Democracia corrupta, política de poucos
Professor Nazareno*
O
Brasil é uma das maiores democracias do mundo. Hoje, são mais de 150 milhões de
eleitores que a cada dois anos participam de eleições para a escolha de seus
governantes. Do Presidente da República até o mais humilde vereador, todos têm
que passar pela aprovação do eleitorado. No entanto, o brasileiro, de um modo
geral, não gosta da política nem dos políticos. Não é difícil para o nosso
cidadão eleitor associar a prática política com roubalheira, enriquecimento
ilícito, desmandos, desvios de verbas, tráfico de influência e toda a sorte de
ladroagem. E tem razão, pois o que faz um político? Um juiz estuda para
interpretar e aplicar leis. Um médico estuda, e muito, para adiar a morte de
seus pacientes. Um professor não para de estudar. Um jornalista lê muito. Todo
profissional estuda e trabalha para se manter e tentar mudar a sociedade.
Para ser político no Brasil, na
maioria dos casos, o indivíduo não precisa estudar nem ler absolutamente nada.
Pode até ser ladrão, gangster, mafioso, canalha, patife, criminoso, corrupto,
bandido, ficha-suja, mentiroso ou outra desgraça qualquer que será bem aceito
por um partido político e quase sempre lhe é concedido o direito de ser votado.
Com estes adjetivos, como um “nó cego” desses trabalhará pelo coletivo
quando for eleito? Ainda assim, muitos dos eleitores adoram receber um CDS,
gasolina, dentadura, telhas e outros mimos para votar nestes canalhas. O último
obstáculo deveria ser quem vota, mas este eleitor também “faz vistas grossas”,
por ignorância ou por necessidade. Por isso, em quase todas as eleições,
ficamos num beco sem saída e, ingênuos, esperamos mudar tudo na próxima votação
quando o ciclo se repete.
É
bom que se ressalte ainda que a corrupção na política deve existir em todos os
países do mundo. Mas o que diferencia a nossa das outras talvez seja a
impunidade, por falta de uma legislação pertinente, e a pouca ou nenhuma
fiscalização de quem elege esses políticos escroques. Assim, parte dos recursos
públicos necessários para promover os investimentos sociais de que a população
carente tanto necessita é vergonhosamente desviada por estas autoridades
travestidas de bandidos, acentuando desta maneira o abismo social entre pobres
e ricos e empobrecendo cada vez mais o país. Desse modo, não basta apenas criar
mais leis para punir os corruptos. É necessário que o eleitor seja mais
exigente ao votar, fiscalize todos os eleitos e se conscientize de que cada
centavo desviado fará falta na melhoria da sua qualidade de vida.
Além disso, no programa eleitoral gratuito do rádio e da TV ficamos confusos. Afinal,
os pouquíssimos honestos e os muitos desonestos estão ali, juntos e cúmplices,
todos falando quase sempre as mesmas palavras de otimismo. Honestidade,
dignidade, trabalho, motivação, perseverança, riqueza, participação, democracia, prosperidade, verdade, bonança, afinco, firmeza, hombridade, dentre
outras mentiras é o que mais se vê e ouve. Somos responsáveis, eleitores e
eleitos, pela construção de um Brasil melhor. E devíamos lutar e contribuir
para vivermos livres da corrupção, da roubalheira, da incompetência
administrativa e de outras mazelas. Como não há ditaduras honestas, o jeito é
se conformar com a democracia corrupta que temos e lutar para mudá-la usando a
mesma arma que ela nos dispõe: o voto consciente. A política tem que ser de
todos e para todos. Caso contrário, esse país não mudará nunca.
*É Professor em Porto Velho.
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