo agora, com certeza haverá outros ataques ao bolso dos contribuintes dessa imunda e suja cidade. Além do mais, político brasileiro que não aumenta impostos não é político. Não é o caso de Porto Velho, claro, mas sempre haverá a necessidade de mais dinheiro em qualquer “Cuité do Noca” espalhado por esse Brasil afora para poder comprar a imprensa marrom e também o Legislativo. O prefeito não deu o golpe nos vereadores. Na verdade, foi golpeado por eles. E o povo daqui deve agora ficar atento e vigiar a ambiciosa classe política. Mesmo que seja pelas redes sociais.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


terça-feira, 7 de março de 2023

Vá embora daqui, Dr. Hildon!

Vá embora daqui, Dr. Hildon!

 

Professor Nazareno*

 

            O doutor Hildon Chaves é o atual prefeito de Porto Velho, capital de Roraima. Homem bom, honesto e trabalhador se candidatou à prefeitura da cidade em 2016 e de lá para cá não parou mais de trabalhar em prol dos sofridos porto-velhenses. Na política, o Dr. Hildon conseguiu muitas proezas. Aumentou o esgoto e o saneamento básico em 0.4 por cento durante os seis anos à frente da cidade. Porto Velho tem agora uns 2,1 % de esgotos. E teremos até rodoviária nova. Água tratada ainda não temos, mas já se disse que em breve esta capital terá água potável em suas casas. Porto Velho fica na chuvosa região amazônica e bem ao lado de um dos maiores rios de água potável do mundo, o Madeira. Porém, o prefeito-doutor resolveu sem mais nem menos aumentar as taxas de IPTU este ano, fato que revoltou toda a população local. “A revolução do IPTU” acirrou os ânimos.

            Algum “sábio” disse ao prefeito que o cálculo desse imposto estava defasado em uns 20 anos. Logo a seguir, 21 dos 21 vereadores aprovaram as pretensões do Dr. Hildon para cobrar todo o atrasado. O aumento seria de 30 por cento sobre os valores do ano anterior. Só que aumentaram também o valor venal dos terrenos e em alguns casos houve até mil por cento de reajustes. Quem pagava 200 reais de IPTU, por exemplo, passaria a pagar 600, 800 ou até mil reais. As desculpas para a lambança foram as mais esdrúxulas possíveis. Primeiro disseram que foi o MP o responsável. Depois falaram que foi obra do Tribunal de Contas, de técnicos do CRECI, da SEFIN e até mesmo da Câmara de Vereadores. Nas redes socias a insatisfação popular cresceu assustadoramente. Às pressas, os edis aboliram o aumento abusivo, pois apanharam mais do que boi no roçado.

            Dr. Hildon agora passará para a história de Rondônia, mas de forma negativa. Aqui já tivemos as DEMISSÕES do Bianco, os VIADUTOS do Roberto Sobrinho, os PNEUS NATALINOS de Mauro Nazif e agora o IPTU de Hildon Chaves. Se eu fosse ele renunciaria ao cargo e também às futuras pretensões políticas. Será que o povo rondoniense quer um governador que aumenta tributos de forma injusta? Homem muito rico, se fosse ele eu estaria morando em Miami, Viena ou Barcelona. Se eu tivesse só um por cento da fortuna que acho que ele tem, eu já tinha saído daqui há muito tempo. Dr. Hildon foi injusto com o “seu” povo. Disse que ia cuidar de todos e agora faz uma dessas. Vá embora, homem! Deixe-nos em paz! Renuncie! Vá cuidar dos seus netinhos e saia daqui. Sua carreira política e a dos vereadores pode não ter acabado, mas sofreu um abalo.

            Porto Velho só lhe deu coisas boas, homem! Elegeu o senhor em 2016, reelegeu em 2020, elegeu a sua esposa e quase todos os seus amigos e indicados. E o senhor responde desse jeito? Homem sem coração não prospera na vida pública. Mas antes de sair daqui nos ensine como ter o apoio de 100% de quem lhe devia fazer oposição. Não confie muito nestes vereadores. Para salvar a pele deles, jogam qualquer um aos jacarés e candirus como fizeram com o senhor dessa vez. Diga também como se faz para que a mídia marrom de Porto Velho lhe apoie em tudo. Nem Jesus Cristo teve tanto apoio assim. Hitler, Stalin, Pol Pot e Fidel Castro tinham opositores no Legislativo, mas o senhor não tem. Demita o seu secretário da Fazenda! Com esta lambança ele quase destrói a sua carreira política e a dos vereadores. Vá lamber as feridas e juntar os cacos. Peça desculpas a Porto Velho! Respeite o pobre contribuinte após uma cruel pandemia. É pedir demais?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 5 de março de 2023

De Bianco a Hildon: só chicote!

De Bianco a Hildon: só chicote!

 

Professor Nazareno*

 

            O Estado de Rondônia é um desses abortos da natureza. Sua criação no início da década de 1980 desencadeou uma das maiores devastações ambientais de que se tem notícia no mundo. Sua capital, Porto Velho, é pior ainda em termos de agressões ao meio ambiente. Mas é na área da política que a desgraça acompanha dia após dia os habitantes tanto do Estado quanto de sua principal cidade. No ano 2000, o governador de então, José Bianco, simplesmente demitiu dez mil funcionários públicos estaduais. Vivíamos a pandemia das privatizações e o auge do Neoliberalismo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Dez mil pais de famílias de Rondônia foram para o olho da rua sem direito a nada. Muitos servidores entraram em depressão. Alguns se suicidaram. Famílias inteiras foram destroçadas. O caos se instalou no Estado. Fome e miséria ameaçaram muita gente.

            José de Abreu Bianco com suas demissões injustas e arbitrárias perdeu a reeleição. Seu sucessor, Ivo Cassol, promete recontratar todos os demitidos. Ganhou as eleições e assim fez. Porém as chicotadas de Bianco no lombo dos coitados rondonienses ficaram para a História. Mas eis que vinte e três anos depois, foi a vez de Porto Velho, a imunda e suja capital, sofrer as agruras das más administrações políticas. Dr. Hildon Chaves, o atual prefeito, permite que o IPTU da cidade seja reajustado em alguns casos em até 300 ou 400 por cento. Essas ações equivocadas penalizam sem dó nem piedade grandes parcelas da sofrida população. Bianco chicoteou servidores públicos probos e honestos e nada aconteceu com ele, enquanto Dr. Hildon penaliza a população de uma cidade inteira. O atual prefeito é um homem muito rico. Muitos falam que nada também lhe acontecerá.

             Nem José Bianco nem Hildon Chaves são cidadãos de Rondônia ou de Porto Velho. Um nasceu em Apucarana no distante Estado do Paraná e o outro em Jaboatão dos Guararapes em Pernambuco. Portanto, não se preocupar com os pobres e miseráveis cidadãos nascidos em Rondônia pode até ser normal para eles. Por isso, chicotear o povo humilde é até divertimento para muita dessa gente metida a rica. Pagar IPTU altíssimo em uma cidade porca e imunda é um acinte. Não há chuva que não inunde as ruas de Porto Velho, que tem menos de dois por cento de esgoto e saneamento básico. Água tratada por aqui inexiste. A cidade é uma pocilga a céu aberto. E o Dr. Hildon sabe disso. Mas foi reeleito e também conseguiu eleger a sua esposa como deputada estadual. O povo de Porto Velho, em sua maioria, parece que consente que lhe batam de chicote no lombo.

            O alienado, idiotizado e despolitizado povo daqui, em sua maioria, até que tenta reagir ao descalabro. Invoca o MP, o TCE e outras instâncias de poder. Mas parece que tudo vai dar em nada mesmo. VAMOS PAGAR SEM CHIAR ESSE IMPOSTO. Seremos chicoteados “até dizer chega”. Hildon Chaves, que quer ser governador de Rondônia em eleições próximas, tentou comparar a suja e fedorenta Porto Velho com Londrina e Maringá no Paraná para justificar o assalto que está tentando emplacar por aqui via IPTU. Só que não cola. Essa comparação é esdrúxula e sem sentido. As cidades paranaenses estão a anos-luz de nós em matéria de limpeza e de boa administração. Dos 21 vereadores de Porto Velho, em quem votamos em 2020, “somente” 21 deles estão com o prefeito. Ou seja, 100% estão contra o povo daqui. Bianco não retrocedeu e parece que o Hildon Chaves vai fazer a mesma coisa. Ou viramos Yanomamis ou iremos às vinícolas gaúchas.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 3 de março de 2023

Desgraça em Cuité do Noca


Desgraça em Cuité do Noca

 

Professor Nazareno*

 

            Cuité do Noca, antiga Cuité de Chica Gorda, é uma cidadezinha atrasada e perdida nos cafundós do Brasil. Tem um prefeito, que foi reeleito em 2022, tem vários juízes, autoridades diversas e também uma Câmara de Vereadores. Na política, Cuité é um caso único no mundo: não tem oposição à administração municipal. Dos 21 vereadores daquela malfadada cidade todos eles são cupinchas do prefeito. De Mao Tsé Tung na China, Hitler na Alemanha, Maduro na Venezuela, Fidel Castro em Cuba, Idi Amin Dada em Uganda passando por outros déspotas, não há um só deles que tenha governado o seu povo sem ter o mínimo sequer de oposição. Um jornal apenas, uma emissora de rádio, um jornalista, um político qualquer. Esse fato inédito deveria ir para o livro dos recordes: o prefeito de Cuité do Noca não tem desafeto nenhum. Governa o lugar voando em céu de brigadeiro.

            Político de pouca experiência e muito incompetente, ele suborna os jornais e as emissoras de rádio da cidade que administra. Nenhum periódico pode publicar matéria que desabone a conduta desse “líder municipal”. Artigos, matérias e textos de opinião são censurados na maior cara de pau pelos corruptos donos desses órgãos noticiosos. Por isso, o abençoado prefeito faz o que quer contra os pobres munícipes. Quase todos os eleitores cuiteenses são pobres e miseráveis, mas todos eles são da direita e da extrema-direita. Dessa vez o insensível alcaide resolveu aumentar o valor do dízimo municipal. Disse que havia muitos anos que não se dava reajuste naquele imposto. Assim, teve uma ideia de gênio: deixou cobrar o atrasado de uma só vez dos coitados dos contribuintes. Determinou que os “sábios” da prefeitura “descessem a lenha” nas taxas do dízimo. E assim foi feito.

Sem dinheiro sequer para comer, muito menos para pagar impostos altíssimos, os indigentes moradores de Cuité do Noca sofrem mais do que os Yanomamis famintos ou aqueles trabalhadores baianos escravizados nas vinícolas do sul do país. Se não pagarem esse imposto, muitos podem até perder os seus “tapiris”, que levaram a vida inteira para conseguir. Há casos escabrosos de contribuintes que tiveram aumento de 300 ou 400 por cento na sua parcela do tributo. Enquanto isso, a Câmara de Vereadores de Cuité nada faz para amenizar o sofrimento do povo. Puxa-sacos incondicionais do executivo municipal, os legisladores mirins “nadam em dinheiro” e riem da desgraça de seus eleitores. E estão certos: 2023 é um ano sem eleições e quando 2024 chegar, quase ninguém vai se lembrar desta desgraça que se abateu em Cuité de Chica Gorda. Muitos até elogiam aquele “líder”.

E parece que não há mesmo muito o que fazer. O infortúnio chegou de vez àquela cidade promíscua e explorada. “O jeito é pagar o dízimo municipal”, já disseram às gargalhadas alguns dos comprados vereadores. “Precisamos de muita grana para bancar as próximas eleições”, devem pensar. Fala-se que em Cuité do Noca não existe um só político honesto. Exagero? Mas o eleitor de Cuité, iletrado e sem nenhuma consciência política, fica feliz, pois lhe dão algumas válvulas de escape para esquecer seus problemas.  Desfila todo ano numa enorme banda de Carnaval que é bancada, algumas vezes, com polpudas verbas municipais. Dizem que os vereadores cuiteenses não vão fazer nada para resolver o caos. Percebe-se que nenhuma autoridade está interessada em resolver a lenga-lenga. Mas os edis, todos endinheirados e alegres, ficaram entre a cruz e a espada: não querem, claro, aborrecer o prefeito nem os seus eleitores trouxas. Triste sina essa de Cuité.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


quarta-feira, 1 de março de 2023

Porto Velho com IPTU de Viena


Porto Velho com IPTU de Viena

 

Professor Nazareno*

 

            Viena, a imponente capital da Áustria, é a melhor cidade do mundo para se viver. Com quase dois milhões de habitantes, a capital austríaca foi eleita pela oitava vez consecutiva com o título de melhor lugar do mundo para se morar e ali desfrutar das belezas e das comodidades da antiga capital do Império austro-húngaro. Já Porto Velho, a acanhada e suja capital de Rondônia, é o oposto daquela limpa, arborizada e asseada cidade europeia. Em Viena, claro, existem também impostos municipais assim como na “capital dos destemidos pioneiros”. A diferença, no entanto, é o retorno que esses tributos oferecem aos seus munícipes. No ano passado eu paguei de IPTU e de taxa de lixo a quantia de 595,82 reais. Em 2023 deverei pagar 868,57 reais. Ou seja, quase 46% a mais pela mesma residência. Só que no país, a inflação no período foi de 5,79%. Fui roubado!

            Pagar para se morar em Porto Velho é um acinte, um desaforo, uma aventura exótica, uma pilheria das maiores. Ruas sujas e igarapés imundos são características típicas desta “filial dos infernos”. E pior, a conta de IPTU que a Prefeitura da cidade nos manda todos os anos é sempre um roubo qualificado, com aumentos injustificáveis. Morar em Viena, Paris, Berlim ou até mesmo em algumas cidades do sul do país como Curitiba, Maringá, Blumenau ou Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, deve ser algo prazeroso e muito bom. Deve ser por isso que segundo o IBGE, Porto Velho perdeu na última década mais de 100 mil moradores. De quase 600 mil habitantes em 2015, hoje a cidade tem pouco mais de 460 mil moradores. Ninguém pode estar satisfeito em morar na lama, no esgoto, no lixo, na imundície, no lodo. Nem mobilidade urbana com bons coletivos a cidade tem.

            Muito ao contrário de Viena, Porto Velho não tem absolutamente nada de atração turística. Além do lixo esparramado pelas ruas é comum se viver com as intermináveis alagações das chuvas do rigoroso inverno amazônico. Durante o Carnaval, por exemplo, toneladas de monturo e seboseira são coletadas dos imundos foliões. O lixo e a falta de educação são parceiros de alguns habitantes que ainda têm coragem de morar por aqui. Certamente não há no mundo todo uma curva de rio tão podre quanto esta. Já Viena tem o rio Danúbio em cujas águas limpas e potáveis as pessoas se banham no verão. Tomar banho no Madeira é uma aventura das mais terríveis. Cardumes de candirus e roxas podem devorar um ser humano em minutos. Isso sem falar nos jacarés e cobras que têm no sujo e selvagem rio. O que dizer da água contaminada de mercúrio, hepatites e vermes?

            A prefeitura de Porto Velho deveria se acanhar de cobrar de seus corajosos moradores preços tão exorbitantes de qualquer tipo de imposto. Aliás, deveria mesmo era pagar para os brasileiros de outros lugares mais limpos e asseados virem para cá. Morar neste lodaçal e ainda pagar por isso é algo inacreditável. E pior, com majorações oito ou dez vezes acima da inflação do período. Aqui não tem o Palácio de Schönbrunn, só a “sempre em obras” Praça da EFMM, cheia de bosta humana, catinga e lixo. Não tem o pontual e limpo metrô vienense. Sequer tem uma rodoviária. Comparar o moderno porto de Viena no poético rio Danúbio com o porto do Cai N’água no assoreado e contaminado rio Madeira é a maior das cretinices. A catedral de Viena é algo ímpar. O legado artístico e intelectual vienense consolida as muitas obras de Mozart, Beethoven e Freud, que nela viveram. Quem de tão importante viveu ou ainda vive por aqui para pagar IPTU tão caro?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.