sábado, 26 de outubro de 2019

Esquizofrenia coletiva


Esquizofrenia coletiva

Professor Nazareno*

            O mundo ferve: a América Latina ferve, a Europa ferve, a África ferve. Na Espanha, os catalães saem às ruas para protestar e mostrar sua insatisfação contra a decisão da Suprema Corte do país em punir líderes separatistas. No Equador, multidões fazem o governo direitista de Lenin Moreno recuar no aumento de mais de cem por cento dado aos combustíveis. No Chile, mais de um milhão e duzentas mil pessoas protestam nas ruas de Santiago contra o aumento no preço das passagens de metrô e principalmente contra as políticas neoliberais do governo de Sebastián Piñera. Os chilenos pedem mais justiça e o fim da desigualdade social que estão vivendo. Enquanto isso, o Brasil vive uma calmaria sem precedentes à espera de o Flamengo se tornar bi campeão da Taça Libertadores na mesma Santiago conflagrada pelos protestos sociais.
            Diferente das grandes manifestações de 2013, quando multidões foram às ruas “por causa de um aumento de apenas 20 centavos nos preços das passagens de metrô em São Paulo”, hoje o brasileiro não é nem a sombra daqueles manifestantes furiosos. Parece até que o objetivo “daquilo tudo” era só um jogo de teatro para nos confundir. Calados e passivos, assistimos ao golpe parlamentar dado na Dilma Rousseff e no PT em 2016, quando ascendeu ao poder a quadrilha do PMDB de Michel Temer. Vimos tranquilamente a roubalheira continuar dilapidando nossas riquezas. De camarote, assistimos ao aumento da corrupção dos governantes e nunca mais saímos às ruas para protestar contra nada. O fascismo hipócrita e anacrônico assume o poder nacional e sob a nossa complacência e esquizofrenia coletiva, dita as regras como se tudo fosse normal.
            Muito pior do que o Chile, o Equador, a Catalunha, a Bolívia ou qualquer outro país conflagrado, continua-se a viver hoje no Brasil dias turvos na política e na economia, mas ainda assim permanecemos acomodados como sempre. Desde o Brasil Colônia, a nossa sociedade é vítima da monstruosa desigualdade social e nada fez nem faz para combater essa desgraça nacional. Toda a riqueza produzida praticamente vai para as mãos de poucos enquanto a maioria sofre as agruras sem fim. A violência desenfreada nas grandes cidades, a fome, embora sejamos um dos maiores produtores de alimentos do mundo, a corrupção, a injustiça e a roubalheira descarada nos remetem à eterna condição de país de miseráveis. Com um dos piores sistemas de educação do mundo e com a saúde pública toda sucateada, muitos brasileiros ainda riem feito hienas.
            A Amazônia em 2019 ardeu e ainda arde sob o criminoso fogo do agronegócio. O mundo civilizado foi quem gritou contra a fumaça das queimadas. As paradisíacas praias do Nordeste estão infestadas e poluídas de petróleo. Os rios da região Sudeste estão cheios de lama. Mariana e Brumadinho ainda contam seus mortos. A região Sul padece sob o agrotóxico, o veneno na agricultura. E o governo fascista de Bolsonaro nada faz. A privatização e o Neoliberalismo atingiram até a distante população de Rondônia com a roubalheira da Energisa. A desigualdade social só aumenta. Por aqui, o “açougue” João Paulo Segundo ainda não saiu do papel para atender como seres humanos os rondonienses. A briga no Brasil ainda é Direita X Esquerda. E ninguém diz nada. E ninguém faz nada. E ninguém protesta. E ninguém vai às ruas mostrar suas insatisfações. Mas, se o Flamengo perder a Libertadores, aí a revolução começa na hora.



*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Eu “amo” a Energisa


Eu “amo” a Energisa

Professor Nazareno*

            A Energisa é agora a companhia de eletricidade de Rondônia. Só que ela é de Cataguases, Minas Gerais. Foi fundada em 1905 e hoje tem várias subsidiárias de energia elétrica espalhadas por todo o Brasil. É uma empresa de ponta. A competência e o arrojo em suas ações a credenciam para ser uma das melhores concessionárias desse setor não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Já devia ter faturado por diversas vezes o prêmio de melhor empresa para se trabalhar. As revistas Exame e Época Negócios, assim como a Great Place to Work não cansam de rasgar elogios ao desempenho, à correção, à competitividade e principalmente ao respeito às draconianas regras e leis do mercado. Trabalhar na Energisa é um deleitoso prazer. Seus sortudos funcionários e colaboradores não param de, com alegria, enaltecer seu lugar de trabalho.
Tudo aqui é feito com amor, humanidade, lisura e muita compreensão”, dizem à boca larga os seus risonhos trabalhadores. Pensamento rotineiro dentro da Energisa: com salários de primeiro mundo, vantagens pessoais inimagináveis e infinitas outras regalias, não há como não se dedicar “de corpo e alma” a uma empresa “quase santa” como essa. A Energisa comprou a antiga Ceron por um preço justíssimo. O processo de privatização dos bens públicos era um antigo desejo de toda a população rondoniense. Povo de sorte, os políticos locais logo se encarregaram de fazer todo o processo andar. Por isso, ninguém tem mais saudades da Ceron nem dos constantes apagões. Foram os políticos de Rondônia que deram mais este “presente” para o sofrido povo desse Estado. A Energisa talvez só perca em bondade e credibilidade para essa mesma classe política.
Porém, é exatamente na relação com o público consumidor que a empresa se destaca. Hoje, praticamente não há um só rondoniense que não teça loas à sua empresa de energia. Toda a população foi beneficiada com as tarifas sociais praticadas pela Energisa. Os contadores de luz, devidamente regulados e aferidos dentro da lei, não deixam quaisquer dúvidas da justeza dela. “Uma empresa assim deveria ir para a Alemanha, Bélgica ou mesmo o Japão, a fim de prestar os seus relevantes serviços”, é o que se comenta com frequência. Reclamação, nenhuma. Insatisfação, nada. Além, do mais, foi a Energisa que ensinou aos rondonienses os sinônimos de Capitalismo e privatização. Economia de energia passou agora a fazer parte do cotidiano de muitas pessoas daqui. E isso é muito bom, pois a natureza agradece. E tudo isso graças a quem?
A Energisa gosta tanto de Rondônia e de sua gente que incentiva até a liberdade de expressão. Parte da mídia chega também a enaltecê-la. Os jornalistas podem escrever o que quiserem sem ter que enfrentar tipo nenhum de censura ou cerceamento de opinião. A relação dessa empresa privada com os órgãos do Estado, no entanto, é de fazer inveja aos mais rotundos defensores do Neoliberalismo. A briosa Polícia Civil do Estado, por exemplo, sem muita coisa a fazer devido à escassez de violência nas cidades, foi uma aliada de primeira hora da companhia. Não raro, veem-se homens fardados acompanhando o trabalho de troca de contadores ou mesmo quando tiverem de cortar o fornecimento de luz. Outras reconhecidas instituições públicas como o IPEM e o PROCON também não mediram esforços para colaborar com a empresa privada. Será que ela não gostaria de comprar também a Caerd, os Correios e até o próprio Estado?




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Injustiça com a Energisa

 Foto: Pedro Bentes do G1/RO

Injustiça com a Energisa


Professor Nazareno*
           

A Aneel, Agência Nacional de Energia Elétrica, cometeu uma das maiores injustiças contra a Energisa, a companhia de eletricidade de Rondônia, ao não conceder um “pequeno reajuste extra” de pelo menos 20% nas contas de energia elétrica dos consumidores do Estado a vigorar a partir do próximo mês de fevereiro de 2020. Vítima de uma feroz, injusta e sórdida campanha difamatória capitaneada principalmente pela classe política rondoniense, a empresa “tem feito das tripas coração” para atender, sempre dentro da lei, aos seus consumidores. A Ceron foi privatizada com a aceitação, a permissão e a anuência de toda a classe política do Estado, mas a Energisa “tem comido o pão que o diabo amassou” nas mãos dessa mesma gente, dos mesmos políticos, que hoje dizem solenemente estar defendendo a população contra os desmandos da empresa.
Não adianta esses políticos, muitos deles cheios de más intenções, espernear agora e fazer “charminho” só para encher de esperanças e impressionar os seus incautos eleitores. O aumento pode não ter vindo agora, mas virá depois em dobro, diluído mês a mês. É só uma questão de tempo. E ninguém vai reclamar. A Energisa é uma empresa capitalista baseada no lucro de seus donos. Não assumiu a antiga Ceron nem colocou dinheiro na “jogada” para levar prejuízo, pois quem faz proselitismo político e caridade social com o chapéu alheio são os políticos e algumas vezes o próprio Estado. E todos sabiam disto. Todos os políticos de Rondônia, que agora dizem estar insatisfeitos com a situação, também sabiam. Então eles venderam a velha Ceron a “preço de banana” para que todos nós tivéssemos diminuição nas contas de energia? “Me engana que eu gosto”.
Além do mais, muitos rondonienses não sabem o que é o Capitalismo selvagem. Por isso, saem por aí irresponsavelmente defendendo privatizações “a torto e a direito”. Achavam eles que os “gatos” a que muitos já estavam acostumados não teriam consequência nenhuma. A Energisa “botou no toco” e vai criminalizar um a um os ladrões da companhia. Só tem energia em casa quem pode. Várias centrais de ar condicionado, máquinas de lavar e outros luxos consomem muito. E ainda tem gente que se orgulha de ter colocado um “gato”. É óbvio que os excessos de ambos os lados têm que ser apurados, judicializados e punidos. Simples assim. Piada pronta: “Rondônia conquistou uma vitória, o resultado foi positivo”, falaram alguns políticos sem admitir que foram eles próprios que entregaram a Ceron “de mãos beijadas” para os forâneos.
Diferente do povo catalão, do povo basco ou dos curdos, que lutam como loucos e dão a vida e o sangue pela sua autodeterminação, os rondonienses entregaram sem nenhuma luta todas as suas riquezas para quem é de fora. Agora estão reclamando. É tarde. Deviam ter pensado antes. Entregaram o Beron, entregaram a Ceron, entregaram o rio Madeira com a sua exuberante natureza e as suas lindas cachoeiras, entregaram a floresta amazônica para o agronegócio tocar fogo nas nossas matas. “Todo o lucro para quem é de fora e nada para os nativos” é o mantra mais conhecido em Rondônia. Capitalismo e privatização são sinônimos disso que estamos vendo. E um aviso para os mais tolos: o nome da companhia de energia daqui é ENERGISA. Ela quer lucro e tudo fará para tê-lo. Se fosse uma empresa de cunho social mudaria o nome para Centrais Elétricas Irmã Dulce ou Madre Teresa de Calcutá. E por que não a estatizam de novo?




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

O Brasil sem professores


O Brasil sem professores


Professor Nazareno*

            Aposentado, hoje já não sou mais professor. Mas durante ‘rápidos’ 43 anos, orgulhosamente eu ministrei aulas em muitos dos recantos deste imenso país. Do já distante ano de 1976 no Colégio de Araçagi, interior da Paraíba, até a Escola João Bento da Costa de Porto Velho, Rondônia e passando pela escola General Osório de Calama no baixo rio Madeira, fui protagonista da “mais importante atividade” que um sujeito pode exercer. O professor no Brasil nunca foi valorizado nem pela sociedade muito menos pelos governantes. O Magistério sempre foi um trabalho de risco e hoje, com a volta à Idade Média e ao obscurantismo patrocinado pelos atuais governantes, assumir uma sala de aula tornou-se uma profissão tão perigosa quanto ser policial no Rio de Janeiro ou mesmo trabalhar enfrentando o perigo e a morte. O risco é iminente todo dia.
            Por lidar com o conhecimento e a ideologia e, portanto, a libertação do indivíduo, essa faina sempre foi vista com desconfiança pela classe política e também pela elite nacional. Por isso, atualmente ser professor é assumir um risco fora do normal. A perseguição aos decentes tornou-se maior e mais direcionada ainda nestes tempos de “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. A perseguição aos mestres não se resume apenas aos baixos salários, mas principalmente à questão da ideologia dentro das salas de aula. Recentemente em Rondônia, a “patacoada das tabelas com os salários da categoria” empreendida pela SEDUC e pelo governo do Estado mostrou o quanto esses profissionais servem de massa de manobra aos interesses escusos dos “donos do poder”. Além de ganharem pouco, viram chacota pelo governante de plantão.
            A “profissão das profissões” nunca foi fácil e hoje está mais difícil ainda em terras tupiniquins. Muito diferente dos países civilizados: estive recentemente na Alemanha e lá o profissional mais bem remunerado pelo Estado é o professor. A justificativa: “todos os outros profissionais passaram pela sala de aula e precisaram do mestre. Do médico à chanceler do país”. Nem precisa dizer o motivo por que a Alemanha já conquistou mais de cem vezes o prêmio Nobel. No Japão, outra grande potência mundial, o professor não precisa se curvar diante do imperador. Para os orientais “um país que não tem professores, também não terá imperador”. O Brasil nunca conquistou um só prêmio Nobel e sua maior marca de exportação, além das commodities do setor primário, tem sido só “perna de jogador e bumbum de mulher”.
            Não adianta a mídia comprada pelo governo nem a própria sociedade não reconhecerem a importância dos mestres. Um país que não valoriza seus profissionais de sala de aula não pode se desenvolver. E o mundo civilizado é prova disso. E como muitos professores “abrem corações e mentes” de seus alunos, isso irrita sobremaneira os poderosos. E sempre foi assim, entra governo e sai governo. Durante a Ditadura Militar, nos governos neoliberais, durante a esquerda e está sendo assim agora. O bom professor é aquele que se propõe a abrir os olhos de quem não quer enxergar. O lendário e bom professor Paulo Freire, reconhecido no mundo inteiro e demonizado no governo atual, já dizia que “o bom professor é aquele que ao ensinar também aprende”. Por isso, neste dia dedicado a todos nós, parem com as hipocrisias baratas. Vamos nos alegrar em ser a cabeça da sociedade, “a única parte que pensa”. Tranquilo: eu faria tudo de novo.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 13 de outubro de 2019

Nem Greta, nem Lula, nem Raoni


Nem Greta, nem Lula, nem Raoni


Professor Nazareno*

            
            O Prêmio Nobel da Paz de 2019 foi anunciado pela academia norueguesa e de certa maneira revelou-se uma grande surpresa: não contemplou nenhum dos favoritos. O vencedor foi o desconhecido primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed Ali de 43 anos e um dos responsáveis pelo processo de paz com a vizinha Eritreia, lá nos confins da África subsaariana. A sueca e ativista ambiental Greta Thunberg já dissera antes que sua militância contra o caos climático não tinha o objetivo de ganhar prêmios. Já o cacique brasileiro Raoni “corria por fora”, mesmo não se sabendo o que de tão importante ele fez para ser contemplado. Seria o seu beiço de “lata de Nescau”? E o ex-presidente Lula ser agraciado com tal honraria seria também outra aberração. A única coisa que liga os três, no entanto, é o ódio que aparentam sentir pelo atual presidente Jair Bolsonaro.
            Para delírio dos seus seguidores, o “Mito” bem que poderia ter faturado esse prêmio, que não é dado pelo dote intelectual, mas político: é o único dos prêmios da academia norueguesa que o sujeito ganha sem ter demonstrado nenhuma inteligência ou feito qualquer pesquisa. Típico do atual presidente dos brasileiros. E a sua política de inclusão social de semear a paz entre os governados é reconhecida no mundo inteiro. Negros, presidiários, nordestinos, quilombolas, mulheres, homossexuais, ativistas dos direitos humanos, defensores do meio ambiente e outras minorias que o digam. Se existisse um prêmio para as tolices que se diz e pela maneira única de se envolver em encrencas desnecessárias, Bolsonaro seria imbatível. Sem Nobel, sem Oscar, sem nenhum reconhecimento externo, o nosso país continua sendo chacota internacional.
            Sem pesquisas de ponta, sem prestígio e sem conhecimento algum, patinamos. E só não somos piores por que produzimos commodities, mesmo que seja à base da destruição da natureza. Temos um dos piores sistemas de Educação do mundo. Entretanto, a academia da Noruega poderia ter no nosso país vários candidatos. Se os seus membros tivessem o desprazer de conhecer Rondônia, por exemplo, não faltariam postulantes ao prêmio. Hildon Chaves, o prefeito de sua suja e imunda capital, seria um candidato seriíssimo. Hildon, que passa a maior parte do tempo viajando para o exterior, poderia ser agraciado pelo que fez em prol das crianças da zona rural do município. Sem aulas por falta de transporte escolar, muitos dos meninos porto-velhenses poderão ser comparados brevemente às crianças da mesma Etiópia do atual vencedor da comenda.       
Outro que merecia um prêmio dessa magnitude seria a atual empresa de energia elétrica de Rondônia, a Energisa. Responsável talvez pela maior captura de “gatos” em todo o mundo, a Energisa é a empresa dos sonhos dos rondonienses: semeou a paz e a harmonia entre os consumidores do Estado e por incrível que pareça, fez muitos políticos trabalharem em benefício do povo mais sofrido. Além do mais, a “competente” companhia de luz mostrou o que poucas pessoas sabiam: a Polícia Civil, o PROCON e o IPEM têm função definida e servem para alguma coisa. Já Marcos Rocha, o esforçado governador de Rondônia, mereceria também ser agraciado com o Nobel pelo que fez recentemente aos professores do Estado. Como se pode ver, no Brasil e em Rondônia postulantes ao Nobel da Paz não faltariam. Até o Nobel de Literatura poderia ter sido dado a determinados “jornalistas” locais que insistem em pregar o atraso e o passado.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A Civil e a Energia S.A.


A Civil e a Energia S.A.


Professor Nazareno*

Sou um pai de família muito pobre e com pouca instrução. Tinha luz elétrica em minha casa, mas ultimamente não conseguia pagar em dia as contas. Atrasei a última fatura por apenas 15 dias e a companhia de luz já veio me cortar o fornecimento. Só que dessa vez foi diferente. Vários eletricistas chegaram de forma agressiva e todos estavam acompanhados de agentes policiais armados até os dentes. Cercaram a minha humilde residência me fazendo ameaças e me deixaram no escuro. As nebulizações que eu dava no meio filho, que é alérgico e asmático, não podem mais ser feitas. À noite, é quase impossível dormir sem o pequeno ventilador que temos. O calor é sufocante e agora até a água que bebemos é quente. A geladeira, que ficava grande parte do tempo desligada, agora só serve como armário para colocar as poucas compras que ainda consigo fazer.
Não posso entender o porquê dessa atitude dos policiais. Gritavam comigo como se eu fosse um bandido dos mais perigosos. Quanto será que eles ganham para fazer isso com pessoas humildes? Se eu reagisse, teria que ser imobilizado e detido por resistência, diziam eles em voz alta. Meu nome foi para o SPC e Serasa. Não posso mais comprar nada à prestação. Há algum tempo, no início da construção das usinas hidrelétricas, eu gritei a todos pulmões: Hidrelétricas, já! Diziam naquele tempo que o povo mais pobre ganharia um Shopping Center e a vida de todos os nativos iria melhorar muito principalmente os mais pobres. Nós forneceríamos energia boa e barata para os grandes centros consumidores, e como temos várias usinas dessas produzindo muito, praticamente daqui para frente não íamos pagar quase nada pela conta de luz.
O rio das usinas sempre foi desta terra, mas a companhia que fornece a energia é de fora, como sempre. E ela pagou apenas 50 mil reais pela compra de uma empresa “que só dava prejuízos”. E toda a classe política, sem exceção, concordou com aquela venda” absurda, já que na época ninguém deu um só pio. “Tudo para os forâneos, nada para os nativos” é um mantra já bastante conhecido entre os consumidores lesados. Como agora esses mesmos políticos estão querendo “defender o povo?”. Será que eles estão defendendo só os empresários e usam a desculpa de que estão defendendo os mais pobres? Muitos desses políticos “lutadores” vão ganhar “carradas de votos” nas próximas eleições, com certeza. E o poder público, faz o que para amenizar o sofrimento dos mais pobres? Apenas fornece policiais para ajudar uma empresa privada.
Porém, essa mesma empresa de eletricidade é uma das melhores e mais bem intencionadas que já se viu em todo o mundo: além de oferecer o seu produto com lisura e honestidade, também constrói canil, manda reformar pátios de órgãos públicos e revitaliza outros prédios do Estado. E faz isso sem nenhum interesse, não é incrível? Só mesmo por amor à terra onde presta os seus excelentes serviços e também pela dedicação que tem por seus consumidores. Hoje, apesar de eu estar sem energia elétrica em minha casa, não há como não demonstrar o meu incondicional amor a esta terra de gente brava e hospitaleira. “Não nasci aqui, mas meu coração é daqui”. E mesmo à luz de velas e com algumas dificuldades, gritarei com toda a força: "temos os melhores políticos do mundo, que lutam por cada um de nós". Depois de privatizada a energia, falta agora o Procon, a polícia e o IPEM, por isso somos muito felizes como povo.




*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Eu teria condenado o Lula


Eu teria condenado o Lula

Professor Nazareno*

             Hoje eu sou um simples professor aposentado. Mas se fosse um juiz, na época eu também teria condenado o ex-presidente Lula à prisão. A corrupção é o pior inimigo das recém-democracias latino-americanas. É inimiga da humanidade como um todo. E Lula chefiou um governo corrupto e imoral. Prova maior é a condenação de muitos petistas que lhe assessoraram como Zé Dirceu, Zé Genoíno, Antônio Palocci, Delúbio Soares, João Vaccari Neto dentre tantos outros. Essa gente se envolveu primeiro no Mensalão e depois no Petrolão. No primeiro caso, armaram um esquema indecente e abjeto para se perpetuar no poder. Depois, sem dó nem piedade, se aliaram a uma parte da elite empresarial do país para saquear a Petrobras. Tudo isso sem levar em conta os princípios de igualdade e de honestidade que eles sempre defenderam antes do poder.
            Só que como juiz, eu teria condenado o Lula e todos os outros petistas sempre dentro da legalidade. Não teria dado “brechas” para nenhuma ilação após o fato consumado. O “Sapo Barbudo” teve, claro, todo o direito à ampla defesa, mas “o jogo” parecia já ter as cartas marcadas. Um juiz não pode jamais instruir nenhuma das partes do processo, isso é consenso não só nos meios jurídicos, mas a própria Constituição prevê esse dispositivo. Nos processos da Lava Jato que incriminavam os petistas, Sérgio Moro não foi apenas um juiz, foi uma espécie de advogado de acusação. As gravações da Vaza Jato deixam isso bastante claro. Não havia escapatória para o ex-presidente. Ele fora flagrado no erro e com a “mão na botija”. Não lhe restava outra alternativa: teria que pagar por todos os erros cometidos. E havia provas de sobra para o veredito final.
            De cada dez maneiras para condenar os malfeitores, somente uma era a errada. E o juiz de Curitiba optou exatamente por ela. Parece que na pressa e ambição de “subir rápido na vida” e de conseguir mais admiradores, subverteu a lei e agiu também de forma clandestina. Prendeu os corruptos, mas em troca queria fama, cargos, Ministério da Justiça (que acabou conseguindo) e até uma vaga como ministro do STF. Não os prendeu por que os mesmos tinham que ser presos e a lei devia ser cumprida, mas por que teria dividendos e ganhos com isso. Lamentável essa postura de um juiz. Na Itália, por exemplo, a Operação Mãos Limpas colocou todos os mafiosos na cadeia e nunca misturou juízes com acusadores. Nenhum dos magistrados após terminada a referida operação virou ministro de Estado ou assumiu qualquer cargo de relevância no governo.
            Lula está preso em Curitiba e de lá não deveria sair tão cedo. Ele e seus comparsas devem muito a este país e têm que pagar pelo mal que fizeram. Mas tinha que ter sido condenado de forma justa, dentro da lei e por um juiz imparcial, como devem ser todos os juízes. Na década de 1950, Sobral Pinto lutou pela legalidade da candidatura de Juscelino Kubitschek à presidência e depois, convidado pelo mesmo JK, recusou a cadeira de ministro da Justiça. “Não fiz o meu trabalho em troca de um cargo no seu governo, fiz o que tinha que ser feito por que ainda acredito na Justiça”, teria dito o melhor advogado que este país já teve. Lula e o PT não destruíram o Brasil como se acredita, apenas deram seguimento ao doloroso processo que vem desde os tempos coloniais. Além do mais, não há nenhum problema em Lula estar preso. O doído é ver Aécio Neves, Temer, Fabrício Queiroz, os donos da JBS e tantos outros estarem soltos.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Bozo, cidadão de Paris

Fabio Vieira/ Getty Images

Bozo, cidadão de Paris

Professor Nazareno*

            Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil, acaba de ser laureado com o título de Cidadão Honorário de Paris. A honraria foi anunciada recentemente pela prefeita da cidade, Anne Hidalgo. Fazendo sinal de arma com as mãos, milhões de apoiadores do popular mandatário brasileiro saíram às ruas do Brasil e também do mundo inteiro em sinal de aprovação. Dentre os ganhadores desse título estão o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, e o Jornal Charlie Hebdo. Bolsonaro é um político muito popular não só em seu país como também ao redor do planeta. Com apenas nove meses à frente do governo, já encantou o mundo com suas ações. Esta honraria pode ser apenas a primeira de uma série que ele certamente ganhará devido a admiração que o mundo tem por sua política. No Brasil, ele tem a aprovação de quase cem por cento dos eleitores.
O “Mito” é realmente uma unanimidade mundial. Estive recentemente em Paris e em várias outras capitais da Europa e percebi o quanto ele é amado. É mesmo uma espécie de “cidadão do mundo”. De Lisboa até os montes Urais, passando por Paris, Berlim e Roma só se fala das ações do presidente brasileiro. Lá ele é amado e idolatrado até mais do que no Brasil. Outras honrarias devem ser acrescentadas ao currículo deste ilustre brasileiro. Do brilhante discurso que fez em Davos na Suíça até a sua recente fala na ONU, Jair Bolsonaro é uma espécie de Mahatma Gandhi ou de Martin Luther King. Suas sábias decisões encantam a todos. Veja-se, por exemplo, a questão ambiental. Hoje a Amazônia brasileira não tem um só foco de queimada. A fumaça é coisa do passado. O nosso heroico presidente agiu rápido e deu uma resposta satisfatória ao mundo todo.
Sempre fazendo sinal de “arminha com as mãos”, as pessoas estão muito eufóricas e felizes com mais este reconhecimento vindo de uma cidade que é referência no planeta inteiro. “A esquerda pira”. Os petistas estão em polvorosa e não sabem o que fazer de tanto ódio e inveja. Não têm uma só palavra para expressar a sua decepção. E não é só na área ambiental que Bolsonaro tem se destacado, mas principalmente na polêmica questão dos direitos humanos. Líder nato, “o maior representante da família brasileira” já deu infinitas provas de sua capacidade única de governar. No Rio de Janeiro tem ajudado o governador Wilson Witzel a combater a violência da cidade e não dá tréguas às milícias. Em todos os Estados da Federação, o “Mito” tem demonstrado seu enorme talento para resolver problemas. “O Brasil agora é outro”, afirmam todos.
Como tem um governo baseado unicamente no Humanismo e na valorização do indivíduo, Bolsonaro devia ser canonizado no lugar da Irmã Dulce. Até o Vaticano por meio do papa Francisco tem feito menções honrosas ao líder brasileiro. Se continuar agindo assim em breve o nosso amado presidente receberá também o título de Cidadão Honorário de Porto Velho ou de Rondônia, já que não existe honraria maior no mundo. Aqui, para êxtase de todos, certamente ele jamais confundiria Rondônia com Roraima devido a sua enorme capacidade intelectual. Seus ministros e colaboradores são também muito admirados por todos. Abraham Weintraub, Sérgio Moro, Ricardo Salles, Damares Alves. É cada um nome melhor do que o outro. Por basear sua administração no tripé “ciência, democracia e tolerância” não será nenhuma novidade se o nosso “estimado líder” vier a ganhar também o Prêmio Nobel da Paz, que será anunciado ainda este mês.



*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Aniversário cabuloso


Aniversário cabuloso

Professor Nazareno*

             Capital de Roraima, a cidade de Porto Velho está fazendo aniversário. São 105 anos de desgraças e infortúnios. Não se sabe como um lugar tão desprezível e inóspito consegue viver tanto tempo assim sem se autodestruir. Protegida pelo Satanás, seu padroeiro maior, a cidade sempre foi um arremedo de currutela sem eira nem beira. Com raros dois por cento de saneamento básico e praticamente sem água potável, o amaldiçoado lugar não consegue se livrar do nada honroso título de “a pior dentre as capitais do Brasil para se viver”. Os números do Instituto Trata Brasil a colocam num patamar bem pior do que as miseráveis cidades da África subsaariana. Se o mundo civilizado a conhecesse, seria classificada como uma espécie de Porto Príncipe tupiniquim. Uma Eritreia das Américas, uma Cabul ou uma Damasco da Amazônia.
            Em termos de desgraceiras e de baixa qualidade de vida, Porto Velho é um lugar ímpar no mundo. Com mais de dez mil focos de queimadas, a fumaça dos incêndios nas suas florestas em 2019, por exemplo, assombrou o mundo civilizado e deu o tom da falta de qualidade de vida de seus desafortunados moradores. Envolta em uma nuvem de fuligem por mais de três meses seguidos, a “currutela fedida” ardeu sob o fogaréu apocalíptico. Viver por aqui só se for por obrigação, falta de sorte ou teimosia. Sem árvores, o calor é infernal. Porto Velho praticamente não tem transportes coletivos muito menos mobilidade urbana. O acanhado aeroporto faz raríssimos voos para os lugares civilizados e o custo das passagens é absurdo. Turistas não há, já que ninguém se aventura a visitar estas distantes terras. Sequer o marechal Rondon foi aqui enterrado.
            A capital de Roraima é um lugar onde nada dá certo. Quando alguém daqui por acaso aparece na TV de fora é uma festa na cidade. Uma breguice sem tamanho. Dizer em cadeia nacional que Rondônia não é Roraima é um feito equivalente a ganhar um Prêmio Nobel. Logo depois, todos se esquecem e a vida volta a ser o que era antes: uma chatice só. Aqui tinha Expovel, que se transformou em ExpoPorto. Tem o Arraial Flor do Maracujá, mas ainda sem data e local definido depois de quase quarenta anos. Existe também uma banda de Carnaval que emporcalha de lixo e imundícies as ruas e avenidas por onde passa. Uma fedentina só. Aqui já teve também outra banda, a “Versalle”, que fez só um “sucesso” e praticamente desapareceu. Obras de arte e monumentos não existem. Só as pinturas mal feitas nos viadutos. Há um “açougue” e uma ponte escura.
            Mas estranhamente muitos políticos querem administrar o lugar. São incontáveis os pré-candidatos que vão concorrer às eleições no ano que vem. Para se ter uma ideia, muitas crianças da zona rural do município ainda não começaram sequer o ano letivo de 2018 por falta de transporte escolar. Um verdadeiro crime contra a humanidade. Energia elétrica por incrível que pareça há, mas é uma das mais caras do Brasil, apesar das inúmeras hidrelétricas que o município se orgulha de possuir. Os apagões voltaram e é um desafio viver com os carapanãs. Nem precisa dizer que a cidade tem uma Câmara de Vereadores que para nada serve. Porto Velho é como aquele planeta gigante que os astrônomos descobriram recentemente, mas que segundo as teorias atuais, “não deveria sequer existir”. Ou então temos de admitir que estupros, lixo, lodo, fedentina, carniça, tapurus, merda, esgoto a céu aberto e violência são agora pré-requisitos de uma cidade.




*É Professor em Porto Velho.