terça-feira, 30 de setembro de 2014

Porto Velho, uma cidade cem anos



Porto Velho, uma cidade cem anos

Professor Nazareno*
           

            A Biologia nos ensina que todo ser vivo possui função excretora. Já a Sociologia nos fala que toda cidade é um organismo vivo. Dizem que Porto Velho, a nossa capital, é uma cidade. Logo, por ser um organismo vivo deveria ter sistema excretor. Mas não tem. E nunca teve em toda a sua imunda e suja existência de um século. Toda a sujeira produzida por aqui fica dentro do próprio organismo mesmo. Única produção local, são mais de 50 toneladas diárias só de fezes humanas sem ter um lugar de destino. Isso sem falar no lixo e nas imundícies características de uma cidade quase sem água tratada e saneamento básico. Cem anos é a característica maior da capital mais suja do país, segundo o Instituto Trata Brasil. Com pouca qualidade de vida, sem planejamento urbano e sem arborização, a cidade já deveria ter perdido o posto de capital de Estado.
            Porto Velho cem anos e também sem viadutos. Até que as autoridades, quer dizer, os amados e probos políticos que nós portovelhenses sempre elegemos tentaram construir estes obsoletos e caros elefantes brancos. Localizados na entrada, ou saída, da cidade são um eterno desafio aos inoperantes homens públicos locais e há vários anos ficaram lá abandonados com suas carcaças repletas de manilhas enfeando ainda mais o que já era horroroso de se ver. Na iminência de cair em cima de carros e pedestres, as tristes e monstruosas obras pelo menos serviram de catacumba para as pretensões do PT, o partido que tentou construí-las. Tem uma ponte, mas é inútil, está escura, custou mais de 300 milhões de reais, continua inacabada, foi inaugurada há pouco e liga “o nada a coisa alguma”. Lá está a síntese da cidade: feia e sem nenhuma função aparente.
            Cem anos, sem esgotos, sem água tratada, sem limpeza, sem árvores, sem planejamento urbano nenhum, com muita malária, dengue, imundícies e lixo, a capital de “Roubônia” é também muito conhecida pela alcunha de PORCO VELHO. Na enchente histórica de 2014, ano do centenário desta currutela, o rio Madeira mostrou a verdadeira face da cidade: um lixão a céu aberto. Tem e sempre teve Prefeito, mas é como se fosse um município sem o dito cujo. Talvez por ser uma cidade cem anos, poucas pessoas lhe declaram amor. Quem pode, estuda e mora fora daqui. Muita gente esconde o fato de ter nascido na “capital brasileira do lixo, da carniça e da podridão”. E como quem não gosta geralmente não preserva, durante essa cheia histórica, muitas autoridades locais deixaram as águas infectas destruírem o pouco da história da cidade.
            Na última Copa do Mundo, alguns políticos mentirosos chegaram a dizer que “isto aqui” seria uma das subsedes do torneio. Claro que muitos otários acreditaram, mas o que diabos um elegante e nobre europeu, acostumado com a civilidade, a limpeza e a organização viria fazer no meio do mato, do atraso e do lodaçal? Somos uns 500 mil contribuintes vivendo de ilusões, abandonados e na catinga. A Câmara de Vereadores da cidade é uma piada das mais infames. Dizem as más (e boas) línguas que é um dos lugares onde há mais sujeira e lama em toda a capital. Isso porque muitos não conhecem a Assembleia Legislativa do Estado. Diferente das aldeias mais desenvolvidas e bonitas do mundo, flores por aqui nem nos cemitérios há. É só lama no inverno e poeira no verão. Chamá-la de antessala do inferno seria um desrespeito ao Satanás e a sua gente, já que até o “Coisa Ruim” deve defecar normalmente. Cem anos e por isso com tantos problemas, a cidade deveria ser transformada em vila ou distrito ou então ser entregue aos bolivianos. Quem sabe assim teríamos dias melhores? E com muito mais limpeza.



*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Nenhum ser humano é MACACO



Nenhum ser humano é MACACO

Professor Nazareno*

            Eu sempre gostei muito de animais. Tenho três lindos GATOS: na verdade, duas GATAS, a Alvinha e a Neguinha e um GATO, o Zé Negão. Tinha também vários CACHORROS. A Roliça, o Milu, o Totó dentre tantos outros. E fico muito indignado quando vejo pessoas maltratando bichos. E o que se observa hoje em dia na hipócrita sociedade dos homens é um abuso atrás do outro contra todo tipo de animais. Achando que os maus tratos e a agressão física eram pouca coisa, muita gente resolveu partir para a ignorância e a estupidez explícitas. Recentemente uma torcedora do Grêmio de Porto Alegre chamou publicamente o goleiro do Santos de MACACO. Um absurdo, uma ofensa aos MACACOS. Nenhum animal pode ser desrespeitado de forma tão gratuita. Talvez não haja nada pior para os animais do que serem comparados a seres humanos.
            Os animais irracionais são muito superiores aos humanos, pois nunca ouvi dizer que um deles tenha declarado guerra a outros de sua espécie. Desprovidos de inveja, ambição, ódio, dentre outros sentimentos humanos, os pobres animais também nunca apareceram em propaganda eleitoral gratuita do rádio e da TV. Um PORCO, por exemplo, é superior a qualquer homem, pois quando morre dá uma deliciosa bisteca. E o homem? Se não for enterrado logo, ninguém suportará a catinga. Os coitados também não colocam nomes de homens em seus filhos. Sabem o nome do goleiro do Santos? ARANHA. Ele ficou aborrecido quando foi chamado de MACACO, mas ARANHA é um bicho horroroso e de picada mortal. Chamar de MACACO é racismo, crime. VEADO é homofobia. E VACA, CACHORRO, RATO, GALINHA, CAVALO, pode?
            Não consigo entender alguns humanos. Por que um cidadão tem orgulho de ser chamado de ARANHA e procura a polícia quando é chamado de MACACO? Óbvio que tudo isto é um problema de contextualização dos nomes destes animais, mas dar importância a esta tola jovem é uma sandice sem tamanho. A sua punição não apagará a vergonha de mais de três séculos de escravidão em nosso país. O negro, de um modo geral, não deveria se ofender com estas tolices e nem tentar lembrar a ninguém que eles, os negros, foram os maiores responsáveis pela produção de riquezas em nosso passado colonial. O Brasil só é esta potência econômica por causa do negro. O branco, ou qualquer outro cidadão, que não entender isto em nossa História, deveria ser taxado de BURRO ou de ANTA, com todo o respeito, claro, a estes dois gloriosos animais.
            Óbvio que o racismo deveria ser banido da nossa história, mas é muito difícil, já que até mesmo o Governo Federal o incentiva com a criação de cotas nas universidades. Além do mais, essa prática geralmente parte de pessoas sem a menor leitura de mundo, no caso fanáticos torcedores de times de futebol. Tentar encontrar resquícios de inteligência nesse meio é uma das tarefas mais difíceis que há. E não adianta dizer que o mal deve ser cortado pela raiz por causa da Escravidão ou de outras monstruosidades praticadas contra os negros. A jovem gremista foi mal educada, mas não devia ter sido execrada publicamente como foi. Até porque havia outras pessoas com ela, algumas inclusive negras, xingando o ARANHA naquela ocasião. Por tudo isso, devíamos lançar uma “campanha em defesa dos animais: nunca chame um ser humano de MACACO”. Essa postura irresponsável e incoerente pode ser muito danosa para os “outros” bichos.



*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Uma ponte com 975 m de “estensão”


Uma ponte com 975 m de “estensão

Professor Nazareno*

           Para delírio geral e alegria da matutada, finalmente a capital dos rondonienses agora tem uma enorme ponte. Custou uns 300 milhões de reais e para combinar com as muitas outras obras da cidade, o inútil e sinistro monumento ainda está inacabado. Reclamaram as más línguas que está no escuro. Nada mais normal para uma cidade que vive suas noites em pleno breu. Já acostumada com a falta de lâmpadas, a “cidade das hidrelétricas” nem se preocupa com o problema. Agora todos creem piamente que Porto Velho, por causa desta horrorosa obra, foi finalmente ligada a Manaus. Ledo engano. Para não ficarem para trás, os amazonenses também fizeram a sua ponte. Só que lá no Amazonas liga Manaus a Cacau Pirera e não à BR-319. Então saindo daqui, chega-se ao Careiro da Várzea e de lá ainda serão duas horas de balsa até a capital amazonense.
            Estrategicamente ligando “o nada a coisa alguma”, o dispensável entulho de cimento e concreto até agora só tem servido para baratear o preço da farinha de mandioca do Projeto Joana D’Arc, além de ser usado também para os curiosos fazerem fotos e postar nas redes sociais. Uma ponte sem estrada nem movimento de carros e pessoas que possa justificar a sua dispendiosa construção é uma homenagem ao desperdício, coisa típica de políticos brasileiros. Essa grana poderia ter sido usada para criar uma universidade estadual ou até para melhorar as nossas escolas, mas quem se importa com educação por aqui? Os otimistas podem falar que a estrada até Manaus sairá algum dia. Sonho impossível, pois além de precisar construir outra ponte lá no Amazonas, com a vitória quase certa da Marina Silva este projeto jamais sairá do papel.
            Construir uma ponte para subsidiar farinha d’água e alegrar meia dúzia de capiaus, já é sinônimo de desenvolvimento e progresso em Rondônia. Ponte tem que ter serventia como a Rio-Niterói, a de Natal, Vitória, Porto Alegre e tantas outras importantes. Toda essa verba injetada na decadente e quase falida economia local faria alguma diferença para melhor. A lúgubre construção, por ter a proteção lateral muito baixa num dos lados, apresenta sérios perigos para os transeuntes. Servirá apenas para aumentar ainda mais o número de suicídios em Porto Velho e também para a “desova de presuntos” sem que ninguém veja. Poderia servir futuramente também para a realização do Arraial Flor do Maracujá, já que esta conhecida festa, chamada de cultural por muitos, ainda não tem local nem data definida e por ser caipira combina com a situação.
Das três pontes prometidas para Rondônia em “outras campanhas eleitorais”, esta é a menos importante. E das três, deveria ter sido a última a ser construída. Por que não construíram uma no Abunã na BR-364 e tiraram o vizinho Acre do isolamento? Quase um milhão de brasileiros seriam beneficiados. A construção de uma ponte binacional ligando Guajará-Mirim a Guayaramerin melhoraria a vida de mais de 100 mil pessoas entre brasileiros e bolivianos. O problema é que ao lado destas pontes não existem os mais de 300 mil eleitores para ver e admirar diariamente a “capacidade e a competência” de suas autoridades. Como seria bom que o problema desse trambolho se resumisse somente a um simples erro de ortografia. Falta agora nomear o bisonho e desnecessário monumento. Com tantos bons políticos sobrando em Rondônia, seria difícil escolher qual deles lhe daria um bom nome. Porto Velho agora tem festa na roça.



*É Professor em Porto Velho.

sábado, 13 de setembro de 2014

Nem Dilma, nem Aécio, nem Marina




Nem Dilma, nem Aécio, nem Marina

Professor Nazareno*

            As eleições presidenciais no Brasil assumem um ritmo frenético nesta reta final de campanha antes do primeiro turno. Dos muitos candidatos à Presidência da República, por exemplo, apenas três deles têm capitalizado as atenções do eleitorado, da mídia e principalmente dos “ocultos” e muitas vezes desconhecidos financiadores de suas empreitadas políticas. Como nos países mais desenvolvidos e civilizados do mundo é o eleitorado que, em tese, deveria decidir qual dos três assumirá pelos próximos quatro anos os destinos da nação. Nos Estados, para a eleição dos Governadores, também é a mesmíssima coisa. E também não é diferente para a escolha dos Deputados Estaduais, Deputados Federais e parte dos Senadores. Enganados, mais de 150 milhões de eleitores acreditam que terão a palavra final para a vitória de seus candidatos.
            Quem elege os futuros governantes no Brasil não somos nós os eleitores como se pensa. Nunca foi. Desde que a política é praticada neste país, os únicos vencedores dos pleitos são aqueles que financiam as campanhas. Como num jogo de azar, esses financiadores, indiferentes às necessidades e aspirações da população, fazem suas apostas e direcionam suas fichas bem antes do jogo começar. Ricos, poderosos e com muito dinheiro sobrando geralmente veem a política como mais uma forma, algumas vezes ilegal, de multiplicar suas fortunas. E como em nosso país a lei só é para os fracos e pobres cidadãos, praticamente qualquer indivíduo, com raríssimas exceções, pode se candidatar a qualquer cargo eletivo. A tão propalada Lei da Ficha Limpa na maioria dos casos nem é levada em conta. Por aqui “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
            Se alguém, alguma empresa ou instituição financia a campanha de um candidato e contribui com qualquer quantia, não faz isso baseado na amizade e tampouco na ideologia. Dependendo do ramo de negócios desse financiador, certamente será ele que “ganhará” muitas das licitações de que participará no futuro Governo. No Brasil, “ninguém dá murro em ponta de faca”, muito menos quem é empresário. E os otários eleitores muitas vezes ficam se digladiando no meio das ruas, brigando por este ou aquele candidato. A mídia, travestida nestas horas de paladino da moralidade e da imparcialidade, também faz suas apostas e, a exemplo da Rede Globo em 1989 com Lula e Collor, determina quem vai ganhar ou perder as eleições. Neste amaldiçoado jogo só há um perdedor: o infeliz cidadão que paga impostos para sustentar tudo isto.
            Quanto ganha por mês um Deputado Estadual? Quanto ganha um Governador de Estado? E quanto gasta cada um deles em suas respectivas campanhas eleitorais? Fazendo a conta, percebemos que não existe lógica nenhuma nesta matemática: ou estes candidatos são trouxas demais ou há "algo" lhes esperando lá no “fim do túnel”. Ou antes. Todos os candidatos têm obviamente virtudes e defeitos. Só depende das táticas do jogo para saber quais adjetivos serão mais enaltecidos e aprendidos pelos babacas que votarão neles. Passada a euforia das campanhas, todos “lá em cima” se aliam e se apoiam dependendo mais uma vez do jogo de interesses. E o nosso país, o Estado e a população, principalmente aquela mais carente, sofrem à espera de soluções para os seus eternos problemas. Dilma, Aécio ou Marina governará mesmo para o povo? Eis por que um país tão rico ainda é comparado a um membro da África Subsaariana.  



*É Professor em Porto Velho.